Graduação em odontologia no Brasil: relação com o sistema único de saúde e o mercado de trabalho La graduación en odontología en Brasil: relación con el sistema único de salud y el mercado de trabajo |
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*Odontóloga, Mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Bolsista da CAPES **Acadêmica e Jovem Pesquisadora do Programa de Iniciação Científica do Curso de Odontologia. SOEBRÁS/FUNORTE. Montes Claros, MG ***Odontóloga graduada pela SOEBRÁS/FUNORTE, atuando no Sistema Único de Saúde ****Acadêmica do Curso de Biologia e Bolsista do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) *****Odontóloga, Professora do Curso de Odontologia. SOEBRÁS/FUNORTE Montes Claros, MG |
Mayane Moura Pereira* Stephany Ketllin Mendes Oliveira* Maria Aparecida Barbosa de Sá** Érika Veruska Viana Medrado*** Raquel Júnia da Cruz Oliveira**** Fabíola Belkiss Santos de Oliveira***** (Brasil) |
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Resumo Os últimos 10 anos da realidade educacional universitária no Brasil foram modificados pelo crescente aumento do número de Instituições de Ensino Superior bem como pela oferta de bolsas e financiamento estudantil. Os Cursos de Odontologia também vivem este momento exponencial. Ao mesmo tempo em que crescem as vagas nas Universidades, também tem crescido muito o número de profissionais de Odontologia inseridos no Sistema Público de Saúde. Além do aumento dos empregos públicos, o crescimento do emprego e a ascenção econômica das classes trabalhadores, ampliaram o mercado de trabalho na Odontologia privada e de convênios. Este artigo apresenta uma revisão de literatura na interface entre a graduação de odontologia no Brasil e as relações de seus egressos com o Serviço Público e o mercado de trabalho. Unitermos: Odontologia. Graduação. Sistema único de saúde. Mercado de trabalho.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A formação de recursos humanos sofre interferências diretas do mercado de trabalho, que determina os segmentos ou conteúdos de um determinado curso. Neste sentido, embora o Sistema Único de Saúde (SUS) seja o maior empregador na saúde (MARSIGLIA, 1998; GIL, 2005; PELISSARI, BASTING e FLÓRIO, 2005), tendo se tornado um mercado de trabalho significativo na Odontologia, observa-se que este fato produziu pouco impacto de mudanças na formação do cirurgião-dentista, propondo os ministérios da Educação e da Saúde, em 2008, modificações na formação do profissional em saúde com vistas ao SUS (BRASIL, 2008).
O modelo de ensino ainda continua centrado no diagnóstico, tratamento e recuperação de doenças. Esta formação inadequada tem levado o Ministério da Saúde a requalificar o profissional em serviço (BRASIL, 2003; MORITA e KRIGER, 2004). A efetiva interação entre os serviços de saúde do SUS e a formação dos profissionais de saúde irá capacitar os futuros profissionais às necessidades sociais da população (FEUERWERKER e ALMEIDA, 2004). As instituições de ensino superior têm como grande desafio formar profissionais na área de saúde para exercerem sua atividade atendendo ao SUS e ao mercado de trabalho.
A percepção é uma forma de conhecimento prático de fundamental importância, pois é vista como uma maneira dos seres humanos manifestarem sua presença no mundo. O que é percebido tem grande finalidade na história de vida de um individuo, fazendo parte da experiência adquirida ao longo da sua existência (BICCHIERI e SILVA, 2006). Vários estudos têm abordado a relação entre dificuldades de aprendizagem dos alunos e/ou desempenho acadêmico/profissional. Dentre esses, os que dão ênfase a questão da percepção assumem diversas formas (SCHIAVONI e MARTINELLI, 2005).
No Brasil, a odontologia tem sido continuamente criticada por seu caráter técnico, em detrimento de seus aspectos fundamentais, como a ética do cotidiano, a humanização da relação profissional/paciente e até mesmo a prevenção, evidenciando a necessidade de sensibilizar a profissão para esses aspectos. Essa sensibilidade pode ser obtida através de uma melhor formação, por parte dos profissionais, quanto aos aspectos humanos e sociais que de fato constituem o objetivo de sua atividade profissional (ALMEIDA, ALVES e LEITE, 2010).
Metodologia
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, em bases de dados eletrônicos, incluindo artigos publicados em periódicos da literatura nacional e internacional e livros da última década (2002 a 2012), que corresponde a 60% de todos já publicados, devido à carência de dados sobre o assunto.
Revisão de literatura
Na década de oitenta, a odontologia era uma das práticas de saúde mais elitizadas do Brasil. Ao ser inserido no setor público, limitou-se a rotinas de extração dos dentes de pessoas mais pobres e a precários serviços executados em escolas. Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) institui como princípios a atuação do cirurgião-dentista voltado à realidade socioepidemiológica da população do país e à atenção da integralidade à saúde focando aspectos preventivos (BRUSTOLIN et al. 2006).
De acordo com Rossoni e Lampert (2004), no começo do século XXI, a criação de novas diretrizes curriculares abalou as estruturas das instituições de ensino superior do Brasil, gerando discussão entre professores, alunos, gestores e funcionários sobre as mudanças propostas pelo Ministério da Educação.
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o ensino odontológico sinalizam para mudança de paradigmas na formação e definem o perfil profissional adequado às necessidades de saúde da população e do SUS (ROCHA, 2001; BRASIL, 2002; CALDAS JÚNIOR, 2002; RODRIGUES, SALIBA E MOIMAZ, 2006). Formação esta que deve visar à integralidade na assistência à saúde e na gestão de serviços, e visar, também, o desenvolvimento de profissional que tenha conhecimento técnico-científico, mas seja generalista, humanístico, e ético. A integralidade pressupõe renovação das práticas em saúde, conhecimento do contexto social em que as pessoas vivem e dos âmbitos do sistema de saúde, destacando que a saúde coletiva tem grande valor na formação do cirurgião-dentista, com ênfase na promoção da saúde e prevenção das doenças, com qualidade (CARVALHO, 2004).
Morita e Kriger (2003) descreveram que, o SUS do ponto de vista legal, deve ser compreendido como interlocutor indispensável das escolas na implementação e formulação dos projetos pedagógicos de formação profissional e não apenas como um simples campo de aprendizagem prática e estagio.
Assim, as instituições de ensino superior têm como grande desafio para esse milênio, formar profissionais na área de saúde, competentes, capazes de atuar em equipe multiprofissional, e que compreendam a realidade e atendam as necessidades da população, características estas que são fundamentais na formação de um profissional que irá exercer sua atividade no SUS (ROSSONI e LAMPERT, 2004), que hoje é o maior mercado de trabalho para cirurgiões-dentistas (MARSIGLIA, 1998; GIL, 2005; PELISSARI, BASTING e FLÓRIO, 2005; PINHEIRO, et al., 2011).
As DCNs valorizam, além da excelência técnica, a relevância social das ações de saúde e do próprio ensino. Isso tem grande influência na formação dos profissionais (MORITA e KRIGER, 2003).
A universidade, ou seja, uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, é imprescindível na construção de conhecimentos e formação de recursos humanos, buscando melhorar a qualidade dos serviços oferecidos na área da saúde. Deste modo, proporcionando ao acadêmico a vivência que o coloque dentro da realidade social que o rodeia, estimulando seu senso critico e o capacitando a trabalhar dentro das novas práticas de atuação (SCHEFFER et al., 2006).
O atual mercado de trabalho e as necessidades sociais requeridas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) implicam na reflexão acerca da formação profissional em Odontologia. Diferentes sujeitos sociais, cirurgiões-dentistas, comunidades, estudantes, docentes, gestores e coordenadores da Saúde Pública compartilham expectativas quanto à formação do cirurgião-dentista.
Segundo Morita, Haddad e Araújo (2010) são grandes o número de mulheres atuantes em odontologia na América Latina. Representando estas 56,03% dos profissionais, participando ativamente da renda familiar.
Estudos presentes na literatura (JUNQUEIRA et al., 2002; UNFER et al., 2004; GARBIN, 2008), relataram que os acadêmicos em sua maior parte, possuem idade entre 17 a 23 anos e são solteiros, existindo predominância do sexo feminino.
Vários autores (BOTTI & SANTOS, 1986; COSTA et al., 1999; UNFER, 2000; Souza et al., 2012) verificaram que a maior parte dos acadêmicos pretendia trabalhar como profissional liberal, sendo insignificante o número de trabalhos que identificavam esta demanda.
A atual inserção no SUS, na atenção primária, não exige especialização em Saúde Coletiva sendo a graduação o suficiente; a especialização nessa área não traz status e retorno financeiro como em outras especialidades e o trabalho junto ao SUS ainda é entendido como complementação de renda, não compensando investir na qualificação para o mesmo (MELO, 2006).
Essa visão vai ao encontro das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de Graduação em Odontologia, que apontam para a formação com competências, tais como: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, administração e gerenciamento (BRASIL, 2002). O acadêmico deverá adquirir competências, habilidades e conteúdos para atuar com qualidade e resolubilidade no SUS (MORITA e KRIGER, 2004).
SANCHEZ, DRUMOND e VILAÇA (2008) observam que a correlação entre PSF como proposta para desfavorecidos, no sentido de desvalorização, foi identificada com freqüência como “uma atenção pobre para pobres”. Outros Estudos (BOTAZZO, 1994; MARSIGLIA, 1998; MOYSÉS, 2004) demonstraram a concepção da Odontologia pública como atendimento ao carente, aos sem direitos. Em estudo (BRUSTOLIN, BRUSTOLIN e TOASSI, 2006), 86,4% dos estudantes afirmaram que o serviço privado exclusivo já não é mais a realidade.
Considerações finais
A Odontologia precisa assumir novos papéis no SUS. Deverá realizar ações reabilitadoras, além de ações preventivas e de promoção à saúde, de forma a permitir a integralidade da assistência à saúde, o trabalhar em equipe e administrar os serviços de saúde. O PSF ampliou os postos de trabalho em um momento de dificuldades para a Odontologia, mercado de trabalho saturado nos centros urbanos.
Referências
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