efdeportes.com

Educação Infantil, Educação Física e afetividade

Educación Inicial, Educación Física y afectividad

 

*Graduação em Educação Física – UNIFEV

**Mestra em Pedagogia do Movimento Humano – USP

***Especializando em Docência do Ensino Superior – UNIFEV

****Mestre em Ciências da Motricidade – UNESP

(Brasil)

Daniel Alexandre Carrasco*

Natália de Miranda Braga*

Denise Ferraz Lima Veronezi**

Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes***

Lucas Portilho Nicoletti****

higor.thiago@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho trata inicialmente, de forma breve, sobre o histórico da Educação Infantil, falando a respeito das funções das instituições infantis (naquela época) e relatando também o surgimento das primeiras instituições pré-escolares e assistencialistas devido às transformações das funções familiares (trabalho da mulher). Em seguida, os assuntos discutidos são a afetividade na Educação Infantil e sua contribuição para o desenvolvimento cognitivo e moral. Na seqüência a Educação Física na Educação Infantil, a qual desempenha um papel de relevada importância devido ao desenvolvimento das funções cognitivas, motoras e afetivo-social. Por fim, apresenta uma reflexão da afetividade na Educação Física que tem na sua forma dinâmica não só o papel de desenvolver as habilidades motoras, mas também um trabalho social para envolver as crianças e torná-las mais livres. Portanto, o trabalho pretende levar a uma reflexão sobre a importância das manifestações afetivas junto às relações professor- aluno nas aulas de Educação Física Escolar.

          Unitermos: Educação Infantil. Afetividade. Educação Física.

 

Abstract

          This paper deals with the first part of a brief history of early childhood education will respect the roles of children's institutions of that time and also reporting on the pioneer preschool institutions and welfare changes due ace from family functions (working woman). Then the subjects discussed are Affectivity in Early Childhood Education and its contribution to cognitive and moral development, physical education in kindergarten where it plays a role of high importance due to the development of motor functions, cognitive, emotional and social-affective. And finally presents a reflection of Affection in Physical Education which has in its dynamic form not only the role of developing motor skills, but also a social work to engage children and make them freer to their attitudes.

So the work intends to reflect on the importance of affective manifestations along the teacher-student relationship in the classroom in Physical Education.

          Keywords: Childhood Education. Affection. Education Physical.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Wallon (2007, apud WERLANG, 2010) buscou compreender o desenvolvimento infantil por meio das relações estabelecidas entre a criança e seu ambiente, privilegiando as pessoas em sua totalidade, nas suas expressões e na relação com os outros.

    A emoção estaria relacionada ao componente biológico do comportamento humano referindo-se a uma reação de ordem física. Já a afetividade teria uma significação mais ampla, na qual se inserem várias manifestações: das basicamente orgânicas (primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta como a fome ou a saciedade); e as manifestações relacionadas ao social (sentimento, paixão, emoção, humor, etc.).

    Assim, a afetividade pode ser conceituada como todo o domínio das emoções, dos sentimentos, das experiências vividas, e principalmente da capacidade de entrar em contato com sensações. Diante disso, Wallon (1975) coloca a afetividade como um dos aspectos centrais para todo esse processo de desenvolvimento.

    Vygotsky (1994, apud AKIYAMA e SILVA, 2010) enfatizava o processo histórico e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação.

    A afetividade está muito presente no processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de Educação Infantil. E para que esse processo ocorra, a afetividade inicia desde o primeiro dia de aula. A receptividade que o professor deve estabelecer diante do aluno é fundamental para que ele tenha confiança e interesse pelas aulas aplicadas. Entende-se como afeto o sentimento de carinho, atenção, acolhimento, respeito pelo outro.

    Vygotsky (1994, apud AKIYAMA e SILVA, 2010) ao destacar a importância das interações sociais, traz a ideia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Assim, é a partir da sua inserção na cultura que a criança, através da interação social com as pessoas que a rodeiam vai se desenvolvendo.

    Este processo inicia-se no seio familiar, posteriormente na escola e outros locais que ela possa frequentar. A criança que é tratada com afeto pela família e pelos que a rodeiam tem melhor interação no meio em que vive e tem um bom desenvolvimento.

    Nos dias de hoje, pode-se afirmar que é impossível falar e discutir sobre Educação enfocando apenas o aspecto do conhecimento e excluindo o campo das emoções, pois não podemos esquecer que o ser humano é guiado por dois aspectos completares: a razão e a emoção. É notável que a afetividade no ambiente escolar possa favorecer uma aprendizagem sadia, onde o aluno se percebe como indivíduo responsável pela construção da sua identidade e de seu conhecimento.

Objetivo

    Neste sentido, o objetivo de nosso trabalho é construir uma breve revisão de literatura sobre a Educação Infantil e Educação Física e suas relações com a afetividade, além de refletir sobre o papel da afetividade no convívio escolar e na vida do educando. Para tal, faremos uma pesquisa bibliográfica.

Histórico da Educação Infantil no Brasil

    A Educação Infantil, na década de 1980, passou por um momento de ampliação do debate a respeito das funções das instituições infantis para a sociedade moderna, que teve início com os movimentos populares dos anos 1970 (FOREST, 2007).

    A abertura política permitiu o reconhecimento social desses direitos manifestados pelos movimentos populares e por grupos organizados da sociedade civil.

    A Constituição de 1988 (art. 208, inciso IV), afirma que pela primeira vez na história do Brasil, seria direito das crianças e dever do Estado o atendimento à infância. A Educação Infantil consiste na educação das crianças antes da sua entrada no ensino obrigatório e é ministrada normalmente no período compreendido entre zero e cinco anos de idade. Neste tipo de educação, as crianças são estimuladas – através de brincadeiras e jogos – a exercitar as suas capacidades afetivas e sociais, a fazer descobertas e iniciar uma preparação para o processo de alfabetização.

    Muitos fatos ocorreram de forma a influenciar essas mudanças: o desenvolvimento urbano, as reivindicações populares, o trabalho da mulher, a transformação das funções familiares, as ideias de infância e as condições socioculturais para o desenvolvimento das crianças. Assim, surgiram nas duas primeiras décadas do século XX em várias regiões do país as primeiras instituições pré-escolares e assistencialistas.

    As creches e escolas maternais para filhos de operários eram consideradas uma dádiva dos filantropos, que propunham o atendimento educacional à infância por meio de entidades assistenciais, porém não eram vistas como um direito do trabalhador e de seus filhos, ou seja, a existência das creches justificava-se nos saberes jurídico, médico e religioso voltado ao controle e à elaboração de uma política assistencial e educacional, visando o atendimento dos filhos das trabalhadoras domésticas (FOREST, 2007).

    Neste sentido, a educação e o cuidado das crianças tornaram-se assunto principal no debate político, o desenvolvimento demográfico e urbano trouxe ao sistema político-econômico a necessidade de lidar com questões relativas ao trabalho feminino e à organização de espaços dedicados ao cuidado e à educação de crianças pequenas. Diante disso, o assistencialismo e a elaboração de uma proposta educacional surgiram como metas do Estado Brasileiro, indicando o início das propostas educativas para as primeiras instituições pré- escolares no Brasil.

    Desta forma, a Educação Infantil cresce de forma acelerada no mundo inteiro em função de determinados aspectos como, por exemplo, a necessidade da família de uma instituição que se encarregue do cuidado e da educação de seus filhos pequenos; a compreensão de que o ser humano tem direito ao cuidado e à educação desde o nascimento, sendo a ela elemento constitutivo da pessoa, pois essa etapa de desenvolvimento humano indica a primeira infância como período crítico desse processo.

    A partir disso, surge a concepção de que a sociedade é representada pela idéia de que precisa ser recuperada ou reconstituída para a sociedade, por meio de processos pedagógicos, através de propostas educativas.

    A inserção da Educação Infantil na Educação Básica, como sua primeira etapa, é o reconhecimento de que a Educação começa nos primeiros anos de vida e é essencial para o cumprimento de sua finalidade, conforme afirmação Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), sancionada em 20 de dezembro de 1996, que em seu Art. 22 afirma: “A Educação Básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e nos estudos posteriores”.

Educação Física na Educação Infantil

    Refletir sobre a Educação Física na Educação Infantil é sempre instigante e desafiador, e para uma maior compreensão faremos um breve contexto da Educação Física Escolar, desde a sua implantação (1930) até os dias atuais. A Educação Física Brasileira passou primeiramente pelas influências do sistema político brasileiro, seguindo o padrão de políticas internacionais, cujo objetivo era formar cidadão forte, com saúde e moralidade cívica, integrado à nação. Nesse período, a Educação Física Escolar preocupou-se com a saúde e a higiene dos escolares, levando à sua concepção biológica, ou seja, higienista.

    As discussões em torno da Educação Física na Educação Infantil vêm se intensificando desde a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), de acordo com a nova LDB (Art.26, § 3°): “A Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”.

    Podemos considerar que sua inserção curricular na Educação Infantil significa um avanço para o ensino da Educação Física, pensando na criança como ponto de partida relacionado à expressão corporal que se caracteriza como uma das linguagens fundamentais a serem trabalhadas na infância. A criança é considerada sinônimo de movimento e brincando ela descobre o mundo à sua volta e suas múltiplas linguagens.

    A Educação Física na Educação Infantil deve conciliar com o espaço em que a criança brinque com a linguagem corporal, com o movimento, alfabetizando- se nessa linguagem, criando situações nas quais a criança entre em contato com diferentes manifestações da cultura corporal.

    A partir disso, a Educação Física passa a ser objeto de estudos mais aprofundados, seguindo novas concepções, que levam a disciplina ao campo dos domínios motor, cognitivo e afetivo-social compreendendo o indivíduo como um todo. Desta forma passa a ganhar força, surgindo novas concepções de ensino confirmando as novas tendências a ser implantada à Educação Física Escolar das quais conhecemos hoje.

    Ao longo dos anos, a Educação Infantil vem ganhando importância no âmbito da Educação Básica. É possível notar um esforço teórico, político e prático no contexto social brasileiro, em busca de uma valorização da infância como uma fase rica e privilegiada de aprendizagem.

    Na Educação Infantil, a Educação Física desempenha um papel de relevada importância, pois a criança nesta fase está em pleno desenvolvimento das funções motoras, cognitivas, emocionais e afetivo-social, passando da fase do individualismo para a das vivências em grupo. A aula de Educação Física é o espaço propício para um aprendizado através das brincadeiras, para o total desenvolvimento emocional, principalmente no que diz respeito à Afetividade. (FERRAZ, 1996)

    Sabemos que o principal instrumento da Educação Física é o movimento, por ser o denominador comum de diversos campos sensoriais, deixando bem claro que o desenvolvimento humano se dá a partir da integração entre a motricidade, a emoção e o pensamento. A Educação Física possui ferramentas valiosas para provocar estímulos que levem a esse desenvolvimento de forma bastante prazerosa: a partir da brincadeira e do jogo, a criança estimula a imaginação através desta a criança deixa de levar em conta as características reais do objeto, detendo-se no significado determinado pela brincadeira. Desta forma, Brasil (1998) afirma que “As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam de interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes culturas em diversas épocas da história”.

    Nesse sentido, as instituições de Educação Infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimento acerca de si mesmo, dos outros e do meio em que vivem. (FERRAZ, 1996)

    No entanto, não basta apenas oferecer estímulos para que a criança se desenvolva normalmente, a eficácia da estimulação depende também do contexto afetivo em que esse estímulo se insere, essa ação está diretamente ligada ao relacionamento entre o estimulador e a criança. Sendo também papel da escola, sistematizar esses estímulos, envolvendo os alunos em um clima afetivo que serve para transmitir valores, atitudes e conhecimentos que visam o desenvolvimento integral do ser humano.

Afetividade na Educação Infantil

    A afetividade é importante na Educação Infantil, pois contribui para o desenvolvimento cognitivo e moral. Podemos dizer que é a fonte de energia que serve para o funcionamento da cognição, deixando bem claro que a Afetividade não se resume apenas em manifestações de carinho físico, e sim, uma preparação para o desenvolvimento cognitivo. Conforme afirma Piaget (1976, apud RIBEIRO, 2010) a Afetividade é um fator indispensável na relação com as pessoas que estão em contato com o desenvolvimento da criança, em qualquer lugar que ela esteja, pois a criança se desenvolve como ser humano por meio de suas experiências com aquele lugar ou momento e a Afetividade deve existir em todos esses momentos.

    Vygotsky (1994, apud AKYAMA e SILVA, 2010) reconhece as interações sociais como base do desenvolvimento humano, a partir das relações sociais que a pessoa estabelece no decorrer da vida, sendo que o processo de ensino-aprendizagem vai acontecendo em diversos contextos sociais.

    Segundo Taille, Oliveira e Dantas (p. 76, 1992), a “organização dinâmica da consciência aplica-se ao afeto e ao intelecto, os processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem estão inteiramente enraizados em suas inter-relações e influências mutuas”.

    Diante disso, Wallon (1975, apud MAHONEY; ALMEIDA, 2005), no que se refere à construção do indivíduo como um todo, aborda três aspectos da pessoa, o afetivo, o motor e o cognitivo. A afetividade como sendo o aspecto mais importante, pois considerava o fator de sobrevivência do ser humano. Sendo assim, Afetividade é um estado psicológico do ser humano que pode ou não ser modificado a partir das situações, este estado psicológico é de grande influência no comportamento e no aprendizado das pessoas, juntamente com o desenvolvimento cognitivo; fazendo-se presente em sentimentos, desejos, interesses, tendências, valores e emoções, ou seja, em todos os campos da vida.

    Diretamente ligada à emoção, a afetividade consegue determinar o modo com que as pessoas visualizavam o mundo e também a forma com que se manifesta dentro dele. Todos os fatos e acontecimentos ocorridos na vida de uma pessoa trazem recordações e experiências por toda a história. Dessa forma, a presença ou ausência do afeto determina a forma com que um indivíduo se desenvolverá. Também determina a autoestima das pessoas a partir da infância, pois quando uma criança recebe afeto dos outros consegue crescer e desenvolver-se com segurança e determinação. (RIBEIRO, 2010)

    É fundamental notar que existem alguns transtornos que ocorrem devido à ausência ou pouco recebimento de afeto, onde os mais evidenciados são depressão, fobias, somatizações e ansiedade generalizada. Pessoas com recordações e experiências ruins e/ou tristes se tornam apáticas, ou seja, pessoas que excluem a afetividade de sua vida se tornam frias e ausentes de emoção. Enfim, a afetividade é uma sensação de extrema importância para a saúde mental de todos os seres humanos por influenciar o desenvolvimento geral, o comportamento e o desenvolvimento cognitivo.

    A afetividade é a base da vida, se o ser humano não está bem afetivamente, sua ação como ser social estará comprometido sem expressão, sem força, sem vitalidade. Isto vale para qualquer área da afetividade humana e neste sentido Galvão (1995) aponta que “[...] é, pois, pela análise genética que deve ser baseada a compreensão dos significados da emoção”.

    Afetividade é a relação que se tem com alguém íntimo ou querido. Assim, se relacionam diretamente com as experiências dos indivíduos, como a família, a escola e a comunidade. Essas experiências podem ser positivas e negativas e interferem nas relações sociais que os sujeitos estabelecem com seus semelhantes.

    Piaget (1976, apud AKIYAMA e SILVA, 2010) no pouco escreveu sobre afetividade buscou considerar o desenvolvimento afetivo e suas relações com o desenvolvimento da inteligência, explicando a importância atribuída à Afetividade para o desenvolvimento psicológico.

    A escola por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da criança, torna-se a base de aprendizagem se oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta segura e protegida. Assim, para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado dentro do ambiente escolar, e consequentemente social, é necessário que haja um estabelecimento de relações interpessoais positivas, como aceitação e apoio, possibilitando o sucesso dos objetivos educativos.

    Portanto, podemos perceber que a afetividade exerce um papel fundamental no desenvolvimento infantil, influenciando na percepção, na memória, no pensamento, na vontade e nas ações e ser um comportamento essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade.

    É preciso compreender que segundo Wallon (2007, apud Werlang, 2010), “é inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante”. Isso reforça que a aprendizagem tem uma ligação forte com a afetividade.

    Diante destas premissas, o professor deve estar aberto ao gosto de querer bem ao educando e a própria prática educativa de que participa, pois a criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado.

    O professor é quem prepara e organiza o micro universo da busca e do interesse das crianças, a postura desse profissional se manifesta na percepção e na sensibilidade aos interesses das crianças que, em cada idade, diferem em seu pensamento e modo de sentir o mundo.

    Embora exista uma falsa separação radical entre a seriedade docente e a afetividade, Freire (1997) afirma que esse ponto de vista democrático não é totalmente correto, pois não significa que o melhor professor é aquele mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento”, é preciso que todos esses aspectos estejam relacionados com o aluno e ao que deve ensinar. Portanto, a afetividade está diretamente ligada à cognição, o que não se deve permitir é que ela interfira no cumprimento ético no dever de professor e no exercício da autoridade.

    O professor em si, relatando de maneira mais necessária, coloca afetividade como o início de um parâmetro de ensino aprendizagem, através da agregação dos alunos com o trabalho em sala de aula e com a relação do educador com a criança, isso facilita o trabalho do professor e também a criança se torna mais maleável referente à aula. A aprendizagem é mais compensadora através de um afeto ligado ao educador perante o educando, eliminando todas as formas militares.

    Portanto, as afeições do professor influenciam a vontade de aprender dos alunos. O educando é aquilo que ele realizará, e não o que recebe. Dessa forma, modificam-se quando são agentes de suas iniciativas, compreendendo que é circunstância do aluno educar a si mesmo, mas para isso é necessário que o professor ao executar seu papel saiba como se aproximar das crianças e não transmita informações robotizadas.

    Piaget (1954, apud AKIYAMA e SILVA 2010), diz que a afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, porém, é a energia que impulsiona a ação de aprender. Poderá acelerar ou retardar o desenvolvimento dos indivíduos, podendo até interferir no funcionamento, nas estruturas da inteligência.

    Ao destacar a importância das interações sociais, traz a ideia da mediação e da busca como aspectos fundamentais para a aprendizagem, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Assim, a partir de sua inserção na cultura que a criança, através da interação social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo. Este processo inicia-se no seio familiar, e, posteriormente na escola e outros meios sociais que ela possa frequentar. A criança que é tratada com afeto pela família e pelos que rodeiam tem melhor interação no meio em que vive e tem um bom desenvolvimento.

    Para Wallon (1975 apud, MAHONEY; ALMEIDA, 2005), a Afetividade tem papel fundamental no processo de desenvolvimento da personalidade infantil. Inicialmente, ela é um fator orgânico que logo passa a ser influenciado pelo meio que o cerca, portanto as crianças devem ter oportunidades para desenvolver sua afetividade, contribuições essas que vêm a partir do professor com olhar afetivo, que é aquele que se preocupa com a aprendizagem de seus alunos e, ao mesmo tempo, com a qualidade dessa aprendizagem, tornando-os capazes de trazer suas experiências, fazer trocas, interagir, ou seja, estabelecer vínculos.

    A Educação busca meios significativos na relação entre educador e educando. Em meio a Afetividade como processo importante na Educação das crianças, de fato o educador tenta armazenar ao meio e com a criança os princípios que devem ser aplicados para uma boa relação afetiva com os alunos. Inserindo um papel fundamental para a relação da criança com a sociedade e o meio onde ela vive.

    É de extrema importância ter uma visão social dos alunos, pois cada criança tem um jeito e uma maneira de agir. É preciso ter certo entendimento de como ela se comporta, de que maneira ela foi educada, qual a visão dela perante a escola, professor e alunos. De fato a criança precisa ser bem recebida e bem adaptada.

    O professor deve ter o olhar direcionado para o aluno e vê-lo como um ser único e não apenas mais um número na sala, pois cada criança aprende em seu próprio ritmo e isso deve ser observado e levado em consideração pelo professor. Esse é o início para um resultado positivo na aprendizagem, o início de um vínculo afetivo.

    Wallon (1968 apud GALVÃO, 1965) cita que a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos. É fundamental observar o gesto, a mímica, o olhar, a expressão facial, pois são característicos da atividade emocional.

    O termo afetividade é extenso, complexo e abrange manifestações como emoção, sentimento e busca de um encontro do indivíduo e o mundo que o cerca. Trata-se de uma habilidade que se desenvolve com a vivência do indivíduo. Através da afetividade, a aprendizagem se torna mais viável, os relacionamentos se tornam mais felizes e saudáveis, a interação e a integração da criança com o mundo torna-se mais espontânea e motivada.

Afetividade na Educação Física

    A Educação Física é um dos componentes curriculares que a criança mais gosta, além de também chamar atenção da maioria delas por ser uma disciplina dinâmica. Afetividade entra com o objetivo de fazer a criança se sentir segura nessas aulas.

    A aprendizagem da criança depende simultaneamente da maturidade cortical e do envolvimento sócio – afetivo. O conhecimento social afeta todos os âmbitos: o modo de compreender as características dos outros e de si mesmo, como seres sociais, concepção das relações que vinculam pessoas, o que estas representam das instituições e sistemas sociais em que estão envolvidas.

    Para Wallon (1975 apud MAHONEY; ALMEIDA, 2005) “A educação é necessariamente um ato social.” Todo e qualquer ato social envolve a relação com outras pessoas e as relações humanas são inerentes a relações de afeto, seja esse afeto voltado para o bem, o carisma, o gostar ou para o mal, o ruim e o desagradável.

    A afetividade pode colaborar para iniciar uma Educação para formar pessoas do bem já quando criança, mas não fará isso sozinha, por isso espera-se cada vez mais da Educação Física para promover o desenvolvimento afetivo e moral das crianças. Sua maior contribuição será criar oportunidades de aprendizagens. Crianças que são bem sucedidas na escola gostam mais de si mesmas, são confiantes e abertas para interagir afetivamente com os demais. É difícil gostar dos outros quando não se ama a si mesmo. A Educação Física tem na sua forma dinâmica um trabalho social para envolver as crianças e torná-las mais livres para suas atitudes.

    A Educação Física deve envolver as habilidades motoras na criança, levando em consideração as consequências em alguns pontos de vista, um deles, o afetivo, que é um sentimento de atração e propulsão ao objeto. A Afetividade é fundamental para início, meio e o fim de um trabalho entre a teoria e prática, pois nessa fase em que a criança se encontra, ocorre a construção da consciência de si, através das interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as pessoas (predominando assim as relações afetivas).

    De acordo com Wallon (1975 apud MAHONEY; ALMEIDA, 2005) na obra “Psicologia e Educação da Infância”, a criança é manipulada pelos outros e é no movimento dos outros que ocorrerá a formação de suas atitudes. Os gestos pertencentes aos sistemas espontâneos das reações afetivas sob a influência do campo emocional, ou seja, a relação com o outro faz com que a criança reconheça nos outros indivíduos, as mesmas possibilidades que reconhece nela.

    As primeiras relações utilitárias da criança não são as suas relações com o meio físico, que, quando aparecem, começam por ser lúdicas. São relações humanas, relações de compreensão, que tem como instrumento necessário meios de expressão, e é por isso que a criança, se não é naturalmente um membro consciente da sociedade, também não é um ser primitivo e totalmente orientado para a sociedade. Portanto, “[...] o ser social é aquele que de mais alto nível é justamente aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes da forma equilibrada” (TAILLE, OLIVEIRA e DANTAS, p. 14, 1992).

    Como sabemos a afetividade não é algo textual, e sim uma atitude comportamental consciente. Devemos refletir sobre a importância do toque, do carinho na formação moral, social e psicológica de todo o ser humano; deixando bem claro que o nosso ‘eu emocional’ tem como meio de expressão e de compensação, o corpo. É o corpo que dá e recebe estímulos, e esse tipo de interação humana é a expressão de nós mesmos, que passa inegavelmente pela postura corporal.

    O professor de Educação Física deve estar preocupado com o desenvolvimento do aluno na relação com outros alunos e no confronto com certos imperativos sociais, o que é plenamente atendido com o jogo. Ao utilizar o movimento como forma de educar, o professor deve perceber o gesto como algo que expressa a personalidade do ser. Nesse aspecto, quanto mais livre o aluno se sente para expressar, maior será sua relação afetiva em relação ao grupo.

Considerações finais

    Conforme foi citado no decorrer deste trabalho, a Afetividade, emoção e aprendizagem são processos interligados permeados pelas experiências e vivências que as crianças trazem consigo. Portanto, cabe ao educador filtrar e aproveitar ao máximo essas informações através do olhar afetivo, e ser responsável pela qualidade e aprendizagem de seus alunos de forma significativa, onde ele possa trazer suas experiências, promover trocas, interagir, enfim, estabelecer vínculos.

    A Afetividade pode ser incluída na Educação Infantil de um modo geral, mas podemos perceber que é nas aulas de Educação Física que há uma facilidade para desenvolver o aspecto afetivo.

    O afeto não está inserido apenas nas escolas, o aluno deve estar preparado para aprender, mas também preparado para a vida. O professor tem extrema importância para o crescimento e desenvolvimento do aluno.

    Acreditamos que somente num ambiente onde há interação social, troca de sentimentos, afetos e vínculos, a aprendizagem será mais humana e haverá um desenvolvimento cognitivo mais rico.

    Por fim, concluímos que, somente num ambiente onde há interações e trocas entre os alunos e suas vivências, bem como a presença de um professor afetivo que dê importância tanto aos aspectos cognitivos, quanto emocionais, é que a Educação pode de fato transcorrer de forma sadia e significativa.

Referências bibliográficas

  • AKIYAMA, E. de M.; SILVA, J. A. da. Afetividade na Educação Infantil. Caderno Multidisciplinar de Pós- Graduação da UCP, Pitanga, vol. 13; mar 2010.

  • BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a educação infantil, Vol. III, Conhecimento de Mundo. Brasília: SEF/MEC, 1998.

  • BRASIL. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

  • BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC, 1998.

  • CASTRO, M. B. de. Noção de Criança e Infância: Diálogos, Reflexões e Interlocuções. Universidade Federal Fluminense, 2007.

  • FERRAZ, O. L, Educação Física Escolar: Conhecimento e Especificidade - a questão da pré – escola. Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, 1996.

  • FOREST, N. A. Cuidar e Educar: Perspectivas para a prática pedagógica na Educação Infantil. Instituto Catarinense de Pós-Graduação, 2007.

  • FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997.

  • GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do Desenvolvimento Infantil. Petrópolis: Editora Vozes, 1995.

  • GUIMARÃES, A. A; PELLINI, F.C; ARAÚJO, J.S, MAZZINI, J. M. Educação Física Escolar: Atitudes e Valores. Universidade Estadual Paulista, jun 2001.

  • LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. de, DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teoria Psicogenética em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

  • MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. Afetividade e Processo Ensino- Aprendizagem: Contribuições de Henri Wallon. São Paulo: Psicologia da Educação, 2005.

  • PALHARES, S. M. Educação infantil pós-LDB: rumos e desafios. Florianópolis: UFSC, 2000.

  • RIBEIRO, L. P. L. Afetividade na Educação Infantil: A formação Cognitiva e Moral do Sujeito Autônomo. Goiânia, 2010.

  • SILVA, K. R. X.; SALGADO, S. da S. Construindo Culturas de Inclusão nas Aulas de Educação Física numa Perspectiva Humanista. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, vol. 1, 2005.

  • WERLANG, S. D. Afetividade e Aprendizagem na Educação Infantil. Rio Grande do Sul, 2010.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 184 | Buenos Aires, Septiembre de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados