Conteúdos e objetivos desenvolvidos por professores  de Educação Física nas aulas do ensino fundamental II Contenidos y objetivos desarrollados por los profesores de Educación Física en las clases de escuela primaria II Contents and objectives developed by Physical Education teachers in the elementary education II
	*Graduado em Educação Física no UNASP – Campus São Paulo **Graduação em Educação Física no UNASP – Campus São Paulo ***Doutor em Educação Física e Docente do UNASP – Campus São Paulo (Brasil)	Paulo Afrânio Ferreira* Victor Rodrigues Pinto** José Carlos Rodrigues Júnior*** rodriguesjcrj@hotmail.com
	Resumo           A Educação Física é a disciplina que trata pedagogicamente os elementos da Cultura Corporal de Movimento. Esses são os conteúdos que a área deve trabalhar junto aos alunos do ensino fundamental e médio. Por conta disso, o objetivo da pesquisa foi verificar os principais conteúdos ministrados pelos professores de Educação Física aos alunos do ensino fundamental II e os motivos da escolha dos conteúdos para as aulas. Os docentes afirmaram vislumbrar trabalhar com conteúdos diversificados nas aulas, entretanto admitiram não se sentirem capacitados para desenvolverem todos os conteúdos que gostariam de ensinar aos alunos. Reconheceram utilizar instrumentos de avaliação que promoviam ir além da análise da reprodução dos movimentos pelos alunos, tendo como padrão o alto-rendimento.           Unitermos: Educação Física Escolar. Conteúdos. Objetivos. Professores.   Resumen           La Educación Física es la disciplina que trata pedagógicamente los elementos de la Cultura Corporal en Movimiento. Esos son los contenidos que el área debe trabajar con los alumnos de enseñanza primaria y secundaria. Por eso, el objetivo de la investigación fue el de verificar los principales contenidos ministrados por los profesores de Educación Física a los alumnos de enseñanza primaria II y los motivos de la elección de los contenidos para las clases. Los docentes afirmaron vislumbrar trabajar con contenidos diversificados en las clases, sin embargo admitieron no sentirse capacitados para desarrollar todos los contenidos que les gustaría enseñarle a los alumnos. Reconocieron utilizar instrumentos de evaluación que promovían ir más allá del análisis de la reproducción de los movimientos por parte de los alumnos, teniendo como estándar el alto rendimiento.           Palabras clave: Educación Física Escolar. Contenidos. Objetivos. Profesores.   Abstract           Physical Education is the course that pedagogically addresses the elements of the Body Movement Culture. These are the contents such area must work with the elementary and high school students. In view of that, the research aimed to verify the main contents taught by Physical Education teachers to elementary II students, as well as the reasons for the selection of the contents for the classes. The teachers said they wished to work with distinct contents in their classes; however, they admitted that they did not feel qualified to develop all the contents they would like to pass to the students. They acknowledged making use of assessment tools that allowed for going beyond the assessment of the movements carried out by the students, having as standard the high performance.           Keywords: School Physical Education. Contents. Objectives. Teachers.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Historicamente a Educação Física tem partido de referenciais teórico-metodológicos das Ciências Naturais para a compreensão do homem e de suas expressões corporais. O que ainda é decisivo na configuração da forma com que o professor atua até os dias de hoje no âmbito escolar.

    O conhecimento das ciências da natureza tem como característica a objetividade na sistematização do saber acerca do corpo e das práticas corporais, o que culminou em práticas “naturalizadas” e a posturas de imposição de técnicas de movimentos considerados “corretos”, com tentativas de enquadramento dos alunos em padrões de movimentos, o constante apelo ao melhor rendimento e a formação de equipes representativas. Esse modelo de aula não favorece ao aluno perceber-se e entender-se como membro de um grupo social determinado, e a forma com que o grupo se insere na dimensão global da sociedade.

    Essa forma tradicional com que os professores da área desenvolvem suas aulas privilegia a uniformização dos indivíduos, centrada no que há de semelhante entre os homens: seu organismo e seu funcionamento (DAOLIO, 2001, 2002). O que vem sendo proposto, a partir do questionamento dessa situação desde a década de 1980 é a preocupação com as diferenças existentes entres os alunos, diferenças essas que os humanizam já que não é o organismo que determina as ações dos indivíduos, mas as influências que recebem no meio em que vivem (DAOLIO, 2001).

    Por isso, a Educação Física na escola precisa preparar o aluno para ser ativo a fim de incorporar o esporte e os demais componentes da Cultura Corporal na vida (BRASIL, 2006). É preciso discutir e produzir experimentações aos alunos sobre questões políticas, históricas e sociais dos diferentes conteúdos para que o aluno possa, por exemplo, analisar a violência, o doping, os interesses políticos e econômicos presentes nos esportes transformados em espetáculos.

    O ensino da Educação Física deve oferecer informações aos alunos para que tenham condições de manter uma prática regular de atividades físicas fora do âmbito escolar, para apreciarem e usufruírem dos diferentes esportes, de espetáculos de dança ou de qualquer outra manifestação corporal (DARIDO, RANGEL, 2005; BETTI, ZULIANI, 2002). O componente curricular deve:

    (...) assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida (BETTI, ZULIANI, 2002, p, 73-81).

    É um direito de todo cidadão ter acesso a experiências positivas nas aulas de Educação Física. Contudo, muitas vezes professores utilizam como argumentos a falta de material didático-pedagógico e o desinteresse dos alunos como principais motivos que dificultam o desenvolvimento das aulas e o oferecimento de variadas experiências sobre a Cultura Corporal.

    Kunz (2001) com base em referencial teórico da Escola de Frankfurt critica a forma como a Educação Física lida hegemonicamente com os esportes institucionalizados, não privilegiando as demais manifestações tradicionais ou populares pertencentes à Cultura Corporal de Movimento, perdendo de vista a contribuição que as diferentes manifestações corporais e suas diferentes significações podem trazer as aulas, pois essas aulas estão muito intimamente ligadas aos valores dos esportes competitivos.

    O professor de Educação Física precisa estar atento à exclusão dos alunos e proporcionar as mesmas oportunidades a todos de participarem das situações de ensino, proporcionando diferentes experiências corporais relacionadas aos jogos, esportes, danças, ginástica, lutas e capoeira (BRASIL, 1998).

Objetivo e método

    A pesquisa teve como objetivos: (1) identificar quais eram os conteúdos que professores de Educação Física selecionavam para ensinar nas aulas; (2) a forma como estes conteúdos eram ensinados; (3) a maneira como os professores avaliavam os conteúdos e (4) o nível de preparação dos professores para lecionarem.

    Participaram da pesquisa dez professores de Educação Física que lecionavam para o Ensino Fundamental II em três escolas da rede privada e quatro escolas da rede pública de ensino, todas pertencentes à zona sul da cidade de São Paulo. Os docentes responderam um questionário com seis questões abertas. Os resultados foram analisados a partir de análise de conteúdo.

Analise e discussão dos resultados

    A seguir apresentaremos as seis questões respondidas, seguida das respectivas respostas e as interpretações dos resultados. Não houve necessidade de separarmos as respostas dos professores da rede pública e privada devido ao motivo das mesmas se mostrarem sempre similares.

Tabela 1. Respostas dos Professores

    Predominaram nas respostas as modalidades esportivas futebol, voleibol, basquetebol e handebol. Entretanto, seis docentes (1, 4, 6, 8, 9 e 10) apresentam em suas respostas outros conteúdos como Atletismo, Natação, Ginástica, jogos e brincadeiras, lutas, danças e dama. Além disso, também aparecem esportes menos conhecidos como hóquei e beisebol adaptados. O aparecimento de outras manifestações corporais nas respostas demonstra um avanço visto que começam a fazer parte do contexto do planejamento dos professores.

    Os professores evidenciaram outras preocupações ao justificarem os conteúdos trabalhados como: (1) pretendem melhorar o desenvolvimento das crianças, o condicionamento físico e saúde, (2) ensinar valores éticos e morais e (3) melhorar o repertório motor. No entanto, nenhuma resposta foi ao encontro daquilo que a literatura indica sobre a formação de alunos críticos e reflexivos, e o conhecimento e experimentação de um maior número de manifestações corporais da Cultura de Movimento.

Tabela 2. Respostas dos Professores

    É possível identificar a preocupação da inserção da dimensão lúdica como um dos principais aspectos presentes nas aulas dos professores. Apesar de ser importante o lúdico nas aulas é preciso que a mesma tenha finalidade pedagógica como proposto por Betti e Zuliani (2002), pois caso contrário a aula pode se transformar em um conjunto de atividades que promovam alegria, recreação e descontração apenas.

    Aparece também nas respostas a questão da teoria nas aulas, mas não é claro o que seria ensinado teoricamente aos alunos, o que pode ser um indício de que a aula pode estar deixando de ter uma característica prática apenas. Foi possível verificar uma preocupação com diferentes recursos didático-pedagógicos como música e vídeos para o auxílio do trabalho docente. Outro elemento importante presente nas respostas foi a elaboração de trabalhos, como o escrito pelo professor.

    As justificativas da escolha dos conteúdos de ensino passaram: (1) pela diversificação de experiências aos alunos visando atingir a todos (professor 1 e 10); (2) melhorar o desenvolvimento motor (professor 2); (3) melhorar o relacionamento dos alunos (professor 3); (4) oferecer diversão aos alunos (professor 5); (5) promover a autonomia dos alunos em relação a Cultura Corporal para que aprendam e conheçam as práticas corporais (professor 6, 7, 8 e 9). Essas justificativas são um avanço no sentido de que indicam ir além do enquadramento dos alunos em padrões de movimento dos esportes coletivos.

Tabela 3. Respostas dos Professores

    Foi possível perceber que existe o predomínio de uma compreensão das manifestações corporais como esporte, mesmo que em respostas anteriores os professores tenham enfatizado elementos como lúdico, promoção de melhor relação entre os alunos, oferecer autonomia e etc. Assim, pode-se dizer que o professor não consegue diferenciar a perspectiva de suas atividades da perspectiva do esporte.

    Ao constatar essa hegemonia de compreensão do esporte, pode-se questionar: será que os docentes se preocupam com a competitividade inerente aos esportes e na forma como os alunos se relacionam a partir dele? É possível que sim, entretanto, essa compreensão não foi possível encontrar nas respostas dos professores. É sabido que os esportes devem ser abordados como um conteúdo de ensino que atinjam todos os alunos, independentemente de suas habilidades anteriores a fim de que os mesmos experimentem e possam usufruir dos esportes em atividades de lazer.

Tabela 4. Respostas dos Professores

    Podemos perceber que os professores gostariam de ensinar outros conteúdos nas aulas, contudo a maioria argumentou que a falta de espaço e materiais são elementos que inviabilizam trabalhar com outros conteúdos de ensino. É importante destacar que manifestações como Natação, Lutas, Ginásticas e a Dança, conteúdos destacados como presentes no trabalho docente na respostas da primeira questão foram exatamente os conteúdos que oferecem maiores dificuldades aos professores, o que pode ser indício que estiveram presentes nas respostas da primeira questão porque os docentes sabem que precisam ampliar o número de experiências dos alunos nas aulas, mas que isto ainda é um trabalho difícil de realizar no cotidiano.

    O professor pode proporcionar vivências diferenciadas para seus alunos, mesmo não tendo espaços, materiais adequados e não dominando plenamente as ações tecnicamente perfeitas das diferentes manifestações corporais, já que podem utilizar espaços e materiais alternativos. Além de poderem também buscar informações sobre os conteúdos que não dominam para ensiná-los aos alunos, já que o objetivo não é tornar os alunos exímios praticantes das diferentes manifestações (atletas), mas sim pessoas que conheçam e usufruam delas fora do ambiente escolar (pessoas que usufruam da Cultura Corporal de Movimento do ponto de vista do lazer).

Tabela 5. Respostas dos Professores

    A maioria dos entrevistados respondeu que avaliavam de forma prática e teórica. Não ficou claro como seria a avaliação prática, mas aparecem termos como “dinâmica da equipe”, “observando os movimentos”, “acervo motor”, “no final das modalidades”, “avaliar a vivência na prática”, o que é um indicio de avaliação do saber-fazer esportivo. Está é uma questão interessante desde que o padrão comparado pelo professor não seja o do alto rendimento.

    Foi possível perceber que alguns dos professores utilizavam diferentes recursos/meios para avaliar os seus alunos como trabalhos teóricos, o desenvolvimento de cada aluno dentro daquilo que era proposto de atividade (participação) e relatórios diários. Estes meios relatados pelos professores demonstram que estão trabalhando de uma maneira que não mensure apenas o saber-fazer dos alunos.

    No entanto, a participação nas aulas é o principal instrumento de avaliação, mas sabe-se que este tipo de instrumento não tiver os critérios bem claros, ela acaba se tornando um elemento subjetivo que faz com que o professor atribua nota aos alunos de maneira aleatória ou pouco fundamentada.

Tabela 6. Respostas dos Professores

    Metade dos professores entrevistados (1, 3, 4, 5 e 7) não se sente preparado por relatarem terem pouco conhecimento sobre alguns conteúdos, principalmente às modalidades esportivas e atividades de ensino como são propostos pelos documentos oficiais e a literatura da área da Educação Física escolar. As argumentações mais utilizadas estão relacionadas ao não preparo que os cursos de Educação Física em relação a alguns conteúdos da Cultura Corporal de Movimento.

    No entanto, os demais professores afirmaram sentirem-se preparados para ensinar os diferentes conteúdos da Educação Física, relatando que utilizam diferentes fontes de informações para buscarem aquilo que não conhecem. Um único professor (8) afirma ter aprendido a fazer planejamento nas aulas do curso de graduação, um elemento importante a ser destacado.

Considerações finais

    Os professores afirmam trabalhar conteúdos diversificados nas aulas. O aparecimento de outras manifestações corporais é importante indicativo de começarem a fazer parte do contexto do planejamento dos professores, mesmo que reconheçam que não conseguem coloca o planejado em prática devido a dificuldades de espaço, materiais adequados e também falta de conhecimento a respeito de outras manifestações corporais.

    As justificativas da escolha dos conteúdos de ensino passaram pela importância da diversificação de experiências aos alunos; melhorar o desenvolvimento motor, melhorar o relacionamento dos alunos; oferecer diversão aos alunos e promover a autonomia dos alunos em relação a Cultura Corporal. Essas justificativas são um avanço no sentido de que indicam ir além do enquadramento dos alunos em padrões de movimento dos esportes coletivos.

    Os professores não se sentem totalmente capacitados para atuar com todos os conteúdos que gostariam de ensinar. Outra constatação importante é a de que os professores utilizam outros instrumentos de avaliação, o que foge do que tradicionalmente foi feito na aula de avaliar o desempenho motor dos alunos apenas.

Referências

• BRASIL. Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2006. Orientações curriculares para o ensino médio; volume 1.

• BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998 (Área: Educação Física; Ciclos: 3 e 4).

• BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação Física Escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. Ano 1, n.1, 2002.

• DARIDO, S. e RANGEL, I. Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. 2° ed. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2011.

• DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. 6ª ed. Campinas: Papirus, 2001.

• __________. A cultura da/na educação física. Campinas, SP: Tese (livre docência), Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, 2002.

• KUNZ, E. Educação Física: ensino & mudanças. 2ª ed. Ijuí: Unijuí ed., 2001.

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