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Educação Física escolar e a separação por gênero: reflexões a 

partir do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência

La Educación Física escolar y la separación por género: reflexiones a partir
del Programa Institucional de Becas de Iniciación a la Docencia

School Physical Education and separation by gender: reflections from the Scholarship Program Initiation to Teaching

 

*Bolsista do programa de institucional de bolsas de Iniciação

à Docência PIBID/CAPES da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

**Coordenador do subprojeto educação física do programa institucional de bolsas

de iniciação à docência PIBID/CAPES da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

(Brasil)

Fernando Ruben Ivalde Machado*

Renata Calza*

Vanessa Cantini Trindade*

Prof. Dr. Gabriel Gustavo Bergmann**

gabrielgbergmann@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A escola é um dos espaços formativos que pode/deve minimizar os efeitos dos valores discriminatórios advindos do contexto social em que circulam os meninos e as meninas. A partir de observações realizadas através do Programa Institucional de Iniciação à Docência da Universidade Federal do Pampa, analisaram-se os aspectos positivos e negativos de aulas mistas, refletindo sobre as vantagens e desvantagens das turmas mistas e separadas por sexo. Sendo assim objetiva-se favorecer a integração, convívio social, respeito ao outro, e convivência com a diversidade.

          Unitermos: Educação Física. Escola. Gênero. PIBID.

 

Abstract

          Through some observations at the school where we scholarship holders, observe classes separated by gender and mixed classes, and we could see the positives and negatives of these classes. The classes are separated by gender majority, but it may be noted that the mixed classes have excelled ace too. Earlier this year it was proposed a plan for the school which included the insertion of more mixed classes in physical education classes. From there it was a reflection on the advantages and disadvantages of mixed classes and separated by sex.

          Keywords: Physical Education. School. Gender. PIBID.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Presentação

    O Programa de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), subprojeto Educação Física da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, campus Uruguaiana, RS, propiciou-nos o contato com a realidade escolar da Escola Estadual de Ensino Médio Dom Hermeto do município de Uruguaiana/RS.

    Através das observações de aulas e troca de experiências entre os componentes do PIBID, tivemos o contato com turmas separadas por sexo e turmas mistas, onde podemos observar os aspectos positivos e negativos de cada forma de ministrar as aulas de Educação Física.

    Analisando conceitos de autores como Freire (1994) e Azevedo (1988), que consideram que a formação mista das turmas de Educação Física pode contribuir no desenvolvimento das relações humanas, em especial das relações de gênero, e também a partir das experiências vivenciadas e das discussões realizadas com o grupo PIBID sentiu-se a necessidade de aprofundar-se nesta temática. Assim, o objetivo deste ensaio é conhecer e aprofundar-se no que diz respeito aos benefícios ou não, de uma Educação Física mista, bem como favorecer a integração, convívio social, respeito ao outro, e convivência com a diversidade.

Educação Física escolar e a separação por sexo

    A Educação Física no seu início privilegiava apenas os homens, pois o seu objetivo era manter os corpos saudáveis para poder defender a sua pátria em caso de guerra, e posteriormente para o esporte de rendimento, enquanto às mulheres competia apenas atividades simples, como o dever de cuidar da casa e dos filhos. Essa mentalidade durou até algumas décadas atrás, e depois do fim da ditadura a educação teve um grande avanço, incluindo a Educação Física (SILVA, 2006).

    Em 1961 foi criada a primeira LDB, instituindo uma Educação Física obrigatória e mais igualitária para homens e mulheres. Essa igualdade ficou mais forte devido ao poder de expressão das mulheres com as mobilizações feministas e defesas de direitos iguais (BRASIL, 1997).

    A sociedade brasileira sempre tentou mascarar questões relativas à sexualidade, principalmente durante a adolescência, pois o meio escolar há muito tempo, opta por separar corpos, ficando desta forma em uma posição bastante cômoda, sem precisar enfrentar questionamentos ou situações consideradas "desconcertantes" (FREIRE, 1994, p. 210). Geralmente a divisão por gênero reforça a concepção de aulas de Educação Física tecnicista, facilitando ao professor a organização e o desenvolvimento das aulas, evitando possíveis ocorrências de conflitos entre meninos e meninas durante as práticas dos conteúdos, esse método onde se enfatiza a competição e o rendimento pode também dificultar a troca de experiências que poderia acontecer entre ambos nestas aulas.

    Consideramos que o método tecnicista consiste em caso de renúncia pedagógica por parte dos professores do componente curricular, que optam por este procedimento para evitar a discussão de conflitos gerados entre participantes na prática dos conteúdos de Educação Física. De acordo com Cembranel (2000), desta maneira, os alunos que não apresentam habilidades para determinados esportes geralmente são excluídos dos jogos e permanecem o resto da aula fazendo outras atividades. Acreditamos que desta forma o professor, juntamente com a escola, pode estar colaborando para a naturalização da divisão sexista da própria sociedade, ou seja, contribuindo para uma formação educacional, machista e preconceituosa.

    A oferta de turmas mistas favorece uma melhor aceitação da diversidade que existe na sociedade contemporânea. A escola é um dos espaços formativos que pode/deve minimizar os efeitos dos valores discriminatórios advindos do contexto social em que circulam os meninos e as meninas.

    Abreu (1990) adota a teoria de que a separação de turmas por sexos nas aulas de Educação Física é uma atitude sexista.

    Vejo que tanto na prática tecnicista quanto na prática humanista do profissional de educação física, existem discriminações. Essas são disfarçadas com a simples separação das turmas em grupos feminino e masculino. Convém observar que quando falo em discriminação não é só em relação às meninas; mas também de uma atitude discriminatória a ambos os sexos, uma vez que se espera do menino atitudes preestabelecidas [...] Tanto meninos quanto as meninas irão preferir esta divisão, pois já estão impregnados de valores discriminatórios advindos de condicionantes sociais (p. 13-14).

    Acreditamos que turmas mistas favorecem para uma melhor integração, convívio social, respeito ao outro, e a convivência com a diversidade existente na sociedade.

    Sabe-se que durante as aulas de outros componentes curriculares, os alunos de ambos os sexos permanecem juntos na sala de aula, porém, no desenvolvimento das aulas de Educação Física, na maioria das vezes são separados por sexo. Este fato denuncia a ideia de que, corpos precisam ser separados, mentes não. "(...) para a escola, o aluno só é corpo quando vai para o pátio de Educação Física" (FREIRE, 1994, p. 210). Essa posição ocasionada pelo desleixo dos professores do componente curricular começou a levantar questionamentos e a propiciar reflexões por parte do corpo docente das escolas, a respeito da eficácia dessa forma de trabalho, e hoje, se tem notícias de experiências bem sucedidas de aulas em que alunos de ambos os sexos participam juntos da prática de atividade física com aulas bem preparadas, longe de exaltar unicamente o rendimento físico. Contudo, em muitas escolas a orientação de separar as turmas por sexo para as aulas de Educação Física ainda persiste perpetuando uma prática sexista que desfavorece meninos e meninas em determinadas atividades físicas e sociais.

    Para Saraiva (1999), a partir da Sociedade Industrial, as mulheres eram desprovidas de vantagens, no campo produtivo e no esporte, sendo que, eram privadas de chances e oportunidades em participar de eventos e práticas esportivas, pois, os preconceitos culturais colocaram o sexo feminino como debilitado e o esporte e trabalho prejudiciais à saúde da mulher. Atualmente, muitas vezes o sexo feminino continua sendo visto como debilitado, já que as mulheres devem ser frágeis e delicadas. Elas jogam, lutam, correm, mas em menor intensidade que os meninos, visto que devido às características biológicas inerentes ao ser humano, os meninos são mais fortes que as meninas. Contudo, o que se objetiva na Educação Física Escolar não é comparar quem é mais forte, veloz ou resistente. O que se deve pretender é proporcionar, para meninos e meninas, o contato com as diferentes manifestações da cultura corporal do movimento e, a partir destas manifestações oferecer aos estudantes diferentes situações educacionais, como o convívio com as diferenças.

    Louro (1997) usa o argumento que:

    “homens e mulheres são biologicamente distintos e que a relação entre ambos recorre desta distinção, que é complementar e na qual cada um deve desempenhar um papel determinado secularmente, acaba por ter um caráter de argumento final, irrecorrível. Seja no âmbito do senso comum, seja revestida por uma linguagem “científica”, a distinção biológica, ou melhor, a distinção sexual serve para compreender – e justificar – a desigualdade social”.

    Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil 1997) reforçam a necessidade de se construir uma educação básica que adote como eixo estrutural o princípio da inclusão, apontando para uma perspectiva metodológica de ensino-aprendizagem que busque a cooperação e a igualdade de direitos. Para isso, sugerem um conjunto de temas que aparecem transversalizados, permeando a concepção dos diferentes componentes curriculares, dentre os quais a ética, a saúde, a orientação sexual e a pluralidade cultural, englobando, portanto, as questões de gênero na cultura brasileira.

Experiências e reflexões do subprojeto Educação Física do Pibid/Unipampa

    Através do PIBID subprojeto Educação Física da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), observamos aulas de cinco professores atuantes na EEEM Dom Hermeto, da cidade de Uruguaiana, RS, em aulas de quatro professores, encontramos as turmas separadas por sexo, apenas um professor aplicava a aula com a turma mista, porém este fato deve-se ao professor ministrar as aulas de apenas uma turma. Analisando as observações feitas em todas as aulas nota-se uma enorme diferença, tanto na motivação, quanto na técnica dos alunos de ambos os sexos, a turma mista demonstrava muito mais interesse e vontade nas aulas, bem como muito mais técnica do que os alunos que têm aula separadamente. Após as observações realizadas, foi proposto a uma das professoras bolsistas do PIBID, que esta aplicasse aulas para uma turma mista. No início houve certa resistência, principalmente por parte de alguns meninos, para eles as meninas iriam acabar atrapalhando a aula e se machucando, pois eles eram “mais fortes”. Ao final do ano letivo pode-se observar que esta turma se sobressaiu as demais turmas, não somente em aspectos motores, mas também em aspectos cognitivos e sociais, onde se percebeu uma maior interação e respeito entre os estudantes que passaram por esta experiência.

    No início deste ano, os bolsistas de iniciação a docência elaboraram um planejamento para a Educação Física escolar, abrangendo as turmas de 6° ao 9° ano, contendo as diversas manifestações da cultura corporal do movimento. Também foi proposta a inclusão de turmas mistas no 6° e 7° ano. Após a apreciação e aceitação do planejamento pela direção e coordenação da escola, este foi colocado em prática.

    No inicio das atividades os alunos apresentaram certa resistência a turma mista e aos conteúdos propostos, pois eles vêm de uma cultura na qual as aulas de Educação Física são realizadas com turmas separadas por sexo, sendo que os conteúdos trabalhados eram apenas algumas modalidades de esportes coletivos. Atualmente esta concepção sexista já foi superada, o relacionamento entre os estudantes não é de discriminação e diferença, mas sim de companheirismo e solidariedade.

Considerações finais

    Partindo do conceito de uma Educação Física Escolar diferenciada, onde a finalidade não deve ser o rendimento e sim a experienciação das mais diversificadas vivências motoras, cognitivas e sociais, acreditamos não haver motivos para tal separação. A escola é um dos locais onde a vida social das crianças/adolescentes se concretiza, sendo assim temos que oportunizar a todos os estudantes, independentemente das suas habilidades e gênero, para que todos tenham as mesmas experiências, desta forma os menos aptos poderão participar das aulas sem serem excluídos. Assim, a Educação Física Escolar contribuirá para diminuir preconceitos, visando uma prática de esporte-educação voltada para a aprendizagem conjunta de meninos e meninas. Por fim, fica a pergunta: por que as aulas de Educação Física tem que ser separadas por sexo se na sociedade vivemos todos juntos?

Referências bibliográficas

  • AZEVEDO, Tania M. C. de. A mulher e atividade desportiva; preconceitos e estereótipos (análise de periódicos especializados em educação física. 1932-1987). Tese mestrado em educação. Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ, 1988

  • CEMBRANEL, C. Aulas co-educativas: o que mudou no ensino da Educação Física. Revista Motrivivência; Ano XI, 1-19. 14, Maio/2000.

  • FERRAZ, L. Mitos e gêneros nos meandros da Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 10 - N° 80 - Enero de 2005. http://www.efdeportes.com/efd80/generos.htm

  • FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipione, 1994.

  • MORAES, Cátia Cichetto de. A educação física a serviço da ideologia sexista. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Ijuí, n. 3, v. 15, p. 226-234, jan. 1994.

  • SANTOS, N.; SANTOS, A.; RODRIGUES, A.; ASSIS, M.; NASS, P.; CAPRARO, A., Gêneros e Educação Física escolar: notas gerais sobre a formação cultural no decorrer da história. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 12 – N° 112 – Septiembre de 2007. http://www.efdeportes.com/efd112/generos-e-educacao-fisica-escolar.htm

  • SILVA, R. R. Ética, esporte, guerra. Algumas Perguntas. Belo Horizonte: Casa da Educação Física/CONFEF, 2006.

  • VENTURINI, G. R. O. GUERRA, V. H. RODRIGUES, B. M. MATOS, D. G. ZANELLA, A. L. JÚNIOR, R. L. P. FILHO, M. L. M. Gênero e Educação Física Escolar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 147, Agosto de 2010. http://www.efdeportes.com/efd147/genero-e-educacao-fisica-escolar.htm

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