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Um olhar sobre a corporeidade, corpo e educação infantil

Una mirada sobre la corporeidad, el cuerpo y la educación inicial

 

*Graduada em Educação Física pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Mestre em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

**Graduada em Educação Física pela Universidade de Passo Fundo (UPF) 

Mestre em Envelhecimento Humano pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

(Brasil)

Alessandra Cardoso Vargas*

alessandracvargas@hotmail.com

Tádia Carolina Cogo**

tadiacogo@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O artigo discute a temática que busca entender nossa presença no mundo e a maneira como as relações e interações que estabelecemos com nós mesmos e com o outro influenciam e contribuem para nossa construção como seres humanos. Para tanto se utilizou a concepção da Educação Infantil entendida aqui como uma etapa de escolarização em que a percepção e compreensão do próprio corpo são fundamentais. Com uma rápida retrospectiva filosófica mostra-se a importância do desenvolvimento do corpo e da corporeidade nesse processo de entendimento. Através de uma pesquisa bibliográfica foi possível observar que na fase da Educação Infantil a criança poderá ter a possibilidade de se desenvolver de forma sistêmica quando bem estimulada e tendo liberdade para o movimento sendo que, para que isso ocorra é preciso que o educador se aproprie desse conhecimento para atuar de forma positiva nessa mediação.

          Unitermos: Corporeidade. Corpo. Educação. Educação Infantil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em nosso artigo, buscamos refletir sobre o pressuposto que nós, humanos, estamos, desde o nascimento, em interação com os outros e com os objetos, transformando-os e sendo transformados. Segundo Proscêncio (2010), nessas interações nos constituímos como pessoa, no que diz respeito à formação de caráter, cidadania e a como se portar no mundo, pois somos seres complexos e inacabados, e como resultado de nossa cultura trazemos conosco as condições social e histórica. Enquanto habitantes desse planeta, nos relacionamos e interagimos corporalmente com o outro.

    De acordo com Vargas e Vargas (2013), a criança ao nascer sendo bem estimulada com afeto durante a primeira infância, ela terá mais chances de desenvolver sua inteligência. As funções motoras, intelectuais e afetivas estão estimadamente ligadas, e através do seu corpo, vê tudo e ao mesmo tempo é capaz de perceber o que está ao seu redor.

    O corpo, muitas vezes, é visto como o habitat do espírito, ou um objeto de desejo e prazer. Já outros, o veneram de tal modo, insaturáveis pela beleza e por um padrão estético estipulado pela mídia, em que muitas vezes acatado pelos professores, que são capazes de atos insensatos em busca do corpo ideal.

    A proposta do estudo em falar da corporeidade, é refletir a nossa presença no mundo e a maneira como as relações e interações que estabelecemos conosco e com o outro influenciam e contribuem para nossa interminável construção como seres humanos. E, ainda, para compreendermos o olhar sobre o nosso ser, e, estar no mundo. Como isso, vem a orientar nossa atuação na sociedade e, principalmente, como a concepção de corporeidade influencia na intervenção em sala de aula.

    Dentro desse contexto, podemos observar que conviver em sociedade, aprender a respeitar as diferenças, favorecer a autonomia, a reflexão, construir valores éticos e morais são perspectivas que perpassam a educação de crianças também no ambiente escolar e, necessárias para o convívio social.

    Nesse sentido, nosso estudo objetivou-se analisar e refletir a corporeidade a partir da concepção da educação infantil. A escolha deste tema teve como motivação inicial a busca de conhecimento da área de estudo através de uma pesquisa bibliográfica. Considerando a Educação Infantil como uma etapa de escolarização em que a percepção e compreensão do próprio corpo são fundamentais.

Metodologia

    Este estudo foi desenvolvido com base em uma pesquisa bibliográfica, com o intuito de conhecer as contribuições teóricas existentes sobre a corporeidade e a educação infantil. Segundo Malheiros (2013), a pesquisa bibliográfica tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, assim entendemos o conceito de cada um, e como está vinculado ao processo de corporeidade e suas contribuições para a aprendizagem das crianças na educação infantil.

    A finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato com o que já se produziu e registrou a respeito do seu tema de pesquisa. E sua principal vantagem reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.

Considerações sobre corporeidade, corpo e a educação infantil

    As instituições de Educação Infantil compõem um contexto de desenvolvimento da criança, são espaços de socialização, vivências e interações. Segundo Proscêncio (2010), nesse contexto escolar ampliam os relacionamentos sociais da criança iniciados no convívio familiar, com função de complementar e não de substituir o papel educativo da família, buscando integrar o cuidado e a educação.

    A criança enquanto se desenvolve, percebe e vivencia o mundo à sua volta, e as experiências e informações que recebe do meio em que vive (da sua cultura de modo geral: família, escola, religião, meios de comunicação, entre outros) ficam impressas em seu corpo, em todos os aspectos do movimento.

    É nesse sentido, que o entendimento de corpo corresponde a considerar a totalidade do ser humano, no qual todas as dimensões: física, intelectual, psicológica, ética, afetiva, moral, social e cultural se complementam em um único ser. E a corporeidade é a nossa presença no mundo. É a maneira como as relações e interações que estabelecemos com o outro e com o mundo influenciam e contribuem para nossa formação como seres humanos. E, ainda, compreender o modo como isso vem orientar nossa atuação na sociedade, enfim, é o olhar sobre o nosso ser estar no mundo.

    Segundo Enricone (2007), essas experiências e informações, num primeiro momento, não podem ser entendidas como conhecimento, pois só há conhecimento quando aprendemos o significado da informação, e não apenas quando temos acesso a ela. E a criança, ao vivenciar novas experiências, torna-se construtora de seu próprio desenvolvimento, pois dá, por meio dos novos esquemas de ação, significados às suas vivências.

    A partir do momento que se propõe a repensar a Educação Infantil com função educativa, há que se repensar também a função do profissional que ensina a criança nessa fase. Pois, pensar em melhoria na qualidade da educação dos pequenos é pensar na qualificação dos educadores que, por sua vez, implica pensar ou repensar o seu processo formativo. Cabe recordar que, Palma e Palma (2007, p. 5) diz que tornar-se professora ou professor é, portanto, um processo complexo, dinâmico, evolutivo, que compreende diversas etapas formativas [...], e são compreendidas como um conjunto variado de aprendizagem.

    No entanto na educação infantil, os conteúdos relacionados ao corpo e ao movimento estimulam a percepção e consciência corporal da criança; desenvolvem noções de espaço, a individualidade e coletividade no movimento, a socialização; a percepção do seu próprio ritmo e com o outro. Contudo, a capacidade de pensar, de criar, de enfrentar situações e resolver problemas, está intrínseca nessas atividades.

    No entendimento de Proscêncio (2010), para explorar todo o conteúdo de corpo e movimento é necessário que a professora esteja preparada para isso. Tendo conhecimento e vivência nessa área, para que possa compreender os corpos e os movimentos das crianças e possa entender que o movimento é uma forma pela qual o homem se relaciona com o mundo.

    Estudos mostram que a atividade física na pré-escola não cultiva a liberdade e a potencialidade dos corpos em movimento, seja individualmente, seja em grupo, pois os atos pedagógicos são voltados à busca do silêncio e da imobilidade, os quais traduzem crianças disciplinadas. E o corpo, neste sistema escolar, é encarado como duas partes distintas e separadas, em que somente a cabeça deve atuar (MOREIRA, 1995; PROSCÊNCIO, 2010).

    Entretanto, o processo formativo dos educadores que atuam com as crianças pequenas deve contemplar a aprendizagem e o conhecimento das reações e sensações ao toque, à música, à dança, à investigação e experimentação do movimento, ao conhecimento de si. Pois, ao pensar em corpo e movimento, em corporeidade na educação infantil, pensamos nas interações entre os profissionais e as crianças.

    Não basta o profissional somente observar, é preciso fazer junto, explorar o espaço, em busca da ampliação de seu repertório de movimentos, de modo que percebam sua capacidade de superação por meio da reelaboração dos movimentos. Segundo o estudo de Proscêncio (2010), os propósitos educativos não podem se perder no dia a dia envolvendo apenas a diversão e o cuidado de crianças.

    Para Mattos e Neira (2003), o movimento é o meio de expressão fundamental das crianças na Educação Infantil, logo, temos, todos os educadores, a obrigatoriedade de compreender esse movimento muito além de um olhar biológico ou fisiológico, o corpo que corre, cresce e sua é o mesmo que sente, conhece e se expressa.

    A criança descobre o mundo a cada dia, portanto a educação infantil é um lugar de descobertas, é o embrião para os demais espaços de convivência social, no qual ela terá contato com outras crianças e adultos advindos de outros contextos sociais e culturais. Dentro desse contexto, essa diversidade é enriquecedora para a formação da criança.

    Além disso, o professor deve estar atento ao corpo e ao movimento da criança, pois ela demonstra em sua expressão corporal seus sentimentos, portanto cada um tem suas maneiras de se relacionar e interagir com o outro, seu modo de pensar, sua forma de aprender.

    Diante dessa realidade, Mattos e Neira (2003), ressaltam que o professor é então o mediador, que ajuda as crianças em suas construções, ou seja, um especialista em interagir com o aluno e sua preocupação deve ser o como fazer para possibilitar uma aprendizagem mais eficiente e menos trabalhosa para a criança.

    Para especificar um pouco mais sobre a corporeidade, Moreira (2005), salienta que esta se define voltar os sentidos para sentir a vida; olhar o belo e respeitar o não tão belo; cheirar o odor agradável e batalhar para não haver podridão; escutar palavras de incentivo, carinho, de odes ao encontro, e ao mesmo tempo buscar silenciar, ou pelo menos não gritar, nos momentos de exacerbação da racionalidade e do confronto; tocar tudo com o cuidado e a maneira como gostaria de ser tocado; saborear temperos bem preparados, discernindo seus componentes sem a preocupação de isolá-los, remetendo essa experiência a outras no sentido de tornar a vida mais saborosa e daí transformar sabor em saber.

    Ela tem sido definida e restrita nos dicionários como qualidade daquilo que é corpóreo. Corpóreo é definido como corporal, material, relativo a corpo. E qual é a definição para corpo? Depende-se da perspectiva pela qual ele é abordado, do método utilizado, do objetivo da investigação sobre ele. Cada área de conhecimento apresenta suas definições para corpo.

    No entanto, para o estudo das estruturas e sistemas do corpo humano existe a Anatomia; as funções físicas, mecânicas e bioquímicas que são tratadas pela Fisiologia. Atualmente, fala-se nos corpos criados em laboratórios: os ciborgues ou biocibernéticos. Para a Biologia, corpo é um organismo vivo; já para a química, uma porção de matéria. Que corpo/corporeidade é esse que desejamos discutir nesse estudo? É o corpo que se desloca, que se move, que fala, que pensa, que ri e chora, que sente a dor e a alegria, que é capaz de abraçar, mas também de bater, que ama e odeia, que se comunica e se expressa.

    Para freire (1991), o corpo é nossa realidade terrena, em que se prova pela motricidade. Se há um sensível e um inteligível, um cérebro e um espírito, estão todos integrados numa mesma realidade. Pois, nada significariam, sequer seriam fora da totalidade que os integra. Esses corpos em movimento, corpos vivos, ativos e comunicativos são seres humanos em construção, em constante processo de aprendizagem.

    Seguindo a mesma linha de raciocínio, a escola trata o ser humano de formal dual, separado em corpo e mente em sala de aula, valorizando a mente sobre o corpo, no qual o movimento corporal, muitas vezes, é interpretado como indisciplina. Sendo o corpo do aluno tratado como corpo/objeto, com movimentos mecânicos, manipuláveis pela educação, dóceis, insensíveis, indiferentes e previsíveis (MOREIRA, 2005).

    Por meio desse processo, enfatiza-se que mediar o conhecimento significa estabelecer pontes entre aquele que aprende e o conhecimento, e ser capaz de se enxergar em muitos momentos como o próprio aprendiz. Entretanto, o professor como mediador favorece as relações de troca e construção de conhecimento, bem como a cooperação mútua e reflexão crítica; busca a reelaboração dos conteúdos para que a aprendizagem seja significativa para o aluno; revê conceitos, através da corporeidade.

Considerações finais

    Acreditamos que a escola, assim como a família, dentre outros núcleos de convivência, compõe o contexto de formação do ser humano. Portanto, é a partir desse contexto de relações que a criança aprende a conviver em sociedade, e a se colocar no lugar do outro, respeitar as diferenças, construir valores éticos e morais.

    Portanto, é na educação infantil, em que a percepção e compreensão do próprio corpo são fundamentais, pois a criança tem o primeiro contato com pessoas diferentes daquela de seu núcleo familiar, amplia suas relações e interações sociais e, nessas interações, ela compara, percebe as diferenças, explora seus limites e potencialidades e aprende.

    Como atuamos na área da educação física, surgiu o interesse pelas questões da corporeidade, corpo e a educação infantil. Pois entendemos que o professor é elemento principal na mediação do processo ensino e aprendizagem, devendo favorecer as relações de troca e construção de conhecimento, bem como a cooperação mútua e reflexão crítica.

Referências bibliográficas

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