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Análise dos conteúdos desenvolvidos nas aulas de 

Educação Física em escolas públicas de Grão, Pará, SC

Análisis de los contenidos desarrollados en las clases de Educación Física en escuelas públicas de Grao, Pará, SC

 

*Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação

da Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL

**Mestre em Ciências do Movimento Humano

pela Universidade do Estado de Santa Catarina, UFSC

***Acadêmica de Educação Física do Centro

Universitário Barriga Verde, UNIBAVE

João Fabrício Guimara Somariva*

Diego Itibere Cunha Vasconcellos**

Andreza Kuhnen Perin***

joao.unibave@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A pesquisa objetiva analisar os conteúdos e métodos utilizados na Educação Física escolar. Estudo de caráter exploratório, de natureza quali-quanti com população composta por quatro professores de Educação Física de escolas públicas de Grão-Pará/SC, escolhidos aleatoriamente. A coleta de dados foi por meio de questionário semiaberto e observação de aulas, nas quais foram registradas a organização e metodologia na abordagem dos conteúdos. Os resultados evidenciam que o esporte é o principal conteúdo de ensino das aulas. Assim, devemos reavaliar os critérios utilizados na escolha dos conteúdos. A organização do conhecimento da Educação Física pode oportunizar ao aluno experiências variadas dos fenômenos da cultura corporal e trazer benefícios ao seu desenvolvimento.

          Unitermos: Educação Física. Práticas pedagógicas. Conteúdo. Metodologia.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Há algumas décadas que o debate em torno das propostas da Educação Física vem evoluindo na tentativa de superar o paradigma tecnicista. Muitas das reflexões realizadas indicam que o caminho passa pela reestruturação e sistematização dos conteúdos dessa área de ensino. Dessa forma, poderíamos como afirma Kunz (1994), acabar com a “bagunça interna” da disciplina. Para o autor há a necessidade da organização de um “programa mínimo” onde os conteúdos sejam hierarquizados com objetivos claramente definidos.

    Mesmo havendo esforços contínuos para legitimar a Educação Física na escola e ampliar suas formas de manifestações, ainda persiste a prática exclusiva do conteúdo “esporte”, que se restringe apenas a modalidades que possuem prestígio social (CASTELLANI FILHO et al., 2009). Betti (1999) ressalta que os cursos de graduação em Educação Física incluem disciplinas como a dança, a capoeira, atividades expressivas, mas que, ao chegar à escola, são pouco utilizadas pelos professores.

    A análise da Educação Física no âmbito escolar é definida por Castellani Filho et al. (2009, p. 50) como “[...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança e ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal”. Neste contexto, Oliveira (2008) elenca a Educação Física com o compromisso em estudar o homem em movimento. Ainda, destaca a ginástica, o jogo, o esporte a capoeira e a dança como instrumentos para cumprir os seus objetivos.

    Considerando o propósito de elucidar a Educação Física em sua dimensão escolar Gonçalves (2007), refere-se a ela como sendo uma prática sistemática de atividades físicas, desportivas ou lúdicas existindo nesta uma relação dialética com as mais variadas modalidades de ciências. Nessa busca incansável por uma educação transformadora, coerente na sua práxis e que privilegie o aprendizado dos alunos, agregando conhecimento e dando-lhes autonomia para discernir sobre suas decisões, Bracht (1992, p. 52) concentra atenção no significado e nos ensinamentos da Educação Física:

    [...] educaria no sentido de instrumentalizar o individuo para ocupar de forma autônoma seu tempo livre também com atividades corporais de movimento (com as consequências orgânicas, motoras, psíquicas e de qualidade de vida postuladas para as atividades corporais de movimento), de instrumentalizar o individuo para entender e se posicionar criticamente frente a nossa cultura corporal/movimento, e educaria no sentido de desenvolver uma sociabilidade composta de valores que permitam um enfrentamento crítico com os valores dominantes.

    O debate das propostas críticas para a Educação Física já alcançou sua maioridade, mas poucas mudanças foram até então observadas na prática. O modelo vigente ainda concentra seu propósito em normatizar, disciplinar e uniformizar. A sua função "educativa" no âmbito escolar foi e tem sido hegemonicamente, aquela de reforçar os papéis sociais exigidos para a manutenção do sistema, instrumentalizando os movimentos para as tarefas "essenciais" na escola (SOARES, 1993).

    Vê-se então que para os referidos autores, a Educação Física tem o intuito de orientar e auxiliar na formação de indivíduos com capacidade de pensar e agir em bem próprio e socialmente, utilizando-se do movimento humano como ferramenta de combate a qualquer tipo de exclusão e individualismo.

    De acordo com a problemática apresentada, este estudo teve como objetivo analisar os conteúdos utilizados na educação física e evidenciar os critérios utilizados para a escolha dos conteúdos utilizados pelos professores nas escolas públicas de Grão-Pará /SC.

    Para o desenvolvimento deste trabalho de natureza qualitativa/quantitativa, optou-se pela pesquisa exploratória que consiste apenas no levantamento de dados da realidade estudada, sem a preocupação de interpretar, analisar ou explicar o objeto de estudo (SANTOS, 2009).

    Dos seis professores da rede publica de ensino do município que atuam na Educação Física, apenas quatro possuem formação específica na área, que foi o critério de exclusão adotado para justificar a não participação dos outros dois. Os participantes apresentaram idade entre 19 e 45 anos.

    O instrumento utilizado para a coleta de dados foi composto por dois momentos distintos. Na primeira etapa foi aplicado um questionário semiaberto, com 8 perguntas, sendo 2 fechadas e 6 abertas ao grupo escolhido. Na etapa seguinte, foi realizada uma observação direta das aulas de cada professor, das quais registramos a organização do conhecimento (conteúdos) e suas abordagens metodológicas.

    Os resultados foram tratados com estatística descritiva, através da análise de freqüência absoluta e percentual das respostas. Os resultados obtidos com o questionário foram analisados e confrontados com a descrição das aulas observadas.

Apresentação e discussão dos resultados

Tabela 1. Planejamento, escolha e finalidades dos conteúdos nas aulas Educação Física

    Segundo as respostas encontradas, 75% dos professores planejam suas aulas semanalmente e 25% mensalmente. Contudo, durante a observação das aulas destes docentes não percebemos qualquer ação que evidenciasse algum tipo de planejamento para a aula.

    Quando perguntamos aos professores quais os critérios que utilizavam para escolher os conteúdos para suas aulas, os mesmos citaram como referência os PCNs, as características das turmas, a escolha dos alunos e a estrutura física para as aulas.

    Percebemos que um dos entrevistados diz utilizar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), já os demais acreditam que as aulas de Educação Física devam ser elaboradas de acordo com as características ou habilidades mais desenvolvidas pelos alunos e principalmente pelas atividades prediletas.

    Perguntamos aos docentes quais eram seus maiores objetivos em relação ao ensino. Os professores elencaram objetivos como: participação, socialização, cooperação, inclusão e pensamento reflexivo. Também obtivemos respostas que evidenciam objetivos tradicionais reprodutivistas, como: “[...] desenvolver ao máximo as capacidades físicas, para quem sabe, torná-los esportistas profissionais [...]”. Este relato evidencia que ainda existem professores apoiados na concepção “esportivista”, com objetivos voltados à aptidão física, estimulando ao aluno que alcance o rendimento máximo de sua capacidade física. Os professores selecionam o esporte como conteúdo principal pelo simples exercício do alto rendimento (SOARES et al, 1992).

    Quando indagamos aos professores se existem conteúdos que gostariam de desenvolver, mas não tiveram oportunidade, todos responderam que afirmativamente. Porém, justificaram-se pela inexistência de espaço físico adequado e os materiais serem precários, entretanto, na observação constatamos que o ambiente físico é amplo e coberto e existem diversos materiais guardados em caixas que não são usados. É uma postura equivocada de quem tem a função de tornar possível a produção de conhecimento junto com uma clientela cada vez mais curiosa e desafiadora.

    Ao questionar se os conteúdos utilizados são suficientes para desenvolver todas as potencialidades de seus alunos, dois dos entrevistados afirmam que os conteúdos pedagógicos trabalhados nas aulas de Educação Física são suficientes para que os alunos desenvolvam suas capacidades e potencialidades. Outro entrevistado acredita que os conteúdos que trabalha não são suficientes e, ainda, temos outra resposta que diz atingir de forma parcial as potencialidades dos seus alunos.

    Comparando as respostas com o observado, é perceptível que os entrevistados possuem consciência de suas responsabilidades enquanto educadores, mas não esboçam nenhuma reação para mudar, reorganizar e transformar suas práticas pedagógicas. Medina (2010) acredita que para mudar esse quadro é necessária uma nova consciência.

    Enquanto os profissionais de Educação Física não abrirem os olhos procurando penetrar em sua realidade de forma concreta por meio da reflexão crítica e da ação, não serão capazes de promover conscientemente o homem a níveis mais altos de vida, e contribuir, assim, com sua parcela para a realização da sociedade e das pessoas em busca de sua própria felicidade individual e coletiva (p.66)

    Perguntamos também sobre a sequência didática. Os docentes entraram em contradição, quando confrontamos o relatado no questionário ao que foi observado durante as aulas. Como mostra a Tabela 2, na maioria das sequências didáticas relatadas, os professores disseram realizar um momento de conversa inicial e posteriormente à atividade principal ou explicação das regras, fato estes não comprovados nas observações das aulas.

Tabela 2. Seqüência didática dos professores

    Muito dos professores de Educação Física que já possuem certa experiência profissional substituem a ação de organizar e planejar pelo tempo de atuação na área, afirmando que é função apenas para quem está começando (BOSSLE, 2002. p. 37).

    No último questionamento perguntamos qual o grau de importância de cada conteúdo apresentado: esporte, jogo, dança, luta, ginástica, atividade rítmica, capoeira e brincadeiras. Os resultados seguem abaixo.

Tabela 3. Grau de importância e utilização dos conteúdos

    Na análise desta amostragem percebemos que para a maioria dos professores os conteúdos apresentados no questionário tem grande importância no desenvolvimento das aulas de Educação Física. Porém, quando confrontamos a resposta do questionário com o que vimos nas aulas observadas notamos que do total de professores entrevistados, somente um realiza todos os conteúdos elencados no questionário. Sendo que os demais professores utilizavam apenas o esporte como conteúdo.

    Quando nos referimos aos conteúdos ministrados percebemos uma ocorrência maior do conteúdo esporte nas aulas de Educação Física. Este fato seria apenas uma mera constatação se além do esporte, outras formas de conhecimento também estivessem presentes em suas aulas, mas, o que se evidência é uma supremacia do esporte em contraposição à ocorrência mínima das demais manifestações da cultura corporal.

    Para explicar a conduta dos professores que elencam o esporte como conteúdo hegemônico nos apoiamos nas palavras de Bracht (2005):

    “[...] o esporte é a cultura corporal do movimento que é funcional para a atual hegemonia. Para reforçar essa hipótese podemos, entre outros argumentos, indicar a tendência à esportivização da cultura corporal de movimento. Outras razões seriam, por exemplo, a possibilidade de sua comercialização, seu caráter de espetáculo que acentua sua afinidade com os meios de comunicação de massa etc.

Considerações finais

    Vimos nas escolas investigadas que o esporte é o principal conteúdo de ensino das aulas de Educação Física, restringindo as possibilidades de aprendizagem dos alunos em relação aos demais conteúdos, bloqueando chances de outros tipos de manifestações do movimento humano. Quando a Educação Física se fundamenta apenas na prática esportiva, o objetivo se limita ao de selecionar, sobrepujar e comparar desempenhos individuais.

    Torna-se oportuno que os professores reavaliem os critérios elencados por eles para a escolha dos conteúdos quanto a sua atuação, dessa forma a prática da Educação Física dará um passo importante para sua legitimação na escola.

    Temos que ressaltar que um dos professores entrevistados trabalha de forma coerente ao que citou em suas respostas. Este analisa o ambiente escolar e elenca o objetivo a ser alcançado, auxiliando os alunos no cotidiano e promovendo uma Educação Física capaz de transformações sociais reais.

    Para que a Educação Física tenha um célebre e renomado caminho, é necessária a multiplicação de professores determinados, capazes e que compreendam a importância de sua profissão na sociedade, pois, o professor deve traçar caminhos e objetivos que tragam mudanças consideráveis para a trajetória da disciplina.

    Contudo o professor tem a responsabilidade de criar as situações mais adequadas para suscitar novos desafios aos alunos. O papel do docente é mediar e intervir buscando mediar conhecimento por meio de sua prática, estimulando o aluno a descobrir conceitos e noções por meio dos saberes.

Referências

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