Reflexões sobre brinquedos e jogos na contemporaneidade, infância, crianças, e culturas Reflexiones sobre juegos y juguetes en la contemporaneidad, infancia, niños y culturas Reflections on toys and games in contemporary, childhood, children, and cultures |
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*Graduanda do curso de Pedagogia pela Universidade do Rio Grande (FURG) **Mestra em Educação pela Universidade Federal de Pelotas. Graduada em Pedagogia e Direito. Professora da Universidade Federal de Pelotas Alfabetizadora no Colégio São José, Pelotas, RS ***Doutorando em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista Capes. Professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) (Brasil) |
Marisol Maiche Duarte* Andrea Cougo Gonzales* Daiane Dias* Luciana Gomes Mendonça* Magda Muna Rodrigues* Maria de Fátima Amorin* mariafatima_rg2011@hotmail.com Maria Cristina dos Santos Louzada** Kelber Ruhena Abrão*** |
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Resumo Este trabalho tem por objetivos tecer comentários a respeito da construção das brincadeiras e o processo do brincar, bem como a sua importância para infância e, conseqüentemente, para a criança. Através de obras clássicas no que tange a estes temas, evidenciou-se refletir a importância da escola como instituições educativas, onde a criança possa entender os significados desses processos. Desta forma, é fundamental refletir sobre a influência dos meios comunicativos sobre a vida da criança, bem como seu desenvolvimento psicológico, além da influência sobre as suas emoções, sonhos e informações que auxiliam no seu desenvolvimento. Unitermos: Criança. Brinquedo. Mídia. Cultura.
Abstract This work aims to make comments about the construction of the play and the process of playing, as well as its importance to children and thus for the child. Through classic works in relation to these issues, it was shown to reflect the importance of the school as educational institutions, where the child can understand the meanings of these processes. Thus, it is essential to reflect on the influence of communication means over the life of the child as well as their psychological development, and the influence on their emotions, dreams and information that assist in their development. Keywords: Child. Toy. Media. Culture.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Partindo da concepção de educação que valoriza o sujeito e o seu processo de formação humana, deve-se compreender a importância do movimento como elemento de cultura, descoberta, experimentação e ressignificação do mundo infantil. O ser humano é essencialmente movimento. Por isso, na infância, a criança precisa explorar o meio em que vive, manipulando objetos, brincando, correndo, dançando e experimentando diferentes possibilidades de movimento.
A brincadeira faz parte do mundo imaginário infantil, por isso precisa ser valorizada, pois quando a criança tem liberdade de brincar de maneira espontânea, ela utiliza sua imaginação e fantasia de maneira criativa e, através de sua capacidade de simbolizar, é capaz de inventar um novo mundo, atribuindo diferentes significados aos objetos utilizados (ABRÃO & FIGUEIREDO, 2013).
Neste trabalho temos a oportunidade de abordar como a criança constrói sua brincadeira através do brinquedo e como o mercado publicitário investe no consumidor criança. Ano após ano, os atrativos são inovadores, sejam eles brinquedos manuais ou eletrônicos todos apresentam algum fato novo, pronto a ser descoberto pela criança.
Neste sentido, a autonomia do mercado destinado à infância, conforme Capparelli (2008, p.18), acarreta novos modos de ser e de viver a infância: desejar, possuir, relacionar-se, com o dinheiro, gastar e saborear o poder de saber-se peça fundamental das estratégias de marketing.”
A construção da brincadeira
As brincadeiras levam as crianças a compartilharem experiências em atividades onde não haja barreiras ao intercâmbio de ideias favorecendo sentimentos e experiências sobre situações práticas do dia-a-dia., surgindo assim, a necessidade de um espaço no qual as crianças possam desenvolver suas potencialidades criativas tornando-se agentes produtoras do conhecimento. Por isso, brincar não deve ser um momento de passar o tempo, ou estar delimitado apenas ao momento da Educação Física porque o ato de brincar e se movimentar fazem parte da infância e devem ser respeitada.
Segundo Freire (1991) “Dá pra imaginar o que representa para uma criança, que passou sete anos se movimentando, ser subitamente ‘amarrada’ e ‘amordaçada’ para, como se diz, ‘aprender’ o que é para ela uma linguagem, às vezes, totalmente estranha? A linguagem da imobilidade e do silêncio?”
Nesse sentindo, Brincar é compreendido como uma forma de linguagem em que a criança compreende o mundo e sua cultura. Ela constrói também sua autonomia, criatividade, criticidade e aprende a representar, interpretar e dar significado a sua realidade, atividades estas fundamentais para uma criança que está se alfabetizando.
Entende-se que o brinquedo representa uma das fontes onde a criança constrói-se culturalmente remetendo-a a questões tanto da realidade que a cerca quanto ao seu mundo imaginário. Sendo assim, a criança organiza seu ato de brincar de acordo com o sentido particular que atribui as suas ações, estabelecendo uma relação de interesse e prazer na brincadeira (ABRÃO, 2011).
O brinquedo constitui objeto da brincadeira, o mesmo objeto pode ser visto e manipulado de diferentes maneiras por várias crianças. Tudo o que a criança constrói na brincadeira é fruto de um contexto social em que está inserida. A partir disso elas observam, experimentam e interpretam vivências do cotidiano.
As crianças podem viver situações imaginárias, segundo suas experiências de vida, vivenciando situações que não as suas, mas que fazem parte de seu contexto. Sob esse aspecto, Harris (2002) destaca:
Desde a mais pequena idade, a maior parte das crianças têm a capacidade de se envolver ativamente em jogos simbólicos. Esses jogos sublinham três aspectos importantes da imaginação das crianças: a sua capacidade de pôr de parte a sua própria personalidade e de se imaginar estar no lugar de outra pessoa numa situação que não é a sua situação atual, imaginando essa situação, as crianças ficam limitadas pelo seu conhecimento dos processos causais do mundo real – elas interpelam no quadro dessa situação imaginária os mesmos processos e necessidades causais que sabem existir na realidade; e, enfim, se o jogo simbólico repousa sobre a invocação de situações afastadas da realidade presente, elas têm o poder de provocar emoções reais. (2002, p. 237).
A observação e análise da construção das brincadeiras das crianças nos permite interpretar e compreender como a criança projeta através do lúdico sua realidade social.
Se entendermos a brincadeira como produto de um meio social e cultural em que a criança está inserida, então, efetivamente, poderemos afirmar que a brincadeira se constitui, portanto, de algo que natural. As brincadeiras são construídas nos processos de relações que a criança encontra em seu meio social. Desta forma, as crianças recebem as primeiras intervenções sobre o brincar através dos adultos. Logo o brincar não se constitui algo inato no indivíduo. Através das descobertas nas brincadeiras, as crianças trazem sem seu comportamento a compreensão do que acontece e constroem assim, situações diversas das já vividas (ABRÃO, 2012).
No atual sistema educativo, jogos e brincadeiras podem ser entendidos a partir de três perspectivas complementares, como objeto de estudo: bloco de conteúdos que apresenta diferentes modalidades segundo a complexidade das normas que o regulam, o grau de envolvimento que exige dos participantes e as capacidades que pretende desenvolver. como estratégia metodológica uma atividade intrinsecamente motivadora que facilita a aproximação natural à pratica normalizada do exército físico, a qual não resulta, unicamente, em aprendizagens esportivas, tendo sentido em si mesma e favorece a exploração corporal, as relações com os demais e o aproveitamento coletivo do ócio; com meio globalizador, a qual interrelaciona conteúdos de Educação Física com outras áreas e eixos transversais. Sua prática potencializa atitudes e hábito de tipo cooperativo e social baseados na solidariedade, na tolerância, no respeito e na aceitação das normas de convivência. É, portanto, missão do professor especialista em Educação Física elaborar uma programação de aula adequada para obter com êxito a utilização da brincadeira como conteúdo essencial do currículo no Ensino Fundamental e como fio condutor e ferramenta obrigatória para a obtenção da aprendizagem significativa, globalizadora e interdisciplinar (BRASIL, 1998).
Bracht (2010) comenta que, quando se conceitualiza a ideia de brincadeira, outorga-se rapidamente o caráter lúdico, mas não o de meio de aprendizagem cognitiva. Associa-se a “brincadeira” às aulas de educação física, porque nelas os alunos se “divertem”, enquanto na matemática, nas línguas, etc., aprendem-se coisas mais “sérias” e “importantes”, em que não há espaço para o lúdico.
Frente a tais declarações, aparecem outras a favor do brincar, como as de Abrão & Figueiredo (2013), para quem a educação é muito mais que brincadeira, mas muito pouco sem ela. A brincadeira inicia a relação da criança com a educação e a mantém entre suas atividades como um pilar no qual se apoiam valores, conhecimentos e experiências.
Portanto, a brincadeira como ferramenta deve conduzir as tendências naturais para atividade socialmente necessárias, que em outras organizações sociais são satisfeitas por meio de um trabalho constritivo
A existência de uma brincadeira pressupõe acordo entre os indivíduos e sobre o que constituirá essa brincadeira e mesmo que se trata de uma brincadeira. É importante notar que nessa comunicação existe o preceito de interpretar e decidir, entrar na brincadeira e incidir sobre ela, em sua construção segundo a liberdade de cada um. Sem essa liberdade não existiria a brincadeira e sim comportamentos regrados automaticamente.
Para W. Benjamim o brincar significa sempre libertação, nesse sentido escreverá: “A banalização de uma existência insuportável contribuiu consideravelmente para o crescente interesse que jogos e brinquedos infantis passaram a despertar após o final da guerra.” (1984, p. 64).
A imaginação infantil sofre constantemente influências de um mundo globalizado, onde o mercado de produtos para a infância tende a padronizar as crianças do mundo inteiro, desconsiderando seu contexto social. O imaginário infantil é um processo de construção do conhecimento, desconsiderar esse fator é imaginar a criança como um ser incapaz e imaturo.
Pequeno histórico de evolução dos brinquedos
A palavra infância, para Áries (1979) vem de En-fant que significa "aquele que não fala, que não tem voz". Durante anos, a infância foi compreendida como a fase que prepararia as crianças para a vida adulta. Sobre este processo de construção, a criança sempre foi vista como um ser incapaz, não ocupante de um lugar na sociedade, não participante do meio em que estaria inserido. Caracterizava-se como um ser moldado por adultos, um ser sem valor, um ser isolado que nada sabe, mantendo-se nesta posição por muitos anos.
Na Idade Média não havia distinção em o que seria adequado para crianças e o que seria adequado aos adultos. Áries (1979) relata que a criança, neste período, “a partir do momento em que passava a agir sem solicitude de sua mãe, ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes", ou seja, a criança passava a ser como um adulto, porém em versão menor e vivia como tal.
A partir destas novas viabilizações da economia e frente a novos desafios econômicos pensava-se em como inserir a criança nesta mudança social e para tal seria necessária a criação de instituições públicas destinadas às essa. Desde então, o sentimento de infância e a preocupação com as crianças e sua educação só tende a crescer, pois se sabe que elas serão o futuro de uma humanidade.
Nesse período da vida é possível ser livre de um mundo de regras e responsabilidades que fazem parte da vida adulta. A infância é um tempo em que se pode brincar de esconde-esconde, de pega-pega, subir em muros e árvores, correr, pular utilizar a imaginação sem vergonha alguma de ser criança e, é isto que será destacado nos relatos dos futuros educadores (ABRÃO, 2012).
No período da infância não existe maldade, nem impurezas, existem muitas curiosidades, além de inocência e humildade. É através da imaginação, de uma forma muito inocente, que o mundo fica colorido, vira um conto em que se pode sonhar, sem importar-se com a concretização dos sonhos. Quando criança vive-se o presente, pensando o futuro como mais um dia de brincadeiras.
Desde os tempos mais remotos, os brinquedos sempre fizeram parte da história da humanidade. Houve uma época em que eram produzidos no ambiente doméstico pelas próprias famílias ou nas oficinas dos artesões. Podemos citar como exemplos a boneca de pano, o carrinho de madeira, o soldadinho de chumbo. Assim como esses brinquedos existiam as cantigas de roda e brincadeiras como “passará, amarelinha, cabra cega” entre outros. Essas brincadeiras foram passadas de geração a geração sofrendo alterações de acordo com a época e região e assim originando novos brinquedos que passaram inclusive a ser fabricados pela indústria.
Os pioneiros da indústria de brinquedos foram os alemães na região de Nuremberg, a fabricação ficava a cargo das famílias judias que exportavam para outros países. Sob essa perspectiva, surge, no Brasil, em 1937 a indústria de brinquedos Estrela, fundada por uma família de judeus que dominou por muitos anos produtos que marcaram a infância dos brasileiros. Nessa mesma época, outras indústrias começaram a surgir e acompanhar o comportamento social do país e do mundo. Assim nasceram os brinquedos de guerra nos anos 40, os espaciais nos anos 50, e as bonecas modernas como a Susi nos anos 60.
Com a evolução de novas tecnologias e a chegada da televisão, novos produtos surgem no mercado do brinquedo, temos a chegada do Telejogo nos anos 70, o Atari nos anos 80, até os atuais videogames.
A ludicidade é uma dimensão da linguagem, já que brincando a criança expressa-as com liberdade e utiliza a palavra como uma das formas de expressão. O movimento como linguagem privilegia a construção da autonomia onde a criança pode produzir conhecimentos através de contos, criação de histórias, cantando músicas relacionando-se com os colegas numa peça de teatro sem precisar ficar sentado e aprender calado conteúdos prontos e técnicas padronizadas.
As atividades lúdicas fazem parte da vida da criança não porque estas ainda não estão preparadas para enfrentar as responsabilidades sociais, mas porque a liberdade, a imaginação, a criatividade e o prazer fazem parte do seu cotidiano. O lúdico vem sendo associado a diferentes manifestações como o jogo, brinquedo, a brincadeira, a características como espontaneidade, criatividade, imaginação, prazer, alegria e divertimento, bem como a dimensão do corpo, do movimento e das atividades corporais.
Os brinquedos e a influência da mídia
Muito embora não aceitemos, mas o fato é que, a mídia cumpre um papel importante nas sociedades ocidentais. Esse papel foi rapidamente absorvido entre adultos e crianças destacando entre as culturas midiáticas, a televisão como meio de comum acesso a informações entre as diversas classes sociais.
A televisão vem cumprindo a função de inferir e transformar o referencial de cultura das crianças, sobretudo no que diz respeito ao lúdico. O lúdico está eminentemente atrelado ao que a televisão oferece e veicula em suas imagens.
As crianças tornam-se espectadoras e experimentadoras da variada gama de imagens e conteúdo que a televisão apresenta, na medida em que transportam essas imagens e conteúdos para o mundo da brincadeira. Assim têm a possibilidade de se transformarem em seu super-herói favorito ou mesmo viver a vida de boneca sem sua beleza e mundo perfeitos. Vivem histórias e aventuras construídas em suas brincadeiras de acordo com apropriações que fazem a partir do conteúdo exibido pela televisão.
Segundo Brougère (p. 53) “Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a televisão fornece às crianças conteúdo para suas brincadeiras”. Desta forma, o acesso a televisão torna a informação lúdica universal, uma criança pode não possuir determinado tipo de brinquedo, mas com certeza terá conhecimento sobre eles. Os filmes publicitários veiculados pela televisão exercem influência sobre a brincadeira das crianças mostrando o manuseio do brinquedo e encenações sobre a brincadeira de como brincar com este, idealizando o mundo e a brincadeira.
A criança desde antes de nascer já conta com um mundo de produtos a sua espera. O mercado de consumo infantil cresce a cada ano, abrangendo uma gama infinita de produtos desde higiene a confecção de roupas e brinquedos.
As crianças adquirem uma identidade de clientes que vislumbram os produtos, tornando-se consumidoras em potencial. Logo, o mercado sempre procura desenvolver produtos de acordo com as necessidades e anseios infantis. E desta forma, a indústria de produtos infantis investe pesado em mídia, pesquisas e atrativos em seu produto final para consolidar esse vínculo com tão “nobre cliente”.
Na maioria das vezes o desejo de compra da criança transpõe as razões do motivo pelo qual deseja tal produto. Os colegas têm, a mídia veicula toda a imagem idealizada do produto e incide sobre o desejo e a razão de ter tal produto. Em um mundo globalizado e uma sociedade capitalista a infância está efetivamente cada vez mais capitalizada.
Em dias de pouco convívio familiar, no qual pai e mãe trabalham com tantos compromissos a cumprir, as crianças ficam relegadas a essa convivência. Pais, no afã de suprirem essa carência de convívio e mesmo sem tempo para descobrirem os desejos e anseios de seus filhos acabam suscetíveis às questões de consumo. Vulneráveis a esse poder de compra, acabam algumas vezes adquirindo produtos influenciados pelos meios de comunicação. Os meios de comunicação veiculam através de imagens uma concepção de mundo onde tudo pode acontecer na mais plena perfeição, sem que algo de errado suceda. Consumir passa a ser um ato em que a criança sente-se inserida no mundo. Nesse sentido a veiculação de propagandas exerce papel essencial, onde:
Introduzir imagens de realidade num sistema que tem, ou teve, o imperativo categórico de desnaturar a realidade, falsificando-a, tornando-a mais bela, eliminando os conflitos existentes.(...) Suscitar dúvidas em vez de concordar com o conformismo das certezas.(...) Há cada vez mais gente disposta a refletir sobre a realidade e sobre os problemas sociais que a inquietam sem por isso deixar de comprar, até com certo prazer voluptuoso (TOSCANI, 1996, p. 59-60)
A criança não pode ser vista como desprovida de características e conhecimentos específicos inerentes a seu ser, por estar inserida em um contexto, traz consigo a sua própria história; ela constrói e reconstrói conhecimentos. É preciso que se abra aqui uma crítica acerca dos apelos técnicos veiculados na mídia e suas intenções. Faz-se necessário analisar os sujeitos que serão envoltos nessa veiculação e implicados pela produção e recepção imagética.
As crianças e o brinquedo na sociedade
Na sociedade em que vivemos é notório que as crianças são, cada vez mais, alvos das propagandas apelativas de brinquedos e produtos de diversos personagens dos desenhos animados do momento. Os brinquedos variam de acordo com a faixa etária das crianças, sendo que as propagandas despertam interesses nas crianças e posteriormente nos pais, que compram os produtos para seus filhos na intenção de preencher algum momento que não lhes deram a atenção necessária.
A criança tem a capacidade de navegar entre os dois mundos o real e o irreal, este último referente ao pensamento ilógico que a partir dos objetos que os adultos julgam como desnecessários, elas criam seus próprios brinquedos e mundos de faz de conta. As crianças possuem uma capacidade muito grande de imaginação, através do brinquedo ou de simples objetos encontrados no dia-a-dia inventar algo igual ou parecido com os brinquedos que desejam. Como é mencionado por Winnicot (1995, p. 79):
O objeto referenciado não perde a sua identidade própria e, é ao mesmo tempo transmutado pelo imaginário: a criança pode passar a ser um astronauta, um índio, ou um modelo exibindo-se nas passarelas, ou um gato sem deixar de ser ela própria, assim como o toco do uma vassoura se transmuta numa espada, ou num cavalo, e um a toalha se transforma numa túnica ou numa bandeira, sem que a criança perca a noção da identidade de origem.
Para que existam brinquedos é preciso que certos membros da sociedade deem sentido ao fato de que se produza, distribua e se consuma brinquedos, sendo que este possui como principal característica de um forte valor cultural percebendo que ele é rico de significados que permitem compreender a sociedade e a cultura que vivemos ou estamos inseridos.
Segundo Gilles Brougère (1995), o brinquedo se mostra como um objeto complexo que permite a compreensão do funcionamento da cultura, o mesmo não condiciona a ação da criança, ele lhe oferece um suporte determinado, mas que ganhará novos significados através da brincadeira.
É através do brincar que a criança está experimentando o mundo, os movimentos e as reações, tendo assim elementos para desenvolver atividades elaboradas no futuro. A criança aprende brincando e através disto irá entender o mundo ao redor, irá testar habilidades físicas e motoras, funções sociais, aprender as regras, colher resultados dos seus feitos, ganhando ou perdendo, registrando como deverá proceder nas próximas oportunidades. Assim, o importante é que as crianças brinquem e experimentem inúmeras formas de brincadeiras e jogos, sem preconceitos culturais.
O brinquedo exerce forte influência na formação da personalidade infantil, pois está associado às necessidades da criança durante o período da infância. Na escola, acredita-se que a criança aprenda melhor brincando e que todos os conteúdos possam ser transmitidos através do brincar, pois o desenvolvimento da criança se dá através do lúdico. As atividades poderão ser adaptadas para que sejam prazerosas e atraentes, as crianças brincam para crescer.
Nesse sentindo, os brinquedos tornam-se recursos didáticos de aplicação e valor no processo ensino-aprendizagem. O brinquedo conquista um espaço na educação, ou seja, ganha caráter educativo, eliminando a falta de importância vista nas atividades predominantemente lúdicas.
É ainda no espaço da escola que se encontram os problemas com relação à corporeidade, à expressão corporal, ao corpo. Cada pessoa faz parte como ser corpóreo ao meio sociocultural em que está inserido, traçando diferentes histórias corporais uns com os outros. Sobre isso, Gonçalves (1994, p. 14) menciona que “ao longo da história humana, o homem apresenta inúmeras variações na concepção e no tratamento de seu corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que revelaram e revelam as relações do corpo com um determinado contexto social”.
Considerações
No presente trabalho tentou-se abordar o máximo de questões em torno do brinquedo, porém sem que houvesse um distanciamento da questão primeira que é considerar ao brincar como atividade própria da infância. Desta forma, a brincadeira torna-se um portal de entrada ao mundo cultural da criança onde ela reproduz em suas ações sua bagagem de conhecimentos acerca da ludicidade.
Pôde-se verificar que a cultura lúdica das crianças pesquisadas tem a mesma origem, ou seja, na mídia; mais especificamente na televisão.
Brincadeira, imaginação e cultura e cultura sempre estarão em estados combinados transformados pela criança que brinca. Sob essa perspectiva a criança organiza a atividade lúdica através de sua relação com o mundo circundante.
Sendo assim, se faz necessário ao educador conhecer os elementos que formam a cultura lúdica do aluno. Através desses elementos constituidores do brincar o educador poderá interagir com a realidade histórica cultural, elencando os principais objetos como fatores que poderão auxiliar no processo ensino-aprendizagem.
É necessário que o educador não tenha conceitos prontos com relação às brincadeiras e seus gêneros ou comportamentos. Procurar por explicações psicológicas nas brincadeiras das crianças, por vezes é algo que implica em querer dizer que a criança está dissimulando comportamentos e muitas vezes ela está apenas brincando.
As crianças levam realmente a brincadeira muito a sério, são os seus momentos, são os seus acordos. Talvez o mundo adulto ainda não entenda esse momento da brincadeira, pois cultiva ainda uma visão autocêntrica.
A escola deve repensar o tipo de infância que se está reproduzindo e que tipo de sociedade quer realmente formar, sem esquecer antes de tudo que criança deve ser criança e viver sua infância. A escola precisa perceber que a criança é um corpo, e este está integrado ao meio, seja ele físico social ou cultural. Por isso, as diferentes experiências de movimento devem ser proporcionadas às crianças sempre Educação Infantil, no primeiro ano, no segundo ano, no terceiro ano e assim por toda vida escolar da criança. Sendo assim, é importante que esta proporcione aos alunos vivências corporais que valorizem culturas diferenciadas, pois o movimento na infância também possibilita descobertas e o conhecimento na formação humana integral e plena.
Referências
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_________. A política de organização das infâncias e o currículo da Educação Infantil e do primeiro ano. Zero-a-seis. Volume 1. 2012.
_________. & FIGUEIREDO, M. A corporeidade infantil nos espaços da escola. Vivências. Volume 16. 2013.
ÁRIES, P. História Social da Criança e da família. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
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BENJAMIN, W. Reflexões: A criança, o brinquedo e a educação (M.V. Mazzari, Trad.). São Paulo: Summus. 1984.
BRACHT, V. et al. A educação física escolar como tema da produção do conhecimento nos periódicos da área no Brasil (1980-2010): parte I. Porto Alegre. Movimento, Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 11-34, 2010.
BROUGÈRE, G. Brinquedo e Cultura, São Paulo: Cortez, 1995.
CAPPARELLI, S. A poesia para crianças de quatro anos é poesia? A criança de 14 anos que lê poesia é criança? In: Tigre Albino revista de poesia infantil. v. 2, n. 1 – 15.07.2008. Disponível em: http://www.tigrealbino.com.br. Acesso em 18/10/2009.
FREIRE, J. Educação de corpo inteiro: teoria e prática de educação física. São Paulo: Scipione, 1991.
GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar e agir: corporeidade e educação. Campinas: Papirus, 1994.
HARRIS, P. Understanding of permission rules by pre-school children. Child Development, 67, 1572-1591. 1996.
TOSCANI, O. A publicidade é um cadáver que nos sorri. São Paulo: Ediouro, 1996.
WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Trad. J. O. A. Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago (1975).
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