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Nível de atividades físicas habituais de jovens escolares

Nivel de actividades física habituales en jóvenes estudiantes

 

Licenciado em Educação Física (UNISINOS/RS)

Especialista em Metodologia e pesquisa em Educação Física (FIA/SP)

Mestrando em Ciências da Educação (UFSC/SC)

Professor do Instituto Federal Catarinense (IFC/SC)

Paulo Fernando Mesquita Junior

paulo.junior@ifc-sombrio.edu.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo da pesquisa é analisar o nível de atividades físicas habituais de jovens escolares da instituição, de maneira a estruturar as ações ofertadas a estes no que se refere à cultura corporal do movimento. A amostra da pesquisa constituiu-se por aproximadamente 440 alunos de ambos os sexos, compreendendo a faixa etária dos 13 aos 19 anos de idade. As informações acerca do nível de atividades físicas habituais da amostra da pesquisa foram obtidas mediante a aplicação do questionário de atividades físicas habituais, desenvolvido originalmente por Ross El R. Patê – University of South Carolina/EUA traduzido e modificado por Nahas (2003, p. 44). Conclui-se que os meninos apresentam resultados superiores na maior parte dos levantamentos quando comparados às meninas. Entretanto, fica evidenciado que a questão de gênero persiste configurando um quadro de sexismo, onde as moças continuam a serem desprestigiadas quando se refere à prática de atividades físicas habituais voltadas a categoria do lazer. Portanto, programas escolares também devem focar mudanças de comportamento para incentivar o engajamento em atividades fora das aulas, pois crianças ativas tendem a incorporar este hábito ao longo da vida.

          Unitermos: Atividades físicas habituais. Qualidade de vida. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Hoje as evidências científicas sobre a importância de um estilo de vida ativo é um fato consolidado, e a veiculação de informações sobre a importância de um estilo de vida saudável, para a qualificação da qualidade de vida das pessoas de todas as faixas etárias, é atualmente algo do senso comum e que está presente no dia a dia das pessoas. Um exemplo claro disso é a cobertura deste tema pelos diversos meios de comunicação, em especial pela mídia televisiva, como por exemplo, o programa Bem Estar, Medida Certa e Medidinha Certa ambos da programação da TV aberta. Contudo, de acordo com Nahas (2003) apesar de todas essas constatações, um número considerável de pessoas ainda parecem desinformados ou descompromissadas com os benefícios proporcionados a médio e longo prazo pela prática regular de atividades físicas, de uma alimentação equilibrada e de outros comportamentos relacionados à saúde.

    Segundo Hensley et al (apud GONÇALVES, 1995, p. 71), “o crescente aumento na ingesta calórica aliado a uma mecanização cada vez maior da sociedade moderna, vem resultando num sedentarismo progressivamente mais acentuado, contribuindo decisivamente para o aparecimento de inúmeros fatores de risco relacionados com os distúrbios crônicos degenerativos em crianças e adolescentes, como obesidade, hipertensão, diabetes, etc.”. Weineck (1991) destaca que o sedentarismo, ou seja, a carência da prática regular de atividades físicas representa um grande problema, principalmente para os jovens que se encontram em um período de crescimento.

    Malafia (2012) aponta que o Brasil está na 77ª posição na lista dos maiores índices de massa corporal do mundo (BMI, o indicador padrão para avaliar peso). Ainda no estudo, elaborado em 2005, os brasileiros somam 3,10% das 287 milhões de toneladas, subindo para 4% no quesito “sobrepeso”. Ainda pode-se destacar que atualmente há entre a população de jovens brasileiros entre 10 e 19 anos, 21,7% de jovens com excesso de peso. (O FUTURO, 2012).

    Baumgartner & Jackson e Lohman (apud LOPES e NETO, 1996, p. 39) apontam que “as mudanças nos padrões de atividades físicas e nutrição de hoje são responsáveis por alterações desfavoráveis na composição corporal de crianças e jovens”. Está comprovado que uma criança com excesso de gordura corporal, geralmente leva a uma obesidade na vida adulta. Além de que, crianças e jovens que possuem o hábito da prática regular de atividades físicas, tendem a dar continuidade desse na vida adulta. (COOPER, 1992).

    “A televisão pode ocupar por vezes de 25 a 30 horas semanais da criança” (SHERIF & & RATTRAY apud FARINATTI, 1995, p. 29), horas que poderiam ser alocadas em outras atividades. Sem mencionarmos que diante do avanço tecnológico, a internet hoje é outro grande elemento que vem ocupando a carga horário semanal de nossos jovens. Ainda, Ramos (2002) pondera que períodos de aulas excessivamente longos contribuem para que não haja sobra de tempo para a prática de atividades físicas, o que contribui significativamente para a aquisição dos malefícios da falta de exercícios físicos regulares.

    Então, se torna imprescindíveis ações que interfiram no comportamento de risco, como a inatividade física. Assim, a avaliação do nível de atividades físicas habituais de jovens escolares se torna necessário para que se possam propor alternativas que contribuam para que esses alunos possam adotar hábitos e atitudes favoráveis a uma melhor qualidade de vida, de maneira que adote a exercitação como parte e um estilo de vida no qual, antes de uma obrigação, represente um prazer e um direito (FARINATTI, 1995). E como menciona Mesquita (2011):

    […] e sua realização nos espaços de educação formal, apresenta maior relevância ainda, uma vez que este espaço é privilegiado no que se diz respeito à oferta de práticas físicas orientadas, que possuem relação direta com a melhora dos níveis de Aptidão Física relacionada à saúde dos educandos, além de ser este local o mais indicado, através da oferta da disciplina de Educação Física, para aquisição de conhecimentos, atitudes e hábitos importantíssimos referentes ao exercício físico e qualidade de vida.

    O presente estudo com preocupações definidas no âmbito do nível de atividades físicas habituais de jovens escolares inseriu-se no espaço das investigações referenciadas a responder ao seguinte questionamento: qual o nível de atividades físicas habituais dos jovens escolares ingressos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense Campus Sombrio?

    Tendo como objetivo analisar o nível de atividades físicas habituais destes jovens escolares, de maneira a estruturar as ações ofertadas a estes no que se refere à cultura corporal do movimento.

2.     Procedimentos metodológicos

    Para elaboração do estudo foram utilizadas informações obtidas a partir da aplicação do questionário de atividades físicas habituais, desenvolvido originalmente por Rossel R. Pate – University of South Carolina/EUA traduzido e modificado por Nahas (2003, p. 44). As informações acerca dos níveis de atividades físicas habituais obtidas por intermédio deste questionário levam em consideração atividades comuns do cotidiano. Nesse caso, as atividades do cotidiano são classificadas em duas categorias: atividades ocupacionais diárias e atividades de lazer. Onde a primeira categoria leva em consideração atividades como o deslocamento para o trabalho (escola) e como se dá a intensidade da execução das atividades no ambiente de trabalho (escola). Na categoria voltada a atividades de lazer têm-se questionamentos voltados a atividades como andar de bicicleta, caminhadas, participação em esportes, aulas de dança, e outras atividades do gênero.

    O projeto de pesquisa teve como alvo 440 escolares regularmente matriculados no curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio do Instituto Federal Catarinense Campus Sombrio. Optou-se por envolver sujeitos do curso em questão, por conta do objetivo da pesquisa visando intervir positivamente na questão dos hábitos de atividades físicas regulares desde o ingresso na instituição. A inclusão dos sujeitos no estudo ocorreu por desejo em participar da pesquisa. Dos 440 escolares matriculados, 100% concordaram em participar do estudo (tabela 1).

Tabela 1. Número de sujeitos analisados

    Para a apresentação e análise dos dados utilizou-se de procedimentos da estatística descritiva, neste caso percentagem. Buscando caracterizar os dados no que se refere ao nível habitual de atividades físicas e o tipo de atividade mais comumente usufruída.

3.     Resultados e discussão

    Em relação aos resultados encontrados no que se refere aos níveis de atividade física habitual, no gráfico 1 revela-se que 20,83% dos meninos envolvidos no estudo são classificados como muito ativos, 33,78% moderadamente ativos e 45,27% são considerados pouco ativos. Entre as meninas, apenas 5,76% são consideradas muito ativas, já 23,68% apresentam-se como moderadamente ativas e 70,17% são consideradas pouco ativas.

Gráfico 1. Níveis de atividades físicas habituais por sexo

    Realizando uma observação da amostra no geral, ainda em relação ao nível de atividades físicas habituais, conforme o gráfico 2 identifica-se que 15,68% dos jovens analisados são considerados muito ativos, 31,13% encontram-se no nível de moderadamente ativos e 53,19% enquadram-se como pouco ativos.

    Também se evidenciou (gráfico 3) que em relação ao tipo de categoria das atividades do cotidiano em que os jovens mais se envolvem, 80,55% dos rapazes ocupam-se mais com atividades de lazer, e apenas 19,45% envolvem-se mais com atividades ocupacionais diárias. Já entre as moças 44,23% ocupam-se mais com atividades de lazer e 55,76% envolvem-se mais com atividades ocupacionais diárias.

Gráfico 2. Nível de atividades físicas habituais por sexo

 

Gráfico 3. Categoria de atividades mais usuais

Discussão dos resultados

    O nível de atividades físicas habituais é um indicativo importante na atual conjuntura da sociedade moderna, especialmente quando nos referimos à qualidade de vida, onde a atividade física tem grande importância. Colaborando com isso o Instituto Americano de pesquisa do Câncer aponta que “poucas coisas na vida são mais importante do que a saúde. E poucas coisas são tão essenciais para a saúde e o bem estar como a atividade física.” (apud NAHAS, 2003, p.18). Além de que, é importante lembrar que crianças e jovens que possuem o hábito da prática regular de atividades físicas, tendem a dar continuidade desses na vida adulta. (COOPER, 1992).

    Diante dos dados sobre os níveis de atividades físicas habituais por sexo, permiti-se constatar que os meninos são mais ativos em relação às meninas. O que de acordo com Matias (2009) é uma constatação comum entre os estudos deste tema, configurando-se o sexo masculino como mais fortemente ligado a atividade física. E concordamos que também é comum se recorrer para a explicação desta constatação, as diferenças encontradas no âmbito sociocultural. Conforme Guedes (2001, p.194) o maior tempo usufruído por meninos para a prática de exercícios físicos pode “explicar-se pela distribuição de papéis na sociedade, tradicionalmente atribuídos a um e outro sexo”.

    Gambardella (1995 apud MATIAS, 2009, p.239) afirma, por exemplo, que desde a infância os meninos são estimulados às práticas esportivas e a atividades físicas como subir em árvores, andar de bicicleta, e, principalmente “jogar bola”, enquanto as meninas são mais encorajadas ao desenvolvimento de atividades tipicamente sedentárias.

    Segundo Guedes (2001, p.194) ainda pode-se remeter-se a questão biológica para tal diferença, onde “a prática de exercícios físicos e de esportes entre os rapazes pode ser facilitada por adaptações morfológicas e fisiológicas com predomínio dos sistemas músculo-esquelético e de fornecimento de energia”.

    Considerando-se que o questionário apresenta que a faixa ideal para a saúde da maioria das pessoas é a de Moderadamente Ativo (a), podemos apontar que os jovens pesquisados no geral apresentaram um percentual desfavorável, e que vai ao encontro dos índices obtidos por outras amostragens em outros estudos, onde Matias (2009) destaca que estudos no Brasil apresentam índices relacionados ao baixo nível de atividades físicas habituais em torno de 39% a em alguns casos 90%. Contudo, a de se destacar que o instrumento utilizado para a coleta de dados não é específico para a população jovem.

    Em relação aos resultados por categoria de atividades mais usuais, evidencia-se que os rapazes optam na sua grande maioria por configurar as suas atividades físicas habituais no campo do lazer esportivo, enquanto a maioria das moças ocupa-se mais com atividades ocupacionais diárias. Esse quadro também poderia ser explicado pelas questões socioculturais citadas anteriormente, além de que surge o fato de como são alunos residentes na instituição, devido à modalidade de ensino integral, depois de encerrado o período de obrigações escolares, possuem a sua disposição uma infraestrutura variada de equipamentos específicos de lazer físico esportivo que fomenta de certa forma essa prática. E socialmente a ocupação destes espaços tem ao longo da história privilegiada o gênero masculino, teríamos de acordo com Bourdieu (2003) uma dominação masculina permeada por certa violência simbólica, e que levaria a uma grande parcela das meninas a não direcionarem-se para esta categoria de atividades, sendo esta postura adotada como algo natural, enquanto conforme Bourdieu não seria.

4.     Conclusão

    Em suma, a partir dos resultados adquiridos, conclui-se que os rapazes apresentam resultados superiores na maior parte dos levantamentos quando comparados às meninas. O que de certa forma é comum nos estudos já realizados com esta temática, além de haver explicações no campo sociocultural e também biológico que justificam de certa forma os resultados. E que se tratando do nível de atividades físicas habituais, no presente a parcela de pesquisados que apresentam níveis satisfatórios de acordo com os índices de referência preconizados, não é representativa, especialmente em comparação aos índices alcançados por amostras de outros estudos.

    Também fica evidenciado que a questão de gênero persiste configurando um quadro de sexismo, onde as moças continuam a serem desprestigiadas quando se refere à prática de atividades físicas habituais voltadas a categoria do lazer. Por esse quadro estão mais expostas a uma baixa aptidão física, o que pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta, e inclusive na alteração dos valores da massa corporal e índice de massa corporal (GAYA, 1997).

    Portanto, corroboramos com Alves (2003) quando relata que, programas escolares também devem focar mudanças de comportamento para incentivar o engajamento em atividades fora das aulas, pois crianças ativas tendem a incorporar este hábito ao longo da vida, o que reduz a propensão ao desenvolvimento de doenças relacionadas à hipocinesia na vida adulta.

Referências

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