A relação da leptina, grelina e insulina com a obesidade La relación de la leptina, grelina e insulina con la obesidad |
|||
Pós-graduando em Treinamento desportivo e Fisiologia do exercício pela Universidade Castelo Branco (Brasil) |
Marckson da Silva Paula |
|
|
Resumo O presente estudo teve como objetivo verificar a relação da leptina, grelina e insulina com a obesidade, criando uma associação entre os termos e reunindo informações sobre este tema. O estudo baseou-se em uma revisão de literatura, onde foram analisados artigos de diversos periódicos com os seguintes termos: Leptina, Grelina, Insulina, Controle de apetite, Leptina e Grelina. Unitermos: Leptina. Grelina. Insulina. Controle de apetite.
Resumen El presente estudio tuvo como objetivo investigar la relación entre la leptina, la grelina y la insulina con la obesidad, la creación de una asociación entre los términos y la recopilación de información sobre este tema. El estudio se basó en una revisión de la literatura, que analizó los artículos de varias revistas con los siguientes términos: leptina, grelina, insulina, el control del apetito, leptina y grelina. Palabras clave: Leptina. Grelina. Insulina. Control del apetito.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A obesidade é um fator de risco para diversas doenças crônico-degenerativas, algumas delas como a hipertensão, diabetes, aterosclerose, etc. Antes de tudo, o termo obesidade deve ser definido claramente. Segundo Campos (2011), a obesidade refere-se a uma situação em que um indivíduo possui uma quantidade em excesso de gordura corporal. Outros autores também definem a obesidade como uma situação de excesso de gordura corporal (LUCIANO e LIVIERI, 2003 apud TRICHÊS e TAKASE, 2010), com a situação de consumo excessivo de gordura e baixo gasto energético (TRICHÊS e TAKASE, 2010), etc.
Alguns fatores são associados à obesidade, um desses fatores pode ser a secreção da leptina, uma vez que esse hormônio está ligado ao controle do peso corporal, à saciedade. Campos (2011) afirma que a deficiência desse hormônio pode ser um fator causador da obesidade e diabetes, o autor também afirma que a leptina participa no balanço energético, funcionando como um sensor, enviando informações ao cérebro.
Campos (2011) relata que a principal função da leptina é a de informar ao hipotálamo sobre a quantidade de gordura presente nas células que acumulam gordura, as células adiposas.
Outro hormônio que tem associação à obesidade é a grelina, a ação da grelina, que é outro hormônio importante, atuante na regulação do apetite, tem suas secreções aumentadas em períodos de jejum prolongado, de forma antagônica ela estimula a fome, diminuindo a saciedade e, com isso, há a necessidade da ingestão alimentar. A grelina, ao contrário da leptina, atua com estímulo ao apetite, à fome, já a leptina tem ação inibitória à fome. Em pessoas obesas as concentrações de leptina são maiores, pois quanto mais tecido adiposo maior são os níveis circulantes de leptina.
Assim como a ação da leptina e grelina são consideradas importantes no que diz respeito à obesidade, outro fator que é relevante nesse aspecto é a secreção do hormônio insulina, ele é responsável pelo controle da glicemia, metabolismo das gorduras. Para atuar no controle da glicose, a insulina capta a glicose plasmática em excesso e reabastece o glicogênio muscular, após ocorrer o transbordamento do glicogênio muscular, a glicose em excesso é enviada ao tecido adiposo.
Objetivo
Verificar a relação entre os hormônios leptina, grelina e insulina com a obesidade, buscando informações que enriqueçam esse tema.
Metodologia
A pesquisa foi caracterizada por ser do tipo revisão de literatura, onde foram analisados artigos dos periódicos EFDeportes.com, Scielo Brasil, LILACS, utilizando os seguintes termos: Leptina, Grelina, Insulina, Controle de apetite, Leptina e Grelina.
A obesidade
A obesidade, além de uma doença e um agravo à saúde pode ser considerada como um processo inflamatório, essa afirmação traduz o fato de que quando um indivíduo encontra-se obeso há várias citocinas e proteínas ligadas à inflamação e que estão presentes em obesos a nível elevado, onde os adipócitos secretam várias dessas citocinas, que são as adipocinas (TRAYHURN, 2007; DAS, 2001; BULLO, 2003 apud PRADO et al., 2009). Como mostra a Tabela 1, as adipocinas que têm relação com o processo de obesidade causam inflamação nessa situação.
Tabela 1. Adipocinas e seus efeitos na obesidade
Hoje em dia, além de saber que a obesidade e o excesso de gordura corporal podem influenciar na prevalência de doenças crônico-degenerativas, é de extrema importância saber dos efeitos negativos sobre a localização dessa gordura corporal em algumas regiões. Existem padrões de distribuição de gordura corporal, onde o padrão ginóide, que tem maior acúmulo de gordura nos membros inferiores, está mais relacionado a mulheres e o padrão androide, onde há predominância de gordura corporal no tronco, está mais relacionado a homens. Confirmando a idéia de que a localização da gordura corporal pode ser associada às doenças metabólicas, Campos (2011) cita que uma dessas doenças é a diabetes, o autor ainda relata que o tecido adiposo do abdome é mais sensível à estimulação lipolítica causada pelos hormônios, isso faz com que seja aumentado os ácidos graxos circulantes, causando uma maior resistência à insulina e, por conseqüência, a hiperinsulinemia, acarretando no aumento de gordura nessa região. Na tabela 2, pode-se perceber a associação de prevalência de fatores de risco à saúde com a circunferência abdominal.
Tabela 2. Risco de doenças metabólicas associado à circunferência abdominal
As células adiposas são as responsáveis pelo acúmulo da gordura, elas podem aumentar de tamanho e, com isso, englobar uma quantidade maior de gorduras, que é o processo de hipertrofia das células adiposas ou pode haver aumento do número dessas células, que é o processo de hiperplasia. Crianças obesas têm de duas a três vezes maior predisposição de serem adultos obesos, pelo fato de terem acumulado maior quantidade de células adiposas na infância, levando esse lastro fisiológico para a fase adulta. O número de células adiposas em crianças pode ser de até três vezes maior que em crianças não obesas (CAMPOS, 2011).
Leptina, Grelina e Insulina
A leptina e a grelina são hormônios que atuam de forma antagônica no controle do apetite, entre outras funções, onde a leptina pode ser considerada um hormônio que é secretado pelo tecido adiposo quando há uma inflamação crônica (YUDKIN et al., 1999; DAS, 2001; FESTA et al.; 2001; ENGSTROM et al.; 2003 apud PRADO et al.; 2009).
Prado et al. (2009) cita que o tecido adiposo é dividido em dois tipos, o tecido adiposo branco (TAB) e o tecido adiposo marrom (TAM), onde, segundo Negrão e Licinio (2000), a leptina é tem sua produção em grande parte pelo tecido adiposo branco (TAB), esse hormônio atua em comunicação com um neuropeptídeo que é sintetizado pelo hipotálamo e é um potente estimulador da ingestão alimentar, que é o neuropeptídeo Y (NPY) e o peptídeo que está ligado à proteína Agouti (AGRP) (GUIMARÃES et al., 2007; DA MOTA e ZANESCO, 2007).
A quantidade de leptina indica a quantidade de tecido adiposo, a identificação desse agente nos ajuda a entender que nosso corpo possui um indicador de gordura corporal que passa essa informação ao cérebro (CAMPOS, 2011; NEGRÃO e LICINIO). Em pessoas magras, a concentração de leptina é menor que em pessoas obesas, tendo assim, uma função anorexígena (LEE, REED e PRINCE, 2001; PÉRUSSE et al., 1997; SUDI et al., 2001; ENGSTROM et al., 2003 apud DA MOTA e ZANESCO, 2007).
Em estudos feitos com camundongos, observou-se que com a diminuição dos níveis plasmáticos de leptina, o tecido adiposo diminui e o animal come mais, em contrapartida, com o aumento dos níveis plasmáticos de leptina, o tecido adiposo aumenta e o animal come menos (KANDEL, 2003; KOLB e WHISHAW, 2002; BERTHOUD, 2002 apud TRICHÊS e TAKASE, 2010). Comprovando esse fato, Campos (2011) também confirma que há uma relação positiva da leptina com a obesidade, onde as concentrações elevadas de gordura nas células adiposas causam o aumento na secreção da leptina no sistema circulatório, com isso, há um estímulo para que o hipotálamo diminua a fome e aumente o metabolismo de repouso. Em pessoas obesas, as concentrações de leptina são altas, a fim de reduzir o apetite e aumentar o metabolismo de repouso das mesmas, porém, pode-se afirmar que os obesos são resistentes à leptina.
Em outro estudo realizado por Eguchi et al. (2008), com animais, nesse caso, 32 ratos machos da raça Winstar, analisou as concentrações de leptina e concluiu que esse hormônio tem correlação positiva com a obesidade, apresentando concentrações elevadas de leptina em indivíduos obesos.
Em situação de jejum prolongado ou em dietas com baixa ingestão calórica, os níveis de leptina diminuem, com isso, o hipotálamo induz a fome e o metabolismo de repouso também diminui, fazendo com que haja assim a diminuição do gasto energético e o aumento da ingestão alimentar para promover o estado de homeostase (CAMPOS, 2011). Corroborando com a informação de que os níveis plasmáticos de leptina diminuem em jejum, Hickey et al. (1997 apud NEGRÃO e LICINIO, 2000), ainda comentam sobre os fatores extras que contribuem para a diminuição das concentrações de leptina, como o exercício moderado e o frio.
A grelina é um hormônio muito importante, produzido predominantemente no estômago, com função orexígena. Kojima et al. (2001 apud ROMERO e ZANESCO, 2006) afirma que uma das suas principais funções está no aumento da secreção do hormônio do crescimento (GH), além disso, é responsável pelo aumento do apetite, diminuindo a saciedade. Alguns estudos, como o de Nakazato et al. (2001 apud ROMERO e ZANESCO, 2006) mostram que esse hormônio está ligado ao balanço energético e a ingestão alimentar por meio de comunicação com o hipotálamo.
A grelina tem suas concentrações diminuídas quando o indivíduo se alimenta, já em estado de jejum prolongado, as concentrações aumentam e há uma necessidade maior de que haja a ingestão de alimentos, a ação da grelina é antagônica à ação da leptina. Outra informação importante sobre esse hormônio é que ele faz com que haja uma diminuição da queima de gorduras e causa um aumento da ingestão alimentar, aumentando também o acúmulo de gordura. (UKKOLA e POYKOO, 2002 apud ROMERO e ZANESCO, 2006).
Em obesos, as concentrações de grelina são menores do que em indivíduos eutróficos, a redução da massa corporal faz com que haja um aumento dos níveis plasmáticos de grelina, isso nos leva a entender que há uma compensação do déficit energético (DATTILO, MEDEIROS e SAAD, 2009).
Assim como a insulina, a grelina está associada ao aumento da adiposidade, a insulina promove a captação da glicose e, consequentemente, a uma fome rebote e a grelina é responsável pela sensação de fome, aumento do apetite.
A insulina, produzida pelas células beta do pâncreas, é um hormônio muito importante, além de promover a captação da glicose e controle da glicemia, atuando no metabolismo das gorduras, quando ocorre uma hiperglicemia, os níveis de insulina são aumentados e, ocorre a captação da glicose sanguínea para o interior do tecido adiposo, gerando maior acúmulo de gorduras, também participa da captação dos aminoácidos e da síntese de proteínas para dentro do tecido muscular (KATCH e MCARDLLE, 2002, p.344).
Os autores Van de Sande-Lee e Velloso (2012) citam que a insulina , assim como a leptina, tem função de regular o balanço energético. Contrastando com seus efeitos anabólicos, a ação da insulina pode resultar em uma ação hipotalâmica que produz efeitos catabólicos, pode haver uma inter-relação da ação desses dois hormônios.
Katch e Mcardlle (2002, p.217) também relatam que quando há um aumento das concentrações de insulina, há também a inibição da lipólise (quebra das gorduras), isso reduz a mobilização dos ácidos graxos presentes no tecido adiposo, logo, haverá depleção do glicogênio muscular, gerando a fadiga muscular prematura. Entende-se que o índice glicêmico dos alimentos deve ser levado em conta, uma vez que alimentos com alto índice glicêmico tendem a fazer aumentar as concentrações de insulina e, com isso, impedir o processo de queima das gorduras.
Conclusões
Conclui-se que, os hormônios abordados nesse estudo têm relação positiva com a obesidade, seja no controle do apetite, através de estímulos hipotalâmicos, na captação de glicose sanguínea, balanço energético, mobilização dos ácidos graxos livres provenientes do tecido adiposo, pode-se constatar também, que o tecido adiposo é responsável por secretar adipocinas ligadas ao processo inflamatório que é a obesidade. Há evidências que mostram que a obesidade está ligada à genética, devido à proliferação de células adiposas na infância, também há uma relação positiva do consumo de alimentos de alto índice glicêmico com o aumento das concentrações de insulina e, consequentemente, há inibição do processo de quebra de gorduras, a lipólise. Algumas outras adipocinas importantes no processo inflamatório da obesidade não foram abordadas de forma mais aprofundada, como a TNF-α, Adiponectina, IL-6, porém, exercem papel relevante no processo inflamatório da obesidade.
Referências
BENATTI, F. B, JUNIOR, A. H. L. Leptina e exercício físico aeróbio: implicações da adiposidade corporal e insulina. Rev. Bras. Med. Esporte. vol.13 n.4 Niterói jul/ago. de 2007.
CAMPOS, M. A. Musculação: Diabéticos, osteoporóticos, idosos, crianças, obesos. Sprint: Rio de Janeiro, 2011, 5ª Ed.
DA MOTA, G. R, ZANESCO, A. Leptina, ghrelina e exercício físico. Arq. Bras. Endocrinol. Metab. vol. 51 n.1 São Paulo Fev. de 2007.
DATTILO, M, MEDEIROS, R. de, SAAD, M. Aspectos fisiológicos do comportamento alimentar e sua relação com o exercício físico. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14, nº 134, Julho de 2009. http://www.efdeportes.com/efd134/comportamento-alimentar-e-sua-relacao-com-o-exercicio-fisico.htm
EGUCHI et al, R. Efeito do exercício crônico sobre a concentração circulante da leptina e grelina em ratos com obesidade induzida por dieta. Rev. Bras. Med. Esporte. vol.14 n.3 Niterói maio/jun. de 2008.
GUIMARÃES, D. E. D. et al. Adipocitocinas: uma nova visão do tecido adiposo. Rev. Nutr. vol. 20 n.5 Campinas, Set. de 2007.
HALPERN et al, M. F. F. Determinantes fisiológicos do controle de peso e apetite. Rev. Psiquiatr. Clín. vol. 31 n.4 São Paulo, 2004.
MCARDLLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fundamentos de Fisiologia do exercício. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
MEDIANO et al, M. F. F. Efeito do exercício físico na sensibilidade à insulina em mulheres obesas submetidas a programa de perda de peso: um ensaio clínico. Arq. Bras. Endocrinol. Metab. vol. 51 n.6 São Paulo, Ago. de 2007.
MOTA et al, M. R. A contribuição fisiológica dos exercícios físicos para o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes escolares. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 17, nº 169, Junho de 2012. http://www.efdeportes.com/efd169/exercicios-fisicos-para-obesidade-em-criancas.htm
NEGRÃO, A. B, LICINIO, J. Leptina: o diálogo entre adipócitos e neurônios. Rev. Bras. Endocrinol. Metab. vol.44 n.3 São Paulo Jun. de 2000.
PRADO et al, W. L. do. Obesidade e adipocinas inflamatórias: implicações práticas para a prescrição de exercício. Rev. Bras. Med. Esporte. vol.15 n.5 Niterói set/out. de 2009.
ROMERO, C. E. M, ZANESCO, A. O papel dos hormônios leptina e grelina na gênese da obesidade. Rev. Nutr. vol.19 n.1 Campinas jan/fev. de 2006.
TRICHÊS, P. B. M, TAKASE, E. Obesidade: fatores associados. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, nº 151, Dezembro de 2010. http://www.efdeportes.com/efd151/obesidade-fatores-associados.htm
VAN DE SANDE-LEE, S, VELLOSO, L. A. Disfunção hipotalâmica na obesidade. Arq. Bras. Endocrinol. Metab. vol. 56 n.6 São Paulo, Ago. de 2012.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 18 · N° 184 | Buenos Aires,
Septiembre de 2013 |