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A pesquisa epidemiológica em atividade física no Sul do Brasil

La investigación epidemiológica en la actividad física en el Sur de Brasil

 

*Mestrando/a em Educação Física

Universidade Federal de Santa Maria

**Doutora em Ciência do Movimento Humano

Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Ellen dos Santos Soares*

Marta Cristina Rodrigues da Silva*

Eliane Celina Guadagnin*

Silvana Correa Matheus**

ellensoa@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo buscou apresentar as características das pesquisas em epidemiologia da atividade física na região Sul do Brasil. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Scielo, Bireme (bases Lilacs e Medline) e Google Scholar, na qual foram selecionados 19 estudos que passaram pelos critérios de inclusão. A partir da literatura apresentada foi possível concluir que os estudos em epidemiologia da atividade física no Sul do Brasil seguiram características metodológicas semelhantes, embora tenham abordado temáticas diversificadas.

          Unitermos: Atividade Física. Epidemiologia. Região Sul do Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A epidemiologia estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde (GOLDBAUM, 1996).

    O método epidemiológico, enquanto instrumento para produção de conhecimentos do processo saúde-doença, vem alcançando crescentes espaços e aplicações. No campo da atividade física, a literatura internacional relacionada à epidemiologia, desde 1950, vem apresentando rápido crescimento, principalmente nas últimas décadas. No Brasil, a produção de conhecimento científico na área de epidemiologia da atividade física foi iniciada mais tardiamente, sendo que o primeiro estudo nacional com amostras populacionais incluindo a atividade física como variável principal somente foi publicado em 1990 (HALLAL et al., 2007).

    Neste contexto, mudanças ocorridas nos perfis de morbimortalidade deram início à era epidemiológica das doenças crônico-degenerativas, o que levou ao surgimento de diversos estudos epidemiológicos relacionando atividade física como meio de promoção da saúde. Principalmente nas últimas três décadas numerosos trabalhos têm consistentemente demonstrado que altos níveis de atividade física ou aptidão física estão associados à diminuição no risco de doença arterial coronariana, diabetes, hipertensão e osteoporose (PITANGA, 2002; MONTEIRO et al., 2003).

    Com base nesta perspectiva, podemos considerar a definição de epidemiologia da atividade física como a parte da epidemiologia que se preocupa com a associação entre os comportamentos da atividade física e a doença, com a distribuição e determinantes dos comportamentos da atividade física em populações específicas e ainda, com a associação entre atividade física e outros comportamentos (MATSUDO et al., 2001).

    Atualmente, há um crescimento da pesquisa em epidemiologia da atividade física no Brasil, principalmente a partir do ano 2000. Entretanto, são observadas claras disparidades regionais nas publicações, sendo que a maioria dos estudos são realizados nas regiões Sudeste e Sul (HALLAL et al., 2007). Desse modo, o presente estudo delimitou-se a investigar a pesquisa em epidemiologia da atividade física na região Sul do Brasil.

    O objetivo deste estudo foi apresentar as principais características e propostas de intervenção, desenvolvidas na região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), para o estudo da epidemiologia da atividade física.

Metodologia

    Para o desenvolvimento do presente estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, no meses de abril e maio de 2012, nas bases de dados Scielo, Bireme (bases Lilacs e Medline), Google Scholar. Para a busca dos artigos, foram utilizados os seguintes termos, em língua portuguesa: “epidemiologia”; “atividade física”; “aptidão física”; “sedentarismo”; “teste motor” e “educação física”. Para restringir a busca por artigos que foram realizados somente no Brasil, os seguintes termos foram usados em combinação com os descritos anteriormente: “Sul”, “Região sul do Brasil”.

    Utilizou-se como critérios para caracterizar os estudos como epidemiológicos o fato de apresentarem no título, resumo ou metodologia o termo estudo epidemiológico. Foram selecionados estudos que tiveram sua publicação em forma de artigo, entre os anos 1990 e 2012 e que utilizaram algum tipo de processo saúde-doença relacionado à atividade física.

    Foram excluídos estudos que não avaliaram a atividade física como foco ou que não apresentavam no resumo ou palavras-chaves os termos acima relacionados; estudos publicados em língua estrangeira; estudos que não foram desenvolvidos unicamente em estados da região sul do Brasil.

Resultados e discussão

    Por meio dos procedimentos de busca foram encontrados 71 estudos. Após um processo de avaliação foram identificados 19 artigos que preencheram os critérios de inclusão. A Tabela 1 descreve os estudos na área da epidemiologia da atividade física na região sul do Brasil, publicados por ano.

Tabela 1. Estudos epidemiológicos brasileiros sobre atividade física na região sul do Brasil de acordo com o ano, faixa etária, tamanho da amostra e localidade pesquisada

    É possível observar, dentre os estudos descritos, que o estado do Rio Grande do Sul destaca-se quanto ao número de publicações (12 estudos), quando comparado aos estados de Santa Catarina (5 estudos) e Paraná (2 estudos). Além disso, dentre as pesquisas desenvolvidas no Rio Grande do Sul, destaca-se a cidade de Pelotas com 7 dos 12 estudos publicados. Chama atenção também o estado do Paraná com apenas duas publicações, sendo que ambos os estudos foram desenvolvidos na cidade de Londrina.

    Em relação às faixas etárias, nota-se que apenas 2 estudos incluíram somente crianças, 5 estudos incluíram somente adolescentes, 4 foram realizados apenas com adultos e nenhum estudo foi desenvolvido apenas com a população idosa. Os outros 8 estudos incluíram pessoas de diversas faixas etárias. Observa-se ainda que as pesquisas que incluíram as faixas etárias mais amplas foram desenvolvidas no estado do Rio Grande do Sul.

    Quanto ao tamanho da amostra é possível perceber que a maioria das pesquisas foram desenvolvidas com mais de mil pessoas, sendo que as amostras de maior tamanho foram identificadas nas cidades de Pelotas – RS e Florianópolis – SC.

    Os estudos em geral abordaram temáticas diversificadas. A Figura 1 demonstra as temáticas abordadas nas pesquisas epidemiológicas em atividade física desenvolvidas no Sul do Brasil.

Figura 1. Distribuição das temáticas abordadas nas pesquisas epidemiológicas em atividade física no Sul do Brasil

    De acordo com Pitanga (2002), os estudos atuais sobre epidemiologia da atividade física desenvolvidos dedicam-se a investigar principalmente assuntos relacionados ao sedentarismo como fator de risco, ou estilo de vida ativo fisicamente, como fator de proteção e agravos cardiovasculares; hipertensão; câncer; diabetes e saúde mental. No presente estudo, como pode ser observado na Figura 2, as temáticas mais abordadas foram o nível de atividade física isoladamente, os fatores de risco relacionados à atividade física para o surgimento de doenças e aspectos relacionados à atividade física em doenças crônicas não transmissíveis.

    Quanto aos aspectos metodológicos adotados na realização dos estudos, foram observadas características semelhantes, principalmente entre o foco de investigação e os instrumentos utilizados.

Tabela 2. Aspectos metodológicos utilizados nas pesquisas epidemiológicas em atividade física no Sul do Brasil

    A Tabela 2 descreve os procedimentos metodológicos desenvolvidos nos estudos epidemiológicos realizados na região sul do Brasil. Segundo Pitanga (2002), os estudos epidemiológicos na área da atividade física podem ser classificados em observacionais (subdivididos em transversais, caso-controle, coorte e ecológicos) e estudos de intervenção (experimentais). De acordo com a Tabela 2, é possível perceber que todas as pesquisas foram classificadas como observacionais, sendo que, de um total de 19 estudos, 11 tiveram delineamento transversal e apenas 2 foram caracterizados como estudos de coorte. Não foi identificado nenhum estudo que propusesse modelos ou medidas específicas de intervenção. Dados parecidos foram verificados por Hallal et al (2007) em um levantamento sobre a evolução da pesquisa em epidemiologia da atividade física no Brasil, evidenciando a carência de estudos de intervenção nacionalmente.

    Além disso, também observam-se poucas diferenças entre o foco dos estudos, sendo que a maioria das pesquisas objetivou a investigação da prevalência de fatores em torno da atividade física que contribuem para o surgimento de doenças e utilizaram o questionário como instrumento de coleta dos dados.

Caracterização dos estudos

Rio Grande do Sul

    No estado do Rio Grande do Sul foram identificados 12 estudos, dentre os quais 2 abordaram a temática dos fatores de risco para doenças, 4 desenvolveram estudos com a temática sedentarismo, 3 com a temática doenças crônicas não transmissíveis, 2 avaliaram o nível de atividade física e 1 realizou avaliações posturais.

    Com a temática de fatores de risco para doenças, o primeiro estudo foi realizado em 1993 por Duncan et al., com o objetivo de investigar a prevalência e simultaneidade de fatores de risco para doenças não transmissíveis na cidade de Porto Alegre – RS. O instrumento utilizado foi o inquérito domiciliar no qual foram entrevistados 1.157 indivíduos entre 15-64 anos. Também com a temática fatores de risco para doenças, Borges et al (2009) avaliaram, na cidade de Pelotas, o conhecimento de 2.096 indivíduos de dez anos ou mais sobre as associações de fatores comportamentais, como o sedentarismo, com algumas morbidades. Assim como no estudo anterior, a pesquisa também foi classificada como transversal, entretanto, o instrumento utilizado foi o questionário.

    Estudos com a temática sedentarismo, como variável principal, foram identificados apenas no estado do Rio Grande do Sul. O primeiro estudo foi realizado por Oehlschlaeger et al. em 2004, no qual investigaram a prevalência e fatores associados ao sedentarismo em 960 adolescentes com idades entre 15 e 18 anos residentes em uma área urbana de Pelotas. Neste mesmo contexto, em 2005 Masson et al. desenvolveram um estudo com o objetivo de identificar a prevalência de sedentarismo e fatores associados em 1.026 mulheres adultas com idades entre 20 e 60 anos na cidade de São Leopoldo. Outro estudo foi realizado por Souza (2011) na cidade de Canoas com o objetivo de analisar o nível de sedentarismo entre 293 adolescentes escolares do 3º ano do ensino médio, da rede pública. Todas as pesquisas apresentadas anteriormente foram classificadas como transversais e utilizaram como instrumentos questionários ou inquéritos domiciliares.

    Dos quatro estudos encontrados, apenas um caracterizou-se como estudo de coorte. Foi desenvolvido por Hallal et al. (2006) com o objetivo de avaliar a prevalência de sedentarismo e fatores associados em 4.452 adolescentes de 10-12 anos de idade, participantes do Estudo de Coorte de Nascimentos de 1993 em Pelotas.

    As doenças crônicas não transmissíveis foram foco de 3 estudos, todos com delineamento transversal e com os mesmos procedimentos metodológicos, embora com objetivos diferentes. Gus et al. (2002) realizaram, na cidade de Porto Alegre, um estudo no qual buscaram conhecer a prevalência dos principais fatores de risco para a doença arterial coronariana no Rio Grande do Sul e identificar sua relação com as faixas etárias em uma amostra de 1.066 adultos com mais de 20 anos. Sturmer et al. (2006) objetivaram avaliar o manejo da hipertensão em 1.968 indivíduos de 20 a 69 anos e descrever as características dos indivíduos classificados com cuidados inadequados na cidade de Pelotas. Knuth et al. (2009) desenvolveram um estudo incluindo 972 indivíduos de 20 a 69 anos que objetivou avaliar o conhecimento dos adultos de Pelotas, sobre o papel da atividade física na prevenção e tratamento de diabetes e hipertensão arterial, e os fatores associados aos conhecimentos.

    Com o objetivo de investigar a temática nível de atividade física Domingues et al. (2004) realizaram um estudo com 3.182 indivíduos de 20 anos ou mais no qual avaliaram a percepção e o conhecimento sobre o exercício físico em uma população adulta urbana. Outro estudo foi realizado por Gonçalves et al. (2007) com o objetivo de descrever o nível de atividade física de 452 adolescentes nascidos em 1993 na cidade de Pelotas e avaliar o efeito de variáveis socioculturais sobre o nível de atividade física. Estas pesquisas também foram caracterizadas com transversais e utilizaram questionários para a avaliação.

    Outra temática foi abordada por Detsch et al. (2007). Os autores realizaram um inquérito epidemiológico com 495 estudantes com idade de 14 a 18 anos na Cidade de São Leopoldo, com o objetivo de estimar a prevalência de alterações posturais laterais e ântero-posteriores em adolescentes do sexo feminino e verificar se determinados fatores socioeconômicos, demográficos, antropométricos e comportamentais estão associados a essas alterações posturais.

Santa Catarina

    No estado de Santa Catarina foram encontrados 5 estudos, dos quais 2 abordaram a temática fatores de risco para doenças. O primeiro foi realizado por Barros e Nahas no ano de 2001, na cidade de Florianópolis, com o objetivo de identificar a prevalência de comportamentos de risco à saúde em 4.225 trabalhadores da indústria. Em 2004, Farias JR e Lopes descreveram a prevalência de comportamentos de risco relacionados à saúde em 1.107 adolescentes do ensino médio no município de Florianópolis – SC. Os estudos foram caracterizados como transversais e adotaram como procedimento metodológico a avaliação por meio de questionários.

    O nível de atividade física foi temática de apenas um estudo que apresentou características metodológicas semelhantes aos realizados no Rio Grande do Sul. Baretta et al (2007) em um estudo transversal de base populacional domiciliar, realizado com 579 indivíduos de 20 a 59 anos, objetivaram estimar a prevalência e os fatores associados à inatividade física na população adulta do Município de Joaçaba – SC por meio do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), na forma curta, para estimar o nível de atividade física.

    Em Santa Catarina foram encontrados os dois únicos estudos com abordagem epidemiológica na temática obesidade. No ano de 2003, Santos e Coelho investigaram os níveis de atividade física e a prevalência de obesidade em 2.143 trabalhadores de Joinville. Em 2008 Vedana et al. objetivaram estimar a prevalência de obesidade e os fatores potencialmente causais em adultos da região urbana de Lages. Foi desenvolvido um estudo transversal de base populacional com 2.002 adultos entre 20 a 59 anos. Ambos os estudos caracterizaram-se como transversais e utilizaram a estimativa de percentual de gordura e o índice de massa corporal para a avaliação.

Paraná

    No Paraná apenas duas publicações foram identificadas e ambas de estudos desenvolvidos na cidade de Londrina. No estudo realizado por Guedes et al. (2002) o objetivo foi analisar a validade de pontos de coorte associados às informações referenciadas por critério preconizados pela proposta Physical Best na identificação de adolescentes portadores e não portadores de fatores de risco predisponentes às doenças cardiovasculares. O estudo buscou informações de 281 adolescentes acerca da aptidão física relacionada à saúde (indicadores morfológicos e resultados de testes motores) e fatores de risco predisponentes às doenças cardiovasculares (gordura corporal, consumo máximo de oxigênio, pressão arterial e concentrações de lipídios-lipoproteínas plasmáticas).

    Com outra temática, Guedes e Guedes em 1993 realizaram um estudo com 1.180 sujeitos com idades entre 7 e 17 anos, no qual analisaram o comportamento de variáveis que procuram evidenciar as características de crescimento (de estatura e massa corporal) e de desempenho motor (testes de preensão manual, sentar e alcançar, flexões abdominais, salto em extensão parado e corridas de 50 e 1.000 metros) em relação à idade cronológica e ao sexo de escolares pertencentes ao município de Londrina.

    A partir dos dados expostos constatou-se que a temática sedentarismo foi abordada apenas no Rio Grande do Sul, assim como a obesidade foi foco de estudos apenas em Santa Catarina. As demais temáticas foram abordadas por dois dos três estados que contemplam a região Sul do Brasil, mas nenhuma foi foco de estudos nos três estados.

    Os dados encontrados indicam um crescimento da pesquisa em epidemiologia da atividade física no Sul do Brasil, apesar das disparidades evidenciadas entre o número de publicações nos três estados. O aumento do número de pesquisas ocorreu, principalmente, a partir do ano 2000, período que corresponde à inserção da educação física na área da saúde, além disso, este crescimento pode estar associado também ao aumento na inserção de profissionais de educação física nos cursos de Pós-graduação em Saúde Coletiva e áreas afins (HALLAL, 2007).

Conclusões

    A partir do levantamento da literatura apresentada foi possível concluir que os estudos em epidemiologia da atividade física na região Sul do Brasil seguiram características metodológicas semelhantes, embora tenham abordado temáticas diversificadas. Verificou-se que a maior parte dos estudos foram realizados no estado do Rio Grande do Sul, sendo que a cidade de Pelotas teve maior destaque quanto ao número de publicações. No geral, os estudos foram caracterizados como observacionais (transversais ou de coorte) e utilizaram basicamente os questionários como instrumentos de pesquisa. Além disso, foram identificados estudos que buscaram apenas a investigação epidemiológica da prevalência de fatores associados à atividade física em processos de saúde-doença, de modo que não foi possível identificar um avanço nas pesquisas em termos de propostas para modelos de intervenção.

Referências

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