Uma proposta pedagógica para o ensino do futsal nas escolas de ensino fundamental Frei Gil de Vila Nova e 14 de Abril no município de Conceição do Araguaia, PA Una propuesta pedagógica para la enseñanza del futsal en las escuelas primarias Frei Gil de Vila Nova y 14 de Abril en el municipio de Conceicao do Araguaia, PA |
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Discente do Curso de Educação Física Universidade do Estado Pará (Brasil) |
Dennys Max dos Santos da Conceição* Renato Ramos de Oliveira** |
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Resumo O presente trabalho teve inicialmente o objetivo de sondar nas escolas públicas de Conceição do Araguaia, no Estado do Pará, a forma que os professores de Educação Física trabalhavam o futsal em suas aulas, com a hipótese de que os mesmos estariam priorizando a dimensão desportiva (regras e técnicas) em suas aulas. Para esta pesquisa utilizamos o método de Pesquisa-ação. O interesse neste tema surgiu a partir de comentários de alunos na Universidade, em relação à vivencia nas aulas de Educação Física na época do ensino Fundamental e Médio, onde alguns relatam sobre as aulas que eram reduzidas “ao fazer por fazer”, e para isso os seus professores utilizavam modalidades esportivas, sendo que a principal era o Futsal, que acabava se fundindo com o futsal de rua, a famosa “pelada”, que acabava gerando transtorno tanto para o professor, quanto para o ensino-aprendizagem dos alunos. Porém ao longo da pesquisa identificou-se que o maior problema nas escolas pesquisadas não estava no modo de ensinar do professor, e sim na infraestrutura e materiais didático-pedagógicos o que acaba interferindo na forma de como ofertar uma Educação Física de qualidade. Para Nortear a pesquisa utilizou-se de obras dos autores Sávio de Assis e Valter Bracht. Conseguinte, analisou-se os questionários, e a apresentação de soluções metodológicas, para contribuir com a formação de um professor autônomo dentro da escola com a liberdade de criar e recriar de acordo com a realidade local, posteriormente relatou-se a intervenção feita com os professores e tão logo as considerações finais. Unitermos: Futsal. Esporte na escola. Educação Física Escolar.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
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1. Introdução
A inquietação com o ensino do futsal veio ainda no período de ensino fundamental ao médio, onde os professores da época procuravam ensinar somente o futsal de alto rendimento, para disputa de campeonatos estudantis e torneios locais, o que gerava a exclusão, uma vez que só eram valorizados aqueles alunos que se destacavam dentro de uma determinada modalidades esportiva, enquanto que os menos aptos ficavam na lateral da quadra torcendo pelos que estavam jogando, ou mesmo direcionados a outras atividades para não ficar sem fazer nada.
A esse respeito Betti (apud ASSIS, 2005, p.116) diz que
na Educação Física Escolar o esporte não deve restringir-se a um “fazer” mecânico, visando um rendimento exterior ao individuo, mais tornar-se um “compreender”, um “incorporar”, um “aprender” atitudes, habilidades e conhecimentos, que leve o aluno a dominar os valores e padrões da cultura esportiva.
Nesta perspectiva trataremos procuraremos fornecer sugestões metodológicas para o ensino do Esporte Futsal de forma crítica, emancipadora e socializadora, que possibilite a consideração da totalidade de uma sala de aula. Ressalta-se que esta pesquisa pode ser utilizada em outras modalidades como handebol, voleibol, basquete, entre outros esportes oficiais.
O esporte atualmente, segundo Tubino (2011), pode ser dividido em três dimensões sociais: o esporte-educação, o esporte-participação e esporte-performance. Esta pesquisa vai tentar direcionar o ensino do futsal em uma perspectiva voltada para o Esporte-Educação, dando oportunidade para que professores de diferentes níveis de ensino, possam ensinar o futsal através de uma nova perspectiva. Para Teotonio Lima (apud TUBINO, 2011) quando pensamos em uma orientação educativa para o esporte, temos que mesclar três áreas da atuação pedagógica, cita-se a integração social, desenvolvimento psicomotor e das atividades físicas, a educativa.
Quando o professor exalta o esporte-perfomance, está proporcionando o sucesso da minoria e aumentando as chances de fracasso e insucesso de uma maioria dentro de uma sala de aula, o que seria uma irresponsabilidade por parte de um profissional formado para lecionar (ASSIS, 2005).
O método que direcionamos a pesquisa foi a Pesquisa-Ação. Durante esta, foi analisado de que maneira os professores trabalham o futsal nas escolas, a partir de diálogo estabelecido com os mesmos. Inicialmente, tínhamos a proposta de sondar através de um questionário a forma que os professores de Educação Física trabalhavam o futsal em suas aulas, com a hipótese de que os mesmos estariam trabalhando mais a parte desportiva (regras e técnicas) em suas aulas, até mesmo nas séries iniciais.
Na fase exploratória, elaboramos o questionário e o aplicamos em duas escolas, cito escola de ensino fundamental Frei Gil de Vila Nova e escola de ensino fundamental 14 de Abril, onde foi constatado que nas duas escolas o futsal é trabalhado de forma diferente, pois os professores procuram se adaptar à infraestrutura oferecida pela escola.
Na escola 14 de Abril, o professor “X” relatou que a escola possui uma quadra para a prática do futsal, porém não atende as suas necessidades, pois há falta de material didático-pedagógico (bolas, cones, etc...). Já na escola Frei Gil de Vila nova, o professor “y” também falou da dificuldade de trabalhar não somente o futsal, mas qualquer tipo de atividade física, uma vez que a escola não possui quadra de esporte e para praticar as atividades ao ar livre é utilizado o espaço da orla da cidade (complexo esportivo da orla, que possui uma quadra de areia e uma quadra de cimento), a qual fica distante da segunda escola supracitada.
As condições inadequadas das aulas ainda se prolongam, pois as condições climáticas muitas das vezes impedem o professor de lecionar. Segundo relatos, ainda existem cancelamentos de aulas nos períodos de muito calor ou de muita chuva. As escolas efetuam esses cancelamentos, uma vez que no horário das aulas de Educação Física, não tem como trabalhar nas salas de aulas, pois ainda estão em horário de aula regular normal, o que é um grande problema para o calendário acadêmico da disciplina, já que tem que cumprir a carga horaria anual.
Para Assis (2005, p.197) “...Na educação Física, é preciso ter uma bola disponível para pegá-la, senti-la, experimentá-la. É preciso um espaço para movimentar essa bola e produzir movimentos com ela.” A Educação Física muitas das vezes não se configura como uma aula, por ser considerada apenas como um momento de lazer, ou “hora da brincadeira”, por vários motivos administrativos ou estereotipados, não é levada à sério como uma disciplina obrigatória prevista pela LDB, cito §3º do Art. 26 da Lei nº 9694/96, o que configura um problema muito serio no ensino-aprendizagem dos alunos, no que diz respeito à aprendizagem, ao controle e assimilação das praticas corporais que os rodeiam.
Ao fazer uma breve comparação entre as aulas de Educação Física e uma sala de aula tradicional, podemos dizer que seria a mesma coisa que um professor ter apenas um lápis sem borracha, um quadro furado ou carteiras sem braços. Isso não seria motivo para não continuar sua aula, porém, pode ser considerado um empecilho na hora da assimilação por parte dos alunos, e um atropelo para a orientação de conhecimento por parte do professor (ASSIS, 2005).
Quando perguntado aos professores, de que maneira estavam trabalhando o esporte futsal nas escolas, o professor “X” respondeu que somente trabalhava com jogos pré-desportivo, porém não citou nenhum. O professor “Y”, respondeu que usa iniciação desportiva para formar equipes a fim de disputar torneios escolares.
Para Bracht (2005), O esporte de alto rendimento ainda vai servir de modelo por muito tempo para as aulas de Educação Física, porém deve ser vinculado tanto à dimensão do esporte de alto rendimento quanto do esporte como atividade de lazer. Nesta perspectiva de Esporte enquanto atividade de lazer, Bracht (2005) explica que
Neste caso é fundamental atentar para a palavra atividade, uma vez que o esporte pode ser vivido enquanto lazer tanto na perspectiva do espectador do esporte de alto rendimento, este praticado por profissionais, como na perspectiva do praticante. Neste último caso, os códigos e o sentido são diferentes dos do primeiro (p.16)
Quando foram indagados se conseguiam trabalhar de maneira lúdica, sem propriamente ensinar as técnicas, o professor “X” disse que conseguia através de jogos recreativos, onde segundo ele, os alunos internalizam e vivenciam os fundamentos de forma lúdica, porém não explanou de que forma era feito este trabalho com os alunos. O professor “Y”, também acredita que se pode trabalhar o futsal de forma lúdica, através de brincadeiras com regras criadas pelos próprios alunos; citou o futsal em duplas, misturar meninos e meninas, futsal de mãos dadas, futsal onde só as meninas podem fazer gol e a “regra do palavrão”, onde a cada palavrão mencionado a equipe é penalizada com um pênalti.
2. Sistematização da intervenção
Após esta análise nos questionários, constatamos que a maior dificuldade vivida na realidade destes professores, é a falta de infraestrutura, material didático-pedagógico e o descaso com os professores e alunos de Educação Física que são penalizados pelas situações que foram colocadas acima descritas.
Como proposta de intervenção nesta pesquisa-ação elaboramos uma espécie de manual com algumas alternativas de como trabalhar o futsal fora de uma quadra de esporte.
“Como trabalhar o futsal fora da quadra?”
Proposta 1
Mostra para a turma vídeos do esporte futsal, de preferência atuais, com jogadas clássicas. Dando ênfase nas suas regras, vestimentas, dimensões da quadra, nome das posições oficiais dos jogadores, táticas e jogadas ensaiadas.
Proposta 2
Pedir para os alunos, que pesquisem imagens relacionadas ao futsal, onde após uma triagem, o professor selecionará algumas para serem analisadas em sala de aula e ainda pode utilizar-se deste recurso para fixar dimensões da quadra, nome das posições oficiais dos jogadores, vestimentas, entre outros.
Proposta 3
Pedir para que os alunos mais “experientes” da turma, façam um glossário com nomes de jogadas, gírias, entre outras palavras relacionada ao jogo de futsal, a fim de expor para os outros alunos que ainda não tiveram muito contato com o esporte.
Proposta 4
O professor após ter ensinado o básico (regras, dimensões da quadra, e fundamentos), separar a turma em equipes e pedir para que os alunos executem jogadas, como drible, passe, domínio, gols, saída de bola, entre outros. estas jogadas seriam gravadas em vídeos pelo professor com intuito de montar m glossário em vídeo para compor o acervo bibliográfico da escola.
3. Intervenção
Voltamos na manhã do dia 30 de janeiro de 2013, a fim de comentar o resultado da pesquisa nas duas escolas envolvidas. Apresentamos a proposta para os professores “X” e “Y”, os mesmos demonstraram grande interesse no material, nos relataram a necessidade de está em contato com a Universidade no sentido de pesquisar, de apontar as dificuldades vividas pelo Educador Físico no seu dia de trabalho.
O professor “X” no propôs que na volta do período letivo, voltássemos com a pesquisa em mãos para fazer a aplicação com os alunos. O professor “Y”, pediu cópia e que usaria nas suas aulas para nos ajudar na aplicabilidade, e achou viável as sugestões metodológicas, e diz não ver dificuldade em testar e se der certo até usar como modelo para melhorar o ensino não só do futsal mais dos outros Esportes que compõe o currículo escolar de Educação Física.
4. Considerações finais
Ressaltamos a importância desta pesquisa para começarmos a entender como devemos agir nas mais diversas situações que a realidade nos impõe. Inicialmente pensávamos em discutir sobre a relação entre o Esporte e o lúdico do futsal, porém durante esta, percebemos que é possível trabalhar com os dois ao mesmo tempo, tanto a dimensão lúdica quanto a esportiva, essa descoberta no começo da pesquisa quase serviu de fator para que nos fizéssemos trocar o assunto da pesquisa. Porém em analise aos questionários percebemos uma similaridade entre as dificuldades de trabalhar o Esporte Futsal nas duas escolas entrevistadas, pensou-se então em mudar não o assunto mais o rumo da pesquisa, visto que uma escola possui quadra, mas não tem material didático-pedagógico e a outra não possui quadra e também tem déficit de materiais, o problema estava formado, que seria a falta de infraestrutura nas duas escolas.
Além disso, ainda temos um dado informal que assusta a maioria dos professores de Educação Física que é a quantidade de alunos que são colocados por turma para as aulas práticas, pois em um relato durante a aplicação do questionário em uma escola um dos professores entrevistados diz que: “não é possível trabalhar mais tarde no período da manhã, e nem mais tarde no período vespertino, pois na época de verão aqui na região, o sol é muito quente, e como a quadra não tem cobertura à exposição ao sol pode trazer complicações de saúde tanto ao aluno quanto ao professor”.
A aceitação da intervenção por partes dos professores e as escolas pesquisadas, nos trouxe uma esperança de que podemos mudar o ensino da Educação Física no município de Conceição do Araguaia, independentemente de situações/barreiras enfrentadas no dia a dia deste professor que muitas vezes são esquecidos ou colocados para executar outras funções dentro da escola, confundindo-o até mesmo no verdadeiro papel que este tem que desempenhar dentro da instituição, que é transmitir o conhecimento a cerca da cultura corporal.
Referências
ASSIS, Sávio de Oliveira. Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica. 2ª Ed. Campinas, SP: Autores associados, chancela editorial CBCE, 2005. Coleção Educação Física e esporte.
CONDURÚ, Marise Teles. Produção científica na universidade: normas para apresentação. Belém: EDUEPA, 2004.
MATA, Batista Marcelo da. Futsal na escola – Da perspectiva tradicional à perspectiva crítica. 2011. 37 f. Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Educação Física – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.
TUBINO, Manoel José Gomes. Dimensões sociais do esporte 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011. Coleção questões da nossa época; v. 25.
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