A evolução do significado da morte durante a infância La evolución del significado de la muerte durante la infancia The evolution of the meaning of death during childhood |
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Universidade Federal do Amazonas Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (Brasil) |
Dr. Thomaz Décio Abdalla Siqueira |
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Resumo A morte tem diferentes significados e impactos sobre uma pessoa em diferentes períodos da vida. As crianças vão tomando consciência deste fato gradualmente, conforme vão se desenvolvendo cognitivamente e emocionalmente. Pesquisa de cunho bibliográfico. Nessa perspectiva, torna-se necessário conhecer os estudos sobre as teorias psicológicas para entender as concepções sobre o referido tema. Além disso, é importante destacar que a exposição precoce em situações de hospitalização pode influenciar a maneira como o conceito de morte é elaborado na infância, visto que o convívio com a própria doença possibilita um entendimento prematuro sobre o assunto em questão. Unitermos: Morte. Desenvolvimento. Hospitalização.
Abstract Death has different meanings and impacts on a person at different periods of life. Children will gradually become aware of this fact, as will developing cognitively and emotionally. Search bibliographic nature. From this perspective, it becomes necessary to know the studies on psychological theories to understand the concepts on that theme. Furthermore, it is important to note that early exposure in situations of hospitalization can influence how the concept of death is established in childhood, since living with the disease itself allows a premature understanding about the subject matter. Keywords: Death. Development. Hospitalization.
Presenteado em I Bioergonomics, Congresso Internacional sobre Biomecânica y Ergonomia, Manaus, Brasil, do 30 de maio ao 2 de junho.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O termo morte [grifo do autor] vem do latim mors, o óbito (do latim obitu), falecimento (falecer+mento) ou passamento (passar+mento), ou ainda desencarne (deixar a carne) é o cessamento permanente das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo, como ao estado desse mesmo após o evento. Considerado cientificamente como o fim da consciência, há várias crenças em diversas culturas e tempos históricos que acreditam em vida após a morte. Tema de recorrentes discussões, a morte é tratada por diversos povos com misticismo, é comum a elas a existência de um ritual com objetivos diferentes a cada uma. Sabemos que toda a intervenção invasiva no corpo de um paciente é, em tese, uma agressão, e, por isso, necessita de uma justificativa. Sabemos que existe a morte simbólica, aonde o paciente se anula efetivamente como uma forma de encarar e vivenciar a realidade momentânea. Por conseguinte, o objetivo da pesquisa bibliográfica é buscar uma compreensão sobre a morte e esse entendimento como uma forma de ajuda para que as pessoas conseguissem atingir as suas metas (goals).
Desenvolvimento
Do ponto de vista somático (KOVÁCS: 2009: 10), a morte pode ser definida de maneira clara e objetiva, como a “interrupção completa e definitiva das funções vitais de um organismo vivo, com o desaparecimento da coerência funcional e destruição progressiva das unidades tissulares e celulares”. Mas, no que se refere ao ponto de vista psicológico, existem inúmeras mortes e variadas representações. Isto porque o homem é o único ser vivo que tem consciência da morte, vivendo sob o impacto dela. De acordo com Torres (1983, p.4): “[...] o conhecimento da morte é reflexivo e conceitual e, enquanto os outros animais são poupados dele, o homem convive a vida inteira com o destino da morte”. É importante frisar que, de acordo com a concepção sociológica, a maneira de lidar com a morte foi se modificando ao longo da história. Durante a Idade Média, o homem se relacionava melhor com esse tema. Nesse período, a maioria das pessoas morria por doenças ou nas guerras, por esse motivo, a morte era esperada, sendo vivida plenamente no seio da família. A preparação para o fim, muitas vezes, era realizada pela própria pessoa, que organizava cerimônias para despedir-se dos entes queridos. Na atualidade, o Conselho Federal de Medicina aprovou a Resolução CFM n.° 1.480, de 8 de agosto de 1997, dispondo sobre novos critérios de constatação de morte encefálica. Com a edição desta Resolução, ficam atualizadas as normas anteriormente editadas, baixando seu limite de idade, criando um termo de declaração de morte encefálica para ser preenchido no hospital e estabelecendo novos critérios para a avaliação da morte, mesmo em centros desprovidos de recursos técnicos mais sofisticados. No entanto, historicamente, a partir do século XIX, com o aumento do consumismo e, consequentemente, da valorização do ter em detrimento do ser, começa uma crise em face da morte. O homem passou a buscar cada vez mais controlar e dominar a natureza e a vida. Nesse contexto, a morte passou a ficar ausente do discurso. De acordo com Torres (1983). Em se tratando da morte associada à infância, percebe-se que até o século XIX, ela era desvalorizada e percebida como natural. O infante não era reconhecido como dotado de uma personalidade e, muitas vezes, sequer era atribuído um nome à criança morta.
A partir da segunda metade do século XIX, as mães passaram a associar a imagem de um anjo ou santo ao seu filho morto. Nesse período, a morte na infância passou a ser intolerável e fonte de comoção das pessoas. A forma como o adulto enfrenta esse tema é transmitida por ele às crianças. Além das dificuldades já citadas anteriormente, Kovács (2009), acrescenta que é muito comum a crença, por parte dos adultos, de que o infante, por seu pouco desenvolvimento intelectual, não entende o que lhe dizem ou fazem. No entanto, a morte faz parte do desenvolvimento humano desde a tenra idade. A criança é vulnerável às implicações da morte nas separações triviais do cotidiano. A ausência da figura materna, vivida pelo bebê em seus primeiros meses de vida, é sentida como uma morte, devido aos sentimentos de desespero e solidão. Essas sensações ficam registradas, o que ocasiona uma associação futura entre morte e ausência, perda, separação, aniquilamento e desamparo. O significado de morte nessa fase da vida varia segundo a forma como os adultos com os quais a criança convive lidam com a perda, bem como é influenciado pelo contato que possa ter havido entre a criança e uma pessoa falecida, uma vez que, de acordo com Bromberg (2009), o medo da morte origina-se do medo de perder a pessoa amada, de romper vínculos. Percebe-se que nos primeiros anos de vida, é difícil para a criança definir morte, e isso se deve principalmente ao fato de seu egocentrismo, onipotência e de seu pensamento mágico. Para ela, a morte representa o desconhecido e o mal e está associada à falta de movimento e à cessação de algumas funções vitais. Mas, à medida que a criança cresce, vivencia mortes efetivas no ambiente que a rodeia, o que a faz tentar compreender esses fatos. Considerando o conceito de morte a partir de uma abordagem multidimensional, Torres (1999) define os principais componentes desse conceito, a saber: Irreversibilidade – compreensão de que o corpo físico não pode mais viver depois da morte, ou seja, o reconhecimento de que não se pode retornar ao estado anterior, pois a morte é algo permanente; Não-funcionalidade – compreensão de que as funções vitais deixam de existir com a morte; Universalidade – compreensão de que tudo o que é vivo morre, ou seja, a morte é um evento inevitável.
Essa autora realizou uma pesquisa sobre os níveis do conceito de morte, de acordo com os períodos do desenvolvimento cognitivo de Piaget, e detectou que a compreensão sobre o tema vai se ampliando e solidificando com a idade, estando associada ao desenvolvimento cognitivo geral. Seu estudo concluiu que, no período pré-operacional (2 aos 7 anos), as crianças não fazem distinção entre seres animados e inanimados, além de não acreditarem na irreversibilidade da morte, que é entendida como castigo e afeta a vida cotidiana da criança. No período das operações concretas (7 aos 11 anos), a criança já sabe distinguir os seres que têm vida dos que não têm, bem como se dá conta da irreversibilidade da morte. Ainda necessita de aspectos perceptivos da situação, como imobilidade, para identificar a morte. É nesse estágio do desenvolvimento que surgem as mais importantes estruturas cognitivas, como o amadurecimento do conceito de causalidade. Por fim, no período das operações formais (a partir dos 11 anos), a criança percebe a morte como um processo interno do organismo, entendendo a universalidade e inevitabilidade desse evento. O temor à morte e o surgimento ou fortalecimento da religiosidade também são frequentes. É importante deixar claro que as idades cronológicas nas quais se espera que a criança desenvolva raciocínios característicos de cada estágio não são fixas, podendo variar de acordo com as experiências individuais e com o potencial hereditário. Pode-se dizer que, na construção do conceito de morte, as crianças passam por cada uma das fases descritas, sem que isso ocorra necessariamente na idade acima referida. Segundo Ajuriaguerra e Marcelli (1991) apud Torres (1999), o conceito de morte para a criança gira em torno de dois pontos importantes: a percepção da ausência e, em seguida, a compreensão da permanência dessa ausência (irreversibilidade). Nessa concepção, existem quatro fases na compreensão da morte. Na fase de incompreensão total, de 0 a 2 anos, a criança acredita que a doença é provocada por ela. Na fase abstrata de percepção mítica, dos 2 aos 4-6 anos, a criança percebe a morte como reversível, provisória e punitiva. Já na fase concreta de realismo e de personificação, até os 9 anos, a criança desenvolve a capacidade de compreender a relação de causa e efeito, sendo a morte personificada e percebida como um processo biológico permanente, inevitável, irreversível e universal, gerando angústia e luto. Na última fase, a abstrata, a partir dos 10-11 anos, ocorre o acesso à angústia existencial, ou seja, a criança desenvolve explicações amplas, gerais e lógicas sobre a morte, reconhecendo-a como oposta à vida corporal.
De acordo com Angerami (2010), aproximadamente aos sete anos, a criança desenvolve a capacidade de julgar e compreender causa e efeito, podendo avaliar as conseqüências da morte. Autores como Cousinet (1939) e Nagy (1948) apud Angerami (idem) registram que nessa fase a morte seria personificada pela criança, ora por uma pessoa bem individualizada, da qual se pode escapar, ora por uma maldição divina que pune alguns culpados. A morte é vista também como um evento irreversível, não inevitável, associada a causas específicas, como doença e velhice.
Nagy [s.d.] apud Kovács (2009) realizou uma pesquisa com crianças húngaras de três a dez anos, utilizando desenhos e palavras para verificar como elas lidavam com a morte. Os resultados indicaram que crianças entre três e cinco anos não entendem a morte como definitiva. Nessa faixa etária, a morte é relacionada ao sono e percebem-na como temporária, gradual e reversível. Dos cinco aos nove anos, a criança personifica a morte como alguém que vem buscar a pessoa. Ela passa a ser percebida como irreversível, mas não como universal. A partir dos nove anos, a morte é entendida como cessação das atividades, que ocorre dentro do corpo e tem caráter universal. Koocher (1974) apud Kovács (idem) também realizou um estudo com crianças a respeito da morte. Seus resultados o levaram à formulação de três níveis. No primeiro, que corresponderia ao pré-operatório, os raciocínios são mágicos e fantasiosos, ligados ao pensamento egocêntrico. No nível dois, período das operações concretas, são incluídas formas de inflingir a morte. No último nível, das operações formais, as explicações são mais abstratas. Associa-se a morte à deterioração física, nomeação de classes e causas e ao fenômeno natural.
Para a psicanálise existencial, a morte é percebida como um dos conceitos cruciais. Segundo essa abordagem, as fases do desenvolvimento psicossexual são formas de protesto contra a morte. Torres (1983, p. 4) afirma que: “Em cada fase do progressivo descobrimento de seu mundo e dos problemas apresentados por ele, a criança está absorta em modelar esse mundo no sentido de engrandecimento dela própria. Seu projeto narcisista transforma-se na dominação do mundo através do autocontrole. Nesse período ele percebe que seu corpo lhe é estranho e falível, e reconhece o aspecto biológico do ânus, ou seja, a decadência e a morte. Na fase edípica, a criança busca fugir à passividade e tenta controlar seu próprio destino. Ela visa conquistar a morte, tornando-se pai de si mesma e sustentadora de sua vida. De acordo com Gessel, Ilg e Ames (1971) apud Torres (1999), a idealização da morte na infância inicia-se pela consideração da morte do outro, evoluindo com o tempo para a concepção da morte de si próprio. Os primeiros estudos sobre esse tema, afirmavam que a criança menor de dois anos não tinha nenhuma noção sobre a morte. Entretanto estudos posteriores, como os de Piaget, propõem que a criança descobre a morte numa idade muito precoce. Em princípio, a relação dela com a morte se dá através da percepção do ser e do não-ser, que acontece, por exemplo, nas experiências com padrões periódicos de dormir e acordar e nas brincadeiras de esconder e aparecer. Segundo Aberastury (2011), a consciência que a criança tem da morte existe desde o início da infância, apesar de, muitas vezes, ser imperceptível para o adulto. Para Gessel (1985) apud Angerami (2010), antes dos três anos, a criança não entende a idéia de morte, preocupando-se apenas com a separação. Aos seis anos ela começa a apresentar reações afetivas nítidas, inclusive medo da morte dos pais. Associa a morte à doença e hospitalização. Aos sete anos, o infante passa a se preocupar com funeral, caixão, túmulos e cemitérios. Aos nove, a criança apela para a biologia para entender a morte. Percebe-a como falta de movimento, de respiração, de pulso e de temperatura. Kastenbaum e Aisenberg (1983) apud Angerami (idem) propõem que as percepções de morte antecipam as concepções de morte na infância. Nessa perspectiva, entendem que as brincadeiras de aparecer e desaparecer, como o esconde-esconde, são tentativas de elaborar o conceito de morte. Wallon (1975) apud Angerami (2010) afirma que até os nove anos, a morte ainda não é percebida pela criança como ameaça pessoal. Aos poucos, ela vai compreendendo a oposição radical entre vida e morte. Kluber-Ross (1969) apud Angerami (2010) indica que, aos sete anos, a criança atribui a morte a uma intervenção externa, sendo comum a imagem de um esqueleto, que vem buscar as pessoas. Zlotowicz (1976) apud Angerami (idem) informa que crianças menores de três anos dão vida a objetos inanimados e falam diretamente com eles. Quando ficam um pouco mais velhas, associam o movimento à vida. Posteriormente, passam a entender que as coisas vivas possuem movimento próprio. Entre os três e quatro anos, surge a preocupação com a origem dos seres e sua própria origem. Segundo esse autor, dos três aos cinco anos, a morte é percebida como uma separação provisória, uma ausência. Por isso, nesse período, a morte não provoca reações afetivas profundas, sendo comuns comentários e perguntas mórbidas sobre o tema, o que indica curiosidade e naturalidade. Devido ao egocentrismo, se a criança adoece nesse período, tende a achar que está sendo punida por algo errado que tenha feito.
Finalizando, de maneira sucinta, pode-se afirmar que na criança a concepção de morte inicia-se pela consideração da morte do outro para evolui para a concepção de sua própria morte. Mas, para que isso ocorra, torna-se necessária a autoconsciência, o que só é possível quando se adquire o pensamento lógico e as concepções de causalidade e probabilidade, bem como a percepção temporal e espacial. A morte no contexto da hospitalização de crianças: como já foi visto, o conceito de morte nas crianças varia em função da idade e do nível de desenvolvimento cognitivo. Mas pode também variar em função de outros aspectos, como os fatores ambientais, ou seja, a exposição precoce à morte pode favorecer, influenciar e modificar a concepção acerca desse tema. De acordo com Piaget e Anthony (1961) apud Torres (1999), o encontro com a idéia da morte pode iniciar novas etapas no desenvolvimento cognitivo. Segundo Angerami (2010), a aquisição dos conceitos relativos ao processo de morte é antecipada por uma vivência precoce da doença, tratamento e evolução. Para este autor, a criança doente tem um contato mais direto e íntimo com seu corpo, o que a faz percebe as mudanças físicas, facilitando assim a percepção prematura da morte. Segundo Angerami (2010), a evolução da concepção de morte em crianças sãs e hospitalizadas é distinta. Pois, para esse último grupo, a aquisição do referido conceito não pode ser associado com a idade. Esclarece que, apesar da criança muito pequena ainda não ser capaz de elaborar adequadamente a ausência de uma pessoa, por não ter adquirido a noção temporal nem o conceito de irreversibilidade, o contato precoce com o ambiente de hospitalização e a vivência com o seu próprio adoecer, faz com que ela perceba (consciente ou inconscientemente) sua iminência de morte. A criança doente precisa fazer uma reflexão obrigatória sobre as modificações ocorridas com seu corpo e na sua relação com os outros. De acordo com Kovács (1994) apud Angerami (idem), a situação de morte é vivenciada pela criança desde o início da doença, através das separações decorrentes da hospitalização, do medo do desconhecido e do temor ao aniquilamento. Para Aberastury (1984) apud Angerami (2010), a criança consegue perceber o perigo e a iminência da morte e pressentir o momento em que ela irá ocorrer. Ela não apenas sente que está doente, mas percebe também a angústia das pessoas que estão à sua volta. Raimbault (1969) apud Angerami (idem) avaliou crianças nefropatas e concluiu que, desde os cinco anos elas já são capazes de expressar uma definição realista sobre a morte, descrevendo, inclusive, o impacto desse evento sobre os sobreviventes e a procura das causas. De uma maneira geral, os autores acima citados entendem que apesar de ser difícil falar sobre morte com crianças, em situações em que a mesma esteja presente, torna-se indispensável fazê-lo. O ocultamento da verdade, a mentira e a recusa do adulto em esclarecer questões feitas pela criança provocam sofrimento, conflitos e ansiedade. A criança percebe que os adultos de quem ela depende estão lhe omitindo a verdade, o que a faz sentir-se solitária, sem poder se expressar acerca de seus sentimentos, fantasias e temores frente à doença e à morte. Essa dificuldade em adquirir o entendimento existencial da morte, faz com que se torne um tema muito mais doloroso e difícil de enfrentar. O calar-se acrescenta à dor da criança sentimentos de frustração, desamparo e solidão. Esse isolamento afetivo faz com que a criança já se sinta morta Torres (1983). A negação e não elaboração do luto é a solução mágica adotada por alguns pais para conseguir ficar junto ao filho. O adulto que se cala diante da morte iminente de uma criança, está negando a dor, na tentativa de anulá-la. Mas, nessas situações, não basta estar presente fisicamente, a criança precisa sentir que pode contar com alguém para elaborar seus sentimentos. Para ela, é mais fácil lidar com a morte do que com o mistério, o não-dito.
Metodologia: Pesquisa de cunho bibliográfico com objetivo de se tirar uma reflexão sobre a morte no processo de crescimento e desenvolvimento.
Conclusão
Como já foi dito anteriormente, o homem é o único ser vivo que tem consciência de sua morte e isso gera angústia. Para minimizar esse sentimento, nega a sua existência e agarra-se à ilusão de ser eterno. Nessa perspectiva, entende-se que escrever sobre a morte não é uma tarefa fácil, porque nos aproxima da nossa finitude. Essa dificuldade em lidar com a morte se reflete em nosso discurso, visto que evitamos falar sobre o tema. Mas, enquanto psicóloga, questiono-me como seria possível elaborar algo sem expressar os sentimentos atrelados a esse fato. O problema se agrava quando, no âmbito profissional, lidamos com a morte diariamente, o que é bastante comum no ambiente hospitalar. A situação fica ainda mais complicada quando temos que trabalhar a doença, hospitalização e iminência de morte em crianças, pois a morte na infância é percebida como algo impensável, já que, como defesa, associamos a finitude da vida à velhice. A morte na infância desestrutura emocionalmente o adulto, e este tenta, magicamente, resolver o conflito calando-se. Percebemos que, tanto a equipe de saúde quanto os próprios familiares buscam fugir do tema. No entanto, como profissional das ciências humanas, entendo que cabe a nós a inserção da morte no discurso, principalmente no ambiente hospitalar. Mas, para realizar essa difícil tarefa, torna-se necessário entender como o homem, ao longo da história vem lidando com esse tema. Mais do que isso, é preciso ter conhecimento acerca do desenvolvimento infantil. É imprescindível que saibamos como as crianças de diversas faixas etárias adquirem as noções sobre a morte, pois sabendo o que e como a criança pensa, torna-se mais fácil abordar o assunto com ela de maneira adequada.
Nesse sentido, concordamos com os estudos produzidos por os autores mencionados nesta pesquisa de cunho bibliográfico, resumidamente descreve a formação do conceito de morte na infância da seguinte forma: de zero aos três anos, a morte é sinônima de separação. É atribuída vida a objetos inanimados. Dos três aos cinco anos, a morte é percebida como uma separação provisória, como ausência. É reversível e equiparada ao sono. Aos cinco anos a criança associa a morte à velhice e à imobilidade. Apresenta uma aparente ignorância sobre a morte, bem como aceitação de vida na morte.A morte é vista como uma intervenção externa e um evento irreversível. A criança de oito anos percebe a morte como punição e não a aceita num ente querido. Surge o interesse pelo além morte. Aos nove anos, o infante entende que a morte é um processo permanente, irreversível e universal. Ocorrem, nessa idade, reações de angústia e luto frente ao tema. A partir dos dez anos, a criança reconhece formalmente a morte e adquire explicações lógicas e amplas sobre o tema. Percebe-a como uma ameaça pessoal, de caráter definitivo e permanente.
Referências
ABERASTURY, Arminda. & KNOBEL, Maurício (2011). Adolescência Normal: Um Enfoque Psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas.
ANGERAMI, Valdemar, A. E. (2010). A Psicologia Entrou No Hospital. São Paulo: Ed. Pioneira.
BROMBERG, Maria. H. (2009). A Psicoterapia Em Situações De Perdas E Luto. São Paulo: Ed. Psi I.
KOVÁCS, Maria J. (2009). Morte E Desenvolvimento Humano. São Paulo: Ed. Casa Do Psicólogo.
LINDIQUIST, Ivonny (1993). A Criança No Hospital. São Paulo: Scritta.
TORRES, Wilma Da C., GUEDES, Wanda G. & TORRES, Ruth Da C. T. (1983). A Psicologia E A Morte. Rio De Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
TORRES, Wilma Da C. (1999). A Criança Diante Da Morte. São Paulo: Casa do Psicólogo.
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Agosto de 2013 |