Qualificação e quantificação dos gols da Eurocopa 2008 e Copa Toyota Libertadores 2008 Cualificación y cuantificación de los goles de la Eurocopa 2008 y Copa Toyota Libertadores 2008 |
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Graduado em Educação Física. Estácio de Sá (Brasil) |
André Luiz da Silva Almeida |
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Resumo O futebol não é só ciência e tampouco só pragmatismo. Temos nesse esporte uma mistura mágica desses dois fenômenos na sua existência e o aparecimento particular de cada um deles no detalhamento dos lances. O Objetivo deste estudo foi quantificar e qualificar os gols de duas competições: Copa Toyota Libertadores 2008 e Eurocopa 2008. Os métodos usados foram os mesmos do Drubscky em seu livro O Universo Tático do Futebol, utilizando o código TH-DSEA. Os resultados mostraram que nas duas competições a maioria esmagadora dos gols provem de gols Táticos seguidos dos gols de habilidade individual, tendo uma diferença nos gols de habilidade da Libertadores que foi maior que o da Euro mostrando que a ginga do futebol sul-americano é determinante na consecução desse tipo de gol. Os demais tipos de gols não tiveram uma significância muito grande. Concluiu-se que a sistematização tática é o fator mais importante para realização de gols em qualquer campeonato seja na America ou na Europa e que também o futebol está parecido em todo o mundo. Unitermos: Futebol. Copa Toyota Libertadores. Eurocopa. código TH-DSEA.
Abstract Soccer is not just science or just pragmatism. We have on soccer a magic mix of this two phenomenon in its existence and the private arising of each one of them in each situation. The goal of this research was quantify and qualify scores in two competitions: Libertadores Toyota Cup 2008 and Eurocup 2008. The methods used were the same from Drubscky in his book Soccer Tactic Universe, using the TH-DSEA code. The results showed that in both competitions the most goals scored came from tactic goals followed of hability goals, with a difference of hability goals on Libertadores Toyota Cup that was higher than in Eurocup, showing that South American soccer shake is determinant to score this kind of goal. The other kinds of goals didn’t have big significance. We can conclude that the tactic systemization is the most important reason to scoring goals in any championship no matter America or Europe and also that the soccer is being the same around the world. Keywords: Soccer. Libertadores Toyota Cup. Eurocup. TH-DSEA code.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O futebol é o esporte coletivo mais praticado no mundo. O jogo é disputado em um campo retangular com 2 equipes, cada uma com 11 jogadores de cada lado e o grande objetivo é colocar a bola dentro da baliza adversária, o que chamamos de gol. Aos jogadores não é permitido o uso das mãos com exceção do goleiro que é o encarregado de proteger a baliza e também em arremessos laterais (válido para qualquer jogador). (1)
Sistema de jogo consiste em situar os jogadores dentro do campo de jogo levando-se em conta as qualidades de sua equipe para aumentar as chances de criar dificuldades para o seu adversário. O sistema deve ser constante e não deve ser mudado durante a partida para o fácil entendimento dos jogadores. (2)
A tática significa o sistema de jogo em movimento, a execução racional e inteligente da movimentação dos jogadores dentro do campo para alcançar o triunfo e tirar proveito em uma situação, induzindo o erro do adversário e vencendo-o. (3)
Num estudo de variação tática na UEFA Champions League 2006-2007 foi constatado que há uma tendência em equipes inferiores ou que apresentam menos tradição em adotar um sistema mais cauteloso e procurar variar pouco esse sistema, tanto por não terem tanta opção de material humano e conseqüentemente uma equipe com menos qualidade, ao passo que equipes mais tradicionais e com elencos mais fortes preferem manter o sistema mais tradicional que é o 4-4-2, mas mudam o padrão da equipe se necessário por serem mais versáteis. Houve variações táticas nas equipes que disputaram o torneio porem nas equipes de um mesmo país as variações foram menores. (4)
O objetivo deste presente estudo foi qualificar e quantificar os gols de 2 competições internacionais (Copa Toyota Libertadores 2008 e Eurocopa 2008). Os parâmetros usados pelos torcedores como “Com um zagueiro desse até eu faço gol.” “que golaço, na gaveta!” “Mas que roubo! Tava impedido seu juiz!!” [...] São expressões que traduzem por si só os lances e conseqüentemente os gols. Eu, assim como o professor Ricardo Drubscky fez no seu estudo, quis ir além e não me arrependo pois foi muito interessante.
Todos os espectadores de jogos de futebol sabem que os gols podem sair de várias maneiras, como numa bela jogada concatenada por uma equipe, numa grande jogada individual de um meia armador, ou de qualquer outra forma. E como podemos detectar esses fatores e quantas vezes eles estarão presentes numa partida de futebol? Quantos e quais fatores podem intervir no momento dos gols?
O estudo tentou encontrar essas respostas. Tenho certeza que os resultados farão com que várias equipes de futebol prestem bastante atenção na montagem de jogadas táticas para consecução de gols e cada vez mais treinem com exaustão. (5)
Métodos
Antes de mais nada deixaremos claro que a metodologia usada foi a mesma do professor Drubscky em seu livro O Universo Tático do Futebol . (5)
Dois campos de observação
As amostras dos gols
Aproximadamente 160 gols revelam o objeto de pesquisa neste estudo. Dois campos de observação foram utilizados. A Eurocopa 2008 e a Copa Toyota Libertadores de 2008. Escolhi esses campeonatos por serem campos de observação diferentes dos usados pelo professor Drubscky e também pra tentar notar uma diferença entre o futebol sul-americano e o europeu. A Eurocopa 2008 foi um excelente campo de observação por unir as melhores seleções da Europa e com isso poder ter o prazer de acompanhar jogadas de altíssimo nível técnico. Foram escolhidos na Libertadores os jogos a partir da fase de oitavas de final por possuírem nessa fase da competição equipes com um nível técnico e táticos superiores. Já a Euro foi analisada por completo com seus 77 gols, e esta competição por já existir uma eliminatória própria acaba levando as equipes com mais qualidade proporcionando um nível altíssimo de futebol.
Só os lances de gol
O estudo fez a análise do jogo de futebol sob o panorama do acerto nas jogadas ofensivas e erros nas jogadas defensivas apenas nos lances que resultaram em gols. Em vista disso, os lances que não terminaram em gols foram completamente ignorados. A idéia se condensa em qualificar e quantificar a natureza dos lances que terminaram em gols.
O subjetivismo e o pragmatismo
Para qualificar os gols não foi possível rejeitar o pragmático e o subjetivo. Reitero porém que para não perder o foco das regras colocadas pelo estudo os gols foram assistidos várias e várias vezes para que se chegasse a uma classificação o máximo coerente.
O foco da análise
Alguns elementos que algumas vezes podem mudar o resultado de jogos de futebol não foram levados em conta. Expulsões, equipes com jogadores a menos por estar sendo atendido fora do campo foram desprezados.
Instrumentos da pesquisa
Foram gravados alguns jogos pela TV com um DVD REC Lennox e outros jogos foram feitos download dos melhores momentos na internet por intermédio do Youtube, ou seja, a pesquisa foi feita pelo que as imagens da TV captaram, ângulos de câmera que mostraram os lances na parte ofensiva e defensiva das equipes. O aspecto negativo foi que só pôde ser acompanhado onde a bola estava e como a câmera flagrava o lance, ou seja, não foi possível ver em todos os gols o posicionamento global das equipes. O lado positivo foi que com o foco no lance onde a bola está foram apurados todos os detalhes e por estar gravado ver os lances inúmeras vezes.
Critérios para qualificação e classificação dos gols
Na classificação dos gols foram considerados no máximo 3 jogadas anteriores a conversão de um gol, inclusive a própria jogada onde ele foi feito. Lógico que alguns gols podem ser originados com apenas uma jogada, porém a maioria deles vem de jogadas trabalhadas e essas jogadas foram cuidadosamente quantificadas. (5)
O Código TH-DSEA de qualificação e classificação de gols
Foi usada a mesma metodologia do Professor Drubscky em seu livro, ou seja, foram colocados 6 fatores como ferramentas de avaliação: (T) Tática, (H) Habilidade individual, (D) Falha defensiva, (S) sorte, (E) Esperteza e (A) Arbitragem. Foram criadas então 6 categorias de gol: o gol tático (T), gol de Habilidade Individual do jogador (H), gol de falha defensiva (D), gol de sorte (S), gol esperto (E) e gol do árbitro (A).
O que é um gol tático?
Existem narradores que comentam durante uma partida “parece que eles estão numa sintonia tão grande que um já sabe onde o outro vai estar dentro do campo.”
Uma jogada bem concatenada pelo ataque onde percebe-se a ótima movimentação dos jogadores e acaba em gol com certeza tem uma grande consideração do elemento tático.
O gol tático (T) é aquele onde 2 ou mais jogadores participam de uma jogada trabalhada e completamente treinável.
O que é um gol de Habilidade Individual?
Habilidade é definida como uma capacidade obtida para atingir um objetivo final com um máximo de certeza e um mínimo de gasto de energia. (6)
É um gol de um jogador que mostra muita qualidade em um lance de extrema habilidade ou como por exemplo um chute de fora da área, uma execução perfeita de um tiro livre direto, um lançamento primoroso de um meia para o seu atacante. O lance onde foi feito apenas um drible não foi considerado como lance de habilidade. O domínio bem feito, o chute certeiro ou um drible foram classificados como fundamentos bem desenvolvidos. Os gols que tiveram como origem 2 ou mais dribles do seu autor ou assistente receberam a classificação de gol habilidoso (H) segundo o percentual de classificação do lance total.
Também nos gols onde seus autores ou seus assistentes utilizam de recursos intitulados por narradores como “geniais” (calcanhar, letra, chapéu) tiveram a inserção do componente de habilidade na sua classificação.
O que é um gol de falha defensiva?
Todo gol onde um defensor ou um jogador que no momento esteja desempenhando funções defensivas cometa um erro técnico, tático ou de concentração para o lance do gol. Como exemplo principal tem o clássico gol contra, aquele gol que nenhum jogador tem o prazer de fazer e sempre vem acompanhado com um balde de água fria. Temos mais exemplos, quando o jogador em vez de dar um bico pra frente, pra lateral ou pra onde quer que vá tenta sair driblando, perde a bola e sua equipe acaba sofrendo um gol. Esses erros tiveram como classificação gol de falha defensiva (D) e a relação do lance ocasionou no percentual em cada lance em que foi feito um tento.
O que é gol de sorte?
Muitos quando lerem esta parte tentarão lembrar logo de cara um gol que tenha comentado “Mas que sorte desse cara, nunca mais ele faz isso”. O gol de sorte é aquele onde numa situação de jogo o lance foge a vontade dos envolvidos. Temos como exemplo um lance onde um jogador executa um cruzamento que acaba tendo o caminho do gol e a bola acaba batendo na trave, volta nas costas do goleiro e morre no fundo das redes. Também quando a trajetória da bola é drasticamente alterada sem a aparente intenção dos seus protagonistas foi considerada como um gol de Sorte (S)
O que é um gol esperto?
Muitos jogadores brasileiros têm a fama de ser cai-cai, qualquer assopro estão se jogando principalmente dentro da grande área. Mas existem árbitros que caem na deles e acabam marcando pênaltis e ou faltas que podem levar muito perigo aos adversários. Essa “malandragem” teve um percentual do fator gol esperto (E). Outro exemplo é quando há um cruzamento na área e um atacante dá um leve toque de mão na bola, o que acaba sendo suficiente para ela morrer no fundo das redes. Acaba ludibriando o árbitro, seus assistentes e ganha o percentual de gol esperto.
O que é um gol do árbitro?
Você já gritou muito em frente à TV quando seu time tomou um gol em impedimento? Esse tipo de lance foi considerado um gol do árbitro. Só foram considerados lances diretamente ligados aos gols já que se tratando de arbitragem deve-se levar em conta a interpretação e a visão do lance.
Como utilizar o código TH-DSEA
Para facilitar a padronização dos gols, o gol foi dividido por lance principal e lance secundário. O lance principal está diretamente ligado ao lance do gol, recebeu sempre a maior valorização: 70%. Os momentos que precedem o momento do gol foram considerados secundários e receberam a menor valorização: 30%. Nos lances secundários apenas os 2 lances anteriores aos gols foram contados, determinando assim o universo de no máximo 3 lances analisados para cada gol classificado.
Tanto no lance principal quanto no secundário os percentuais tiveram a possibilidade de serem subdivididos ou não, dependendo da complexidade das jogadas que eles representavam. A intenção de dividi-los sucedeu da necessidade de encaixar todos os fatores intervenientes na mudança de lances feitos - gols.
Algumas vezes um lance de gol está genuinamente ligado a apenas um fator do código TH-DSEA. Com esse estudo fica bem facilitada a classificação de gols em próximos trabalhos. (5)
Resultados
Tabela 1. Médias percentuais obtidas pelos 77 gols da Eurocopa de 2008, segundo o código TH-DSEA
Gráfico 1. Média percentual de interveniência da Euro 2008
Tabela 2. Médias percentuais obtidas pelos 81 gols da Copa Toyota Libertadores de 2008, segundo o Código TH-DSEA
Gráfico 2. Média percentual de interveniência da Copa Toyota Libertadores 2008
Resultados e discussão
Nota-se que na Tabela 1 o Gol tático (T) obteve a maioria esmagadora do percentual, mostrando que a sistematização das táticas sempre conhecida dos europeus é um fator determinante para a consecução dos gols de suas seleções. Em busca de aproveitar o máximo as chances que surgem os atletas sempre caminharam no intuito de obedecer ao plano tático de suas equipes e poucas vezes arriscaram lances individuais.
Na tabela 2 pode-se identificar que o gol de Habilidade individual (H) teve uma parcela significativa e superior a tabela 1 (27,7% contra 14,8%). Isso mostra que os sul-americanos utilizam bem mais o fator ginga, são mais ariscos e criam jogadas “desrespeitando” a sistematização tática em alguns momentos dentro do jogo causando um diferencial que só os craques sabem fazer.
Os gols de falha defensiva (D) representam um percentual pequeno em ambas as competições como se pode ver na tabela 1 e 2 e isso pode ser traduzido pela grande preocupação dos treinadores em cada vez mais bolar treinamentos para uma melhora do sistema defensivo, trabalhando tanto o lado coletivo com eficientes coberturas, saídas de bola e individualmente criando soluções eficazes e rápidas para afastarem o perigo de gol.
Nos outros tipos de gol não houve uma diferença significativa e podemos dizer que alguns mitos aos poucos vão sendo derrubados quando dizem que árbitros decidem partidas, que a equipe x teve muita sorte, ao contrário disso, nas duas competições a maioria dos gols foram por jogadas táticas, fruto do trabalho sistematizado, da repetição até a exaustão e que logicamente não pode ser desconsiderado a habilidade dos jogadores e o estudo mostra que tanto na Euro quanto na Libertadores sempre o gol de habilidade individual (H) apareceu com o segundo maior percentual atrás apenas dos gols táticos.
Conclusão
Conclui-se que a sistematização tática é o fator preponderante para a consecução da maioria dos gols em qualquer campeonato, seja ele na América do Sul ou na Europa, de times ou seleções.
O Jogo de futebol continua parecido no mundo todo, tendo em vista a semelhança dos números encontrados nos 2 campeonatos.
O fator habilidade individual (H) é o segundo colocado em consecução dos gols, ou seja, há uma importância em ter jogadores que possam criar jogadas “mágicas” e juntamente com isso um time bem treinado formam uma máquina com muitas opções de conseguir fazer muitos gols.
Referências
Futebol, Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Futebol [Acessado em 16/10/2009]
Coelho, P. V. Valdano, J. Futebol Passo a Passo: Técnica, Tática e Estratégia. São Paulo. LANCE! 2006.
Leal, J. C. Futebol: Arte e Oficio. Rio de Janeiro. Sprint. 2000.
Amaral, R. F. Greco, D. S. Variação tática entre as equipes participantes da fase final da UEFA Champions League, 2008.
Drubscky, R. O Universo tático do Futebol, Belo Horizonte, Health, 2003
Schimidt, R. A. Aprendizagem e performance motora. São Paulo. Movimento 1992.
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