Futebol: o caminho de sua ‘construção’ Fútbol: el camino de su "construcción" |
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Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN (Brasil) |
Hudson Pablo de Oliveira Bezerra |
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Resumo Na atualidade o Futebol configura-se como uma manifestação cultural de grande destaque social. Assim, este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão histórica do surgimento do esporte e da sua introdução no cenário brasileiro, bem como dos elementos que interferiram em suas estruturas para que pudesse se constituir como fenômeno esportivo contemporâneo de grande destaque social. Unitermos: Esporte. Futebol. História.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
O Futebol na sociedade contemporânea é reconhecido como uma das manifestações culturais de maior destaque. No cenário brasileiro percebemos que este possui grande destaque e reconhecimento para a população e para diversas instituições sociais. É comum vermos associações do Futebol com o Brasil, isto pode ser evidenciado, por exemplo, através dos discursos propagados que buscam atribuir ao país o título de “Brasil o país do Futebol”.
Segundo Mosca (2006, p. 55), “por meio do futebol conhece-se melhor e de forma mais profunda a complexidade brasileira e, por meio do Brasil, a complexidade do futebol”. Nessa afirmativa, o autor deixa explícita sua visão de complementaridade identitária entre o Futebol e a nação brasileira, sendo um representante do outro, ou seja, o Futebol representa o Brasil, e o Brasil representa o Futebol.
O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão histórica do surgimento do futebol e da sua introdução no cenário brasileiro, bem como dos elementos que interferiram em suas estruturas para que pudesse se constituir como fenômeno esportivo contemporâneo de grande destaque social.
Este trabalho configurasse como histórico, e desenvolve-se a partir de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa (BOAVENTURA, 2007). Para tanto, utilizamos como procedimento metodológico uma revisão bibliográfica a partir de estudos que oportunizaram informações históricas sobre o surgimento do Futebol, sua implantação no cenário brasileiro e sua constituição enquanto fenômeno esportivo.
Portanto, reconhecemos a importância de conhecermos sua historicidade, visto que ela nos proporcionará conhecimentos necessários a uma postura crítica e reflexiva nos momentos de discussões sobre esse fenômeno esportivo. Ainda, afirmamos que discutir e teorizar sobre o Futebol será sempre uma tarefa incompleta, visto que este é um fenômeno complexo e os estudos são incapazes de investigá-lo em toda sua completude.
Delineamento histórico do futebol
Para iniciarmos nossa caminhada no percurso das discussões históricas sobre o Futebol e da sua estruturação como fenômeno esportivo contemporâneo necessitamos retornar às veredas iniciais desse esplendoroso e duvidoso caminho. Para tanto, buscaremos neste trabalho trilhar um percurso através de dados e informações históricas sobre o Futebol enfatizando suas origens e os investimentos realizados para que este pudesse apresentar as atuais configurações.
De acordo com nossa compreensão, as características assumidas pelo esporte contemporâneo foram construídas a partir da sua interação com as configurações sociais em diferentes contextos históricos, econômicos e políticos. Dessa forma, sua problematização e a compreensão das novas dimensões que assumiu na sociedade exigem que esse seja reconhecido “como um fenômeno social historicamente construído” (PRONI, 1998, p 26).
A presença do Futebol na sociedade hodierna é fato “concreto”. Segundo Melo (2006, p. 10), “em nossa sociedade contemporânea, o futebol praticamente se impõe em cada pedaço desse mundo globalizado. Não surpreende, portanto, o fato de que haja mais países ligados a Federação Internacional de Futebol (FIFA) do que à Organização das Nações Unidas (ONU)”.
No cenário brasileiro essa representatividade se torna mais intensa e confusa: não é o Brasil um representante do Futebol, mas, ao contrário, o Futebol é a representação do Brasil. Como afirma Rodrigues (2009, p. 8), “no Brasil, o futebol é o esporte principal e símbolo do país mundo afora”.
Para Honorato et al (2009, p. 1), o futebol no Brasil é o “instrumento” capaz de fazer “transparecer nossos desejos, frustrações, alegrias, tristezas, crenças e mitos”. Já de acordo com Azevedo e Rebelo (2002, p. 1), podemos entender o Futebol como “um dos aspectos de maior vitalidade do povo brasileiro”.
Deste modo, fica evidente que o Futebol envolve amplos aspectos da vida social das pessoas, indo além da execução mecânica da técnica e tática durante a realização das partidas. Para Gastaldo (2005, p. 133), o Futebol no Brasil “é um fenômeno cultural que supera largamente as estritas linhas do campo de jogo, ritualizando questões simbólicas profundas acerca da nossa sociedade”, essas questões, são hoje “tematizadas em estudos acadêmicos nos mais diferentes aspectos”.
Portanto, percebemos que, discutir o fenômeno esportivo do Futebol em sua dimensão cultural e antropológica, exige do pesquisador uma visão ampliada dos múltiplos elementos que o cercam. Desta forma, sentimos a necessidade de investigarmos e apresentarmos o percurso histórico desta modalidade esportiva ao longo de sua constituição como um dos maiores fenômenos culturais da sociedade contemporânea.
Entendemos que para se constituir como um fenômeno dessa magnitude, o Futebol foi moldado através de diferentes situações, onde recebeu e se retirou elementos da sua prática e da sua representação social. Fazer sua reconstituição histórica, certamente não é tarefa fácil, no entanto buscaremos realizá-la a partir de uma visão crítica-reflexiva, interpretando as informações históricas de acordo com o contexto em que se estabeleceram e não apenas como uma somatória de fatos.
Proni (1998, p. 133) afirma que o Futebol surgiu em meados do século XIX na Inglaterra. Percebe-se assim que, o surgimento da modalidade esportiva Futebol não foge as características da sua categoria maior, o esporte, que também teria surgido na Inglaterra. Afirmam os estudiosos que este teria surgido na Inglaterra em meados do século XIX (ALMEIDA, 2008; ESCHER, 2007; FRAGA, 2009, HELAL e GORDON, 2002; GASTALDO, 2000; MELO, 2000; MOSCA, 2006; PRONI, 1998; etc.).
Assim, como o esporte de forma geral, o Futebol teria surgido “nas escolas da burguesia inglesa que, primeiramente, organizaram as regras do futebol moderno”. Encontramos como objetivos dos seus primórdios, a função de controlar os impulsos dos jovens, preparar os futuros líderes do Império Britânico, além de propagar valores como: cavalheirismo, boa conduta, honestidade, entre outros (MELO, 2000, p. 15).
Para Fraga (2009), os ingleses além de deterem a patente de inventores do futebol, também foram os responsáveis por sua difusão pelo globo juntamente aos seus interesses econômicos.
Quanto às regras da modalidade, Melo (2000, p. 15) argumenta que, “as primeiras regras de cunho mais geral foram criadas em 1863, com o Football Association, e já em 1871, era realizado o primeiro jogo internacional, entre Inglaterra e Escócia”. Ainda segundo esse autor, com algumas pequenas modificações, essas regras seriam respeitadas e utilizadas internacionalmente pelos praticantes do futebol até os dias atuais.
A reunião para tomada dessas decisões aconteceu em Londres, e não ocorreu de forma tranquila. Muitas eram as divergências dos participantes do encontro quanto ao estabelecimento das regras da modalidade.
Almeida (2008) assim como Melo (2000), destaca que o dia 21 de maio de 1904, em uma reunião em Paris, que contou com a participação de representantes de federações dos sete principais países praticantes de Futebol, foi um momento que selou o futuro desse esporte. “Era criada uma federação internacional para organizar a prática de jogos entre países, sejam partidas entre seleções nacionais ou clubes. Nascia a FIFA, Fédération Internationale de Football Association, o futebol tornava-se um jogo mundial” (ALMEIDA, 2008, p. 14).
Para Melo (2000, p. 16) “possivelmente, ninguém, naquela época, poderia prever que aquela pequena sociedade de sete países se tornaria uma das mais poderosas entidades do mundo”. Essa afirmativa de Melo (2000) se deve ao grande destaque que a FIFA conseguiu conquistar no cenário internacional, não só no meio esportivo, mas também em outros setores das relações sociais, politicas e econômicas.
Continuando suas discussões sobre o a origem e “disseminação” do Futebol, Melo (2000), afirma que ele e o esporte de forma geral devem ser entendidos como atividades culturais, e dessa forma:
Devemos compreender a cultura a partir de sua circularidade. A cultura que é produzida no seio das classes mais abastadas da sociedade sofre influência da cultura das camadas populares. E tais camadas apreendem as manifestações geradas pelas classes ricas, conferindo novos sentidos e significados. Qualquer relação de dominação pressupõe uma resistência por parte do dominado; que nunca é completamente dominado, mas devolve ao dominador influencias que acabam por reorientar os sentidos originais. E, provavelmente, foi assim que o futebol se propagou por vários países do mundo. Logo, o futebol era um “vírus”, que, mundialmente, foi contaminando pessoas de diferentes classes sociais, e etnias e nacionalidades, superando até mesmo os rígidos limites impostos pelas religiões.
Acreditamos, assim como o autor, que a construção e a constituição do Futebol moderno aconteceu através das interações sociais realizadas entre as classes que dominavam e os dominados, em um constante processo de “modelagem” que acabou por disseminar suas práticas por toda a sociedade. Nesse processo, os elementos culturais constituíram-se como mandantes, pois eles compreendem as características de um grupo populacional e sua forma de representação perante a sociedade.
No entanto, diante as discussões já realizadas, surge-nos um questionamento. E no cenário brasileiro, como aconteceu a introdução do Futebol?
Lucena (2001) citado por Escher (2007) nos fala que:
O futebol surge no país, justamente com os outros esportes, num contexto específico de nossa sociedade, cada vez mais urbana, e com o encontro de culturas diferentes, com o fim do trabalho escravo, o aumento da imigração e uma série de mudanças que favoreceram a ampliação de ações no sentido de um redimensionamento ao estilo europeu de vida (LUCENA, 2001 apud ESCHER, 2007, p. 34).
A esse respeito, Escher (2007, p. 35) ainda comenta que, um estilo de vida mais civilizado era a preocupação da sociedade brasileira. Esta passava por um processo de urbanização em que copiava os modelos europeus de comportamentos cada vez mais concentrados. Deste modo, no Brasil, o Futebol chega como modo regulador de emoções, fazendo parte primeiramente da elite, com objetivo de “tornar mais refinados os comportamentos como uma forma distintiva de classe”.
Quando chegou ao Brasil, o Futebol se caracterizou como uma modalidade reservada às elites, estando inicialmente, baseada nos pressupostos de sua inventora, ou seja, a Inglaterra. O modelo esportivo da Inglaterra, pregava:
O amadorismo e o fair play, sendo por isso uma atividade elitista, posto que as únicas pessoas com tempo disponível para praticar tais modalidades eram os integrantes da alta burguesia, os denominados Gentleman, que no sistema de ensino bretão eram educados para liderar o desenvolvimento de todo o império vitoriano. [...] No Brasil não foi diferente, sendo que o início de sua prática em nossas terras se deu pelos funcionários ingleses das empresas ferroviárias que aqui moravam no início do século XX e por jovens da classe alta que tiveram a oportunidade de estudar na Europa (ALMEIDA, 2008, p. 14 -15).
O Futebol foi introduzido no Brasil em um período de importantes mudanças na organização social, econômica e política. De acordo com Helal e Gordon (2002, p. 40):
Saíamos de um regime monárquico, baseado na produção escravocrata para um sistema republicano, não escravagista. Com isso, um tipo de sociedade basicamente rural e agrária iniciava um processo de urbanização e lenta industrialização. Nas primeiras décadas do século XX, o país assiste a um crescente processo de migração para as cidades, dando início a formação de um proletariado urbano.
Ainda segundo Helal e Gordon (2002), o futebol foi trazido por imigrantes ingleses e absorvido pelas elites das cidades que não aprovavam a participação popular, especialmente a de negros e mestiços por fatores escravocratas.
Com o advento da modernidade, as elites nacionais passaram a controlar a realização dos eventos sociais e culturais objetivando manter as marcas do seu grupo sólidas e instransponíveis. Assim, “a história do futebol, como parte da história do Brasil, foi escrita a partir da experiência das elites” (SANTOS, 2008, p. 137).
Dessa forma, o futebol surge na sociedade brasileira como uma atividade ligada à elite nacional, tendo como objetivo copiar os hábitos de vida do mundo dito civilizado. Ou seja, seria uma tentativa de reproduzir em terras tropicais o modo de vida inglês.
Quando nos baseamos nos estudos de Fraga (2009) sobre a origem do Futebol em solo brasileiro visualizamos algumas possibilidades, dentre elas, o autor destaca a perspectiva conhecida como “tradicional” de que o esporte teria sido introduzido no Brasil no ano de 1884 por Charles Miller.
Melo (2000), corrobora com essa perspectiva e nos fala que durante sua estadia na Inglaterra, Miller, teria se envolvido profundamente com a prática do Futebol, em sua escola, Banister Court School e assim, teria trazido em sua bagagem os instrumentos necessários para implantação do futebol em solo brasileiro, tais como: “regras do jogo, chuteiras, camisas das equipes, bomba para encher a bola, além de sua experiência e vontade de continuar praticando o esporte” (MELO, 2000, p. 20).
Segundo Máximo (1999), Charles Miller plantou a semente do Futebol no Brasil através dos jovens de boas famílias, como a sua, que até então se interessavam por críquete, golfe, tênis e similares. Para isso, Miller,
Ensinou-lhes os fundamentos do futebol, dividiu-os em dois times, escalou um de seus amigos para juiz, outro para bandeirinha, e lá foram todos fazer história na várzea do Carmo. Depois, realizaram novos jogos em campo literalmente mais nobre: o gramado da chácara da também britânica família Dooley, no bairro do Bom Retiro. Daí, sempre a elite, foram surgindo os primeiros times de verdade (MÁXIMO, 1999, p. 182).
Fraga (2009, p. 144) aponta que após três anos da chegada de Miller a São Paulo, chega ao Rio de Janeiro outro brasileiro estrangeiro, Oscar Cox, vindo da Suíça na mesma situação e com as mesmas pretensões de Miller. Foi a partir da chegada desses dois cidadãos que o futebol se desenvolveu em solo brasileiro, e como consequência fundaram-se clubes destinados à sua prática, “agrupando em suas fileiras a fina flor da juventude brasileira daquele momento”.
Ainda sobre a história do Futebol no Brasil, Mosca (2006, p. 56) nos mostra que “desde 1901, ligas foram fundadas em São Paulo, e desde 1905 no Rio de Janeiro”. Já em outros estados como: Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, só aconteceram por volta do ano de 1915. Nesse período a prática do futebol não mantinha laços com a Educação Física, visto que essa estava atrelada as classes médicas e preocupada com os ideais higiênicos.
Com o prosseguir dos anos, o Futebol no Brasil sofre alterações, e segundo Leoncini (2001, p. 19), a partir da década de 1920 o Futebol brasileiro entra em uma nova fase.
A partir da década de 20 notadamente, a história do futebol brasileiro vai forjar antecedentes de uma nova fase, a mais original, produtiva e espetacular de sua trajetória, ou seja, a sua popularização e democratização. O futebol nas várzeas devolve ao povo que era por seu direito, já que este esporte, na sua origem, foi “inventado” com base nas manifestações culturais das camadas populares da Inglaterra do final do século XIX.
Percebemos assim que a popularização do Futebol no Brasil só aconteceu por volta de 1920, no entanto, observa-se que alguns dirigentes adotavam posturas conservadoras e junto com o racismo embutido em grande parte das elites faziam com que o Futebol continuasse no amadorismo por muitos anos após sua iniciação no Brasil (MOSCA, 2006).
Com essa popularização, o número de aficionados pelo futebol cresce consideravelmente e começa a declinar a ideia de que este ficaria reservado somente à elite, começando a ser praticado também por negros e pela classe mais humilde. “Somente em 1918, por pressões da imprensa, a Federação Brasileira de Sports autorizou formalmente os clubes e entidades regionais a aceitarem negros” na prática do Futebol. “O clube de Regatas Vasco da Gama foi o primeiro clube a permitir jogadores negros em seus times” (MOSCA, 2006, p. 56-57).
No entanto, os problemas do futebol no Brasil não pararam por ai, tornava-se necessária a sua profissionalização, e para que isso viesse a se concretizar foram necessárias diversas intervenções e reformulações nas suas estruturas de funcionamento.
Para os jogadores, buscar o profissionalismo significava a sobrevivência imediata. Significava também o sonho de ascensão sócio-econômica para muitos daqueles que não encontravam tal oportunidade no mercado de trabalho. E isso era especialmente verdade quanto aos negros, que ainda sofriam com a discriminação orientada da época escravagista (MOSCA, 2006, p. 62).
Esse sonho de ascensão através do futebol é verificado até hoje. Diversos são os exemplos de jogadores que conquistaram a sua sobrevivência, e bem mais que isso, a sua ascensão social e econômica através de bons desempenhos na prática do futebol. Esse é o desejo de inúmeros jogadores, especialmente aqueles das camadas mais humildes que são marginalizados da sociedade e veem o futebol como uma das poucas possibilidades para mudar a realidade em que vivem.
Retornando a reconstituição histórica do futebol, percebemos que após inúmeras controvérsias e discussões realizadas entre os jogadores e os clubes, além da intervenção de outros segmentos do estado, o profissionalismo começa a ser implantado. Sendo implementado, principalmente, através de contratos financeiros oferecidos aos jogadores. No entanto, torna-se importante destacar que a afirmação do profissionalismo não significou o encerramento dos conflitos existentes no meio do futebol.
Com a profissionalização e o surgimento de equipes de futebol o país necessita estruturar-se para oferecer espaços adequados a prática dessa modalidade. Temos como princípio a construção do estádio do Fluminense. O primeiro a ser construído no país. Este tinha capacidade para 18 mil pessoas, e ficava localizado no bairro das Laranjeiras no Rio de Janeiro. Nesse estádio, foi realizado o primeiro jogo da Seleção Brasileira de Futebol, que em 1914 venceu o Exeter City, um clube inglês por 2 x 0 (ARAÚJO e RODRIGUES, s/d).
Já em 1940, o governo Vargas investe na criação de novas estruturas para a prática e as competições do Futebol, e constrói o estádio do Pacaembu com capacidade para 60 mil pessoas. Já em 1950 constrói o Estádio Jornalista Mário Filho, o popular Maracanã, com capacidade para 200 mil pessoas, o que levou a ficar conhecido como o maior estádio de Futebol do mundo (ARAÚJO e RODRIGUES, s/d).
Foi através de Getúlio Vargas que a política nacional do Brasil começou a perceber e a utilizar o potencial simbólico presente no Futebol, “o jogo das multidões”. “Para o governo Vargas, a formação da grande nação brasileira era um dever patriótico de todos, e o futebol foi uma importante ferramenta na construção de um novo ideário social” (DRUMOND, 2008, p. 46).
Portanto, podemos compreender que diversos foram os elementos que interviram para constituição do Futebol como elemento da cultura brasileira. Como evidenciamos, a sua configuração atual é fruto das diversas relações socialmente estabelecidas no decorrer da história. Relações que, na maioria das vezes, agiram em função daqueles que detinham o poder, enraizando-se e estando presentes até os dias atuais em diversas de suas características.
Conclusão
Diante as discussões realizadas neste trabalho pudemos ter acesso a conhecimentos que evidenciaram os cenários e arranjos sociais em que o futebol surgiu e se constituiu enquanto modalidade esportiva. Além disto, destacamos diversos elementos que contribuíram para que esta modalidade esportiva fosse introduzida no cenário brasileiro e posteriormente torna-se a modalidade de maior destaque no cenário nacional.
No Brasil, o Futebol é utilizado frequentemente como símbolo de identidade nacional. Porém, no início do seu desenvolvimento este se manteve restrito as elites nacionais. Segundo os discursos apresentados, buscava-se reproduzir em terras tropicais o modo de vida inglês, e o Futebol serviria como elemento a ser utilizado na busca deste objetivo.
Entretanto, verificou-se após a década de 1920 uma fase de popularização no Futebol brasileiro, declinando a ideia de que este deveria ser reservado apenas às elites do país. Desta forma, presencia-se uma inversão na sua prática, se antes esta modalidade esportiva era reservada somente as elites, hoje, ao contrário, esta é praticada em sua maioria pelos grupos de baixa renda e marginalizados da sociedade como forma de lazer e promessa de ascensão social.
Portanto, compreendemos que o Futebol enquanto manifestação cultural configura-se na atualidade como maior fenômeno esportivo da contemporaneidade. Este trás para seus espaços de desenvolvimento uma infinidade de pessoas que se envolvem na sua organização, apresentação e consumo. Entretanto para assumir este posto foi necessário um longo processo que aconteceu através de mediações entre as relações sociais e os investimentos de diversas instituições. Assim, conhecer sua história pode nos auxiliar a compreendermos este de forma mais clara e, desta forma, entendermos as nuances de sua configuração atual.
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