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A interface entre as ferramentas biotecnológicas
e a área da saúde: uma reflexão

La relación entre las herramientas biotecnológicas y el área de la salud: una reflexión

The interface between the tools and biotechnological health: a reflection

 

*Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais

** Acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais

***Agrônomo. Professor Doutor do Departamento de Biologia Geral da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais

****Enfermeira. Professora Mestre do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES

Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais

(Brasil)

Cássio de Almeida Lima*

Sarah Caroline Oliveira de Souza**

Camilly Roberta da Silva**

Guilherme Henrique Azevedo dos Reis**

Marianne de Andrade Costa**

Guilherme Victor Nippes Pereira***

Renata Patrícia Fonseca Gonçalves****

cassio-enfermagem2011@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A biotecnologia é uma das áreas das Ciências Biológicas mais utilizadas pela humanidade, sendo um vasto campo de pesquisas gerador de benefícios práticos para as pessoas em seu cotidiano. Este estudo objetivou analisar a interface entre a biotecnologia e a área da saúde, isto é, apresentar uma reflexão teórica a respeito da aplicação de ferramentas biotecnológicas na área da saúde. Constitui-se em uma revisão da literatura, realizada entre janeiro e março de 2013, por meio de artigos científicos disponíveis nas bases de dados LILACS e SCIELO. Foram encontrados 20 artigos; desses, selecionaram-se 15 que atenderam aos critérios de inclusão. A literatura investigada enfatiza a amplitude da biotecnologia enquanto uma área que se interliga com a área da saúde, sendo capaz de promover efeitos concretos para a vida humana, a exemplo da vacinação, manipulação genética, reprodução artificial e da fabricação de novos fármacos.

          Unitermos: Biotecnologia. Cuidados de saúde. Sistemas de assistência à saúde.

 

Abstract

          Biotechnology is one of the areas of Biological Sciences used more for humanity, with a broad research field generator practical benefits to people’s lives in their daily. This study aimed to analyze the interface between biotechnology and health care, that is, present a theoretical reflection about the application of biotechnological tools in healthcare. This research is a literature review, held between January and March of 2013, through scientific papers available in the databases LILACS and SciELO, 20 articles were found, of those, 15 were selected that met the inclusion criteria. The literature emphasizes the investigated range of biotechnology as an area that is interconnected with the health, being able to promote specific effects to human life, such as vaccination, genetic manipulation, artificial breeding and production of new drugs

          Keywords: Biotechnology. Health care. Health care systems.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    A palavra biotecnologia provém do grego, cuja definição pode ser desmembrada do seguinte modo: Bio como vida, Technos como o uso prático da ciência e Logos como conhecimento. Trata-se do processamento hábil de materiais obtidos pela ação de agentes biológicos – tecidos animais ou vegetais, enzimas ou células e microorganismos. A obtenção de novos organismos a partir dessa técnica exige investimento, capacitação tecnológica de pessoal especializado e pesquisas (OLIVEIRA, 2010).

    A biotecnologia possui um grande espectro de atuação. Pode-se perceber ao longo dos anos uma revolução no tratamento de doenças, no uso de novos medicamentos para aplicação animal, e aí está incluído principalmente o homem, na reprodução de espécies vegetais e animais, no incremento dos alimentos, no emprego sustentável da biodiversidade, na recuperação e tratamento de detritos, dentre outros campos (OLIVEIRA; 2010).

    Segundo Garcia e Chamas (1996), a partir de 1972 uma série de descobertas revolucionou o estudo da genética e permitiu o surgimento de novas tecnologias, como a genética molecular ou engenharia genética, que são um conjunto de técnicas onde um fragmento de DNA é isolado e os genes são purificados, examinados e manipulados. O caráter inovador da engenharia genética no âmbito da medicina humana trouxe novas perspectivas de diagnóstico e terapêutica não somente em relação às doenças genéticas mediante a localização de genes imperfeitos, mas também no que diz respeito a enfermidades não herdadas de maneira direta, como o câncer, cardiopatias, diabetes, dentre outras, uma vez que esta tecnologia é capaz de revelar a anatomia genética, o que possibilita reescrever as instruções no genoma humano capazes de gerar tais doenças (AZEVEDO et al.; 2002).

    A biotecnologia também proporciona a criação de fármacos e vacinas eficazes no tratamento e prevenção de doenças. Diniz e Ferreira (2010) afirmam que a biotecnologia contribui para o aprimoramento do desenvolvimento e fabricação de novas vacinas para que se tornem mais seguras e eficazes. Com relação às estratégias de planejamento de fármacos, os estudos constituem as bases para a compreensão de propriedades como potência, afinidade e seletividade (GUIDO; ANDRICOPULO; OLIVA; 2010). Hotez et al. (2005) afirmam que a América Latina oferece particularmente um solo fértil para que as escolas de saúde pública possam desenvolver tecnologias. Tais tecnologias poderiam incluir meios para desenvolver e avaliar novas drogas, vacinas e diagnósticos para doenças infecciosas tropicais.

    Outra área que está se desenvolvendo é a farmacogenômica. Em termos simples, a farmacogenômica pode melhorar os resultados clínicos da farmacoterapia pelo uso da informação genética. É importante para a medicina personalizada, para a segurança e maior eficácia da farmacoterapia. A falta de profissionais de saúde apropriados é considerada a maior barreira para a implementação dos farmacogenômicos em práticas clínicas. Ao redor do mundo, somente um limitado número de farmacêuticos usam a farmacogenômica nas suas praticas e isso é usualmente em papéis altamente especializados. Sabe-se que farmacêuticos deveriam ter um maior papel incorporando informações farmacogenômicas no cuidado aos pacientes (MCKINNON; ANDERSON, 2011).

    Considerando a importância da biotecnologia e seu amplo espectro de atuação, e, por conseguinte, a necessidade de pesquisas sobre tal temática, enfoca-se no presente estudo a aplicação das ferramentas biotecnológicas em melhorias no setor saúde, com o propósito de compreender essas ferramentas utilizadas no controle e combate às doenças e a sua aplicação na atualidade.

Percurso metodológico

    Na presente revisão da literatura, operacionalizada por meio de etapas, realizou-se primeiramente a busca de artigos científicos, na base de dados Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na base Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Posteriormente, procedeu-se à leitura, análise e interpretação da literatura encontrada e à redação.

    Na etapa de busca de artigos nas bases de dados LILACS e SCIELO aplicaram-se os descritores Biotecnologia; Cuidados de Saúde; Sistemas de Assistência à Saúde, no idioma português, e em inglês foram usados os descritores Biotechnology; Delivery of Health Care. Após a busca fizeram-se a leitura exaustiva e a seleção dos artigos.

    Durante a seleção dos artigos, utilizou-se como critérios de inclusão a publicação nos últimos 20 anos, entre 1996 e 2013, dada a escassez de publicações e o objetivo de aplicar informações abrangentes nesta revisão; disponibilidade dos artigos na íntegra e nos idiomas português ou inglês; e a abordagem do tema em questão. Após leitura sistemática e seleção dos 20 artigos encontrados nas bases de dados, foram aplicados nesta revisão 15 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e, para ampliar a literatura, uma dissertação de mestrado.

A aplicação de ferramentas biotecnológicas na saúde: uma reflexão acerca dessa interface

    Os avanços científicos na área da biotecnologia são acompanhados pelo aumento da eficiência dos tratamentos clínicos e do custo da assistência à saúde. Uma das consequências desse desenvolvimento é a limitação de recursos financeiros disponíveis para esse setor. Tais avanços transformaram as relações entre indivíduos, os conceitos de doença, vida e morte. O aumento da demanda por serviços de saúde, o alto custo da biotecnologia – definida também como o conjunto de conhecimentos que permite a utilização de agentes biológicos para obter bens ou assegurar serviços – associados ao aumento da população idosa e da pobreza foram algumas das causas que levaram a crise dos sistemas de saúde (VASCONCELOS, 2010).

    Por toda a incerteza que envolve as jornadas rumo ao desconhecido, talvez seja um pouco cedo para afirmar que o século XXI terá na biotecnologia seu rebento mais bem-sucedido. Mas, pelo que já veio à luz, tudo indica que a promessa está feita (ARBIX; 2007). Para Oliveira (2010), a biotecnologia é uma das ferramentas tecnológicas mais importantes da atualidade. Suas aplicações têm contribuído para a estruturação de novos sistemas econômicos e sociais, especialmente a partir da manipulação das menores estruturas que compõem os seres vivos. A extraordinária descoberta da estrutura do DNA em 1953 revolucionou o entendimento do significado da vida e abriu caminho para mentes altamente criativas perseguirem um mundo de descobertas e invenções que resultaram em um grupo fundamental de novas tecnologias, conhecida como a engenharia genética.

    Segundo Azevedo et. al. (2002), o tema biotecnologia associada à biologia molecular e à engenharia genética apareceu nos debates públicos no Brasil no início dos anos 80. Conforme Garcia e Chamas (1996), a engenharia genética viria a exercer influências sobre a medicina no controle da reprodução, modificando embriões humanos a partir de técnicas transgênicas, por meio da manipulação de genes, eliminando genes ruins e inserindo genes bons – terapia gênica. Ao manipular seres vivos para produzir bens e serviços, a biotecnologia envolve tecnologias de diversos níveis, como as técnicas de manipulação genética, resultantes de avanços no campo da biologia molecular, e se apresenta como um paradigma técnico-científico essencialmente transdisciplinar (ARBIX; 2007).

    Tornou-se possível modificar o genoma e algumas características de um indivíduo na direção planejada. O conhecimento molecular de genes possibilitou a oferta de variados testes, ao contrário dos procedimentos clássicos trabalhosos usados anteriormente em diagnósticos (GARCIA; CHAMAS; 1996). A generalidade com que o desenvolvimento da biotecnologia moderna no Brasil vem sendo abordado pelos economistas da inovação deixa pouco espaço para a análise da atuação de instituições específicas onde efetivamente se difundiram os conhecimentos e técnicas a ela relacionados (AZEVEDO et. al.; 2002). Há, no entanto, razões para otimismo e a expectativa de sucesso das tecnologias de terapia gênica vem aumentando paulatinamente. Um sinal da viabilidade de aplicação da terapia gênica em um futuro próximo é o investimento crescente que empresas de biotecnologia estão fazendo no desenvolvimento e na submissão de pedidos de liberação de produtos biológicos relativos à terapia gênica (LINDEN; 2010).

    A biotecnologia já abrange a agricultura, a medicina, as indústrias farmacêuticas, potencializando cada vez mais a geração de inovações, novos produtos e tecnologias (OLIVEIRA; 2010). De acordo com Oliveira e Mantovani (2009), esse grande avanço do setor biotecnológico no Brasil, principalmen­te relacionado à saúde e à agricultura, é pertinente à uma melhora significativa do suporte financeiro de fontes públicas nos últimos anos. A decisão de investir nessa área, tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista científico e educacional, seguramente terá retorno significativo para a medicina brasileira do século XXI (LINDEN; 2010).

    A biotecnologia pode ser vista como um divisor de águas entre a atual era da informação digital e a nova era da informação genética digital, a informação biodigital, que por meio de recombinações e da engenharia genética, indubitavelmente, controlará todos os processos relativos à agricultura e à pecuária, ao meio ambiente e às zonas de influência sobre o homem, a saúde, o nascimento, a vida e a morte do ser humano (OLIVEIRA; 2010). O setor biotecnológico obrigatoriamente exige a integração entre várias áreas – como química, biologia, engenharia e informática – no desenvolvimento de produtos. A organização é multidisciplinar (OLIVEIRA; MANTOVANI, 2009). Uma tecnologia apropriada precisa ser desenvolvida, produzida e monitorada juntamente com uma compreensiva área de trabalho que permeie os sistemas, os indivíduos e a comunidade (HOTEZ et. al.; 2005).

    Conforme Ianni (2011), o avanço das pesquisas científicas e do desenvolvimento tecnológico, a miscigenação de povos e raças, o contato humano com animais, a circulação e ingestão de víveres, a migração internacional das populações e a invasão de nichos ecológicos constituem causas suficientes para explicar tanto a emergência de novas doenças, quanto a intensa produção técnico-científica voltada para a cura ou prevenção das mesmas. Os estudos dos processos evolutivos de reconhecimento molecular em sistemas biológicos assumem grande importância, de modo que esse complexo paradigma associa as ferramentas biotecnológicas aos métodos de química medicinal, destacando o desenvolvimento de novas moléculas com atividade biológica (GUIDO; ANDRICOPULO; OLIVA, 2010).

    Apesar dos avanços incalculáveis no conhecimento técnico-científico, na descoberta das causas sociais que condicionam e determinam os quadros nosológicos, no conhecimento sobre a etiologia das doenças e nas estratégicas públicas das políticas de saúde, as populações encontram-se cada vez mais expostas a diferentes patologias (IANNI; 2011). As doenças infecciosas são causadas por micro-organismos que invadem as células do hospedeiro para a sua reprodução. Essas doenças representam graves problemas de saúde pública que afetam uma fração significativa da população mundial e, em razão de seu aspecto socioeconômico, representam um dos principais desafios para o século XXI, especialmente nas regiões mais pobres e vulneráveis do planeta (GUIDO; ANDRICOPULO; OLIVA, 2010). Hotez et al. (2005) asseguram que diversas regiões do mundo em desenvolvimento sofrem com altos índices de HIV–AIDS, tuberculose, malária, doença de Chagas, leishmaniose, esquistossomose e vermes. O foco inicial para o desenvolvimento de tecnologias apropriadas poderia ser as áreas endêmicas de infecções tropicais, assim como novos agentes infecciosos.

    A biodiversidade dos seres vivos: plantas, animais, micro-organismos, e do ecossistema é representada pela diversidade genética, de espécies e hábitats. A biotecnologia associada à saúde, compreendida em toda a sua abrangência, está relacionada com qualquer exploração tecnológica da biodiversidade para resolver problemas de saúde do homem (GARCIA; 1995). Os micro-organismos foram reprogramados para se tornarem fatores químicos de maior eficiência, plantas foram modificadas para que pudessem se defender de doenças e pestes, animais foram ajustados para produzirem mais e desenvolver proteínas bioativas de extrema importância e o homem, por sua vez, obteve benefícios diretos através de melhores diagnósticos e procedimentos terapêuticos e de vacinas mais eficientes (OLIVEIRA; 2010).

    A biotecnologia coopera, de forma decisiva, para o aperfeiçoamento de processos relacionados à ampliação e produção de novas vacinas, além do aprimoramento de vacinas já existentes, por meio de estratégias de clonagem gênica e mutagênese, onde se obtêm vírus e bactérias atenuadas, incapazes de causar doenças (DINIZ; FERREIRA, 2010). O grande avanço dos programas de vacinação em todo o mundo, atingindo altas coberturas com as vacinas tradicionais e em alguns países com a introdução de novas vacinas de alto valor agregado, vem salvando vidas de milhares de crianças de doenças imunopreveníveis, tornando possível atingir as Metas do Milênio (HOMMA et. al.; 2011).

    Novaes e Carvalheiro (2007) afirmam que a introdução de novas tecnologias na atenção à saúde fornece elementos para se compreender o impacto das políticas que procuram inibir, controlar ou redirecionar o seu uso. Essas políticas, contudo, parecem ter um impacto difuso e de mais difícil mensuração sobre as práticas profissionais e de gestão e as demandas da população, levando à maior valoração das questões relativas ao uso das tecnologias em rotina, contribuindo para que, pelo menos, situações extremas sejam evitadas. A saúde pública sabe que manipula os viventes por meio de ações contínuas em que espécies são dizimadas, entrincheiradas, disseminadas e recriadas. Essa atuação ocorre não apenas no ambiente, mas também nos corpos dos indivíduos. As práticas de imunização constituem um exemplo esclarecedor da manipulação de organismos em que há interações provocadas entre vírus, bactérias e seres humanos, e entre populações diferentes. A saúde pública, nesse sentido, é um vasto complexo de pesquisa e produção biotecnológica (IANNI; 2011).

    Desde as primeiras vacinas baseadas em patógenos, atenuados ou inativados, a pesquisa vacinal moveu-se na direção de empregar frações cada vez menores desses patógenos na busca de aumentar a segurança sem comprometimento da eficácia (DINIZ; FERREIRA, 2010). Possivelmente, as autoridades governamentais e a sociedade como um todo deverão se conscientizar mais da importância da vacinação, para gradualmente aumentarem o orçamento dedicado a essa atividade (HOMMA et. al.; 2011).

    De acordo com Homma et al. (2011), recentemente, novos atores estão desenvolvendo importantes atividades nessa área. São instituições não governamentais que desempenham papel relevante no incremento da vacinação global, com trabalhos de conscientização e advocacia junto aos governantes, nas atividades de defesa da causa e convencimento e também junto a entidades representativas, especializadas e aos profissionais da área. Algumas dessas organizações dispõem de fundos e colaboram na implementação de diversos projetos de inovação tecnológica de vacinas e procedimentos operacionais. Além de buscar configurações alternativas de captação de recursos financeiros, organizar e estruturar os programas de vacinação dos países menos desenvolvidos.

    O compromisso comum é integrar ações, participar e contribuir da melhor maneira possível para o avanço do conhecimento científico e do domínio tecnológico. É essencial somar esforços de forma organizada, articular estratégias de captação de recursos financeiros, materiais e humanos, consolidar ideias e encontrar novas soluções para que o Brasil possa evoluir, nas próximas décadas, de uma nação emergente para uma potência mundial na área de fármacos (GUIDO; ANDRICOPULO; OLIVA, 2010). Também é necessário o treinamento em biotecnologia incluindo ferramentas tecnológicas, purificação de proteínas, formulação, controle e garantia de qualidade. Estudantes de tecnologias apropriadas deveriam obter treinamento em regulação e aspectos legais do produto desenvolvido, para entender as implicações sociais e econômicas da moléstia; aprender sobre as complexidades da investigação de doenças e controle de infecções endêmicas, além de serem treinados para utilizar as bases de dados de computadores para desvendar o genoma de agentes patógenos, assim como os hospedeiros humanos e os vetores desses agentes (HOTEZ et. al.; 2005).

    O ponto crucial, que constitui o vértice de todas as variáveis implicadas nas pesquisas biotecnológicas, reside no fato de que os limites a serem estabelecidos para essas investigações não irão advir do grau de evolução em que se encontra o conhecimento científico, mas dos valores éticos aceitos pela sociedade internacional (OLIVEIRA; 2010). A sociedade ainda não esqueceu o impacto terrível da experiência nazista, nem as campanhas de esterilização maciça dos alcoólatras, psicóticos, portadores de doenças genéticas realizadas em alguns estados americanos nos anos de 1920 e 1930. Para a ciência, o impacto social de novas técnicas, por exemplo, de diagnóstico pré-natal, erros inatos ou mesmo de reprodução humana assistida, necessitam de uma reflexão profunda da sociedade. Com esses questionamentos é que a bioética entrou seriamente no cenário científico e tecnológico (GARCIA; CHAMAS, 1996).

    Não raramente, o universo é vasto demais para repousar na palma das mãos. Mas não há como esconder a inquietação que permeia qualquer debate sobre biotecnologia, dadas suas íntimas e perigosas relações com a vida, saúde, meio ambiente, desenvolvimento, prosperidade e o bem-estar das pessoas (ARBIX; 2007). O processo de descobrimento, ampliação e produção de tecnologias inovadoras que garantem prevenção, tratamento e diagnóstico com base na biotecnologia é muito complexo, envolvendo a juntura de diversas competências. A indústria farmacêutica, com a chegada da biologia molecular, sofreu grande impacto, de maneira que a colaboração interinstitucional se constitui como um dos principais determinantes para a dinâmica da inovação (ARAGÃO et al., 2012).

    Segundo Guido, Andricopulo e Oliva (2010), no Brasil, os projetos de pesquisa do Centro de Biotecnologia Molecular estrutural (CBME) possuem como elo comum uma abordagem molecular, explorando sistemas biológicos complexos de notável importância para áreas sensíveis de nossa sociedade, como a de fármacos e medicamentos, agronegócios e biotecnologia. Um dos grandes objetivos do CBME é alcançar a máxima integração com o setor produtivo, particularmente com as indústrias farmacêuticas nacionais e multinacionais, indústrias biotecnológicas e instituições de pesquisa em saúde humana. Nos últimos dez anos, o CBME tem conduzido projetos inovadores em biotecnologia estrutural e química medicinal, incluindo o desenvolvimento de patentes e transferência de tecnologia. A disseminação da ciência e a difusão do conhecimento, alcançadas por meio de programas dedicados a estudantes e professores do ensino médio, bem como à população em geral, também merecem especial destaque.

    Novaes e Carvalheiro (2007) analisam que a década de 1990 se caracterizou por crises econômicas recorrentes e, apesar dos indiscutíveis avanços científicos e tecnológicos, a condição de vida das pessoas, para muitos, parece estar pior do que em décadas anteriores. No campo da saúde, o contexto global se caracterizou pela persistência da pobreza e aumento da iniquidade e exclusão social, crescimento e envelhecimento populacional, perfil epidemiológico da população complexo, urbanização explosiva, enfraquecimento dos sistemas de saúde públicos e baixo desempenho e resolutividade dos serviços de saúde. A participação da ciência, tecnologia e inovação em saúde na alteração desse panorama tem sido geradora de muitas polêmicas, com posições que vão desde a atribuição de um papel determinante até o de insignificante, ou mesmo, negativo. Essa discussão não é simples e não deve passar por abordagens gerais, pois ciência, tecnologia e inovação em saúde se fazem presentes nas sociedades contemporâneas de forma muito complexa e vinculada a conjunturas específicas.

Conclusão

    A biotecnologia se traduz pelas suas diversas utilidades na área da saúde, podendo-se ressaltar a produção de fármacos, que geram melhor tolerância e efeitos colaterais mínimos, além da produção de vacinas, que são fabricadas de forma mais segura, buscando suprir as necessidades de indivíduos que apresentam restrições. Sendo assim, o desenvolvimento biotecnológico por meio da sua inovação e surgimento de novas práticas contribui para elevar, de modo cada vez mais crescente, a qualidade de vida humana.

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