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Doping e dopagem no esporte

Las drogas y el doping en el deporte

 

*Graduanda em Farmácia, USJT

**Professor de Educação Física da Prefeitura de São Paulo, SME/SP

Mestre em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência, UNIFESP

(Brasil)

Agnes Mariana de Lima Goes*

agnes.goes@yahoo.com.br

Luciano Nascimento Corsino

lucianocorsino@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Através da história podemos observar diversos casos de doping que dos primórdios surgiram. Em 300 a.C. na Grécia Antiga atletas faziam uso de uma mistura de plantas, contendo um alucinógeno extraído de cogumelos. Entre atletas de povos mais civilizados no século XVI, na Europa, com o surgimento de drogas com cafeína. E hoje com o decorrer dos anos vemos o aprimoramento de substâncias e métodos para que se alcance um melhor desempenho físico e mental em competições. Em 1964 o combate à dopagem teve início, nos jogos Olímpicos de Tóquio, onde um congresso da UNESCO, junto com a COI, projetaram leis, controles e punições (ABEDC). Assim substâncias e métodos que possibilitem o aumento de desempenho, risco à saúde e violação do espírito esportivo, são proibidos garantindo assim a igualdade de competição aos desportistas.

          Unitermos: Doping. Dopagem. Esporte.

 

Abstract

          Throughout history we can see many doping cases that have emerged from the early days. As 300 BC in ancient Greece athletes were using a mixture of plants, containing an hallucinogen extracted from mushrooms. Among athletes more civilized peoples in the sixteenth century in Europe with the advent of drugs with caffeine. And now with the years we see the enhancement substances and methods for achieving optimal performance in physical and mental competitions. In 1964 the fight against doping began in Tokyo Olympic Games, where a conference of UNESCO, along with the IOC, designed laws, controls and punishments (ABEDC). Thus substances and methods that enable the performance increase, health risk and violation of sportsmanship, are prohibited ensuring equal competition for athletes.

          Keywords: Doping. Sport.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Atletas de alto nível vivem em uma luta constante para se manter em posições destacadas e dependem do rendimento proporcionado por seus corpos. (RUBIO e NUNES, 2010). Muitas vezes incentivado por dirigentes, empresários, treinadores, médicos do esporte, “amigos” e familiares, atletas não medem esforços e muito menos pensam no risco grave que alguns meios ou métodos podem representar para sua própria saúde (NETO, 2001).

    Assim, o doping pode ser compreendido como a utilização de substância ou método que possa melhorar o desempenho esportivo e atente contra a ética esportiva em determinado tempo e lugar, com ou sem prejuízo à saúde do esportista (RAMIREZ; RIBEIRO, 2005).

    Como objetivo, o presente texto pretende evidenciar o uso de substâncias ou métodos ilícitos por atletas, discorrendo sobre o uso de substâncias ou métodos ilícitos de dopagem por atletas no âmbito de competições esportivas.

Metodologia

    O presente trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, com uma abordagem qualitativa, considerando-se a consulta em livros, revistas, periódicos especializados e sites oficiais relacionados ao tema.

Doping e dopagem

    As substâncias químicas e os métodos, que são utilizados com o intuito de melhorar o desempenho tanto mental quanto em atividades físicas, são conhecidas como doping. O uso de substâncias químicas ou dos métodos caracteriza a dopagem (OGA, 2008).

    Segundo o Código Antidopagem do Movimento Olímpico é “o uso de um expediente - substância ou método – que pode ser potencialmente prejudicial à saúde dos atletas, capaz de aumentar seu desempenho em que resulta na presença de uma substância proibida ou na evidência do uso de um método proibido no organismo do atleta”.

    Qualquer que seja a definição de doping, sempre estão presentes elementos comuns que se interrelacionam: a intenção deliberada de melhorar o desempenho esportivo em detrimento da ética esportiva (RAMIREZ & RIBEIRO, 2005)

    O prejuízo ainda que meramente potencial à saúde dos atletas, não é elemento constitutivo do “doping”, mas sua eventual decorrência. Com efeito, não se faz uso de doping com a intenção de causar um dano à saúde. Logo o aspecto de proteção à saúde dos atletas é um dos elementos centrais da investida “antidoping”. (RAMIREZ & RIBEIRO, 2005)

    A Agencia Mundial Antidoping (AMA) definiu doping como sendo a ocorrência de uma ou mais violações das regras antidoping. São 8 as possibilidades de violação das regras no atual sistema antidoping da AMA - WADA/AMA, artigo 2.1 a 2.8 (WADA/AMA, 2003):

  • A presença de uma substância proibida, de seus metabólitos ou seus marcadores em uma amostra corpórea do desportista;

  • Uso ou tentativa de uso de uma substância ou método proibido;

  • Não comparecimento sem justificativa válida a uma coleta de amostra corpórea;

  • Não fornecimento de informações exigidas sobre sua localização para efeitos de controles fora de competição ou o não comparecimento a um deles;

  • A adulteração ou tentativa de adulteração de qualquer elemento em qualquer fase do controle antidoping;

  • O porte de substâncias ou método proibido;

  • O tráfico de substâncias e métodos dopantes;

  • A administração ou tentativa de administração, o encorajamento, a incitação, a assistência ou de qualquer modo a ajuda ou a dissimulação da administração de substâncias ou métodos proibidos a qualquer desportista.

    Conforme a Agência Mundial Antidopagem (AMA) as substâncias e os métodos que estão na listagem apresentam como característica, pelo menos, dois dos três critérios: possibilidade de aumento no desempenho; risco à saúde; e violação do espírito esportivo.

    Na dopagem, os atletas consomem doses excessivas para conseguir o máximo de efeitos farmacológicos usados na terapêutica ou para conseguir determinados efeitos colaterais. Dessa maneira, a relação risco/benefício para o uso de fármacos não é adequadamente considerada (OGA, 2008).

Principais grupos de substâncias

    As substâncias químicas são usadas, principalmente, na tentativa de aumentar a força, a resistência e o tamanho corporal. Esse uso indevido pode levar a ocorrência de intoxicações, ao desenvolvimento de tolerância aos efeitos farmacológicos e à dependência (OGA, 2008).

    Em conformidade com a Lista Proibida de 2012, são os seguintes os grupos de substâncias utilizadas na dopagem (WADA/AMA 2012):

  • Agentes anabólicos: são divididos entre esteróides anabólicos androgênicos, cujas estruturas químicas são parecidas com os esteroides endógenos e outros agentes anabólicos, no qual não são parecidos quimicamente nem em seu mecanismo de ação em relação aos esteroides.

  • Hormônios: eritropoetina, hormônio do crescimento (GH), gonadotrofinas, insulina, corticotrofina hormônio Luteinizante (LH). A eritropoetina estimula a produção de eritrócitos aumentando a capacidade de transporte de oxigênio. O GH e a insulina estimulam a síntese proteica. As gonadotrofinas estimulam a produção de testosterona e epitestosterona. A corticotrofina aumenta níveis de corticosteroides endógenos que resulta em efeitos euforizantes. E o LH estimula a produção de testosterona (células de Leydig).

  • Agonistas beta-2: aumenta resistência, diminui a fadiga muscular e aumenta a ventilação.

    • De acordo com WADA, 2012, todos os agonistas beta-2 são proibidos, exceto salbutamol (máximo 1600 mcg após 24 horas), formoterol (máximo 36 mcg após 24 horas) e salmeterol quando administrado em inalação por recomendação terapêutica.

    • Observação: a presença na urina de salbutamol acima de 1000 ng/mL ou formoterol acima de 30 ng/mL pode indicar uma utilização não terapêutica e será considerada como Resultado Analítico Adverso, a menos que o atleta prove, através de estudo farmacocinético controlado que a administração foi realizada dentro da dose terapêutica máxima permitida (WADA, 2012).

  • Hormônios e moduladores metabólicos: inibidores de aromatase (enzima responsável pela degradação da testosterona) aumentam a concentração plasmática de testosterona em homens, no entanto em mulheres não há alteração. Moduladores seletivos de receptores estrogênicos bloqueiam o feedback negativo responsável pela liberação de testosterona, o que resulta no aumento de testosterona sanguínea. E agentes modificadores da miostatina.

    • Exemplo: clomifeno, raloxifeno, letrozol.

  • Diuréticos e agentes mascarantes: os diuréticos aumentam o fluxo urinário, reduz rapidamente o peso corpóreo e impede a retenção de água no organismo. O aumento do volume urinário modifica as concentrações de substâncias proibidas, o que dificulta a sua identificação. Além dos diuréticos que podem mascarar a concentração de substâncias presentes na urina são proibidos também a desmopressina, expansores de plasma (glicerol, administração intravenosa de albumina, dextrano hidroxietilamido e manitol), probenecida e outras substâncias com efeito biológico semelhante (s) (WADA, 2012).

  • Estimulantes: são usados para aumentar o estado de alerta, diminuir a fadiga e aumentar a competitividade. Todos os estimulantes são proibidos exceto derivados de imidazole para utilização tópica e todos os estimulantes incluídos no Programa de Monitoramento de 2012.

  • Narcóticos: são utilizados para o tratamento da dor.

  • Canabinóides: auxiliam de forma indireta o desempenho, devido ao aumento do efeito eufórico, redução da ansiedade e aumento da sociabilidade.

  • Glicocorticóides: em altas doses são usados para mascarar dores das lesões ou para aumentar a capacidade de treinamento. Todos são proibidos quando administrados por via oral, intravenosa, intramuscular e retal.

Métodos de dopagem: Dopagem Sanguínea, Dopagem Genética e Eritropoetina (EPO)

    O doping sanguíneo é a infusão ou reinfusão de sangue no organismo, expondo-o a uma hipoxia, gerando a produção de novos eritrócitos (eritrocitemia induzida). A elevada concentração de hemoglobina plasmática provoca uma consequente melhora da performance. Este procedimento pode ser realizado utilizando-se o sangue da mesma pessoa (autóloga) ou de outra pessoa (heteróloga). A eritrocitemia pode ser induzida também por meio da injeção de eritropoetina recombinante humana. Espera-se que indivíduos tratados com este hormônio melhorem sua capacidade de realizar exercícios físicos prolongados (NATALI; QUEIROZ, 1996).

    O procedimento do doping sanguíneo autólogo consiste em extrair entre 8 a 12 semanas antes da competição duas unidades de sangue do atleta, são separadas as hemácias do plasma e congeladas a -80°C, isso permite a sua conservação por um período ilimitado de tempo com perda mínima de hemácias. Para a reinfusão, as hemácias congeladas são reconstituídas com solução salina e são transfundidas em uma a duas horas. A reinfusão deve ser realizada entre um e sete dias antes da competição (PARDOS et al., 1998).

    Na dopagem heteróloga o sangue a ser utilizado é retirado de outras pessoas que possuam sangue compatível com o do atleta. Os procedimentos de retirada, armazenamento e reinfusão obedecem aos mesmos princípios da autóloga. Esta forma de dopagem não tem sido muito utilizada, de maneira a evitar riscos à saúde, como a transmissão de doenças contagiosas (NATALI; QUEIROZ, 1996).

    O termo Doping genético refere-se à utilização não terapêutica de genes, elementos genéticos e/ou células que tem a capacidade de melhorar o desempenho esportivo (WADA, 2003).

    As tecnologias moleculares envolve a inserção de DNA (ou RNA), extração, quantificação, amplificação, marcação, localização de genes, isolamento, sequenciamento, transferência e clonagem para a realização de terapias gênicas, inclusive o doping genético.

    Terapia gênica consiste em introdução de: a) genes responsáveis por produtos terapêuticos, isto é genes normais, ou b) células geneticamente modificadas com a finalidade de bloquear a atividade de genes prejudiciais, ativar mecanismos de defesa imunológica, ou ainda produzir moléculas de interesse terapêutico (RAMIREZ e RIBEIRO, 2005 apud NADIR e VENTURA, 2005).

    O doping genético não necessariamente, requer a modificação de um gene especifico, atuando com objetivo diferente da terapia gênica, sendo que para que ocorra um aumento do desempenho esportivo, a modificação pode ser realizada em diversos tipos de genes.

    Critérios para inclusão de métodos na “Lista Proibida”:

    É através de decisão do Conselho Executivo da Agencia que uma substância ou um método são incluídos na Lista Proibida, mas não aleatoriamente, pois que o Código Mundial Antidoping estabelece critérios. Uma substância ou um método é suscetível de inclusão na Lista se atuarem no organismo como um agente-máscara ou se a substância ou método atender a DOIS dos TRÊS cenários: melhorar o rendimento esportivo; representar um risco à saúde; e seu uso é contrário ao espírito esportivo (WADA/AMA, 2005).

Considerações finais

    O doping esteve presente desde a antiguidade, onde eram utilizadas substâncias alucinógenas retiradas de plantas e cogumelos, a fim de melhorar as capacidades físicas. Com o passar do tempo, o avanço tecnológico, aliado ao avanço da indústria farmacêutica e ciências do esporte, proporcionou considerável avanço nas formas de produção das múltiplas substâncias químicas utilizadas a fim de se obter um exagerado aumento de rendimento nas práticas corporais de alto nível. Contudo, há de se considerar um estimável movimento, iniciado pela UNESCO, responsável por fiscalizar o uso de substâncias proibidas nas competições esportivas de alto rendimento, que é a principal causa da busca pelo doping.

Referências

  • Associação Brasileira de Estudos e Combate ao Doping. A história do Doping. São Paulo, 2009. Acesso: setembro, 2012

  • NATALI, Antônio José; QUEIROZ, André Magalhães. Doping Sanguíneo. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, 1996.

  • NETO, F. R. de A. O papel do atleta na sociedade e o controle de dopagem no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 7, n. 4, p.138-148, jul/ago. 2001.

  • OGA, Seizi; CAMARGO, Márcia Maria de Almeida; BATISTUZZO, José Antonio de Oliveira. Fundamentos de toxicologia. 3. ed. São Paulo, SP: Atheneu, 2008.

  • PARDOS, Consuelo Laudo; GALLEGO, Victor Puigdevall; MAYOR, Maria Jesús de Rio; MARTIN, Alfonso Velasco. Dopaje sanguíneo y eritropoyetina. Arch Med Deporte, 1998.

  • RAMIREZ, A. & RIBEIRO, A. Doping genético e Esporte. Revista Metropolitana de Ciências do Movimento Humano, v.6:9-20, 2005.

  • RUBIO, K., NUNES, A. V. Comportamento de risco entre atletas: os recursos ergogênicos e o doping no Século XXI. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 4, janeiro/junho 2010.

  • WADA/AMA WORLD ANTI-DOPING AGENCY/AGENCE MONDIALE ANTIDOPAGEM (WADA/AMA). The Prohibited List International Standard, 2005.

  • Disponível em: http://www.wada.ama.org/rtecontent/document/list_2005.pdf. Acesso em: 08 set. 2012.

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