efdeportes.com

Desmotivação: abandono precoce na natação

Desmotivación: abandono precoz en natación

 

*Prof. Dr. da Universidade Federal do Amazonas

Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

**Professora da Academia Companhia Atlética Manaus

(Brasil)

Thomaz Décio Abdalla Siqueira*

Raquel Siqueira de Carvalho Vieira**

thomazabdalla@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi determinar, através dos dados da literatura e de pesquisa de campo, quais fatores estariam influenciando a autopercepção de 33 adolescentes do sexo feminino no que tange à prática esportiva da natação em praticantes. O principal questionamento colocado foi: por que diariamente “milhares” de adolescentes iniciam ou abandonam a prática da natação? Observou-se que os fatores que determinam tais atitudes variam conforme a idade da praticamente. Geralmente, os principais motivos alegados por adolescentes para iniciar-se e persistir na prática esportiva foram: diversão, bem-estar físico, competição e novas amizades. Já os principais fatores alegados para o abandono da prática foram: falta de competição, ênfase exagerada na vitória e excesso de pressões por parte dos pais e dos técnicos. Seria de grande importância que pais, técnicos e dirigentes esportivos se sensibilizassem com tais questões a fim de que cada vez mais as adolescentes vivenciassem longos períodos de prática desportiva.

          Unitermos: Psicologia do esporte. Natação. Autoestima. Motivação.

 

Abstract

          The aim of this study was to determine, using data from the literature and field research, which factors were influencing the self-perception of 33 female adolescents regarding the sports of swimming practitioners. The main question was put: why daily "thousands" of adolescents initiate or abandon the practice of swimming? It was observed that the factors that determine these attitudes vary by age almost. Generally, the main reasons given by adolescents to start up and persist in sports were fun, physical wellness, competition and new friendships. Already the main factors for the alleged abandonment of the practice were: lack of competition, overemphasis on winning and excess pressure from parents and coaches. It would be of great importance that parents, coaches and sports officials is raise awareness with these issues so that more and more teenagers could live it for long periods of sports.

          Keywords: Sports psychology. Swimming. Self-esteem. Motivation.

 

Presenteado em I Bioergonomics, Congresso Internacional sobre Biomecânica y Ergonomia, Manaus, Brasil, do 30 de maio ao 2 de junho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    É relativamente recente o envolvimento de crianças e pré-adolescentes no "esporte de competição". Segundo Maglischo (1999), esta participação iniciou-se de forma organizada após os Jogos Olímpicos de Roma, em 1960. Segundo dados apresentados por Thomsom (1996), a atividade esportiva organizada em idades infantis aumentou muito nos últimos 20 anos. No mundo todo atualmente cerca de 25 milhões de crianças do sexo feminino estão envolvidas na prática de uma modalidade esportiva (WEIMBERG, 2011).

    No esporte, uma das questões mais discutidas hoje em dia, tanto na literatura especializada e mesmo entre os profissionais que nele atuam, são os fatores que levam as crianças e os jovens a se aproximarem e a se dedicarem tanto a ele; por outro lado, estes mesmos especialistas detectam que também existe mundialmente o fenômeno do abandono precoce da prática do esporte - sendo este um tema constante das preocupações e estudos desses especialistas (PALMER, 1990). Ambas as questões - a enorme busca pelo esporte, e o abandono precoce da prática - nos levam a um fator fundamental no esporte infantil: a motivação. A forma como este tema é tratado pode ajudar na busca de respostas para duas questões básicas: por que as mulheres que ingressam na prática esportiva da natação? Por que a abandonam? Além destas, outras questões surgem quando nos aprofundamos nesta reflexão - qual a contribuição fundamental que o técnico desportivo, a liderança, o profissional do esporte pode dar para manter um nível de motivação elevado nas mulheres praticantes de natação? Quais as posturas deste profissional que motivam, ou desmotivam, as praticantes de natação? Procurou-se na literatura especializada, em primeiro lugar, fundamentar genericamente o processo de motivação com mulheres no esporte. Em seguida, levantaram-se as ideias de autores que procuram ampliar o debate em torno do tema, e mesmo trabalhos que tentaram quantificar - e depois discutir - os fatores que levam à desistência da prática entre jovens atletas. A desmotivação pode se entendida como a falta de ânimo, perda de vontade de realizar uma tarefa ou até mesmo o desinteresse de realizar uma ação, logo foi estudada essa ação observável com trinta e três jovens mulheres atletas de natação na cidade de Manaus.

    A motivação é um tema muito pesquisado pela psicologia experimental. Através da análise de diversas pesquisas pode-se verificar que os desejos internos desconhecidos, que se apresentam como necessidades, são impulsionadores de atividades que levam o indivíduo a assumir este ou aquele comportamento (PEREIRA, 1992). Dessa forma na abordagem de Counsilman (2010), a motivação aparece como uma predisposição interna que leva o indivíduo a agir em direção a determinado objetivo, significando, portanto, uma atitude psicológica do indivíduo em direção a objetivos, como resultado de alguma necessidade ou desejo não satisfeito; o comportamento é estimulado a algum tipo de mudança, que implica na aquisição de aprendizagens, de tal forma que o sujeito consegue reduzir a ansiedade e aumentar seu sentimento de prazer.

    Tudo nos move com um motivo, e vários autores procuraram, ao longo do tempo, explicar a motivação através da busca e/ou encontro com esse “motivo”, portanto, se faz necessário começar a aula com uma definição operacional sobre esse termo. Motivo, para Barbanti (2003: 410), significa “qualquer fator que estimule ou contribua para um esforço consciente em direção a uma meta”. Isso nos remete a pensar sobre o motivo de realização, que significa para o autor acima mencionado, como uma “[...] tendência para lutar pelo sucesso ou obtenção de um fim desejado. É o envolvimento do ego do indivíduo numa tarefa. Também chamado de necessidade de realização”, como veremos no decorrer deste tema.

    No aprimoramento de estudos de várias teorias, pode-se verificar que as motivações encobertas (latentes), que se apresentam como necessidades, são impulsionadoras de tarefas e desejos que levam a pessoa a assumir determinado comportamento. Os autores Deci e Ryan (2010) estudaram a importância das experiências de aprendizagem no desenvolvimento dos motivos humanos, não direcionaram suas atenções na motivação com procedência biológico (fome, sede, sexo) ou emocional (medo, alegria), porém reforçaram o aspecto no qual estão implicadas experiências de aprendizagem, a motivação intrínseca. Para Barbanti (2003: 409) a motivação intrínseca é “[...] o desejo de executar uma habilidade ou atividade pelo prazer e satisfação derivados da própria atividade e sem incentivo ou recompensa externa”. Já a motivação extrínseca, para Barbanti (2003: 409) é:

    Uso de recompensas externas, tais como troféus ou dinheiro para motivar o comportamento, partindo da premissa de que a performance pode ser controlada por forças externas e de que se essas forças não estiverem presentes, a pessoa não participaria ou participaria com um nível reduzido de esforço.

    As pessoas podem se comportar em função de suas necessidades, sejam estas conscientes e/ou encobertas. Essas motivações se apresentam como uma forte razão interna que resultam em uma necessidade psicológica em investigar as fontes individuais dos aspectos motivadores. Barbanti (2003: 408) define a motivação de orientação:

    Tipo de motivação que tende a estimular mais efetivamente uma pessoa a se engajar em uma atividade, geralmente por meio de incentivos com caráter intrínseco ou extrínseco.

    A Definição Operacional de Autoestima é a vivência de sermos apropriados à vida, de sentirmos a vida, estando de bem com ela (BENTO, 2008). Mais especificamente, autoestima é: (a) a confiança em nossa capacidade para pensar e enfrentar os desafios da vida; (b) a confiança em nosso direito de ser feliz, a sensação de sermos merecedores, digna, qualificada expressar nossas necessidades e desejos e desfrutar os resultados de nossos esforços. A autoestima tem dois aspectos inter-relacionados: (a) a noção da eficiência pessoal (auto-eficiência); (b) a noção do valor pessoal (autorrespeito). Na qualidade de uma vivência psicológica plenamente realizada, a autoestima é a soma integrada desses dois aspectos. 

    Auto-eficiência [grifo nosso] significa confiança no funcionamento de nossa mente, em nossa capacidade de pensar, nos processos por meio dos quais refletimos, escolhemos e decidimos (SCHWARZER, 1992). 

    Autorespeito [grifamos] significa ter certeza de nossos valores; uma atitude afirmativa diante de nosso direito de viver e ser feliz; a sensação de conforto ao reafirmar de maneira apropriada os nossos pensamentos, as nossas vontades, as nossas necessidades; o sentimento de que a alegria é nosso direito natural por termos sido criados e existirmos no mundo. (SCHWARZER, 1992). 

    O objetivo geral foi detectar a estrutura do programa esportivo em natação de tal forma a desenvolver adolescentes fisicamente, psicologicamente e socialmente. Se as adolescentes mantêm suas atividades, os valores da natação em termos de autoconfiança, prazer e relacionamento interpessoais serão positivos na sua auto-percepção e autoestima. Objetivo específico foi mostrar aspectos motivacionais das adolescentes que praticam natação, e como a motivação ajuda na autoestima e na auto-percepção dessas adolescentes a permanecerem nesse esporte.

Procedimentos metodológicos

    População e amostra: Adolescentes praticantes de natação do sexo feminino entre 13 e 21 anos, com a idade média de 17 anos e que treinavam natação no Atlético Rio Negro Clube (localizado na Av. Epaminondas, n°. 260 - Centro de Manaus), e da Aquática Nobre (Sede: Rua Leonardo Malcher, n°. 46 - Centro). Sendo 15 adolescentes do Atlético Rio Negro Clube (100% da população) e 18 adolescentes do sexo feminino da Aquática Nobre (100% da população). Número total de 33 atletas. 

    Tipo de Pesquisa: Pesquisa de Campo in loco (Atlético Rio Negro Clube e Aquática Nobre). 

    Questionário: Foi aplicado um questionário para ser usado como medida sobre fontes motivacionais, auto-percepcão e autoestima de adolescentes do sexo feminino que praticam natação. Os itens que medem a auto-percepcão foram adaptados do autor: Schwarzer (1992). Os itens que tratam da autoestima foram adaptados da autora Mariste Peralta Safons (2000). Primeiramente, o questionário passou por uma aplicação piloto para que pudesse fazer sua revalidação. Posteriormente, foi aplicado de forma definitiva na amostra de nossa investigação.

Resultados e conclusões

    Nesta pesquisa buscou-se analisar aspectos gerais da motivação, com um enfoque maior sobre a motivação esportiva de mulheres que praticam natação, sobretudo as razões que os levam a iniciar, continuar ou abandonar a prática esportiva da natação. Inicialmente, constatou-se que um dos fatores centrais para a motivação das mulheres adolescentes no esporte é a participação adulta (pais, técnicos, professores). É condição necessária que os professores e lideranças em geral envolvidos no esporte infantil busquem formas de torná-lo atraente para as crianças, sem nesta fase ainda precoce pressionar os seus atletas na busca de resultados de alto nível, resultados de competição de alto rendimento (CATTEAU & GAROFF, 2009). Aspectos que deveriam ser considerados relevantes como a sociabilização entre os praticantes, a diversão na prática esportiva da natação, entre outros, infelizmente ainda são negligenciados por muitos profissionais da área (BONACHELA, 1992). Percebemos que na realidade o que levava as mulheres jovens a praticarem o esporte era a necessidade de se manterem em forma e também pelo vínculo afetivo estabelecido por elas. 100% das praticantes de natação declararam efetivamente que o mais agradável do que a competição era a possibilidade de participarem de um grupo de amigas e de certa forma isso era a preparação mental (suporte psicológico) das praticantes no período de competição. 80% afirmaram que foram indicadas a praticarem a natação devido a problemas de asmas e bronquites durante a primeira infância. 20% declararam que praticavam a natação como atividade física deve o incentivo dos familiares. 90% afirmou que se sentia mais segura com a sua autoestima devido o treino que reduzia o estresse nas atividades escolares (educacionais) e 10% disse que adrenalina das competições as faziam ficar mais atenta para a vida, isto é, ficavam mais perceptivas para as atividades corriqueiras no campo afetivo e familiar.

    O alto índice de desistência da prática esportiva por mulheres adolescentes é preocupante, e nos leva a questionar se o modelo atual está sendo eficiente ou então se, com o apoio de pais, técnicos e dirigentes, poderíamos mudar um pouco esta realidade a fim de tornar o esporte um motivo de diversão e entusiasmo para seus jovens praticantes (CASTRO, 2010). Algumas formas variadas de treinos são acrescentadas no programa de natação, como uma forma de transformar as aulas e os treinos da natação mais dinâmicos e atrativos para as atletas praticantes. Com esse intuito, deveriam utilizar diferentes exercícios educativos e corretivos, que variassem desde diferentes ritmos respiratórios até a conjugação de um nado com elementos de diferentes estilos, intensidades de nado variáveis, diferentes distâncias e materiais, entre outros.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 183 | Buenos Aires, Agosto de 2013  
© 1997-2013 Derechos reservados