efdeportes.com

Aspectos motivacionais na pratica de atividade física 

em crianças de ensino fundamental, séries iniciais

Aspectos motivacionales en la práctica de la actividad física en niños de escuela primaria, grados iniciales

Motivational aspects in practice of physical activity in elementary school children, early series

 

*Educador Físico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS

Pós-Graduando em Motricidade Infantil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

*Educadora Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Especialização em Ginástica Laboral pela Universidade Gama Filho

(Brasil)

Guilherme Ferreira de Ferreira *

guilhermefdf@hotmail.com

Kelly Rodrigues da Silva**

kelly.silva@acad.pucrs.br

 

 

 

 

Resumo

          A motivação é definida como um processo intencional ativo, onde o indivíduo busca uma meta, e esta depende de fatores ambientais (extrínseca) e de fatores pessoais (intrínseca). O aluno motivado se apresenta ativamente envolvido no processo de ensino aprendizagem. Para o professor de Educação Física é essencial o conhecimento de aspectos motivacionais que levam crianças a praticar atividades durante as aulas, embasando a criação de estratégias pedagógicas com vistas a incrementar a participação dos alunos no ambiente escolar. Diante disso, o presente estudo buscou investigar aspectos intrínsecos e extrínsecos que motivam crianças de séries iniciais a praticar atividades físicas, nas aulas de Educação Física. Os participantes deste estudo foram 50 crianças do segundo e terceiro ano do ensino fundamental – anos iniciais. Para tanto, foi utilizado um Inventário de fatores motivacionais, adaptado de Scalon (2004), composto por 14 afirmativas, agrupadas nas seguintes categorias: socialização, divertimento, saúde e autorrealização. Nos resultados, encontrou-se que os aspectos que mais motivam as crianças a participar das atividades físicas são relacionados à socialização, ao divertimento, e à saúde. Por outro lado, a auto-realização parece não motivar as crianças nas aulas de Educação Física. Desta forma, conclui-se que o professor de Educação Física deve estar atento, no momento do planejamento, a fim de atender aos aspectos que motivam os alunos a praticar atividade física.

          Unitermos: Educação Física. Motivação. Atividade física.

 

Abstract

          Motivation is defined as an intentional process active, where the individual seeks a goal, and this depends on environmental factors (extrinsic) and personal factors (intrinsic). The motivated student performs actively involved in teaching-learning process. For the physical education teacher is essential knowledge of motivational aspects that lead children to practice activities in class, reinforcing the creation of teaching strategies aimed at increasing the participation of students in the school environment. Therefore, this study seeks to investigate aspects of intrinsic and extrinsic factors that motivate children in early grades to practice physical activity in physical education classes. The participants were 50 children in the second and third year of elementary school - lower grades. To this end, we used an inventory of motivational factors, adapted from Scalon (1998) to meet the goal of this research, consists of 14 statements, grouped into the following categories: socialization, fun, health and self-realization. In the results, it was found that the issues that motivate more children to participate in physical activities are related to socialization, fun, and health. On the other hand, self-hold does not seem to motivate children in physical education classes. Thus, we conclude that the physical education teacher should be aware, when planning in order to meet the issues that motivate students to practice physical activity.

          Keywords: Physical Education. Motivation. Phisical ativity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    Segundo Becker et al. (2000) existem várias pesquisas que indicam os motivos que levam as crianças a procurar um esporte ou uma atividade física. Entre eles estão: a alegria, a vontade de aprender, superar limites, aperfeiçoar as habilidades, e estar na companhia dos amigos. Hahan apud Scalon et al. (2004) adiciona um motivo pelo qual as crianças procuram a atividade física, a saber, o de demonstrar as habilidades técnicas para o sexo oposto. Como exemplo disso, quando os meninos praticam esportes para se exibir para as meninas. Gould (apud SCALON et al. 2004) menciona outros motivos, que levam a criança a iniciar uma pratica esportiva, entre eles estão: o vencer e o bem estar. No entanto, algumas vezes estes mesmos motivos podem não ser alcançados, e levar a criança a desistir da atividade ou modalidade esportiva que pratica. Por isso, estudos ressaltam a importância de compreender e de avaliar os aspectos motivacionais, pois assim se criam estratégias e formas para o incentivo e a exploração da motivação no ambiente escolar (SIQUEIRA & WECHSLER, 2006).

    Vale lembrar que quando uma criança inicia o esporte, normalmente, é influenciada por um familiar ou pela escola, os quais possuem um papel importante na constituição do interesse e da formação das crianças. Nestas instituições (família e escola), as crianças desenvolvem a sua identidade, autoestima e motivação.

    Estudos sobre motivação evidenciam que alunos, de ambos os sexos, buscam a atividade física por motivos diversos, como a diversão e a distração (BERLEZE, VIEIRA, KREBS, 2002). Para Samulski (1992), a motivação é tida como um processo intencional ativo, onde o indivíduo busca uma meta, e esta depende de fatores ambientais (extrínseca) e de fatores pessoais (intrínseca). De modo semelhante, Magill (1984 apud CHICATI, 2000), entende que a palavra “motivo” pode ser definida com um impulso que faz com que se aja de certa maneira. No entanto, os seres humanos são motivados de diferentes formas. Uma delas é denominada motivação intrínseca, onde o indivíduo prática alguma atividade apenas por satisfação ou lazer, sem nenhum outro interesse. Porém, quando o aluno se motiva a realizar uma atividade em resposta a algo externo à tarefa, chamamos de motivação extrínseca, podendo ser de ordem social ou material (BIDUTTE, 2001).

    Baseados na revisão acima descrita, o presente estudo busca investigar os aspectos intrínsecos e extrínsecos que motivam crianças do Ensino Fundamental I - anos iniciais - a praticar atividades físicas nas aulas de Educação Física. Tal conhecimento é fundamental para professores que trabalham com essa população, porque a motivação quando envolvida na tarefa, torna mais significativo o processo de ensino-aprendizagem.

Metodologia

    No presente estudo, realizou-se um levantamento, visando verificar/explorar fatores intrínsecos e extrínsecos que mais motivam alunos a praticar atividade física nas aulas de educação física. A amostra foi composta por 50 alunos estudantes do segundo e terceiro ano do ensino fundamental – anos iniciais da Escola Marista Champagnat, localizada em Porto Alegre (RS). O instrumento utilizado para a coleta de dados desta pesquisa foi um Inventário dos fatores motivacionais de Scalon (2004), que foi adaptado para o objetivo deste estudo, composto por 14 questões, agrupados em quatro categorias: socialização, divertimento, saúde e auto-realização (ver anexo I). O instrumento apresenta, inicialmente, a questão: “Por que pratico atividade física?” e, em seguida, dispõe de 14 afirmativas (ex: gosto de vencer), cada uma com quatro níveis de importância (1 - nada importante, 2 - pouco importante, 3 - importante e 4 - muito importante). Os participantes foram orientados a marcarem um “x” indicando o grau de importância que atribuíam a cada afirmação.

    A aplicação do inventário foi realizada em conjunto e em espaço de sala de aula, com duração aproximada de quinze minutos. Para melhor compreensão das crianças, todas as afirmações foram, previamente, lidas em voz alta pelo pesquisador responsável, com o auxílio da professora da turma.

Resultados e discussão

    Após a coleta dos dados, iniciou-se o processo de analise. Para cada uma das 14 afirmativas foram construídos gráficos a partir de um procedimento estatístico simples. Foi considerado o número de ocorrências em relação aos níveis disponíveis (nada importante; pouco importante; importante; muito importante) a cada uma das 14 afirmativas realizadas, respectivamente. De modo geral, pode-se perceber uma maior concentração de respostas no nível “muito importante”. Este fato confirma a motivação dos alunos nas aulas da professora e na prática das atividades físicas, o que se deu por motivos diversos, tanto intrínsecos como extrínsecos.

    Para melhor exposição e compreensão dos resultados, a seguir, os mesmos serão expostos de acordo com quatro categorias que correspondem as seguintes áreas: socialização, divertimento, saúde e autorrealização. Vale lembrar que a composição das categorias se embasou no estudo de Scalon (2004), no qual o autor apresentou os aspectos de motivação dos alunos nas mesmas categorias.

Socialização

    Nesta categoria enquadram-se as afirmativas “gosto de receber elogios”, “gosto de fazer atividades nas quais sou bom”, “gosto de esportes de equipe” e “gosto de pertencer ao grupo”. Tais aspectos obtiveram uma significativa concentração de votos no nível “muito importante”.

    Na afirmativa “gosto de receber elogios”, registrou-se que nenhum aluno optou pelo nível “nada importante” e que a maioria (80%) optou pelo nível “muito importante”. Tal fato mostra que o elogio do professor, no momento que o aluno realiza corretamente a atividade física proposta, é bastante importante para a sua motivação nas demais tarefas (Gráfico 1). Encontramos como resultado, também, o interesse dos alunos em realizar atividades que eles já dominavam. Este aspecto foi evidenciado na afirmativa “gosto de fazer atividades nas quais eu sou bom”, que apresentou um elevado número de respostas (74%) no nível “muito importante” (Gráfico 2).

    No gráfico 3 e 4, percebeu-se que a maioria das crianças pratica atividade física pelo fato de considerar “muito importante” gostar de esporte em equipe (60%), bem como pertencer ao grupo (72%).

Divertimento

    Nesta categoria enquadram-se as afirmações: “gosto de estar com os meus colegas”, “gosto de ação, aventura e desafio”, “gosto de só participar não me importo em vencer” e “gosto de estar alegre e me divertir”. Estes aspectos apresentaram uma alta porcentagem de votos no nível “muito importante”, logo após a categoria socialização. Salienta-se o fato da afirmação “gosto de estar alegre e me divertir” apresentar a maior porcentagem da categoria no nível “muito importante”.

    Na afirmação “gosto de estar com meus colegas” (Gráfico 5), evidenciou-se que a maioria (64%) dos alunos acha muito importante estar na companhia dos colegas durante as atividades propostas. Estes achados corroboram com outros estudos da área que mencionam vários motivos que levam as crianças a procurar um esporte ou uma atividade física, estando entre eles: a alegria, a vontade de aprender, superar limites, aperfeiçoar as habilidades, e estar na companhia dos amigos. Característica que evidencia a motivação intrínseca. Da mesma forma na afirmação “gosto de ação, aventura e desafio” (Gráfico 6), a maioria (62%) marcou “muito importante”. Os resultados corroboram com estudos que demonstram que um dos vários motivos que levam a criança a começar a atividade física é a vontade de superar limites e aperfeiçoar as suas habilidades (BECKER et al., 2000). Na afirmativa “gosto só de participar, não me importo em vencer” (Gráfico 7), a maioria (62%) achou” muito importante”, seguidos de “nada importante” (22%), “pouco importante” (14%) e “importante” (2%).

    Os resultados encontrados na afirmação “gosto de estar alegre e me divertir” (Gráfico 8) corroboram com estudos sobre motivação, os quais evidenciam que, tanto alunos como alunas buscam a atividade física por diversão e distração (BERLEZE, VIEIRA, KREBS, 2002). Nesta afirmação, a maioria (70%) dos alunos acha “muito importante” a alegria e o divertimento na realização dos exercícios, seguidos de “importante” (28%) e “pouco importante” (2%).

Saúde

    Nesta categoria, encontram-se as questões “gosto de melhorar minhas habilidades esportivas” e “gosto de fica em forma, ser forte e sadio”. A maioria (68%) das crianças considerou “muito importante” melhorar as habilidades esportivas através da pratica de atividade física (Gráfico 9). Também a maioria (74%) considera “muito importante” a afirmativa “gosto de ficar em forma, ser forte e sadio” (Gráfico 10).

Auto-realização

    Na última categoria, encontram-se as afirmações: “gosto de esportes individuais”, “gosto de vencer”, “gosto de me sentir importante” e “gosto das atividades realizadas nas aulas”. Nesta categoria encontramos gráficos com uma menor diferença entre os níveis de importância. Vale dizer que, no gráfico 14, a maioria significativa considerou “muito importante” a afirmação “gosto das atividades realizadas nas aulas”.

    No gráfico 11, referente à afirmativa “gosto de esportes individuais”, observamos um número maior de respostas no nível “nada importante” (46%), enquanto o nível “muito importante”, embora tenha um número considerável de ocorrências (34%), foi menor quando comparado com as demais afirmativas. Tal fato mostra o interesse das crianças em tarefas e atividades realizadas em conjunto com os colegas, em detrimento dos esportes individuais. Esse dado encontrado pode ser, em parte, justificado pelo fato de que nesta faixa etária (8-10 anos) as crianças ainda não tem conhecimento suficientes de todas as modalidades individuais existentes, como é o caso de salto com vara, em altura ou em distância. Isto porque, conforme o projeto político pedagógico, a escola visa proporcionar aos seus alunos, nas series iniciais, uma formação integral, a qual prioriza o engajamento social das crianças.

    No gráfico 12, os resultados encontrados podem estar associados ao tipo de trabalho (metodologia) realizado pela professora durante as aulas, na medida em que ela não aborda o esporte como único e principal conteúdo da disciplina, apresentando brincadeiras e jogos cooperativos. Tal fato pode ser observado durante o estágio, bem como no momento em que a professora responsável pela turma solicitava aos estagiários o planejamento e a realização das aulas. Na afirmativa “gosto de vencer”, encontramos uma menor diferença entre os níveis de respostas, a saber: nada importante (34%), pouco importante (20%), importante (22%), muito importante (24). Vale dizer que o nível “nada importante” manteve o maior número de ocorrências, no entanto com pouca diferença dos demais. No item “gosto de me sentir importante”, encontramos que a maioria das crianças pratica atividade física pelo fato de considerar “muito importante” se sentir importante nestas situações (58%).

    Finalmente, na afirmativa “gosto das atividades realizadas nas aulas” obteve como maioria de resposta o nível “muito importante”(90%), evidenciando o gosto dos alunos pelas atividades planejadas pela professora. Aspecto, que também pode ser explicado pela forma (metodologia) apresentada pela professora para a realização de suas aulas, fazendo com que os alunos participem e gostem efetivamente das atividades.

    Além de percebermos a alta e significativa porcentagem relacionada aos motivos intrínsecos, na ultima categoria, nota-se, também, ao longo dos resultados alguns fatores ligados a motivação extrínseca. Desta forma, podemos concluir que de acordo com os resultados obtidos, os fatores relacionados à socialização, ao divertimento e à saúde são os aspectos que mais motivam as crianças a participarem das atividades físicas na aula de Educação Física. Cabe ressaltar que os resultados aqui encontrados podem estar, em grande parte, relacionados com a metodologia de trabalho da professora responsável pela disciplina. O fato da maioria dos alunos achar “nada importante” a vitória, exemplifica o tipo de atividades planejadas e aplicadas, as quais contribuíram para o desenvolvimento de brincadeiras recreativas, jogos em equipe e jogos cooperativos.

Referências

  • BERLEZE, A.; VIEIRA, L. F.; KREBS, R. J. Motivos que levam crianças à prática de atividades motoras na escola. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 13, n. 1, p. 99-107, 2002.

  • BIDUTTE, L. C.. Motivação nas aulas de educação física em uma escola particular. Psicol. Esc. Educ. (Impr.). Campinas,  v. 5,  n. 2, dec.  2001.

  • CHICATI, K. C. Motivação nas aulas de educação física no ensino médio. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 11, n. 1, p. 97-105, 2000.

  • BECKER, B. et. al. Psicologia aplicada á criança no esporte. Novo Hamburgo: FEEVALE, 240p 2000.

  • SAMULSKI, D. Psicologia do esporte: teoria e aplicação prática. Imprensa Universitária. Belo Horizonte, 1992.

  • SCALON, Mário Roberto; JR BECKER, Benno; GÖTZE, Mendes Marisa. A psicologia do esporte e a criança. Porto Alegre: Edipucrs, 2004, 258p

  • SIQUEIRA, L. G. G.; WECHSLER, S. M. Motivação para a aprendizagem escolar: possibilidade de medida. Aval. psicol. Porto Alegre,  v. 5,  n. 1, jun.  2006.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 183 | Buenos Aires, Agosto de 2013  
© 1997-2013 Derechos reservados