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Possíveis aspectos motivacionais para a prática da capoeira

Posibles aspectos motivacionales para la práctica de la capoeira

 

Licenciado e Bacharelado em Educação Física

pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE)

(Brasil)

Israel Silva Pereira

israelduque.ef@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo mostrar os possíveis aspectos motivacionais para a pratica da capoeira tanto como em forma de lazer, educação e rendimento demonstrando todas suas variáveis. A capoeira é um esporte legitimado como a arte marcial brasileira, criada pelos negros como um forte instrumento de opressão contra a classe dominante, hoje encontrada em ruas, praças, escolas, universidades e academias especializadas, mostrando-se uma ótima alternativa de exercício físico para driblar o sedentarismo, através de uma analise bibliográfica de estudos já publicados, com o objetivo de auxiliar mestres e professores quanto sua didática motivacional para os discentes. Foram verificados que os principais motivos são a melhoria de técnica, a vontade de ser um futuro esportista, saúde, lazer e aderência a algum programa de atividade física na qual, neste caso, a capoeira é o foco principal, respeitando que cada individuo tem seus motivos peculiares para iniciação/aderência para qualquer ato motor.

          Unitermos: Capoeira. Motivação. Adesão e Permanência.

 

Abstract

          The present study aimed to show the possible motivational aspects to the practice of capoeira as much as in form of recreation, education and income showing all its variables. Capoeira is a sport legitimized as a Brazilian martial art, created by black people as a strong instrument of oppression against the ruling class, today found in streets, squares, schools, universities and specialized academies, being a great alternative exercise for circumvent the lifestyle, through a literature review of published studies, with the goal of helping teachers and teachers on their teaching motivational for students. We checked that the main reasons are the improvement of technique, will be a future athlete, health, leisure and adherence to a physical activity program in which, in this case, capoeira is the main focus, respecting each individual has their peculiar reasons for initiation / grip for any motor act.

          Keywords: Capoeira. Motivation. Adhesion and Permanence.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    Embora a divulgação dos benefícios da prática de exercícios físicos virem ganhando mais espaço nos veículos de comunicação, a falta de tempo nos dias atuais causados pela ocupação com trabalho, estudos, lar e demais afazeres, pessoas tendem a deixar de lado práticas recreativas e físicas.

    A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira criada pelos escravos negros como forma de combate contra a opressão, hoje é ensinada em escolas, universidades e academias. É uma prática rica em movimentos complexos e simples, executados sozinhos ou em alguma determinada seqüência não pré-estabelecida antes da roda que pode ser jogada de uma forma cadenciada (Angola) ou acelerada (Regional) sendo um excelente exercício físico.

    Porém tem-se que enfatizar seu lado de musicalidade, cultura imaterial, instrumentação onde todos os que a praticam tem alguma preferência de que o faz ficar motivado em meio dessa riqueza de opções, assim como já cita Machado (1997) em determinadas situações, alguns motivos ganham predominância sobre outros, dirigindo o cujo para certos objetivos, ou seja, direcionando o seu desempenho. De outro modo, certos motivos, têm maior acuidade em diferentes pessoas, modificando-se com fatores como personalidade, bem como pessoas diferentes podem realizar a mesma atividade, entusiasmados por motivos diferentes e também a diferentes intensidades.

    Apesar de toda sua técnica a capoeira tem também como real filosofia, a contemporaneidade, em “fazeres” prazerosos, espontaneidade, liberdade de expressão, capacidade de criação no momento da prática, improvisar, ou seja, atributos que o ser humano procura conviver por meio do lúdico, principalmente em suas horas livres. Machado (1997) analisa esporte como algo atribui valor socialmente ao homem harmoniza uma melhoria de autoimagem, e que a aprendizagem de uma determinada modalidade pode compor uma das mais significativas vivências que o ser pode ter com seu próprio corpo. Desta maneira pode-se inferir que os praticantes da capoeira apresentem como motivação para prática, procurar através de sua competência desportiva um melhor conhecimento corporal e melhora de sua autoimagem. Davidoff (2001) define motivo ou motivação como um estado interno que pode resultar de uma necessidade, este é descrito como um ativador, ou despertador de comportamento geral dirigido para a satisfação de algo.

    Esta analise objetiva-se em estudar quais os possíveis fatores que motivam os participantes de capoeira a realizarem as aulas semanais entre vários motivos, e por que a escolha desta modalidade, em meio a diversas outras atividades encontradas em academias ou ginásios, indagando também se realizam a capoeira por motivos intrínsecos ou extrínsecos.

    No presente estudo a metodologia utilizada foi a de revisão bibliográfica segundo Thomas e Nelson (2002: 33) “é uma avaliação crítica de pesquisa recente sobre um tópico particular.” Neste estudo envolve análise, avaliação e integração da literatura científica publicada, foram utilizadas revistas especializadas, livros e artigos científicos como consultas referentes ao tema dando ênfase a analise de questionários quantitativos relacionados à capoeira e motivação em práticas esportivas.

2.     Capoeira e suas graduações / tempo de prática

    A capoeira é relatada por Vieira (1998) como uma modalidade de luta realizada ao som de cantos e instrumentos musicais (agogô, berimbau, atabaque e pandeiro), registros apontam sua prática desde o século XVII, acredita-se que foi feita por afro descendentes no Brasil legitimando-se assim a arte marcial brasileira.

    No entanto, para diversos indivíduos incentivos são fundamentais para continuação de alguma prática esportiva assim como ponto comum na categoria de lutas na capoeira o caminho até se adquirir uma alta graduação ou até mesmo se chegar ao patamar de mestre é bastante longo podemos definir incentivos como objetos eventos ou condições que incitam as ações.

    Um dos fatores motivacionais que podem ser citados para a não renúncia do aluno a prática da capoeira além dos benefícios a respeito da saúde e forma física, o incentivo do mestre, amigos, familiares ou companheiros de prática a conseguir uma maior graduação, que na capoeira é simbolizadas por cordões (cordas) que amarradas na cintura representam o estagio atual do praticante através de cores diferentes que vai desde a prática sem cordão para o iniciante, até chegar a maior graduação; a de mestre que utiliza o cordão branco.

    A confederação Brasileira de capoeira filiada à federação internacional de capoeira (FICA) sendo que a tabela 1 aponta os estágios e coloração dos cordões na graduação infantil (3 a 14 anos) a tabela 2 mostra a graduação básica adulta já na tabela 3 são apresentados além da coloração dos cordões, os critérios para ser docente na capoeira.

Tabela 1. Graduação infantil

 

Tabela 2. Graduação adulta básica

 

Tabela 3. Docência na capoeira

    Segundo Saba (2001) com o passar do tempo durante a prática do exercício as benfeitorias psicológicas passam a predominar sobre a vontade de melhoria estética avaliando esta presunção indivíduos percebem mais de um motivo para continuar a prática e não desistir da mesma. Ou seja, associa-se o tempo de prática da pessoa com o encanto e deleite que a atividade propõe criando assim uma rotina, este sendo a principal motivação para a não suspensão da atividade física.

    Cratty (1983) define que o termo motivação denota os motivos que leva indivíduos a um ato ou à inércia em variados tipos de casos. De costume mais característico, sugere o estudo de motivos, na análise das causas pelas quais se escolhe executar alguma tarefa com maior comprometimento do que outras ou continuar numa atividade por maior período de tempo.

    O mesmo autor enfatiza que a renúncia à prática esportiva acontece por diversos motivos, dentre eles a competição, sobretudo de maneira acentuada, em que o ganhar de toda forma se faz presente seja qual for a prática. Neste aspecto a capoeira pode ser uma modalidade interessante onde objetivo é jogar com o outro e não contra o outro se visto como esporte de participação e não de alto rendimento diferente de diversos outros tipos de práticas esportivas.

    Uma observação importante como visto na tabela é que para trocar de corda/cordão o aluno além de ter um tempo mínimo de prática de capoeira e deve respeitar também uma idade mínima para avançar a próxima graduação, para a confederação Brasileira de capoeira e federação Internacional, um individuo menor que 35 anos de idade e menos que 22 anos de prática de capoeira, ainda não esta apto para ser mestre.

3.     Aprendizagem motora durante a prática de capoeira, suas possíveis implicações motivacionais

    Para uma maior analise do estudo deve ser levado em consideração as influências que o gesto motor detém sobre os fatores motivacionais que para Palafox (2009) a aprendizagem motora ocorre da interação entre professor e aluno, ela é o núcleo do processo, e depende da composição ou do ambiente.

    A motivação está ligada à palavra motivo, e este é definido como alguma força, impulso, intenção que leva um individuo a agir de uma certa forma. Desta maneira, qualquer discussão sobre motivação sugere em averiguar os agentes motivadores que influenciam em comportamento determinado do gesto motor, resumindo, todo o comportamento, é impulsionado por motivos (MAGGIL, 1984).

    È viável que a capoeira deva ser lecionada globalmente, deixando que o aluno procure a sua identificação e dando autonomia ao seu próprio gesto motor. Caberá ao mestre/professor um papel ressaltante estimulando para que o aluno possa aproveitar toda a sua potencialidade (PEREIRA; BRITO, 2011).

    A capoeira durante o jogo de certa forma impõe um democratismo, ficando a vontade do jogador o que ele se sente mais capaz de realizar, e na sua vez de jogar pode escolher com quem jogar e sendo este jogo não fundamentalmente um combate, para ver o que tem mais habilidades e sim uma cooperação e um diálogo corporal, descobrindo seu psicomotor onde ambos capoeiristas sempre ganham, não havendo um perdedor.

    Jackson (1996) afirma que durante a prática de atividade física ser capaz de realiza-la sem preocupações e focado somente na mesma pode abranger a experiência a elevados planos de realização e divertimento, porem, a mesma aponta que o aspecto conceitual dessa condição proporciona amplas dificuldades de ser descrito. O fluir na atividade indica um nível de consciência positivo e traz a uma ensaio intrinsecamente recompensadora e agradável, ou de ampla satisfação particular interpretando este estado proposto pela autora.

    Brunacci (2002) relata que existem vários quesitos que podemos englobar a capoeira, no aspecto psicomotor em relação às benfeitorias ao corpo que a capoeira proporciona citando que o corpo é usado no limite dos recursos de flexibilidade e elasticidade muscular, realizando uma bela apresentação humana em acenos despojados, naturais, em uma estranha dança envolvendo perigo.

    Torres (1994) relata que a capoeira trabalha uma totalidade quase que completa das qualidades físicas e dos itens do incremento psicomotor. Os gestos, a forma cultural, forma que é interagida estão mantidas de maneira tão especial na capoeira, que nos permite assegurar ser ela uma manifestação que integra a alma do povo brasileiro sendo isto certo como fator motivacional para sua realização.

    Contudo Ribeiro (1992) faz uma ligação direta a questão motivacional com os estilos (formas) variados quanto aos gestos motores que a capoeira acomoda constituindo sua “separação” feita para o autor da seguinte maneira:

    A capoeira luta, é representada por sua raiz e sobrevivência atravessadamente aos tempos, natural em sua forma, como instrumento de defesa pessoal. Deverá ser ministrada com o objetivo de ataque e defesa.

    Na capoeira dança se faz atualizada pelo meio da música, ritmo, cânticos, instrumentação, expressão corporal e capacidade criadora de movimentos. Na dança, as aulas deverão ser abordadas na definição de valer-se os movimentos, aumentando destreza, agilidade, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, partindo da coreografia para a satisfação pessoal.

    A capoeira esporte, como modalidade desportiva, sendo institucionalizada no ano 1972, pelo conselho nacional de desportos, ela será focada em especial para o lado competitivo de haver um melhor durante a apresentação, por critérios comuns avaliados por determinada federação realizando treinamentos físicos, técnicos e táticos.

    No aspecto capoeira educação apresenta-se como uma ferramenta importantíssima para a formação absoluta do discente, desenvolvendo o afetivo, cognitivo, motor, o caráter, a individualidade e sendo diretamente influenciador nas mudanças de comportamento. Fazendo ainda um autoconhecimento e um julgamento crítico de seus limites e potenciais.

    Já a capoeira lazer envolve-se como prática não formal, pelo meio das rodas espontâneas, realizadas no colégio, na rua, universidades, praças e etc., onde há uma troca de saberes e cultura entre os participantes sem maiores objetivos financeiros ou de divulgação a mídia.

    Capoeira filosofia entre vários alicerces, trás uma filosofia de vida que crava o respeito aos mais velhos estes que trazem consigo uma bagagem cultural enorme e que não deixa os hábitos de capoeiragem acabar, e aos irmãos mesmo não sendo de sangue. Muitos são os apreciadores que se doam de corpo e alma criando uma filosofia de vida através da capoeira, tendo-a como simbolismo e até mesmo usando-a de sua cultura para sobrevivência.

    E não menos importante a capoeira terapia a atividade de capoeiragem realiza uma função no desenvolvimento completo e funcional do praticante. Para o que tem alguma deficiência, respeitando capacidade e limitações, o desporto tem acuidade inquestionável. A capoeira tem um grande destaque, não só como atividade física, mas, neste caso especifico de portadores de deficiência, ela atua como uma variante para terapia como por exemplo a AcquaCapoeira e Capoterapia. Levando-se em conta a fisiologia do individuo, propicia um desenvolvimento orgânico mais satisfatório, melhora a parte muscular, aumento flexibilidade, agilidade e ampliação dos movimentos. E ajuda na orientação postural correta.

    Observando desta forma que tanto o professor quanto o aluno devem optar pela forma que o mais motiva para a aprendizagem do gesto motor durante as aulas de capoeiragem. Ao mesmo tempo, segundo Krug (2002), quando abordamos a aprendizagem das habilidades motoras a motivação torna-se fundamental. O avanço no aprendizado é veloz quando o discente compreende a tarefa e essa coincide com seus interesses. Para isso, devem-se encontrar os motivos que estimulam a vontade do discente.

3.1.     Fatores intrínsecos e fatores extrínsecos

    Esta teoria relata que um individuo pode ser motivado em diferentes níveis intrínseca ou extrinsecamente, durante a prática de determinadas atividades (Barbosa, 2006; Deci & Olson, 1989; Frederick & Ryan, 1995).

    Quando o individuo encontra-se motivado intrinsecamente, entra na atividade por ambição própria, ou seja, pelo prazer e satisfação de conhecê-la, descobrir, aprofundá-la. Condutas motivadas intrinsecamente são frequentemente associados com bem estar psicológico, interesse, alegria e persistência (RYAN; DECI, 2000). A motivação intrínseca ocorre quando se executa alguma tarefa para satisfazer alguma curiosidade que vem de si mesmo, não necessitando de intervenção de terceiro para executar a tal.

    Já a motivação extrínseca, segundo os mesmo autores, ocorre quando uma prática é efetuada com outro objetivo que não o essencial à própria pessoa. Este tipo de conduta é visualizado, por exemplo, no caso de um praticante de capoeira que realiza as aula de ginga/golpes são importantes porque seu mestre disse, e mesmo não gostando de executar o aluno a faz, ou quando o médico propõe que o mesmo terá que realizar alguma atividade física por causa de problemas coronários, resumindo, são atividades que são realizadas por intervenção de terceiros ou buscando alguma recompensa (maior técnica/saúde) e não por desejo próprio. No caso relatado, a motivação do individuo, ainda seja extrínseca, é bastante intensa para garantir a conservação do comportamento.

    Os autores abordam que a sensação de prazer é altamente relacionada com a motivação intrínseca. Bento (1987) relaciona o costume da atividade física e o prazer em realiza-la à expectativa de seu gosto e se estender pelo resto da vida. No estudo de Marcellino (2003) o conceitual de prazer e lazer é diretamente ligado para os alunos em seu estudo, as conclusões diagnosticaram que os alunos que freqüentarem as academias tem como 90% de motivação a questão lazer/prazer. Entretanto, convêm se fazer algumas ressalvas.

    Petherick e Weigand (2002) relatam que a simples divisão entre extrínseca e intrínseca pode gerar uma grande dicotomia entre as duas. Também é necessário que se entenda que ser motivado extrinsecamente não corresponde a um comportamento negativo. Segundo Ryan, Frederick, Lepes, Rubio e Sheldon (1997), a motivação extrínseca possui um grande grau de autonomia. Mas, motivos intrínsecos possuem caráter fundamentalmente autodeterminável.

4.     Capoeira do lazer a esportivização

    “Não é um esporte, mas é; não é uma dança, mas é; e não é uma luta, mas é” (REIS, 1997, p 216)

    A prática da capoeira pode ser encontrada desde o âmbito escolar até academias especializadas ou praças e espaços culturais em todos estes dificilmente encontrados em forma de esporte de rendimento. O esporte moderno pode ser dividido em diferentes níveis: esporte-educação, esporte-participação e esporte-rendimento.

    Ao que se diz em respeito ao esporte de rendimento é nele, que se encontra toda uma estrutura de espetacularização, Alves e Montagner (2008).

     Em relação isto o mesmo autor e Pereira e Brito (2011) afirmam que em 1972 a capoeira foi aceita institucionalmente pelo CND (Conselho Nacional de Desportos) como modalidade de esporte porem ainda acoplada com a Confederação Brasileira de Pugilismo começando assim o fenômeno da esportivização. Com a capoeira sendo legitimada como esporte isto fez com as portas fosse abertas para sua prática seja por apresentações por intercâmbios culturais, ou torneios que há pagamento em dinheiro aos vitoriosos, hoje é encontrada ativa em diversos países tais como EUA, Espanha, Argentina e Uruguai. Observando todas as possíveis considerações cabe ao mestre entrar com sua experiência para intervir e saber até que nível o aluno pode alcançar motivando-o e não ocultando-o de possíveis competições desportivas.

    Em um estudo feito por Paim (2001) aplicando o questionário de Gaya e Cardoso (1998) onde havia 21 perguntas sobre motivos a prática da capoeira em 18 jovens ainda na faixa-etária escolar entre 11 e 14 anos foi constatado que 50% dos entrevistados havia atestado o campo “muito importante” do questionário (entre “nada importante” e “pouco importante” também entre as opções) “Para ser um atleta” e 44,44% no mesmo campo (muito importante) “Para ser um jogador quando crescer”.

    A autora afirma que a aprendizagem dos gestos motores motivam os alunos para a prática esportiva, porém não com o objetivo único de competir de forma desportiva.

    Ao mesmo tempo no estudo, o campus “Para ser o melhor no esporte”, apontou que 55,56% dos alunos indicaram que era “nada importante” e 27,78% pouco importante, demonstrando no estudo que apesar de o esporte de rendimento ser bastante considerado na pesquisa, a filosofia quanto valores a cultura da capoeiragem ainda continuam a se sobrepor.

    Pereira e Brito (2011) também enfatizam em seu estudo em crianças e adolescentes desta faixa etária benefícios que a capoeira proporciona, tais como: o desenvolvimento dos aspectos psicomotores relacionados a motricidade, afetivos e cognitivos além de valorizar a própria cultura nacional.

    Já o estudo feito por Nacif e Moraes (2009) com 25 adultos de maior idade (12 homens e 13 mulheres) entre 20 e 30 anos onde se utilizou o questionário EMPE (Escala sobre motivos para a prática esportiva) versão traduzida e legitimada para o Brasil por Barroso (2007) do Participation Motivation Questionnaire (PMQ) de Gill, Gross e Huddleston (1983) comprovou que na modalidade Técnica, as questões “eu quero aprender novas técnicas” e “eu quero melhorar minha técnica” mostraram-se totalmente importante. No do jogo da capoeira o aluno sente a obrigação de aprimorar suas técnicas, buscando ultrapassar os limites do corpo, sendo assim um aluno em constante alta chega-se ao ponto de poder utilizar seu conhecimento técnico para disputas de rendimento com integrantes de outras afiliações\confederações, pois a FICA (2012) entende que em seus torneios haverá sempre um competidor que mostrará maior objetividade e superioridade consequentemente ganhando mais pontos e tornando-se o vencedor.

5.     Discussão

    De acordo com os resultados estudo de Paim (2001), os principais fatores motivacionais para a prática da capoeira foram que 50% dos pesquisados havia preenchido o campo “muito importante” do questionário de Gaya e Cardoso (entre “nada importante” e “pouco importante”) “Para ser um atleta” e 44,44% no mesmo campo “Para ser um jogador quando crescer”.

    Ao mesmo tempo no estudo, o campus “Para ser o melhor no esporte”, apontou que 55,56% dos alunos indicaram que era “nada importante” e 27,78% pouco importante.

    A aprendizagem dos gestos motores motiva os discentes para a prática esportiva, entretanto não com o objetivo excepcional de competição. Os dados são comuns em um estudo feito por Berleze; Vieira e Krebs (2002), que identificaram esses motivos em homens no período escolar. Segundo os autores estes motivos são de alvará interno, isto é, interligados com a tarefa, onde o prazer pela realização do movimento, o gosto pela modalidade esportiva e o conhecimento de novos movimentos são os fatores motivacionais mais importantes.

    Já no estudo feito por Nacif e Moraes (2009) de acordo com os resultados de seu estudo, os principais fatores motivacionais que estimulam a prática da capoeira em clubes, academias, e em espaços culturais dentro do grupo estudado é a Saúde seguida de Condicionamento Físico, Técnica, Energia e Afiliação.

    Agrega-se o tempo de prática da pessoa com o prazer de praticar determinada atividade, este sendo a principal motivação para a não interrupção, pois no estudo de Saba (2001) o grupo de pessoas que praticavam atividade física há mais de 10 anos não citou alta de automotivação e relatavam prazer em praticar.

    Aqui é vale lembrar as características da capoeira, que embora visto por muitos como uma luta possui aspectos de afiliação e de valores como respeito aos colegas, sendo citada no campos amizade e lazer ganhou 54,63% no campos muito importante no estudo de Paim (2001).

    Em outro estudo também de Paim (2003) o fator motivacional mais relevante para o envolvimento das adolescentes no voleibol, são: Excitação e Desafios com (77%) da preferência, seguido de Afiliação (69%), Desenvolver Habilidades (65%), Reconhecimento e Status (45%), Aptidão (40%) e Liberar Tensões (30%). Outro motivo que merece destaque e não foi incluído nas categorias de fatores motivacionais, e sim utilizado somente como auxílio ao questionário, é o de "Ter Alegria", com (100%).

    Paim (2001) apud Costa e Vieira (2003) ressaltam que fatores motivacionais influenciam diretamente no rendimento de maneira diferente dependendo da peculiaridade cultural de cada um. De esta forma acomodar informações motivadoras durante o treino é muito importante para o êxito no desporto, levando em consideração, além dos fatores motivacionais que levam um grupo de pessoas a praticarem uma atividade, também as aspirações individuais, não impondo limitações para o desempenho dos alunos.

    Ou seja, como objetivo inicial da discussão foi constatado que existem inúmeros fatores motivacionais para a prática da capoeira sendo que cabe ao professor mestre se adaptar e ver realmente o que motiva ao aluno sendo fatores extrínsecos ou intrínsecos, a real habilidade motora do discente para proporcionar ao mesma a melhor forma que a capoeira possa ser trabalhada, seja ela educação, filosofia, terapia, rendimento ou lazer. Mesmo que nos estudos referenciados e analisados nesta revisão aponte fatores em comum que nos ajude a compreender algumas constantes, cabe lembrar que cada ser humano é um ser único em vivencias e problemas, seja do cunho afetivo, social ou psicomotor sendo assim cada um tem seus próprios motivos para realizar determinada prática sendo nosso enfoque a capoeira.

6.     Considerações Finais

    A capoeira, que antes era livremente praticada e treinada pelos escravos, é agora praticada assim como treinada dentro das academias, universidades, escolas e locais públicos. A alteração dos campos de mata aberta para outros âmbitos não foi a única modificação sofrida pela mesma. Com a entrada da capoeira em outros âmbitos, algumas alterações aconteceram na capoeira dos escravos do engenho. Além de lugar fixo para o treinamento, foram implantados também horários e “regras” solicitadas pelo professor para tal (RIBEIRO; 1992).

    O estudo chega a conclusão que os fatores motivacionais variam de pessoa para pessoa pois cada ser tem um motivo predominante durante a prática da capoeira (DAVIDOFF, PAIM, MACHADO; 2001, 1997)

    Porém ficou explicito que os campos onde obtiveram mais votos a favor foram para ser um atleta futuramente, assim como manutenção de saúde e condicionamento físico, aprender novas técnicas e aprimora-las assim como lazer e socialização em ênfase na amizade tiveram grande grau de importância.

    Sugere-se que outros estudos sejam realizados, envolvendo diferentes faixas etárias, diferenciação por sexo e localidades fixas, do mesmo modo como diferentes desportos, pois é importante que o profissional de Educação Física e de outras áreas como a Psicologia tenha conhecimento dos motivos que induzem as pessoas à prática esportiva, seja ela como rendimento, lazer, ou educação para que, a partir desses dados, elaborem suas aulas conscientes da necessidade do aluno e o que de fato faça sua permanência na mesma, tornando sua prática mais prazerosa, alegre e produtiva, aumentando o desempenho na tarefa proposta o aluno e o que realmente o motiva.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 183 | Buenos Aires, Agosto de 2013  
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