Ansiedade pré-competição e concentração em bailarinos de jazz Ansiedad antes de la competencia y concentración en bailarines del jazz Pre-competition anxiety and concentration of jazz dancers |
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*Pontifícia Universidade Católica de Campinas **Pontifícia Universidade Católica do Paraná Apoio: CAPES (bolsa de doutorado para primeira autora) CNPq/MCTI (bolsa de produtividade em pesquisa em nível 1B para terceira autora) (Brasil) |
Ms. Andressa Melina Becker da Silva* Prof. Ms. Cláudio Marcelo Tkac** Profa. Dra. Sônia Regina Fiorim Enumo* |
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Resumo Condições psicológicas, como a ansiedade, estão presentes no cotidiano dos bailarinos ao serem submetidos, diariamente, a altas cargas físicas e emocionais no treinamento, afetando sua concentração. Este estudo analisou a relação entre ansiedade e concentração em bailarinos da modalidade Jazz em Pré-Competição. Foram avaliadas 11 bailarinas, com idade média de 21 anos, que competem em nível nacional. Para mensurar a ansiedade, utilizou-se o Teste de Ansiedade de Competição Esportiva (TACE) e, para medir a concentração, aplicou-se o Teste de Atenção Seletiva. Empregou-se estatística descritiva e Correlação de Spearman (p < 0,05). A mediana do grupo indicou alta ansiedade, com escore de 30,0 (EP = 0,94). A concentração média do grupo foi 35,5 (EP = 2,1), com boa classificação em 87,5% da amostra. Houve correlação significativa entre as variáveis (p = 0,011). Conclui-se que a ansiedade interfere na concentração e vice-versa, merecendo cuidados psicológicos. Unitermos: Ansiedade. Jazz. Psicologia do Esporte.
Abstract Psychological conditions such as anxiety are present in everyday dancers when subjected daily to high physical loads and emotional training, affecting their concentration. This study examined the relationship between anxiety and concentration on the sport Jazz dancers in Pre-Competition. Eleven dancers were evaluated with a mean age of 21 years, competing in national level. To measure anxiety, we used the Test Anxiety Sports Competition (TACE) and to measure concentration, we applied the Selective Attention Test. Employed descriptive statistics and Spearman correlation (p < .05). The median of the group indicated high anxiety, with scores of 30.0 (SE = .94). The average concentration of the group was 35.5 (SE = 2.1), rated 87.5% of the sample. There was significant correlation between the variables (p = 0.011). It is concluded that interferes with the concentration anxiety and each other, meriting psychological care. Keywords: Anxiety. Jazz. Sport Psychology.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
A dança, conceituada por Nanni (1995) como sendo a expressão da harmonia universal em movimento, é vivenciada desde os primórdios, mesmo sem ser estruturada, pois tem como principal componente a movimentação do corpo humano. Convergindo com este pensamento, Portinari (1989) afirma que “De todas as artes, a dança á a única que dispensa materiais e ferramentas, dependendo apenas do corpo” (p. 11).
Neste estudo, os bailarinos selecionados dançam a modalidade Jazz. Segundo Garcia (2003), o Jazz teve origem na cultura africana e espalhou-se pelos Estados Unidos da América. Seus movimentos são provenientes dessas culturas. Uma das características dessa modalidade é a utilização dos pés nus, embora alguns utilizem sapatilhas. A técnica da modalidade é baseada em movimentos naturais do corpo humano. É um estilo de dança audacioso, energético, descontraído, forte, sensual, solto e vibrante (Garcia, 2003).
Na dança, assim como em outras atividades físicas, há a necessidade de se realizar avaliação psicológica, para que haja um desenvolvimento das capacidades que necessitarem, e um fortalecimento das que já estiverem boas, visando melhoria do desempenho e da qualidade de vida dos bailarinos. Na Psicologia do Esporte, trabalha-se a ansiedade e a concentração – foco do presente estudo – além de outros constructos (Weinberg & Gould, 2001). Conforme Rey (2003), a ansiedade é “[...] distúrbio psíquico de natureza emotiva, caracterizado por um estado de tensão física, dúvida e insegurança” (p. 64). De forma semelhante, Sharkey (1998) afirma que “A ansiedade tem sido definida como uma apreensão difusa de alguma ameaça indefinida, caracterizada por sentimentos de incerteza e desamparo” (p. 40).
Outros autores vão além, referindo a ansiedade como algo adaptativo, por sinalizar um perigo potencial, podendo servir inclusive como uma resposta a um estressor; porém, torna-se prejudicial, quando em excesso, sendo que neste estágio, já patológico, não há a sinalização de um perigo real, porque tudo torna-se ameaçador (Atkinson et al., 2002, Kandel,2003)
Eis um ponto preocupante da ansiedade, Gerzon (1998) diz que “[...] o eixo hipotalâmico-pituitário, responsável pelo processo gerador da ansiedade, regulariza também os sistemas digestivo e cardiovascular, o sono e o apetite...” (p. 94), podendo ser prejudicial. A importância da ansiedade no desempenho esportivo é explicada: “A fraqueza, a falta de equilíbrio nas pernas, o aumento da freqüência cardíaca e do consumo de oxigênio podem acelerar a fadiga, que é o efeito mais pernicioso da ansiedade.” A tensão muscular é aumentada provocando fadiga precoce (Frischnetch, 1990, citado por Quadros Júnior, Vincentim, & Crespilho, 2006).
A ansiedade é dividida em ansiedade-traço e ansiedade-estado, sendo a primeira vista como uma característica da personalidade (como um traço estático), e a ansiedade-estado é vista como uma condição temporária que a pessoa apresenta mediante algumas situações (Cratty, 1984). Aprimorando essa classificação, Sharkey (1998) apresenta a seguinte explicação: “Ansiedade de estado é uma fase emocional transitória caracterizada por sentimentos de tensão, apreensão e nervosismo. A ansiedade traço é considerada um nível relativamente estável de propensão à ansiedade, uma predisposição para responder a ameaças com ansiedade elevada” (p. 40).
Outro constructo importante para a área é a concentração, que, segundo Franco (2000),: “É uma atenção seletiva. É um fenômeno que procura focalizar o máximo de atenção num determinado aspecto, ignorando os demais” (p. 23). Consideram-se quatro tipos de concentração: foco de atenção amplo, foco de atenção estreito, foco de atenção externo, foco de atenção interno. Conforme Weinberg e Gould (2001), um foco de atenção amplo permite que uma pessoa perceba diversas ocorrências simultaneamente; um foco de atenção estreito ocorre quando se responde a apenas um dos dois sinais; um foco de atenção externo dirige a atenção externamente para um objeto; um foco de atenção interno é dirigido ao interior para pensamentos e sentimentos.
Ansiedade é um dos fatores que atrapalham os bailarinos em pré-estréia de espetáculo e competições, mas será que há relação entre maiores níveis de ansiedade prejudicaria a concentração? Sousa, Marian e Samulski (2004) avaliaram o nível de estresse e ansiedade em bailarinos na pré-estréia de um espetáculo de dança. Além de um questionário específico com escala tipo Likert, associou-se a frequência cardíaca com estresse e ansiedade. A FC aumenta no dia de apresentação quando comparada a uma semana antes do espetáculo; porém isso foi verificado somente nas mulheres e não nos homens. Constantino, Prado e Lofrano-Prado (2010) também estudaram a ansiedade pré e pós-competição, por meio do IDATE, encontrando maiores níveis de ansiedade em bailarinos profissionais, com idade média de 35 anos, na condição de pré-competição. Gasparini, Lee e De Rose Jr. (2012) encontraram níveis médios de ansiedade, aplicando a escala Sport Anxiety Scale (ansiedade-traço) e o Competitive State Anxiety Inventory-2 (ansiedade-estado) em 28 bailarinos, coincidindo com estudos realizados com atletas.
Com base no exposto acima, o objetivo deste estudo foi verificar a relação da ansiedade e da concentração em bailarinas da modalidade Jazz em situação de pré-competição.
Método
O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa com Seres Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba, Brasil, sob o registro 1865, parecer número 646/07. Todos os indivíduos que participaram do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, após serem informados sobre os objetivos e métodos utilizados, além dos possíveis riscos e benefícios de participar do mesmo.
A amostra foi formada por 11 bailarinas do sexo feminino, com mediana de idade de 21,09 anos (EP = 1,76; variação de 18 a 23), da modalidade Jazz, vinculadas a um grupo da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil, que participavam em competições nacionais. As bailarinas tinham, em média, 8 anos de experiência, e treinavam a modalidade com uma única professora, durante 6 vezes na semana, com duração de treino de aproximadamente 6 horas por dia.
Para avaliar a ansiedade, foi utilizado o TACE – Teste de Ansiedade de Competição Esportiva - Sport Competition Anxiety Test (Martens, 1977). Este teste, com 15 itens, fornece uma medida de ansiedade-traço competitiva, reproduzível e válida, representando como os atletas ansiosos se sentem antes da competição. Apresenta o formato de escala tipo Likert de 4 pontos, variando de 1 (dificilmente) a 4 (sempre). As questões 2, 3, 5, 8, 9, 12, 14 e 15 seguem a escala normal (1, 2, 3, 4). Questões 6 e 11 seguem a escala de valores invertida (4, 3, 2, 1). Questões 1, 4, 7, 10 e 13 não são somadas; somente fornecem informações referentes a elementos da competição. Há a normatização para a classificação de ansiedade dos sujeitos, conforme a pontuação (escores): 10 a 12 = ansiedade-traço competitiva baixa; 13 a 16 = ansiedade-traço competitiva média-baixa; 17 a 23 = ansiedade-traço competitiva média; 24 a 27 = ansiedade-traço competitiva média-alta; Acima de 28 = ansiedade-traço competitiva alta.
Para determinar a concentração, aplicou-se o Teste de Atenção Seletiva (Martens, 1990, citado por Kuritza, 2006, p. 52), que é um questionário autoadministrado, com 14 itens. Este instrumento mede características interpessoais e de atenção que podem influenciar no comportamento do esportista na competição e no treinamento, com o objetivo de guiar os procedimentos de intervenção específicos do psicólogo do Esporte. A pessoa pode responder a quatro alternativas: 1 = nunca; 2 = raramente; 3 = às vezes; 4 = geralmente. Para computar os dados, basta somar os resultados. A escala abaixo traz os escores para determinar a habilidade de focalizar atenção: 14-24 = Excelente; 35-44 = Média; 25-34 = Boa; 45-56 = Fraca.
Para a análise dos dados, empregou-se análise descritiva – mediana e erro padrão – considerando haver 11 sujeitos, sendo, portanto, necessária a utilização de estatística não paramétrica. Para verificar a relação da ansiedade e concentração, utilizou-se Correlação de Spearman, a um nível de significância de p < 0,05. Contemplou-se uma abordagem quantitativa com a utilização do software SPSS® for Windows®, versão 18.0.
Resultados e discussão
A maioria das bailarinas apresentou altos níveis de ansiedade: 37,5% apresentaram ansiedade-traço competitiva alta; 37,5% média-alta; e 25% média. A mediana do grupo foi alta (escore = 30,0), com um erro padrão de 0,94; resultados esses preocupantes. Esses resultados sobre a ansiedade condizem com os dados de Souza et al. (2004), em que os bailarinos apresentavam um aumento da ansiedade em período pré-competitivo. Converge também com a pesquisa de Constantino et. al. (2010) que perceberam que a ansiedade traço e estado, foram maiores antes da apresentação do que após. Além disso, a pesquisa de Gasparini et. al. (2012) mostrou que os bailarinos possuíam ansiedade traço moderada. Esse fator pode ser explicado por Rey (2003) e Sharkey (1998), que afirmam haver um fator de insegurança relacionado à ansiedade. Uma competição de dança é um evento que gera insegurança porque não se sabe quem irá competir, como a platéia responderá a apresentação da coreografia e a avaliação dos jurados é totalmente incerta. Além disso, altos índices de ansiedade podem levar a baixo desempenho e podem provocar fadiga precoce, como alerta Frischnetch (1990, citado por Quadros Júnior et al., 2006). Faz-se necessário, então, uma intervenção baseada na Psicologia do Esporte para melhorar esses indicadores.
Os dados sobre a concentração das bailarinas foram melhores, pois apenas uma delas apresentou uma atenção média e 7 bailarinas tiveram uma boa classificação, somando 87,5% com classificação boa. A mediana do grupo foi 35,5, com um erro padrão de 2,10.
O bailarino, independentemente da modalidade, precisa ter uma boa concentração, pois precisa estar atento ao seu desempenho, à sincronia com o grupo e com a música, entre outros fatores. Nesse sentido, esta amostra está muito bem, precisando de um treinamento apenas para manter os escores que estão muito bons. Além disso, houve correlação significativa (p ≤ 0,011) entre ansiedade e concentração para essa população, mostrando que a concentração interfere na ansiedade e vice-versa.
Conclui-se que eventos competitivos, que normalmente são geradores de ansiedade, interferem na concentração dos bailarinos, o que pode ser prejudicial para o desempenho, assim como para a qualidade de vida dos bailarinos. Sugerem-se novas pesquisas com diferentes populações, ou diferentes estilos de dança, para se ter resultados mais expressivos e para que estes possam ser generalizados, ao ser utilizado um número maior de participantes.
Referências
Atkinson, R. L., Atkinson, R. C., Smith, E. E., Bem, D. J., & Inolen-Hoeksema, S. (2002). Introdução à Psicologia: de Hilgard (13. ed., Trad.). Porto Alegre: Artmed.
Constantino, A. C. S., Prado, W. L., & Lofrano-Prado, M. C. (2010). Ansiedade em bailarinos profissionais nas apresentações de dança. Conexões: Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, 8 (3), 146-155.
Cratty, B. J. (1984). Psicologia no esporte (2ª ed., Bergier, O. L. Trad.) Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil.
Franco, G. S. (2000). Psicologia no esporte e na atividade física: Uma coletânea sobre a prática com qualidade. Barueri: Manole.
Garcia, A. (2003). Ritmo e dança. Canoas: Ulbra.
Gasparini, I., Lee, C. L., & De Rose Jr., D. (2012). Estresse e ansiedade em bailarinos amadores e profissionais. Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte, 7 (1), 49-69.
Gerzon, R. (1998). Encontrando a serenidade na era da ansiedade. Rio de Janeiro: Objetiva.
Kandel, E. R., Schwartz, J. H., & Jessel, T. M. (2003). Princípios da Neurosciência (4ª ed.). Barueri: Manole.
Kuritza, J. F. (2006). A interferência da distração auditiva no nível motivacional no atleta de futsal (Monografia de graduação). Curitiba: PUCPR.
Martens, R. (1977). Sport Competition Anxiety Test. Champaign, Human Kinetics.
Nanni, D. (1995). Dança educação: Pré-escola à universidade. Rio de Janeiro: Sprint.
Portinari, M. (1989). História da dança (2ª ed.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
Quadros Junior, A.C., Vicentim, J. & Crespilho, D. (2006). Relações entre ansiedade e psicologia do esporte. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 11(98). http://www.efdeportes.com/efd98/ansied.htm
Rey, L. (2003). Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde (2ª ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Sharkey, B. J. (1998). Condicionamento físico e saúde (4ª ed., Dornelles, M. & Petersen, R. D. S. Trad.). Porto Alegre: Artmed.
Souza, F. N. G., Mariani, M. E., & Samulski, D. M. (2003). Análise do nível de estresse e da ansiedade em bailarinos e bailarinas profissionais na pré-estréia de um espetáculo de dança. Revista Online Unileste, 1 (1).
Weinberg, R. S., & Gould, D. (2001). Fundamentos da Psicologia do esporte e do exercício (2ª ed., Monteiro, M. C., Trad.). Porto Alegre: Artmed.
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