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Análise ergonômica de escolares: um estudo 

de caso sobre a postura e o uso de mochila

Análisis ergonómico de escolares: un estudio de caso sobre la postura y el uso de la mochila

 

*Secretaria de Estado de Educação e Qualidade de Ensino, AM

**Centro Positiviano de Ensino, AM

(Brasil)

Alexandre Gonçalves*

Andréia Pagliarini**

xandecoedf@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Crianças e adolescentes estão em desenvolvimento corporal e a má postura ao sentar e o uso de mochilas pesadas pode acarretar dores e desvios posturais. Em sua grande maioria, utiliza-se de mochilas para levarem os seus materiais escolares e muitas vezes a utilizam de forma errônea: com peso excessivo ou de maneira incorreta. Nosso objetivo foi verificar as possíveis dores nas costas oriundas da má postura e peso excessivo da mochila. Essa pesquisa foi realizada com 201 estudantes do ensino fundamental com a faixa etária entre 10 a 16 anos e como coleta de dados foi utilizado um questionário e uma balança digital. Dos 201 alunos pesquisados, 167 usam mochilas e 94 com peso excessivo e 164 sentem dores nas costas. Concluímos que se faz necessário uma intervenção educativa imediata junto aos alunos, visto que os mesmos já estão acometidos de algumas dores musculares nas costas.

          Unitermos: Ergonomia. Desenvolvimento corporal. Peso da mochila escolar.

 

Abstract

          Children and adolescents are developing and poor body posture when sitting and the use of heavy backpacks can cause pain and postural deviations. Mostly, we use backpacks to carry their school supplies and often erroneously used: overweight or incorrectly. Our objective was to investigate the possible back pain arising from poor posture and excessive weight of the backpack. This survey was conducted with 201 elementary school students in the age group between 10 to 16 years and as data collection was used a questionnaire and a digital scale. Of the 201 students surveyed, 167 used backpacks and 94 overweight and 164 feel back pain. We conclude that it is necessary as an educational intervention with the students, since they are already suffering from some muscle pain in the back.

          Keywords: Ergonomics. Developing body. Weight of the school bag.

 

Presenteado em I Bioergonomics, Congresso Internacional sobre Biomecânica y Ergonomia, Manaus, Brasil, do 30 de maio ao 2 de junho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Na sua essência a palavra ergonomia é derivada de outra palavra que significa: regras de trabalho, mas no seu sentido etimológico significa: estudo das leis de trabalho. Ela, a ergonomia, nada mais é que a adaptação do trabalho ao trabalhador sem que haja prejuízos ao trabalhador, principalmente relativo à saúde. Existem diversas maneiras de definir a ergonomia, mas todas as definem como priorizando a saúde física e mental do trabalhador. A ergonomia segundo Anez apud Gonçalves (2006, p.15) é:

    A ergonomia vem a contribuir muito frente a isso. Mais especificamente, ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. Não existe uma categoria profissional capaz de dar uma solução ergonômica completa, de maneira que engenheiros, médicos, professores de educação física e outros podem ser observados trabalhando em projetos comuns.

    Como podemos ver nas palavras de Anez a ergonomia é utilizada para proporcionar conforto e qualidade na vida ao trabalhador sem que ele precise se ausentar por motivos de doenças, pois problemas posturais podem também proceder da posição incorreta no local de trabalho.

    Mas e na escola como é que a ergonomia pode ajudar a postura dos alunos? Crianças e adolescentes estão em uma fase de desenvolvimento corporal acelerada e a má postura ao sentar e o uso de mochilas pesadas pode acarretar problemas posturais. E os mesmos ficam sentados uma manhã ou tarde quase que completas e isso gera um estresse e pressão muito grandes em sua coluna, glúteos e coxas, isso sem contar nas cadeiras e mesas que são confeccionadas de material duro e modelo único. Como se nossos alunos fossem todos do mesmo tamanho, peso e escrevessem todos com a mão direita (destros).

    A coluna vertebral é a parte dorsal e mediana do esqueleto axial e funciona como um pivô para suportar e ajudar na mobilidade da cabeça auxiliando aos membros como base estrutural para outras articulações e está construída com o objetivo de proporcionar resistência e flexibilidade. Suas principais funções são suportar o peso do nosso corpo e proteger a medula espinhal.

    Segundo Gonçalves (2006, p. 28): “A coluna vertebral consiste em 24 vértebras, apresentando quatro curvaturas originadas da nossa evolução de quadrúpede à bípede”. Nessa coluna existem 33 vértebras, que são ossos irregulares localizados nas diferentes regiões da coluna.

    Os alunos, em sua grande maioria, utilizam de mochilas para levarem os seus materiais escolares para a escola e muitas vezes a utilizam de forma errônea: com peso excessivo ou de maneira incorreta, utilizando apenas uma alça para carregá-la. Isso muitas vezes pode, junto com a postura incorreta de sentar, acarretar problemas sérios a coluna vertebral e originando dores ou desvios que poderão vir a prejudicá-los.

    Esses problemas podem ser notados através de uma análise postural que pode ser realizada em qualquer pessoa que necessite de uma e ela diz respeito a recursos que deveriam ser tomados e, não foram, que promoveriam adequações em todas as posturas, deitado, sentado ou em pé. Mas no nosso caso será somente realizada a avaliação sentada e com mochila.

    Ao ficar muito tempo sentado o aluno estará possibilitando uma carga muito grande na região lombar, glútea e das coxas ocasionando assim pouca circulação e podendo gerar lesões significativas na região cervical e lombar. “A postura sentada ocasiona um mecanismo de diminuição nutricional para os discos intervertebrais provocando alterações degenerativas, sendo considerada a mais danosa para a coluna vertebral” (CARNEIRO, 2008, p. 31). Para que esse tipo de dano seja minimizado, basta os alunos levantarem-se a cada troca de professores e realizarem um alongamento de membros inferiores, e se possível, de membros superiores também.

    A mochila é um material muito usado por estudantes, principalmente pelos do ensino fundamental. Pois a mesma auxilia no deslocamento dos materiais escolares deixando as mãos livres e permitindo sensação de liberdade nas mãos.

    O transporte de mochila por escolares auxilia, mas também atrapalha e subsidia nas deformações que vão se formando na coluna devido ao uso da mesma com peso superior ao permitido ou pelo seu uso incorreto. As crianças e adolescente que fazem o uso de mochilas com peso superior ao de 10% do seu peso corporal ou a utilizam apenas por uma alça correm grande risco de acometerem escolioses, dores nas costas e/ou outros desvios posturais. Pois “a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o peso das mochilas e pastas não deve ultrapassar 5% do peso de crianças da pré-escola e 10% do peso de alunos do ensino fundamental” (MARTINEZ et al.; WHO, apud SOUZA).

1.     Procedimentos metodológicos

    Esta pesquisa é do tipo bibliográfico e de observação de campo. Quanto à pesquisa de observação de campo Lakatos (2008, p.188) diz que “consiste na observação de fatos e fenômenos, na coleta de dados e a análise dos mesmos. E a mesma esta dividida em três partes: pesquisa bibliográfica, coleta de dados e análise destes dados”. A mesma foi realizada em uma escola estadual no município de Manaus/AM no período de 18 de fevereiro a 29 de março de 2013, esta pesquisa foi baseada através da observação quanto à postura sentada, a permanência desta postura após alguns minutos e o uso de mochilas escolares. A mesma foi realizada com 201 estudantes do 6º, 7º (1 e 2) e 8º (1, 2, 3) anos do ensino fundamental com a faixa etária entre 10 a 16 anos sendo utilizado um questionário (adaptado de REBOLHO, 2005) e uma balança digital de marca Premier, com capacidade máxima de 150 Kg e com graduação de 0,1 Kg.

    A pesquisa foi realizada em três partes:

  • Observação dos alunos pelos pesquisadores – que teve o objetivo de observar os alunos para que quando os mesmos respondessem o questionário não viessem a colocar respostas que faltassem com a verdade;

  • Pesagem dos alunos e das mochilas para verificar se os mesmos estavam carregando-as com percentil superior ao de 10% do peso deles;

  • Resposta do questionário pelos alunos envolvidos na pesquisa para conhecer as posições mais utilizadas por eles enquanto sentados em suas cadeiras e com isso identificar posições que estejam ocasionando possíveis dores ou danos à suas colunas.

2.     Apresentação e discussão dos dados

    Agora iremos apresentar os resultados da pesquisa, dando ênfase num primeiro momento ao uso de mochila pelos estudantes pesquisados antes da pesagem e depois da mesma, bem como a posição da mochila utilizada por eles. Posteriormente, vamos analisar a posição e permanência sentada desses estudantes através de um questionário.

    A pesquisa foi realizada com 201 alunos do ensino fundamental, mas o número de alunos usuários de mochila foi menor, correspondendo ao número de 167 alunos como mostra o quadro a seguir.

Quadro 1. Alunos que usam mochilas

Total de alunos

Total com mochilas

201

167

    Já o número de alunos que estavam utilizando a mochila com demasiado peso foi correspondente a 94. E esse peso excessivo estava entre 12 a 18% do peso corporal.

Quadro 2. Alunos que usam mochilas com excesso de peso

Total com mochilas

Total com mochilas com excesso de peso

167

94

 

Quadro 3. Maneira que carregam a mochila

Maneira

Qtd. Alunos

Nas costas com as duas alças no ombro

65

Nas costas com uma alça no ombro

36

Segurando na mão

00

Na frente com as duas alças no ombro

18

Na frente com uma alça no ombro

37

Não sei

11

    Como podemos observar o uso da mochila nas costas é predominantemente mais usado pelos alunos e nos mostra que nenhum aluno da pesquisa respondeu levar a mochila segurando nas mãos.

    O quadro a seguir mostra os resultados obtidos através da aplicação do questionário. E o mesmo nos mostra que muitos alunos, devido ao excesso de peso de mochila ou posicionamento incorreto na cadeira estão sentindo algum tipo de dor nas costas.

Quadro 4. Dores nas costas

Total de alunos

Com dores nas costas

201

164

    Já esses mesmos alunos e os demais responderam assinalando os locais exatos onde eles sentem mais dores nas costas, e com isso podemos observar no quadro 4 que a região alta e baixa das costas são os locais onde se mais eles sentem dores. Salientamos que os alunos poderiam assinalar um ou mais local onde provavelmente estivessem sentindo dor.

Quadro 5. Local das dores

Região da dor

Qtd. Alunos

Nuca

68

Ombro direito

39

Ombro esquerdo

48

Alto das costas

167

Baixo das costas

109

Glúteos

21

    Sabendo dessas dores nas costas pedimos que respondessem como era a situação em que eles estavam e que mais sentiam dores, e a resposta foi como mostrada no quadro a seguir.

Quadro 6. Situação que sente dores nas costas

Situação

Sempre

Às vezes

Nunca

Em pé

19

57

125

Sentado

98

79

24

Deitado

61

49

91

Andando

11

31

159

Em aulas de EDF

04

51

146

Fazendo atividade esportiva

01

09

191

Transportando mochila

107

24

36

    Logo após pedimos que respondessem se sentiam dores nas costas ao permanecerem por um tempo prolongado sentados em suas carteiras. E os dados obtidos nos mostram que a maioria dos alunos sente cansaço se ficarem por um tempo prolongado sentados em suas cadeiras. Cabe lembrar que alguns alunos não conseguem permanecer por alguns minutos sentados em suas cadeiras, ou levantam ou fazem-na de cama, deitando sobre ela e prejudicando ainda mais a sua postura.

Quadro 7. Cansado ao sentar por tempo prolongado

Total de alunos

Sim

Não

201

126

75

    Já os quadros 8 e 9 nos mostram que os alunos não ficam posicionados, sentados de forma correta em suas cadeiras. Ocasionando algum tipo de desconforto e dores nas costas.

Quadro 8. Maneira que as costas ficam ao sentar

Maneira

Qtd. Alunos

Reta encostada na cadeira

19

Curvada encostada na cadeira

49

Reta longe da cadeira

31

Curvada longe da cadeira

86

Não sei

16

 

Quadro 9. Maneira que os pés ficam ao sentar

Maneira

Qtd. Alunos

Apoiados no chão

129

Alcançam o chão com as pontas

24

Alcançam o chão comigo na ponta da cadeira

45

Pendurados

03

Não sei

00

3.     Conclusão

    Concluímos que como o escopo da nossa pesquisa foi o de verificar as possíveis dores oriundas da má postura e peso excessivo da mochila de escolares do ensino fundamental, objetivamos futuramente com esses dados realizar uma nova pesquisa a fim de analisar profundamente essas dores, mas no momento se faz necessário uma intervenção educativa imediata junto aos alunos, visto que os mesmos já estão acometidos de algumas dores musculares nas costas, por motivo de má postura ou peso excessivo do uso de mochila escolar e com isso minimizar os efeitos nocivos à coluna vertebral, pois devemos estar atentos à saúde dos alunos principalmente quando ainda estão em desenvolvimento corporal.

Referências

  • ALMEIDA, Tiago Blasius. Análise do peso corporal em relação ao peso da mochila escolar em uma escola privada no município de Tubarão/SC. Trabalho de conclusão de curso (Bacharel em Fisioterapia) – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2006. Disponível em: http://www.fisio-tb.unisul.br/Tccs/TiagoBlasius/tcc.pdf, acesso em 24/03/2013;

  • CARNEIRO, Ana Lúcia Basílio; Furtado, Silvania. Anatomia Geral – aparelho locomotor. Manaus: UEA Edições/Editora Valer, 2008;

  • FONSECA, Luiz Almir Menezes. Metodologia científica ao alcance de todos. 3ª edição. Manaus: Editora Valer, 2008;

  • GONÇALVES, Alexandre da Silva. A Ginástica Laboral para Trabalhadores do Setor de Abate de Bovinos em uma Empresa Frigorífica de Várzea Grande–MT./ Várzea Grande: Univag, 2006, 47 p. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Várzea Grande, para obtenção do título de Licenciado em Educação Física);

  • LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6ª edição – 6ª reimpressão – São Paulo: Atlas, 2008;

  • REBOLHO, Maria Christina Tenório. Efeitos da educação postural nas mudanças de hábitos escolares da 1ª a 4ª séries do ensino fundamental. Dissertação de mestrado, São Paulo, 2005 – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2011/02/educacao-postural-na-escola.pdf, acesso em 08/01/2013;

  • SILVA, Márcio Soares da; Corrêa, Ronnie José Fonseca. Biomecânica e cinesiologia básica aplicada à Educação Física. – Manaus/AM: UEA edições, 2009;

  • SILVA, Leilane de Aguiar; Análise da Relação entre a massa corpórea e a massa das mochilas em escolares do 4º e 5º ano do Ensino Básico em Santarém-PA. Disponível em: http://www.portalbiocursos.com.br/artigos/ortopedia/99.pdf, acesso em 24/03/2013;

  • SOUZA, Carla Ferreira de; SILVA, Karla Amorim da; Chiapeta, Andrês. O uso de mochilas e os possíveis casos de dor em estudantes de uma escola do município de Cataguases, MG. http://www.efdeportes.com/efd169/o-uso-de-mochilas-e-dor-em-estudantes.htm

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