A percepção dos discentes sobre as aulas de Educação Física propostas pelo currículo oficial do Estado de São Paulo La percepción de los alumnos sobre las clases de Educación Física propuestas por le currículo oficial del Estado de Sao Paulo |
|||
*Graduanda do curso de Licenciatura em Educação Física da UNIESP – Campus de Tupã, SP **Doutorando em Educação pela UNESP, campus Presidente Prudente Mestre em Educação Física pela UNIMEP e professor no curso de Educação Física da UNIESP – Campus Tupã, SP |
Andrea Carla Albano* Robson Alex Ferreira** (Brasil) |
|
|
Resumo A tarefa da educação física escolar é garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuindo para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente. A construção de um currículo único para um estado, como o proposto pelo estado de São Paulo, se fundamenta na busca em melhorar o ensino, na tentativa de garantir elementos para que os conteúdos sejam trabalhados com maior segurança e eficiência, sendo então, conservada a devida autonomia ao professor. No entanto, há criticas que sustentam que os autores do currículo parecem não reconheceram as particularidades culturais de cada escola e se quer dialogaram com professores sobre formas de pensar as praticas no âmbito do currículo. O objetivo desta pesquisa foi analisar a percepção de discentes do ensino fundamental sobre suas aulas de educação física a partir da implantação do currículo oficial por meio da aplicação de um questionário aberto. Os resultados mostram que as aulas de educação física que se encontram no currículo em sua grande maioria vêm sendo trabalhado nas escolas, seja na maneira apontada por docentes e discentes, como teóricas, seja na combinação destas com as aulas de cunho ‘prático’, vivencias. No entanto, percebe-se que o currículo deve funcionar como um subsídio e não uma norma, uma regra imposta, para que os professores possam desenvolver suas aulas de maneira a atender aos anseios e necessidades de ambos, discentes e docentes elencadas com o diagnóstico inicial. Unitermos: Educação Física. Currículo. Discentes.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 183, Agosto de 2013. http://www.efdeportes.com |
1 / 1
Introdução
O governo do estado de São Paulo por meio de sua secretaria estadual da educação em 2008 desenvolveu uma proposta curricular adjetivada por seus criadores como inovadora. O objetivo da proposta é atender as necessidades de organização das escolas da rede estadual nos níveis de ensino fundamental (ciclo II) e ensino médio, reformulando a prática do ensino em todo o estado e padronizando-a, por meio de uma ação integrada e articulada, assim, são gerados subsídios para que os profissionais pertencentes à rede educacional do estado se aprimorem cada vez mais.
A construção de um currículo único para um estado, como o proposto pelo estado de São Paulo, se fundamenta na busca em melhorar o ensino, na tentativa de garantir elementos para que os conteúdos sejam trabalhados com maior segurança e eficiência, sendo então, conservada a devida autonomia ao professor. Portanto, fica claro que essa busca não é neutra e, de certa forma, expressa as representações e concepções de ensino do estado que se manifestam e materializam nos cadernos que contém os conteúdos da proposta curricular. “Uma proposta de conteúdos únicos para o currículo trás grandes ganhos para a educação pública, contudo só passará a ser uma realidade com a efetiva participação dos professores, na sua construção e prática” (PORLAN e RIVERO, 1998, p. 158).
No entanto, para Lopes (2013, p.04) como os temas ou conteúdos do currículo são selecionados pela Secretaria, “os autores do documento parecem não reconheceram as particularidades culturais de cada escola e se quer dialogaram com professores sobre formas de pensar as praticas no âmbito do currículo”. E continua o autor, “o currículo da Secretaria em nossa ótica entende a dinâmica da escola em um prisma uniformizado, uma vez que sua prescrição é igual para todo o Estado”.
O currículo oficial do estado afirma que a Educação Física trata da cultura relacionada aos jogos, a ginástica, as danças e atividades rítmicas, as lutas e os esportes que expressam as diversas formas dos aspectos corporais. Ao se pensar na pluralidade dos modos de viver contemporâneos essa variabilidade dos fenômenos humanos ligados ao corpo e ao movimentar-se é ainda mais importante (CURRICULO OFICIAL, 2009).
Lopes (2013, p.11) ao analisar a disciplina educação física no contexto do currículo afirma que “um sujeito crítico está longe da formação idealizada pelo currículo da Secretaria, uma vez que as bases teóricas do documento passam por teorias não críticas, apenas reprodutoras”. O autor é critico em sua análise e conclui sua maneira de pensar afirmando que “o sujeito que participa das aulas de educação física apenas reproduz, pois conhece e analisa as práticas em um contexto fechado sem a possibilidade de contestação sobre o que está sendo realizado nas aulas”.
A tarefa da educação física escolar é garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuindo para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente. A educação física pode favorecer a construção de uma atitude digna e de respeito próprio em relação aos alunos especiais quando a convivência com eles, possibilitando a construção de atitudes de solidariedade, de respeito, de aceitação, sem preconceitos.
Diante disto, objetivou-se com esta pesquisa analisar a percepção de discentes do ensino fundamental sobre suas aulas de educação física a partir da implantação do currículo oficial do estado.
Metodologia
O estudo caracteriza-se como estudo de caso, pois segundo Yin (2001, p. 32): “o estudo de caso é uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, sendo que os limites entre o fenômeno e os contextos não estão claramente definidos”.
Sujeitos da pesquisa
Participaram deste estudo 205 discentes de uma unidade escolar do ensino fundamental da rede estadual, em um município do interior paulista. Destes, 112 do sexo feminino e 93 do sexo feminino. Os sujeitos da pesquisa encontravam-se na faixa etária de 12 a 15 anos quando da coleta de dados.
Coleta de dados
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário contendo três perguntas abertas. O questionário, segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.”.
Análise dos dados
Após a coleta dos dados foi realizada a análise de conteúdo, segundo a proposta de Bardin (2002), a qual pode envolver: a) a identificação dos temas e sua posterior divisão em unidades de respostas; b) o recorte dos textos de acordo com os conteúdos apresentados; e c) o agrupamento e a categorização das unidades de respostas, que representam o conjunto de idéias comuns ao grupo pesquisado.
Resultados e discussão
O primeiro questionamento feito aos discentes do ensino fundamental foi centrado em investigar a importância das aulas de educação física na escola para os mesmos. Estes resultados aparecem na tabela abaixo.
Tabela 1. Resultados encontrados quando indagados sobre a importância das aulas de educação física
Os resultados apontam que para 54% (111) dos discentes as aulas de educação são importantes porque faz bem a saúde. Para 23% (47) dos discentes a importância das aulas está vinculada a aprender esportes e jogos. O lazer e a diversão são apontados por 13% (26) dos discentes, enquanto que para 5% destes o somatório de fazer bem à saúde e praticar esportes são as justificativas elencadas. Outros 5% não quiseram responder à questão.
As respostas encontradas nos encaminham para percepções que indicam que estes discentes associam educação física à saúde, a prática de esportes e jogos, ao lazer e a diversão, possivelmente porque seus professores inculcam estes saberes em suas aulas e/ou fazem desta, um tempo de entretenimento onde também se constrói saberes.
O segundo questionamento feito abordou a percepção que possuíam estes discentes sobre uma aula ideal de educação física.
Tabela 2. Resultados encontrados quando indagados sobre a percepção que possuíam sobre uma aula ideal de educação física
As respostas com o segundo questionamento indicam que para 62% (127) dos discentes a aula ideal de educação física é aquela onde se prática algum tipo de esporte, dança ou jogos. Outros 6,25% (13) indicam que a aula ideal é aquela aonde se vai à quadra para fazê-la, percentual que também corresponde aos discentes que indicaram ser uma aula ideal de educação física aquela que possuí laços de diversão, também aquela em que a aula teórica é vivenciada na prática e ainda, aquela aula que dispensa o conteúdo teórico em sala de aula para vivenciar aulas práticas. A educação física onde todos participam foi apontada por 6% (12) como a aula ideal. Não responderam a esta questão 6,50% (14) dos discentes.
As respostas encontradas indicam que na ótica dos discentes existe uma aula ideal de educação física, para isto apontam características que devem possuir tais aulas. Nota-se que há um desejo pelas aulas práticas que acontecem na quadra, com sugestão evidenciada por uma porcentagem que deseja haver uma relação do conteúdo trabalhado em sala de aula com aquele vivenciado na prática. Há indícios de que alguns professores aplicam o conteúdo do currículo em sala de aula, conteúdo este classificado como teórico e que as vivências na quadra se resumem a jogar, predominantemente o futsal para os meninos e o voleibol para as meninas. Algumas alegações para isto são apontadas pelos docentes durante as observações do estágio curricular e no diálogo com os mesmos. Alegações apontadas por alguns que incidem na formação inicial, que não englobou tamanha diversidade de conteúdos em seus currículos e na formação continuada, que não acontece a contento dos docentes, pois se resumem a orientações com a assistente técnico pedagógica da Diretoria de Ensino e a raros cursos oferecidos aos sábados, dia em que precisam planejar suas aulas, conviver com a família e assumir as tarefas domésticas que não puderam acontecer antes, devido à sobrecarga de trabalho nas escolas.
A terceira questão indagou os discentes para que afirmassem positiva ou negativamente, se as aulas de educação física de caráter ‘prático’ estavam de acordo com o currículo, pois o material referente a cada bimestre é entregue aos alunos, corriqueiramente, mas nem sempre, anteriormente ao inicio de cada bimestre.
Tabela 3. Resultados encontrados sobre as aulas de educação física de caráter prático estão ou não de acordo com o currículo
As respostas encontradas nos mostram que 59,5% dos discentes o currículo de educação física é trabalhado nas aulas práticas. No entanto, 23,5 afirmaram negativamente sobre haver esta relação. Outros 9% afirmaram ‘às vezes’ se trabalha o conteúdo do currículo nas aulas práticas e 8% não quiseram responder a este questionamento.
Percebe-se com as respostas obtidas que mesmo depois de cinco anos da implantação do currículo oficial, este ainda não é trabalhado pelos professores como deseja a secretaria estadual de educação por meio de seus estudiosos. Isto possivelmente se dá pela maneira como foi implantada a proposta curricular. Os professores efetivos de educação física desta escola apontam que em momento algum foram ouvidos sobre suas necessidades e anseios, e que o currículo foi jogado a eles sem nenhuma capacitação prévia que os nortea-se por quais caminhos seguir. Apontam ainda, que percebem o currículo como um campo rico para a educação física, mas que ainda, enfrentam o desconhecimento adequado sobre o conteúdo a ser explorado; a resistência dos alunos em querer sempre ir à quadra para fazer algo diferente ao proposto e a autonomia que lhes foi negada de decidir em conjunto com seus alunos os conteúdos que seriam trabalhados naquele espaço de tempo, atendendo assim aos interesses de ambos.
Conclusões
Os dados encontrados com esta pesquisa nos indicam que as aulas de educação física que se encontram no currículo oficial do estado em sua grande maioria vêm sendo trabalhado nas escolas, seja na maneira apontada por docentes e discentes, como teóricas, seja na combinação destas com as aulas de cunho ‘prático’, vivencias.
É fundamental que políticas voltadas para formação dos professores de educação física do estado de São Paulo aconteçam, preferencialmente em horário de trabalho, como acontece em alguns poucos estados e, não no período adverso ao seu de trabalho (isto quando o professor não trabalha os três períodos) ou aos fins de semana, como vem ocorrendo em algumas diretorias do estado de São Paulo. É essencial que os programas de governo percebam a profissão professor como essencial a todos os seres humanos e visualizem o professor como ser humano que possuí além da vida profissional a vida pessoal, portanto, não o sobrecarregando-o de tarefas que ocupem seus poucos e raros momentos fora do ambiente escolar.
O currículo de educação física é muito rico em seus conteúdos, no entanto, a autonomia dos professores não pode se encerrar na aplicação deste como uma ferramenta intocável. O currículo deve funcionar como um subsídio para que os professores possam desenvolver de maneira a atender aos seus e aos anseios dos alunos necessidades elencadas com o diagnóstico inicial.
No que se refere à cultura criada no ambiente escolar de que as aulas de educação física se resumem a jogar bola, esta deve ser combatida essencialmente no inicio dos anos escolares, para que não haja um choque de realidades distintas e o professor dos anos finais não encontrem uma resistência árdua quanto à construção de conhecimentos que ultrapassem o apenas jogar bola. Assim, os professores do ciclo I (1º ao 5º ano) são fundamentais na construção desta nova cultura escolar no que se refere às aulas de educação física, cabendo aos demais professores a manutenção e o desenvolvimento desta prática nos anos seguintes.
Referências bibliográficas
BARDIN, L.. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa: Edições 70, 2006.
GIL, M.; GARCEZ, L. Educação Especial no Brasil: fatos, desafios e realizações. Disponível: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/diario/Artigo-revisao-Marta e%20Liliane.pdf. Acesso em 11 de julho de 2013.
LOPES, F. C. O. A Disciplina de Educação Física no Contexto da Reforma Curricular da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.gpef.fe.usp.br/semef2012/mesa_franz.pdf. Acesso em 01.07.2013>
NEIRA, M. A proposta curricular do Estado de São Paulo na perspectiva dos saberes docentes. In: XI Seminário de Educação Física Escolar: Saberes Docentes. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v.25, p.23-27, nov. 2011.
NEIRA, M.; NUNES, Mario L. F. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Phorte, 2009.
PORLÁN, R.; RIVERO, A. El conocimiento de los profesores: uma proposta en el área de ciencias. Sevilha: Diáda, 1998.
SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Coord. Maria Inês Fini. São Paulo: SEE, 2009.
YIN, R. K. Estudo de caso – planejamento e métodos. (2Ed.). Porto Alegre: Bookman, 2001.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 183 | Buenos Aires,
Agosto de 2013 |