Técnicas alternativas para o atendimento em odontopediatria: uma revisão aplicada à clínica Técnicas alternativas para la atención en odontopediatría: una revisión aplicada a la clínica |
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*Acadêmicos do 9º período do Curso de Odontologia Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. **Professoras da Clínica Infantil II. Curso de Odontologia Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes (Brasil) |
Wallace de Freitas Oliveira* Cibelly Neves Fonseca* Fábio Fernandes Borém Bruzinga* Alessandra Fagundes de Souza* Lorenna Fonseca Braga de Oliveira** Carolina de Castro Oliveira** |
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Resumo Objetivou-se, por meio de uma revisão da literatura, abordar as técnicas alternativas para o atendimento odontopediátrico, sobre o enfoque de rever e discutir diferentes condutas aplicáveis na clínica, criando bases para um atendimento seguro e efetivo. Lançou-se mão de referencial teórico catalogado no banco de dados do Pubmed/Medline e SciELO e colhidos por meio do portal da CAPES. Foram utilizados os descritores odontopediatria, comportamento infantil e condicionamento (psicologia), sendo selecionados 21 artigos datados de 2002 a 2012 em periódicos de renome na área específica. As várias técnicas alternativas para o tratamento odontológico em odontopediatria constituem numa excelente forma de criar um ambiente mais propício à realização do tratamento e favorecer uma relação saudável entre criança/profissional/responsável. Sabe-se que o paciente pediátrico consiste num desafio para o profissional da odontologia, porém, a simples faixa etária não pode significar um empecilho para que o atendimento ocorra, tornando-se necessário que os profissionais se atualizem e se capacitem constantemente, para que as consultas odontológicas sempre fluam corretamente e que todos os atores envolvidos (criança/responsável/profissional) sintam-se satisfeitos ao final do tratamento. Unitermos: Odontopediatria. Comportamento infantil. Condicionamento (psicologia).
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Cirurgiões-dentistas que atendem crianças, além de serem habilitados no uso dos procedimentos técnicos, devem estar preparados para lidar com o seu comportamento. Técnicas de controle de comportamento são a principal arma de trabalho do Odontopediatra. São elas que o diferenciam do clínico geral, pois têm a capacidade de prover atendimento a crianças muito novas, portadoras de deficiência, amedrontadas, rebeldes ou com algum distúrbio comportamental que dificulte o seu tratamento (BARBOSA e TOLEDO, 2003; BRANDENBURG e HAYDU, 2009).
As situações mais difíceis enfrentadas pelos odontopediatras são aquelas em que as crianças, principalmente as mais novas, não colaboram com a realização do tratamento, chorando, gritando, movimentando a cabeça e o corpo, e fazendo tentativas de sair da cadeira. Esses comportamentos de não colaboração são, geralmente, atribuídos ao medo, a traumas, a condições fisiológicas ou a outros fatores inerentes ao indivíduo (ELEUTÉRIO, OLIVEIRA, JÚNIOR, 2011; BETTEGA et al., 2012).
O uso de contenção física tem sido aceito e bastante tolerado em crianças, como justificativa para o atendimento de pacientes não-cooperadores. Por contenção física devemos entender desde o uso de um abridor de boca até a restrição de movimentos, seja por uso de macas e equipamentos especiais, a chamada contenção passiva, ou pela apreensão dos braços e pernas do paciente, a contenção ativa (BARBOSA e TOLEDO, 2003).
As técnicas de manejo do comportamento infantil podem ser divididas em farmacológicas (sedação consciente e inconsciente) e não farmacológicas, as quais podem ser classificadas ainda como positivas ou informativas -falar-mostrar-fazer, reforço positivo e modelagem - e como negativas ou psicológicas aversivas - controle da voz, contenção física e mão sobre a boca (NEGANO, 2010).
Este trabalho tem como objetivo oferecer ao profissional bases teóricas de compreensão do uso de algumas técnicas alternativas para o atendimento em Odontopediatria. Este trabalho justifica-se pela necessidade de se oferecer um tratamento odontológico de qualidade, sem que ele seja forçado ou cause danos físicos e emocionais à criança. Fundamenta-se, também, na necessidade de capacitação contínua dos profissionais que atuam em Odontopediatria.
Metodologia
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo realizado através de referencial teórico catalogado no banco de dados do Pubmed/Medline e SciELO e colhidos por meio do portal da CAPES. Foram utilizados os descritores odontopediatria, comportamento infantil e condicionamento (psicologia), sendo selecionados artigos datados de 2002 a 2012 em periódicos de renome na área específica da Odontopediatria, Odontologia e Psicologia. Do universo da pesquisa, foram selecionados apenas estudos com enfoque no manejo e controle do comportamento infantil frente ao atendimento odontológico e cujas práticas fossem aplicáveis na clínica.
Resultados e discussão
Com base nos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 21 artigos para compor o referencial teórico, sendo 19 pertencentes a periódicos científicos, 1 tese de doutorado e 1 publicação em fórum e seminários.
O uso do isolamento absoluto em pacientes odontopediátricos oferece inúmeros benefícios para a criança, o profissional e a qualidade do trabalho executado. Zardetto e Corrêa (2004) descreveram um método simples de condicionamento psicológico para o uso do isolamento absoluto em criança de pouca idade, utilizando-se um brinquedo e a participação ativa da criança. Primeiro, empregou-se a técnica do falar-mostrar-fazer e, em seguida, estimulou-se a criança a manipular alguns dos elementos do isolamento absoluto, como o grampo, o lençol de borracha e o arco. Observou-se que a criança participou ativamente do seu próprio condicionamento psicológico de uma maneira divertida e agradável, e aceitou tranquilamente o uso do isolamento absoluto.
Santiago, Duarte e Macedo (2009) avaliaram a aplicabilidade e efetividade da Cromoterapia (ação e função terapêutica da cor, ou seja, é o uso da luz para curar mental, psicológica e espiritualmente) no controle da ansiedade no atendimento odontológico infantil. A amostra foi constituída por 24 crianças, de ambos os sexos, de cinco e seis anos de idade. A ansiedade foi mensurada mediante aplicação do Venham Picture Test (VPT). Posteriormente, acionou-se o dispositivo cromoterápico, adaptado ao refletor e composto por luz azul, seguido do procedimento clínico similar para toda a amostra. Finalizando o atendimento, foi aplicado novamente o VPT. Os dados obtidos, após análise percentual, demonstraram resultado positivo em 50% dos pacientes infantis; 37,5% da população não evidenciaram melhora significativa e em 12,5% houve insucesso.
Aguiar, Santos e Silva (2010) utilizaram a música e seus elementos sonoros junto à pacientes matriculados e assistidos no CAOE (Centro de Assistência Odontológica à Pessoa com Deficiência) e seus responsáveis, a fim de proporcionar-lhes controle comportamental, inclusão e ambientação ao espaço físico. A utilização da música e/ou de seus elementos (instrumentos, som, ritmo, melodia e harmonia), destina-se a promover comunicação, a organização de normas e outros objetivos terapêuticos, favorecendo assim, o condicionamento comportamental do paciente.
Eleutério, Oliveira e Júnior (2011) avaliaram a Homeopatia no controle do medo e ansiedade ao tratamento odontológico infantil. Segundo nos autores, a homeopatia na odontopediatria pode ser aplicada no pré-operatório, no caso do medo e ansiedade, minimizando a dor que muitas vezes pode advir de procedimentos traumáticos ou já experimentados pela criança.
Com relação ao uso de ansiolíticos, a chamada técnica de manejo farmacológica, Possobon et al. (2004) avaliaram os efeitos do Diazepam sobre os comportamentos de crianças com história de não colaboração com o tratamento odontológico. Foi administrado placebo ou droga (0,3mg/kg peso) a seis crianças e um total de 54 sessões foram gravadas em vídeo. A análise do registro comportamental dos participantes (choro, movimentos de corpo e/ou cabeça, fuga e esquiva) e das estratégias de manejo (distração, explicação e reforço positivo) sistematicamente adotadas não apontou diferença estatística significativa entre sessões placebo e Diazepam pelo teste de Wilcoxon pareado (p>0,05).
Bijella et al. (2003) realizaram um estudo sobre a utilização da técnica de mão-sobre-a-boca (MSB) em Odontopediatria. A partir do momento em que o profissional diagnostica a necessidade e viabilidade da aplicação da técnica, ele deve colocar sua mão firmemente sobre a boca da criança, com o cuidado de não restringir sua respiração e dizer a ela, num tom baixo, suave e próximo ao seu ouvido: “Se você quer que eu tire a minha mão, você deve parar de gritar e me escutar. Eu quero somente falar com você e olhar seus dentes”. Depois de poucos segundos isto é repetido, seguido de “Você está pronto para que eu tire a minha mão?”. Quase que invariavelmente a criança faz movimento afirmativo com a cabeça e a mão é removida. Se a criança persiste em continuar com o comportamento inadequado, o procedimento deve ser repetido. Os autores concluíram que a técnica MSB é um procedimento de restrição física que pode ser considerado uma alternativa para o condicionamento da criança com birra; este procedimento é contraindicado em crianças menores de 3 anos de idade ou com algum tipo de deficiência mental que impossibilite sua comunicação com o profissional.
Fúccio et al. (2003) realizaram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a opinião dos pais em relação às técnicas de manejo do comportamento infantil utilizadas em Odontopediatria, foi realizada uma pesquisa com 49 pais de pacientes da Clínica de Odontopediatria da FO-UFMG. As técnicas não restritivas (falar-mostrar-fazer, controle da voz, modelo e reforço positivo) foram aceitas, em média, por 81% dos pais; 15% às vezes autorizariam-nas, e 4%, nunca. Já as restritivas (contenção ativa, contenção passiva e mão-sobre-a-boca) foram sempre aceitas por 29% dos pais, enquanto 33% às vezes as aceitavam, e 38%, nunca. As farmacológicas (anestesia geral e sedação) foram sempre aceitas por 18% dos participantes; às vezes aceitas por 40%, e nunca, por 42%.
É importante salientar que a criança vai ao consultório levada pelos pais, quando estes entendem que o atendimento odontológico é necessário, assim, normalmente, a criança não opina sobre a questão. Observa-se ainda, que o choro é uma reação normal e esperada nas crianças com menos de três anos de idade, a quem falta compreensão da situação odontológica. Já as crianças maiores que apresentam este tipo de reação, têm necessidade de adequação do comportamento (NEGANO, 2010).
Considerações finais
Podemos concluir que as técnicas alternativas para o tratamento odontológico em odontopediatria constituem numa excelente forma de criar um ambiente mais propício à realização do tratamento. Sabe-se que o paciente pediátrico consiste num desafio para o profissional da odontologia, porém, a simples faixa etária não pode significar um empecilho para que o atendimento ocorra.
Referências
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