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Qualidade de vida entre bombeiros militares: estudo epidemiológico

Calidad de vida en bomberos militares: un estudio epidemiológico

Quality of life among military firemen: an epidemiological study

 

*Associação Educativa do Brasil, SOEBRAS. Montes Claros, MG

**Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes. Mestrandos do Programa

de Pós Graduação em Ciências da Saúde, PPGCS. Montes Claros, MG

***Faculdades de Ciências Gerenciais e Empreendedorismo, FACIGE. Montes Claros, MG

(Brasil)

Idael Emiliano Gomes Silva*

Bárbara Catherine Soares Silva*

Bianca Pereira de Jesus*

Luis Henrique Ferreira dos Reis*

Priscylla Ruany Mendes Pestana*

Talyta Emanuelle Avila Silva*

Danilo Lima Carreiro** ***

Laura Tatiany Mineiro Coutinho* **

Wagner Luiz Mineiro Coutinho* **

coutinhowlm@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi avaliar o nível de qualidade de vida de bombeiros militares. Caracteriza-se como pesquisa epidemiológica descritiva com universo constituído por militares de um corpo de bombeiros de Minas Gerais. Utilizou-se para coleta de dados: Mini Exame Mental, WHOQOL-Bref, Critério de Classificação Econômica Brasil -validados para língua e cultura nacional- e Questionário Sociodemográfico e de Dados de Saúde. Os dados foram coletados por acadêmicos devidamente treinados e calibrados. A tabulação, análise e interpretação dos dados deu-se através do programa Microsoft Office Excel 2010® e do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) – 17 por estatística descritiva. Identificou-se que a maioria absoluta dos sujeitos percebe o nível de qualidade de vida categorizado como “médio” no Whoqol geral e nos domínios psicológico e meio ambiente. Concluiu-se que a percepção do nível de qualidade de vida da maioria absoluta dos sujeitos permite categorizá-los com “nível médio” de qualidade de vida.

          Unitermos: Qualidade de vida. Bombeiros. Saúde do trabalhador.

 

Abstract

          The aim of the study was to evaluate the quality of life of military firefighters. It is characterized as descriptive epidemiological research and the universe consists of a military fire department of Minas Gerais. Was used for data collection: Mini Mental Exam, WHOQOL-Bref, Brazil Economic Classification Criterium -validated for language and national culture- and Sociodemographic Questionnaire and Health Data were collected by undergraduates trained and calibrated. The tabulation, analysis and interpretation of the data was made through the program Microsoft ® Office Excel 2010 and Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) - 17 using descriptive statistics. It was identified that the majority of subjects perceive the quality of life categorized as "medium" in Whoqol general and in the psychological and environment. It was concluded that the perceived level of quality of life of an absolute majority of subjects allows categorize them with "medium level" quality of life.

          Keywords: Quality of life. Firemen. Occupational health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) compreende qualidade de vida (QV) como o maior nível possível de manutenção da saúde considerando a integralidade biopsicosocioespiritual do ser humano. Já para a Organização das Nações Unidas (ONU) a QV se relaciona aos níveis de escolaridade e de expectativa de vida dos sujeitos de cada nação.1 Para o senso comum, o conceito de QV permeia a necessidade do sujeito em “viver bem” e ter “bem-estar”.2

    A qualidade de vida relacionada ao trabalho (QVRT) parte do princípio de que a saúde ocupacional é uma estratégia propiciadora da própria saúde dos trabalhadores, bem como da motivação, da satisfação laboral, da produtividade e da qualidade dos serviços e produtos.3 Apesar de se distinguir do conceito de qualidade de vida geral, ambas se influenciam mutuamente haja vista que a insatisfação laboral pode desencadear desajustes nas relações sociais fora do trabalho, inclusive na família, bem como, insatisfações fora do trabalho podem desarmonizar a atividade laboral.4 Da mesma forma, condições de trabalho que propiciem aspectos de bem-estar, de segurança, de capacitação e que garantam a integridade da saúde podem impactar no nível de qualidade de vida do sujeito.5

    O contexto do exercício profissional do militar do Corpo de Bombeiros é bastante diversificado e compreende o encargo de preservar a vida, o meio ambiente, o patrimônio e a ordem pública; atuar em prevenção e extinção de incêndios, em proteção e salvamento e em emergências pré-hospitalares de vítimas de afogamentos, inundações, desabamentos, acidentes em geral, catástrofes e calamidades públicas.6-8 Tais funções exigem deste profissional, respostas rápidas face à efetividade dos atendimentos o que por sua vez, pode impactar negativamente no nível de qualidade de vida do bombeiro e até mesmo expô-lo ao risco de morte.9,10

    Estudo com bombeiros militares de Florianópolis – SC que teve como objetivo avaliar a percepção do bombeiro a cerca da relação entre atividade profissional e qualidade de vida identificou que para 49,9% da amostra a atividade profissional interfere negativamente no nível de qualidade de vida. Para os bombeiros que afirmaram tal relação sua justificativa fundamenta-se na relação entre trabalho e vida pessoal; na baixa remuneração; no desânimo, esgotamento e estresse; no melhor condicionamento físico; no comprometimento da saúde física e dos aspectos emocionais, dentre outras.7

    Portanto, o objetivo desse estudo foi avaliar a percepção do nível de qualidade de vida de bombeiros militares. Espera-se que o mesmo subsidie intervenções efetivas que possam impactar positivamente no nível de qualidade de vida dos bombeiros, bem como incremente a produção científica referente a essa temática que ainda se encontra incipiente.

Materiais e métodos

    Trata-se de um estudo epidemiológico de natureza descritiva e de corte transversal.

    O universo da pesquisa constituiu-se por militares de uma corporação do corpo de bombeiros do interior de Minas Gerais tendo sido garantido à mesma, o anonimato pela participação na pesquisa.

    Como critério de inclusão e para efeito de análises estatísticas dos dados levantados pelos questionários, participaram do estudo somente sujeitos sem comprometimento da condição cognitiva. Excluíram-se os bombeiros com diagnóstico de transtorno afetivo pré-estabelecido, em uso de ansiolíticos e/ou antidepressivos e/ou em tratamento psicoterápico.

    Segundo dados da corporação militar envolvida na pesquisa, durante a realização da pesquisa o número de bombeiros militares lotados no batalhão correspondia a 282 sujeitos.

    Para a realização do estudo foram utilizados os seguintes instrumentos: Mini Exame Mental (MEM); WHOQOL-Bref e Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) validados para língua e cultura nacional respectivamente por Brucki et al. (2003)11, Fleck et al. (2000)12 e Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa -ABEP- (2012).13

    O MEM é uma ferramenta de triagem de uso universal para avaliação cognitiva global. Consiste de questões relacionadas à orientação temporal e espacial, memória (imediata e tardia), atenção, habilidades de cálculo, linguagem e praxia construtiva. A pontuação varia de 0 a 30 pontos, onde maior pontuação indica melhor desempenho cognitivo.14 Optou-se na pesquisa por utilizar a versão para língua e cultura nacional, modificada em relação à orientação temporal e à orientação espacial que se mostrou perfeitamente factível em estudos epidemiológicos bem como em ambiente hospitalar e ambulatorial.11 Vários pontos de corte foram estipulados para este questionário, neste estudo adotou-se o proposto para estudos com população geral: de 12/13 para os analfabetos, 17/18 para indivíduos de um a sete anos de escolaridade e 25/26 para aqueles de oito ou mais anos de escolaridade.15

    O WHOQOL-Bref tem por objetivo aferir a percepção dos sujeitos a respeito do impacto de doenças em suas vidas. Constituído por 26 questões estruturadas, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e 24 referentes a cada uma das 24 facetas do instrumento original, o WHOQOL-100. As 24 facetas agrupam-se em 4 domínios: físico, psicológico, social e meio ambiente. As respostas são obtidas por uma escala do tipo Likert de cinco opções. Para calcular os escores de cada domínio, os índices das facetas componentes resumem os domínios aos quais pertencem. Os escores finais de cada domínio são calculados por uma sintaxe que considera as respostas de cada questão que compõe o domínio, resultando em escores finais numa escala de 4 a 20. As duas questões gerais são calculadas em conjunto para gerar um único escore independente dos escores dos demais domínios. Quanto maior o escore maior nível de qualidade de vida.12,16-19 Os domínios foram categorizados em 4 classes: péssima qualidade de vida (0-25), qualidade de vida regular (26-50), qualidade de vida média (51-75) e boa qualidade de vida (76-100) de acordo com os escores obtidos.20

    O CCEB é um questionário que tem por finalidade estimar o poder de compra dos sujeitos e famílias urbanas. A soma dos pontos obtidos categoriza os pontos de corte nas seguintes classes econômicas: “A1” (46-42 pontos), “A2” (41-35), “B1” (34-29), “B2” (28-23), “C1” (22-18), “C2” (17-14), “D” (13-8) e “E” (7-0), onde a classe “E” refere-se aos sujeitos com condições econômicas menos favoráveis.13

    Utilizou-se ainda Questionário Sociodemográfico e de Dados de Saúde para avaliar as variáveis: diagnóstico prévio de transtorno afetivo, uso de ansiolíticos e/ou antidepressivos, realização de tratamento psicoterápico, gênero, idade, raça ou cor, estado civil, escolaridade, tempo de profissão, estrutura organizacional onde desenvolve a profissão, realização de algum trabalho informal e hábitos de vida (tabagismo e etilismo). As variáveis raça ou cor, estado civil e escolaridade foram investigadas de acordo com “Questionário da Amostra CD 2010” proposto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).21

    Os dados foram coletados nos meses de maio e junho de 2012. Para tal foi disponibilizada uma sala nas dependências do quartel de modo a garantir a privacidade do bombeiro ao responder os questionários. Os dados foram coletados por seis pesquisadores examinadores -acadêmicos do Curso de Graduação em Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior envolvida no estudo- tendo sido priorizado o período matutino, antes que os sujeitos iniciassem suas atividades laborais.

    A princípio apresentava-se aos sujeitos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Participação na Pesquisa. Após sua leitura, explicação de quaisquer dúvidas e obtenção da assinatura do mesmo, aplicava-se os questionários para coleta de dados na forma de entrevista face a face.

    Previamente à coleta de dados, realizou-se treinamento teórico-prático dos pesquisadores examinadores responsáveis pela coleta. O objetivo deste treinamento foi assegurar durante a aplicação dos questionários o entendimento das condições a serem observadas e registradas e a uniformidade da interpretação consistente com o padrão adotado minimizando assim, possíveis variações entre diferentes examinadores.

    O treinamento consistiu em três momentos: no primeiro realizou-se leitura conjunta dos questionários e esclarecimento de possíveis dúvidas em relação ao emprego dos mesmos. Em seguida realizou-se o teste -aplicação dos questionários- em 30 sujeitos selecionados aleatoriamente entre acadêmicos do primeiro período do Curso de Graduação em Fisioterapia da Instituição de Ensino envolvida no estudo. Por fim, efetivou-se o reteste no 20º dia após a testagem inicial. Adotaram-se os mesmos procedimentos éticos em relação ao estudo proposto, sendo os sujeitos desconsiderados da amostra final.

    Na tabulação dos dados, a priori todos os questionários preenchidos foram digitados no programa Microsoft Office Excel 2010® por cada pesquisador examinador devidamente orientado para tal. Após a finalização da coleta dos dados, gerou-se um único banco. Para analisar a qualidade do preenchimento dos questionários adotou-se a seguinte classificação: preenchimento excelente (percentual de branco/ignorado <10%), bom (percentual de branco/ignorado entre 10% e 29,9%) ou ruim (percentual de branco/ignorado > 30%).22 Em seguida, exportou-se o banco para o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) – 17 para proceder a análise e interpretação dos dados. Os resultados são apresentados de forma descritiva através de frequências absolutas (n) e relativas (%), medidas de dispersão (amplitude e desvio padrão) e medidas de tendência central (médias aritméticas) com o intuito de caracterizar a população estudada.

    Para análise do teste reteste referente aos questionários de coleta de dados utilizou-se a medida de concordância Kappa de Cohen indicada para escalas nominais considerando-se os seguintes critérios: concordância desprezível (<0,20); concordância mínima (0,20 a 0,40); concordância ruim (0,41 a 0,60); concordância boa (0,61 a 0,80); concordância excelente (0,81 a 1,00).22 A variável contínua “idade” foi convertida em variável categórica considerando como ponto de corte a idade de 20 anos. Assim os sujeitos foram categorizados em indivíduos com mais ou menos de 20 anos. Adotou-se tal ponto de corte face os sujeitos envolvidos no teste reteste serem acadêmicos.

    O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Associação Educativa do Brasil – CEP/SOEBRAS através do parecer consubstanciado nº 19893.

Resultados e discussão 

    Dentre os 282 bombeiros militares, quatro foram considerados inelegíveis de acordo com os critérios de exclusão por fazerem uso de ansiolíticos e/ou antidepressivos; sete foram considerados inelegíveis segundo o critério de inclusão de comprometimento da condição cognitiva proporcional aos anos de estudo; sete haviam sido designados para outro batalhão mineiro; 13 participavam de cursos de formação para sargentos e/ou oficiais na cidade de Belo Horizonte e 35 encontravam-se em período de férias, sendo então considerados como elegíveis 216 sujeitos. Um total de 193 bombeiros responderam aos instrumentos propostos, representando um taxa de resposta de 89,35%. A análise da qualidade do preenchimento dos questionários foi considerada excelente para todas as variáveis nos bancos de dados (percentual de branco/ignorado = 0%). Todas as questões discordantes foram confirmadas diretamente nos questionários pelo pesquisador coordenador para obtenção da informação correta. Na Tabela 1 são apresentados os resultados referentes às análises do teste reteste dos instrumentos. Permitiu-se inferir estatisticamente que os pesquisadores examinadores se mantiveram constantes durante a coleta dos dados.

    Os sujeitos envolvidos no estudo apresentaram média de idade de 31,82 anos (±7,039), amplitude de 21 a 50 anos. Quanto ao tempo de profissão aferiu-se média de 8,98 anos (±7,318). Resultado similar foi levantado no estudo que avaliou a aptidão física e sua influência para a saúde e para a capacidade para o trabalho de bombeiros militares do estado de Santa Catarina23 e identificou idade média de 34,6 anos (±5,89). Pesquisa que avaliou as correlações existentes entre sintomatologia de burnout e depressão e percepção de qualidade de vida em um grupo de bombeiros com de três municípios de São Paulo,24 identificou média de idade de 34 anos (±5,8) e tempo médio de profissão de 12 anos e sete meses. Provavelmente tal característica associa-se ao fato de que para o exercício laboral, o bombeiro tenha que apresentar boa aptidão física, o que favorece predomínio de adultos jovens entre os sujeitos amostrais.

    Na Tabela 2 são descritas as demais variáveis sociodemográficas e profissionais.

    Constatou-se predomínio de sujeitos casados (60,6% - n=117) e com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio (52,9% - n=102). Dados que novamente corroboram com os levantados no estudo com bombeiros de três municípios paulistas, onde a maioria apontara estado civil casado (82,2%) e ter cursado o ensino médio (64,4%).24 Outra pesquisa que objetivou avaliar os níveis de estresse e de qualidade de vida de bombeiros da cidade de Ponta Porã – MS25 também averiguou a mesma tendência, com 56,25% dos sujeitos com nível de escolaridade correspondente ao ensino médio e 84,85% casados. O matrimônio pode favorecer a proteção social do militar, motivá-lo para o trabalho e ainda protegê-lo do estresse, uma vez que a satisfação com a atividade laboral associa-se à aceitabilidade familiar em relação à atividade laboral do sujeito, tais fatos podem justificar o predomínio de sujeitos casados no estudo.

    Na Tabela 3 os sujeitos são caracterizados quanto ao nível de qualidade de vida.

    A análise dos dados referentes ao Whoqol geral bem como dos domínios do WHOQOL-Bref permitiu aferir que com exceção dos domínios físico e social, a maioria dos sujeitos foram categorizados com “nível médio” de qualidade de vida. Nos domínios físico e social houve predomínio de bombeiros categorizados na classe correspondente à “bom nível” de qualidade de vida.

    Destaca-se que na literatura não foram encontrados estudos quantitativos descritivos a cerca da qualidade de vida entre bombeiros militares o que limita a discussão dos dados levantados nessa pesquisa.

    Estudo que investigou a aptidão física, o índice de capacidade de trabalho e a qualidade de vida de bombeiros da cidade de Florianópolis – SC, tendo utilizado para avaliação da percepção da qualidade de vida instrumento adaptado de Silveira (1995), identificou que a percepção de qualidade de vida pelos bombeiros foi bastante positiva, uma vez que, a maioria dos sujeitos perceberam o nível de qualidade de vida como “muito boa”, numa escala que compreende “ruim”, “regular”, “boa”, “muito boa” e “ótima”.26 Resultado que corrobora com o identificado na presente pesquisa ao se considerar a frequência dos resultados obtidos no Whoqol geral.

    No estudo de Florianópolis identificou-se ainda que o conceito de qualidade de vida mostrou estreita relação com a atividade laboral militar, englobando as condições de trabalho, o relacionamento profissional, o reconhecimento e a valorização profissional.26 Neste sentido, destaca-se dentre os fatores nos quais a QVRT deve alicerçar-se, o atendimento das necessidades do profissional e da organização.27

    A constatação de o domínio social -constituído pelas facetas: relações pessoais, suporte/apoio social e atividade sexual12- ter obtido predomínio de bombeiros categorizados na classe correspondente à “bom nível” de qualidade de vida, pode subsidiar-se no fato de que o bombeiro militar possa vincular sentimentos de heroísmo e de valorização profissional ao seu oficio, uma vez que, ao realizar suas funções com êxito, acaba por ajudar e/ou salvar a vida de outras pessoas, agregando assim ao seu labor certo grau de status social.6 Nessa perspectiva, o bombeiro é percebido pelo imaginário social como um herói, um sujeito corajoso, um profissional salvador e supercompetente.28,29

    O domínio físico -constituído pelas facetas: dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho-12 também identificara maior frequência de sujeitos categorizados na classe correspondente à “bom nível” de qualidade de vida.

    Resultado divergente do encontrado no estudo que avaliou o impacto das atividades profissionais na saúde física e mental dos policiais civis e militares do Rio de Janeiro e identificou que os três principais problemas de saúde relacionam-se à sintomatologia álgica e/ou de desconforto: cervicodorsalgia, distúrbios da visão, cefaleia/enxaqueca30. Os quadros de cervicodorsalgia podem ser influenciados pela própria atividade laboral uma vez que o bombeiro pode sofrer constantes traumas físicos durante o exercício de suas funções que envolvem: correr, saltar, escalar, nadar, subir/descer escadas, transportar e manusear equipamentos de resgates pesados, transportar vítimas, arrombar estruturas para acessar ambientes acometidos por incêndios, dentre outras.

    Outra informação obtida pelo estudo com militares cariocas e que se associa à baixa qualidade de vida, se refere ao acometimento de sofrimento psíquico (sintomas psicossomáticos, depressivos e de ansiedade). Tal sofrimento expressa-se em “sentir-se cansado o tempo todo”, em “cansar-se com facilidade”, em “dormir mal”, e em “dificuldade para realizar com satisfação suas atividades diárias” dentre outras. Condições essas que podem impactar negativamente no domínio físico.30 Entretanto, no presente estudo os bombeiros não apresentaram impacto negativo nas facetas que compreendem o domínio físico.

    Quanto aos dados de saúde, apenas um sujeito (0,5%) apresentou diagnóstico prévio de transtorno afetivo e como não estava em uso de medicamento participou do estudo, 5 militares (2,6%) e declararam tabagistas e 105 (54,4%) etilistas.

Conclusão

    A percepção do nível de qualidade de vida da maioria absoluta dos sujeitos permite categorizá-los com “nível médio” de qualidade de vida.

Agradecimentos

    Ao Batalhão de Bombeiros Militar envolvido no estudo, bem como aos seus militares.

    Coutinho, WLM e Coutinho, LTM são bolsistas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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