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Avaliação da qualidade de vida em adultos sedentários de meia

idade submetidos a um programa de alongamento em grupo

Evaluación de la calidad de vida en adultos sedentarios de mediana edad sometidos a un programa de elongación en grupo

 

*Educador Físico formado pela Universidade Regional Integrada

do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim/RS

**Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências e Docente da Universidade

Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim/RS

Lucas Ari Malinski Argenta*

Reni Volmir dos Santos**

revols@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A qualidade de vida tem ligação direta com a saúde e bem estar do indivíduo. O sedentarismo e a inatividade física contrapõem este pensamento e traz malefícios para o organismo, como o diabetes, hipertensão e dores musculares. O objetivo deste estudo é avaliar a qualidade de vida de indivíduos sedentários de meia idade submetidos a um programa de alongamento em grupo. A estratégica metodológica foi do tipo experimental de caráter quantitativo com uma amostra de 22 funcionários de meia idade sedentários, classificados assim pelo questionário IPAQ, da URI – Campus Erechim-RS, divididos em grupo experimental e controle. O grupo experimental foi contemplado por um programa de alongamentos em grupo num período de 4 semanas, com aulas duas vezes por semana, totalizando 8 intervenções. Os mesmos foram avaliados quanto à qualidade de vida (QV) através do questionário SF-36, antes e após o período interventivo. E no final responderam a um questionário de percepção corporal. Constatou-se melhora nos domínios capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, vitalidade, limitação por aspectos emocionais, saúde mental do grupo experimental e disposição para realizar outras atividades físicas após o encerramento. O grupo controle não apresentou melhora nos domínios. Conclui-se que a amostra em questão se beneficiou com o programa proposto e consequentemente obteve melhor QV.

          Unitermos: Qualidade de vida. Sedentarismo. Meia idade. Alongamento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A qualidade de vida das pessoas está ligada diretamente com a atividade física, que por sua vez, tem se mostrado eficaz no bem estar psicossocial das pessoas, no combate a ansiedade, depressão, alterações na autoimagem e autoestima como aponta De Godoy (2002). Assim, é oportuno mencionar que os conceitos de qualidade de vida estão relacionados a hábitos de vida saudáveis, como: alimentação, educação, estilo de vida, relacionamento, controle do stress e opções de lazer para a população (ZAMARIN et al., 2006).

    Koslowsky (2004) e Nahas (2003) mostram o quão significativo é a prática de exercícios físicos, para qualquer faixa etária, sendo orientados de uma forma correta sem que os mesmos corram riscos para uma melhoria da qualidade de vida, resultando em benefícios na saúde como, melhoria das capacidades cardiopulmonares, fortalecimento músculo-esquelético e aspectos psico-comportamentais.

    De Araújo e De Araújo (2000) afirmam uma relação muito forte entre a saúde e aptidão física, sendo esta determinada como a capacidade de realizar atividades profissionais e pessoais da vida diária sem fadigar em excesso, para a obtenção de uma boa qualidade de vida. Já Heyward (2004) relata que embora exista uma tendência ao sedentarismo quando se inicia a fase adulta, está população leva em conta a percepção de estarem aparentemente saudáveis que, por conseguinte, este mesmo grupo revelará um grande fator de risco para obtenção de doenças hipocinéticas.

    A meia idade é a fase conhecida como a mais madura entre a juventude e a velhice, sendo distinta na sociedade por seus comportamentos na faixa de 40 a 60-65 anos. Logo após está faixa se determina à entrada da terceira idade (LACHMAN, 2004). Ocorre uma prevalência de fatores nesta faixa etária que revelam o quão se diferenciam dos demais que são: biológicos, psicológicos e socioculturais (MORI; COELHO, 2004). Leão e Gílio (2002) revelam a meia idade como uma luta para manter tudo o que foi adquirido na última década de vida, sobretudo uma época de realizações pessoais, e alterações orgânicas e emocionais. Outro pensamento que se torna relevante é o de Guiselini (2001), onde se mostra o aumento da jornada de trabalho das pessoas adultas, e com isso, ocorre uma elevação nos níveis de stress. Perante estes níveis, uma prática de atividade física regula os níveis de ansiedade e stress, ocasionando uma melhora na auto-estima, qualidade de vida, e percepção emocional.

    O alongamento faz parte da atividade física, que descrita por McArdle et al. (1998), é toda forma de gasto energético oriunda da musculatura. Compreende-se que o alongamento é a mobilização da articulação, sendo considerado o movimento que é aplicado e resulta na formação de uma amplitude articular. A musculatura que esteja edemaciada por água e catabólitos relaxa. Estas atividades de alongamento por trabalharem dentro da faixa de normalidade e da amplitude de movimento, não provocam riscos aos músculos esqueléticos, tendões ou articulações (DANTAS, 1999).

    Pesquisas realizadas por Kisner e Colby (2009) mostram o emprego para fins terapêuticos do alongamento no ganho de amplitudes de movimento e na mobilidade diária, assim como os autores supracitados na utilização da prevenção de lesões que possam ocorrer. Os maiores benefícios do alongamento para Achour Jr (2006) estão relacionados na precaução de encurtamento muscular; na diminuição e prevenção de alguns tipos de lesões musculares e ligamentares; na melhora da flexibilidade, e prevenção da mesma na redução e eliminação de nódulos musculares, bem como na redução da rigidez muscular.

    De acordo com as atividades em grupo, deve-se levar em conta todas as formas de obtenção de movimento, pois elas fazem parte das atividades físicas do cotidiano, estas por serem regulares, contribuem para a promoção da saúde na prevenção e controle de doenças crônicas e na melhora da mobilidade das pessoas (MATSUDO, 2006). Neste intuito, cabe ressaltar que os indivíduos se beneficiam do apoio positivo da comunicação que o grupo oferece (O’SULLIVAN; SCHIMITZ, 2004). O trabalho em grupo sempre ajuda a pessoa sentir-se motivada, pois os seres humanos são naturalmente gregários e os grupos podem exercer uma função social, pois induz a conversação e descontração, o que por sua vez leva ao relaxamento da mente e do corpo (HOLLIS; FLETCHER-COOK, 2003).

Materiais e métodos

    O estudo foi do tipo experimental de caráter quantitativo. A população foi constituída por indivíduos sedentários de meia idade de ambos os gêneros, e a amostra foi de 22 indivíduos, sendo 8 do gênero masculino e 14 do gênero feminino que concordaram com termo de consentimento livre e esclarecido. A aplicação dos alongamentos em grupo ocorreu na sala de Ginástica e Musculação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – campus Erechim/RS. Inicialmente foi aplicado o questionário de classificação do nível de atividade física – International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), para constatar o sedentarismo da amostra. Foram selecionados 22 participantes e divididos em dois grupos, ficando o grupo experimental com 10 participantes (8 mulheres e 2 homens) e o grupo controle com 12 participantes (6 homens e 6 mulheres), com média de idade 49,68(± 6,48), compreendendo entre 40 e 63 anos.

    Como procedimento, responderam o questionário genérico, Short-Form Health Survey (SF-36), realizado antes e após período de um mês em que ocorreram as aulas de alongamento. Os sujeitos do grupo experimental foram submetidos a um programa de alongamento em grupo, duas vezes por semana, num período de 4 semanas totalizando 8 aulas de alongamento. As aulas contemplaram exercícios de alongamento para musculaturas dos membros superiores, membros inferiores, tronco e pescoço, com tempo máximo de alongamentos foi de 30 minutos.

    Os sujeitos do grupo controle não realizaram a atividade proposta e se comprometeram a não realizar nenhuma atividade física que envolvesse exercícios de alongamentos ou exercícios físicos nesse período.

    Como método estatístico foi utilizado o teste não-paramétrico Wilcoxon (com p<0,05); calculando-se ainda as médias e a significâncias dos dados obtidos através da avaliação para a análise intragrupos. E também foi utilizado o teste de Mann-Whitney para a análise intergrupos. Após a aplicação dos questionários e análise dos dados, os mesmos foram tabulados e os resultados analisados utilizando-se o programa BioEstat 5.0.

    Esta pesquisa está de acordo com as diretrizes da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, sob o número 051/TCH/10.

Resultados e discussão

    Na seqüência serão apresentados os resultados em tabela com as médias e desvios padrões dos dois grupo, experimental e controle, bem como da significância intragrupo e intergrupo, nos oito domínios referentes a qualidade de vida, analisados através do questionário SF-36.

Tabela 1. Média dos domínios da qualidade de vida, desvio padrão

    O domínio Capacidade Funcional avalia como o indivíduo realizou suas tarefas diárias habituais, como se vestir, tomar banho, andar, subir escadas, etc., no período estudado. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa, o que não foi observado no grupo controle. Para Dantas (1999) os fatores que influenciam na capacidade funcional são a flexibilidade e o alongamento, sendo que esta qualidade física é fundamental para a execução dos movimentos diários, por uma articulação ou conjunto das mesmas dentro dos limites morfológicos, sendo ela importante para a manutenção da qualidade de vida de idosos. Assim como Achour Jr (2006), que trabalha através do alongamento uma forma de manutenção dos níveis de flexibilidade obtidos e a amplitude normal de movimentos para que o individuo não tenha restrições físicas. Ainda Marques (2001), demonstra que o alongamento muscular é necessário para realização das atividades de vida diária, pois proporciona um alinhamento postural correto e a prática do mesmo permite que o músculo recupere seu comprimento e a estabilidade articular.

    O domínio Limitação por Aspectos Físicos está relacionado em como a saúde física interferiu nas atividades domésticas ou profissionais habituais. Com relação a este domínio tanto o grupo experimental quanto o grupo controle não obtiveram uma melhora estatisticamente significativa. Ressalta-se que os participantes do grupo experimental mantiveram as habilidades domésticas e profissionais, que correspondem a esse domínio. Em detrimento do grupo controle, que apresentou uma diminuição no escore, no período em questão. Desta forma, sugere-se que um programa de alongamento pode contribuir para manutenção ou melhora das referidas habilidades, mas tal suposição só poderá ser constatada com uma amostra maior e/ou com um período superior de intervenção.

    Nas pesquisas realizadas por Alter (1999), comprova que a redução da flexibilidade pode restringir os elementos que compõem as capacidades motoras como: resistência, força, velocidade, causando prejuízo na eficácia dos movimentos, porém esta redução também está associada às alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento como na meia idade que atuam sobre o organismo e deixam os tecidos menos elásticos, acarretando menor mobilidade articular. Para Marchand (2002), se faz necessário o uso dos alongamentos, sendo que eles oferecem uma melhor mobilidade articular, reduzindo tensões musculares, resultando numa melhor mecânica articular.

    De acordo com o domínio apresentado pelo SF-36, dor é uma das questões mais importantes e relevantes, sendo que nela se ressalta o bem estar físico, já que o mínimo grau de dor gera incapacidade ou desconfortos, em especial relacionados ao sistema músculo-esquelético da pessoa. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa, o que não foi observado no grupo controle. Ao ser realizada a comparação intergrupos constatou-se significância estatística com nível de 0,001. Confirmando assim a melhora no quesito dor ao grupo experimental. Ressalta-se que o grupo controle apresentou aumento da dor física, diferente do grupo experimental, que teve uma redução da mesma.

    De acordo com Achour Jr. (2006) o alongamento beneficia na diminuição e prevenção de alguns tipos de lesões musculares e ligamentares, na redução e eliminação de nódulos musculares e na redução da rigidez muscular. Já Marques (2004) realizou um estudo com 14 mulheres com diagnóstico de fibromialgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) onde foram aplicados exercícios de alongamentos e os resultados foram benéficos para melhorar a dor, a flexibilidade e QV de fibromiálgicos.

    Schmitz e Brandt (2009), realizaram atividades de ginástica laboral durante 3 meses, 3 vezes por semana com 220 colaboradores do Hospital Santa Casa de Caridade de Uruguaiana- RS, sendo (23,6%) do sexo masculino (76,4%) do sexo feminino, no qual avaliaram os mesmos com um questionário fechado idealizado pelos participantes da pesquisa, sendo que os resultados indicam melhora da QV, diminuição da dor, maior disposição para o trabalho e que a ginástica laboral é uma ótima ferramenta para relações interpessoais.

    O domínio estado geral de saúde está relacionado à percepção do indivíduo, o seu entendimento e sua expectativa futuro referente à saúde. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa para este domínio, o que não foi observado no grupo controle. Ao ser realizada a comparação intergrupos constatou-se significância estatística com nível de 0,046. Confirmando assim a melhora no quesito estado geral de saúde ao grupo experimental.

    Toscano e Egypto (2001) mostram que o sedentarismo coopera na falta de saúde e de um modo geral a inatividade física exerce para o sistema musculoesquelético um efeito deletério comprometendo o bem-estar. Apontado por Guiselini (2001), ter hábitos saudáveis, estilo de vida ativo, bons relacionamentos, ter humor e controlar a própria vida são fatores importantes para uma saúde geral.

    O domínio Vitalidade avaliou o grau de energia e disposição do indivíduo para realizar suas tarefas diárias. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa, o que não foi observado no grupo controle. Ao ser realizada a comparação intergrupos constatou-se significância estatística com nível de 0,004. Confirmando assim a melhora no quesito vitalidade ao grupo experimental.

    Duarte (2002) relata que a atividade física possibilita nas pessoas um estado saudável, normalização da vida e promove uma melhor qualidade de vida a estes indivíduos. Para Freitas (2002) os principais fatores do sedentarismo juntamente com idade mais adulta, são as manifestações que ocorrem no indivíduo, caracterizadas pela redução da capacidade funcional, da capacidade de trabalho e da resistência para manter as atividades diárias com vigor.

    O domínio Aspectos Sociais avalia se o estado físico ou mental afeta os indivíduos em suas relações sociais. Com relação a este domínio tanto o grupo experimental quanto o grupo controle não obtiveram uma melhora estatisticamente significativa. Ressalta-se que os participantes do grupo experimental apresentaram um aumento na média dos escores pré e pós-período, porém não foi estatisticamente significativo. Em detrimento do grupo controle se manteve praticamente como os mesmos escores pré e pós-período.

    O alongamento de acordo com a pesquisa não trouxe um levantamento significativo em mudanças sociais dos dois grupos pesquisados. Porém torna-se fundamental para pessoas de meia idade a capacidade de interação e a manutenção de redes sociais, assim garantem uma melhor qualidade de vida (DE ANDRADE; VAITSMAN, 2002). De acordo com Ramos (2002), que a saúde pode ser degradada por causa sedentarismo o uso de tabaco e também, pela redução da quantidade ou qualidade das relações sociais.

    O domínio limitação por aspectos emocionais está relacionado em como o estado emocional interfere nas atividades diárias domésticas ou no trabalho. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa, o que não foi observado no grupo controle. Ao ser realizada a comparação intergrupos constatou-se significância estatística com nível de 0,043 na avaliação pré-período interventivo, porém tal constatação apenas mostra a diferença amostral dos grupos experimental e controle, quanto ao escore no presente domínio. Mas destaca-se a melhora do aspecto emocional no grupo experimental e a piora no grupo controle durante o programa de alongamento.

    Como afirma De Godoy (2002), a atividade física está ligada a qualidade de vida das pessoas, pois a sua eficácia ajuda no bem-estar psicossocial das pessoas, no combate a ansiedade e depressão. Por outro lado, a falta de convívio social, e a pouca busca pela socialização, causam efeitos negativos nas capacidades cognitivas e emocionais das pessoas (KATZ; RUBIN, 2000).

    O domínio Saúde Mental interpreta como a interferência de sentimentos como ansiedade, depressão, felicidade e tranqüilidade no cotidiano do indivíduo. Com relação a este domínio o grupo experimental obteve uma melhora estatisticamente significativa, o que não foi observado no grupo controle.

    A saúde mental por sua vez pode ser beneficiada com a atividade física, estabelecido por Matsudo; Barros (2000), logo esta proporciona um bem-estar, fundamental nas capacidades funcionais, melhorando as funções cognitivas como na memória, alem de benefícios na qualidade do sono. Destaca-se o impacto positivo da AF regular em aspectos cognitivos, na saúde mental e bem estar geral do individuo durante o processo de envelhecimento. Como propõem Calmeiro; Matos (2004), uma pessoa que tem uma conduta interpessoal efetiva é capaz de desenvolver redes sociais de apoio, que operam como um dos fatores mais relevantes na recuperação e prevenção dos problemas de saúde mental.

Considerações finais

    Após a realização da pesquisa observa-se que na amostra em questão o grupo experimental, que foi submetido a um programa de alongamento em grupo, apresentou melhora em vários domínios do questionário de qualidade de vida que são: capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, vitalidade, limitação por aspectos emocionais e saúde mental. Já o grupo controle não apresentou melhora significativa em nenhum dos domínios avaliados. Sugere-se assim que este programa foi benéfico para os indivíduos sedentários de meia idade, porém novas pesquisas fazem-se necessária para a confirmação dos dados envolvendo um grupo maior e num período de tempo superior ao aplicado.

Referências

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