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Perfil motor de participantes de programas de reabilitação cardíaca

Perfil motor de los participantes de programas de rehabilitación cardíaca

 

*Graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina

onde estagiou em Reabilitação Cardíaca no Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva

e na Clínica Cardiosport, tendo concluído o curso com o trabalho: Exercício

e Aterosclerose: Percepção Familiar

Rodrigo Chedid Nogared Rossi*

Diego Rodrigues Herrera

rodrigoef@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A capacidade de realizar habilidades é proeminente no ser humano; essas habilidades podem ser melhoradas com a experiência de aprendizagem. Sabendo que programas de reabilitação cardíaca proporcionam boas experiências de aprendizagem em diferentes habilidades, esse estudo teve como objetivo avaliar o perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca do Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina e analisar a eficácia desse programa na melhora da habilidade motora de um indivíduo. Para tanto foi aplicado um questionário adaptado de Hames (2001) onde os pesquisados teriam que responder sobre sua motricidade fina, global, equilíbrio, organização espacial e temporal e esquema corporal; classificando- os como excelente, bom, regular, ruim ou péssimo, além de classificar sua lateralidade como esquerda, direita, cruzada ou ambidestra. Os participantes demonstraram possuir bons níveis das variáveis estudadas, principalmente em organização espacial e temporal, sendo o pior índice observado em motricidade global, provavelmente deficitária devido a limitações impostas pelas condições físicas dos indivíduos. Um dos pesquisados respondeu possuir um péssimo índice de motricidade global e fina, o que pode indicar uma deficiência psicomotora nessa pessoa em particular, sendo que esse fato isolado não interferiu na conclusão da pesquisa. O alto índice de ambidestria pode ter revelado um acidente populacional, desconhecimento pessoal dos participantes ou uma ineficácia do questionário em avaliar essa variável. Através dos dados obtidos, concluímos que os participantes do programa de reabilitação cardíaca do Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina apresentam bons índices de habilidade motora e que programas semelhantes podem ser utilizados, também, como uma forma de seus participantes melhorarem seu perfil motor.

          Unitermos: Habilidade motora. Perfil motor. Reabilitação cardíaca.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Desde os tempos da revolução industrial observou-se uma notável transformação de uma sociedade acostumada ao trabalho pesado, com uma estrutura basicamente rural e fisicamente ativa, numa população de cidadãos urbanos ansiosos e estressados e de suburbanos com pouca ou nenhuma oportunidade para o envolvimento com atividades físicas, o que pode causar diversas deficiências físicas (POLLOCK, WILMORE, 2009).

    A capacidade de desempenhar habilidades é uma característica proeminente da existência humana. A variedade das habilidades é muito grande, podendo envolver coordenação de grandes grupos musculares em atividades relativamente energéticas, como no futebol; até aquelas nas quais os pequenos grupos musculares devem estar precisamente sincronizados, como na digitação de um trabalho; nesse caso sendo classificadas, respectivamente, como motricidade global e fina (SCHMIDT, WRISBERG, 2009).

    Para traçar um bom perfil motor devemos incluir outros dados, como equilíbrio, organização espacial e temporal, esquema corporal e lateralidade (HAMES, 2001)

    As habilidades motoras são treináveis e, através da experiência de aprendizagem, podemos obter melhoras significativas nos índices da habilidade motora (SCHMIDT, WRISBERG, 2009).

    A ciência de prescrever exercícios para pacientes cardíacos evoluiu muito nos últimos vinte anos, permitindo uma maior variedade de programas e tornando- os mais seguros, eficazes e utilizando exercícios para os mais diversos fins, como capacidade aeróbica, força muscular e melhora da habilidade motora (FRANKLlN, FARDY, 2001).

    A reabilitação cardíaca pode ser classificada em quatro fases distintas: A fase I é a qual o indivíduo se encontra internado, tanto no pré quanto no pós operatório, e a prática de exercícios está limitada ao ambiente hospitalar, devendo receber supervisão constante. A fase II se inicia logo após a alta do paciente, onde os exercício podem ser executados com maior liberdade, mas ainda assim com supervisão constante. Na fase III a supervisão é necessária, porém pode- se dar maior liberdade ao paciente, devendo-se ficar atento aos sintomas de angina. Na fase IV o paciente está quase recuperado, não há necessidade de supervisão constante e a carga de trabalho é aumentada, visando mel hora das variáveis físicas (POLLOCK, WILMORE, 2009).

    Tendo por base a importância do exercício físico tanto na reabilitação cardíaca quanto na experiência de aprendizagem, esse estudo tem como objetivo analisar o perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca da UDESC e analisar a eficácia de um programa na melhora da habilidade motora de um indivíduo.

2.     Materiais e métodos

    Foi realizada uma pesquisa descritiva, utilizando um estudo exploratório (NELSON, THOMAS, 2012); para avaliar o perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca foi utilizado o questionário adaptado de Hames (2001), onde os pesquisados teriam que responder sobre sua motricidade fina, global, equilíbrio, organização espacial e temporal e esquema corporal; classificando-os como excelente, bom, regular, ruim ou péssimo, além de classificar sua lateral idade como esquerda, direita, cruzada ou ambidestra.

    A população pesquisada foram os participantes do programa de reabilitação cardíaca do Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina. A amostra foi do tipo aleatória e o tratamento de dados se deu através de utilização de frequência simples (NELSON, THOMAS, 2012).

    Nosso estudo foi baseado nas fases III e IV da reabilitação cardíaca, que são as fases disponíveis para pesquisa no Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina.

3.     Resultados e discussões

    A maior parte da amostra estudada relatou possuir bons níveis de habilidade motora.

    O equilíbrio foi descrito pela maioria como sendo bom (67%), sendo que o pior resultado foi irregular (33%), o que demonstra um bom controle corporal por parte dos participantes. Os exercícios de reabilitação cardíaca privilegiam longas caminhadas ou corridas, exercícios estáticos de alongamento e estáticos com peso livre. Tais exercícios provocam mudanças na inércia e no centro de gravidade do corpo, devido a variabilidade de posições que se assume durante execução dos mesmos, provocando vários desequilíbrios, fazendo com que organismo busque sempre uma posição ideal. Esses exercícios podem, portanto, melhorar o equilíbrio daqueles que aderem ao programa.

    Os índices de motricidade global se apresentaram, na maioria, em nível regular (67%), tendo como melhor resultado bom (22%) e, apesar de não ter sido relatado uma motricidade global ruim, houve uma classificação péssima. Os exercícios constantes num programa de reabilitação cardíaca agem predominantemente sobre a motricidade global, principalmente com relação ao movimento de pernas, braços e coordenação perna-braço durante uma caminhada ou corrida. Esses tipos de exercício se bem compreendidos e executados, podem contribuir para uma melhora na motricidade ampla e provavelmente se torna um estímulo a mais para quem possui uma deficiência nessa habilidade, como no ocorrido em um caso na pesquisa.

    A motricidade fina obteve um resultado melhor em relação a motricidade global, com 67% relatando possuir uma boa motricidade fina, 11% relatando uma motricidade fina excelente e regular e 11% relatando uma motricidade fina péssima. O fato de a motricidade fina e ampla ter sido relatada como péssima pelo mesmo sujeito da pesquisa pode ser um indicativo de alguma deficiência do controle psicomotor por parte do indivíduo, merecendo uma melhor análise de suas causas e até mesmo um tratamento clínico mais adequado. A motricidade fina é, provavelmente, a habilidade menos trabalhada em um programa de reabilitação cardíaca, uma vez que não encontramos atividades específicas para esse objetivo, exceto em alguns exercícios de alongamento que exigem manipulação de objetos. Portanto o programa de reabilitação tem um baixo grau de influência sobre a motricidade fina e parece não ser um bom método para sua melhora, porém pode servir como um fator estimulante para a prática de exercícios físicos e fazer a pessoa se sentir encorajada a buscar resultados em outras atividades.

    A organização espacial foi indicada como um dos melhores índices relatados por parte dos pesquisados. A maioria relatou possuir excelente o organização espacial (44%), sendo que o menor índice apresentado nesse item foi o regular (33%), com 22% relatando possuir boa organização espacial. A organização espacial é, indiretamente, uma das qualidades mais trabalhadas num programa de reabilitação cardíaca, pois os participantes são submetidos a exercícios de alongamento e força em locais pequenos, nos quais tem que se deslocar e executar exercícios tomando o cuidado para não provocar acidentes com os demais participantes se tornando, assim, uma boa atividade para a melhora dessa qualidade.

    A organização temporal foi o item que recebeu o maior índice de resposta excelente (56%) porém 11% relataram possuir uma organização temporal ruim e, também, 11% uma péssima organização temporal. O trabalho de organização temporal num programa de reabilitação cardíaca se dá através da percepção pessoal de tarefas que são atribuídas ao participante, como medir a frequência cardíaca aproximadamente a cada 10 minutos ou mudanças de ritmo pré-determinadas. Apesar de não possuir um trabalho direto ou específico de organização temporal, um programa de reabilitação cardíaca pode ser auxiliar na melhora deste componente.

    O esquema corporal foi relatado pela maioria dos participantes como sendo bom (44%), tendo 22% relatado um índice excelente e teve como pior resultado o índice regular (33%). O esquema corporal é muito trabalhado em um programa de reabilitação cardíaca. Os alongamentos ao início e término da atividades e os exercícios resistidos são bons exemplos, pois os instrutores sugerem exercícios para cada parte do corpo, que deve ser identificada pelos participantes, assim como seu movimento.

    A distribuição das frequências do questionário pode ser observada na tabela abaixo:

Tabela 1. Distribuição de freqüências dos tópicos do questionário

    Com relação à lateralidade, 44% disseram ser destros, 33% ambidestros, 11% canhotos e 11% possuem lateralidade cruzada. O alto índice de ambidestria pode ter sido causado por um acidente populacional, incompreensão da questão ou falha na percepção do indivíduo, o que sugere uma melhora na formulação da questão ou na seleção da amostra em estudos futuros.

    A distribuição das frequências com relação à lateralidade pode ser observada na tabela abaixo:

Tabela 2. Distribuição de freqüência do item lateralidade

    A visão geral do perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca do Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina se mostrou boa e pode ser observada segundo o gráfico abaixo:

Gráfico 1. Perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca do 

Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina

Conclusão

    Os programas de reabilitação cardíaca podem ser, também, boa fonte de exercícios para a melhora das habilidades motoras de seus participantes. 

    O programa privilegia atividades que trabalham motricidade global e equilíbrio, sendo boa fonte para aperfeiçoamento dos mesmos. Porém, indiretamente, outros aspectos também são trabalhados; organização temporal e espacial e esquema corporal são proeminentes nos trabalhos de força e alongamento. A única exceção ficaria por parte da motricidade fina, cujo trabalho é quase inexistente.

    Através dos dados obtidos, concluímos que o perfil motor dos participantes do programa de reabilitação cardíaca do Núcleo de Cardiologia e Medicina Esportiva da Universidade do Estado de Santa Catarina apresenta bons índices nas variáveis estudadas e que programas semelhantes podem ser utilizados, também, como uma forma de seus participantes melhorarem seu perfil motor. Porém tais programas poderiam ser melhor aproveitados se seus instrutores tivessem melhor conhecimento das habilidades motoras envolvidas e buscassem exercícios que melhor as trabalhassem sem ter que fugir do objetivo principal do programa.

Referencias bibliográficas

  • FRANKLlN, B. A.; FARDY, P. S. Avaliação, prescrição e treinamento baseado em exercício. In: FARDY, P. S.; FRANKLlN, B. A.; PORCARI, J. P.; VERRIL, D. E. Técnicas de treinamento em reabilitação cardíaca. Barueri: Mano le, 2001 p. 1 – 42

  • HAMES, A. B. Perfil motor de idosas praticantes de atividade física. 2001. Monografia (Educação Física) - Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2001

  • NELSON, J. K.; THOMAS, J. R. Métodos de pesquisa em atividade física. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012

  • POLLOCK, M. L.; WILMORE, J. H.; Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2009

  • SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora - uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009

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