O efeito do treinamento de agilidade e coordenação sobre a capacidade motora, concentração e capacidade técnica do futsal: um estudo de caso em Santa Cruz do Sul, RS El efecto del entrenamiento de la agilidad y la coordinación sobre la capacidad motora, concentración y capacidad técnica del futsal: un estudio de caso en Santa Cruz do Sul, RS |
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Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Brasil) |
Marcos Moraes |
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Resumo O objetivo geral deste estudo de caso é verificar os efeitos de exercícios de agilidade e coordenação sobre a capacidade motora, concentração e sobre os fundamentos (passe e condução) de futsal, em um portador de dificuldade motora. Os resultados mostram que após o período de treinamento; houve alteração positiva nas capacidades motoras, na concentração e nas habilidades técnicas de futsal. Podemos concluir que exercícios planejados em um indivíduo portador de dificuldade motora, é uma alternativa viável e que produz bons resultados, quando o objetivo é melhora do desempenho motor, concentração e desenvoltura frente aos fundamentos passe e condução. Unitermos: Capacidades motoras. Exercícios. Dificuldade motora.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A busca da melhoria na qualidade de vida, nos últimos anos, levou um número crescente de pessoas portadoras ou não de dificuldade motora a vivenciar a prática de diferentes exercícios, visando uma melhoria em seu bem-estar físico e psicológico. Assim, diversos estudos têm sido realizados, como o de Valentini (2002), demonstrando os efeitos benéficos da atividade física nas mais variadas doenças e as respostas fisiológicas aos exercícios nas diversas populações.
A necessidade de estímulos especiais através de uma atividade física orientada para a melhoria da condição física, e do desenvolvimento motor e funcional dos portadores de atraso ou dificuldade motora, é de extrema importância no que diz respeito aos benefícios das funções fisiológicas e motoras, voltadas à saúde destes indivíduos. (brasileiro, 2003).
Fonseca (2001) acredita que a inter-relação das áreas da neurofisiologia e do comportamento motor possa favorecer a sistematização de práticas lúdicas, desafiadoras, que motivem a criança portadora de deficiência motora a pesquisar soluções para diferentes problemas motores. A capacidade de solucionar problemas através de movimentos corporais é uma necessidade constante de crianças que possuem seqüelas motoras crônicas, pois, a limitação desta, dificulta a realização independente das atividades diárias e a pessoa é desafiada a encontrar outras possibilidades de mover-se para realizá-las. Essa necessidade funcional pode ser favorecida com o desenvolvimento da percepção da variedade do uso do corpo e suas possibilidades de movimento.
Dentre as razões que têm levado a um interesse crescente das mais diversas áreas, como pediatras, psicólogos, pedagogos e profissionais de educação física, pelos conhecimentos acerca do desenvolvimento motor, destacam-se: a) paralelos entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento neurológico, com implicações sobre o crescimento e desenvolvimento da criança; b) o papel dos padrões motores no curso de desenvolvimento humano, com implicações para a educação da criança bem como para reabilitação de indivíduos com atrasos ou desvios de desenvolvimento; c) adequação e estruturação de ambientes e tarefas motoras aos estágios de desenvolvimento, de forma a facilitar e estimular esse processo. (WHITALL,1995 apud SANTOS et al, 2003).
Para OLIVEIRA (2003), os profissionais de Educação Física precisam adequar e estruturar os ambientes e tarefas motoras aos estágios do desenvolvimento, na medida em que eles necessitam de informações para realização do seu trabalho, com o objetivo de abordar a relação entre vários tipos de dificuldades que a criança é submetida na sua vida diária. As restrições da tarefa, do organismo e do ambiente, são exemplos que afetam o processo de desenvolvimento de padrões fundamentais de movimento e que se bem relacionadas favorecem o surgimento de novas formas de execuções motoras das crianças.
Valentini (2002) cita que os professores de Educação Física, são constantemente desafiados a ir ao encontro das necessidades de desenvolvimento de todas as crianças, e profissionalmente, enfrentar a grande diversidade no nível de habilidade de nossos estudantes, como educadores precisam desafiar a criança que demonstra um desenvolvimento de habilidades motoras com pouca experiência ou atrasos. Crianças que apresentam qualquer forma de dificuldade em relação aos seus companheiros nas séries iniciais são as que, no decorrer da experiência educacional, sucessivamente demonstram alguma forma de fracasso escolar. Portanto, existe a necessidade de incrementar e fortalecer comportamentos de atividade física para crianças que apresentem esses riscos. Esta necessidade é fundamentada no entendimento de que todas as crianças, desde muito cedo, estão envolvidas em aprendizagens motoras. A precisão com que estas atividades motoras são executadas, bem como o julgamento que a criança desenvolve sobre estas competências, afetam seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor.
Em vista ao exposto, apresentamos para o presente trabalho o seguinte problema: a prática de exercícios planejados e regulares de agilidade e coordenação produz benefícios sobre a capacidade motora, concentração e sobre as habilidades técnicas do futsal em um sujeito de 23 anos, portador de dificuldade motora?
O objetivo geral do trabalho foi verificar o efeito de exercícios de agilidade e coordenação sobre a capacidade motora, concentração e sobre os fundamentos (passe e condução) de futsal em um sujeito de 23 anos, portador de dificuldade motora.
Os objetivos específicos são:
Avaliar o sujeito da pesquisa nos aspectos físico-motores de coordenação, agilidade, velocidade de deslocamento, potencia de membros inferiores, velocidade de reação, capacidade aeróbica e concentração.
Avaliar o sujeito da pesquisa nos aspectos técnicos do futsal, quanto a passe e condução de bola.
Prescrever, aplicar e acompanhar o treinamento do sujeito da pesquisa.
Reavaliar e comparar com os resultados do pré-teste, utilizando os mesmos protocolos do pré- teste.
Método de investigação
Essa pesquisa constitui-se de um estudo de caso individual que conforme, Goldim (2000), é observacional exploratório, utilizável para documentar situações particulares. As variáveis do estudo caracterizam-se por meio de um delineamento pré-experimental, pois segundo Gaya (2008), permite comparar as medidas pré e pós-treinamento.
Sujeito da pesquisa
É sujeito da pesquisa, um indivíduo do sexo masculino, com 23 anos de idade, Portador de dificuldade motora, na coordenação e execução de movimentos, estudante de uma escola particular do município de Santa Cruz do Sul – RS.
Procedimentos metodológicos
Este trabalho foi desenvolvido em 4 etapas:
1ª etapa: Realização da avaliação no sujeito da pesquisa, verificando: agilidade, velocidade de deslocamento, coordenação, potencia de membros inferiores, velocidade de reação, capacidade cardiorrespiratória e concentração.
2ª etapa: Realização da avaliação no sujeito da pesquisa, verificando: fundamentos técnicos do futsal, passe e condução de bola.
3ª etapa: Realização da prescrição, orientação e aplicação do treinamento de agilidade e coordenação.
4ª etapa: Reavaliação pós-treinamento conforme protocolos anteriormente utilizados, para verificar se houve melhoras sobre as capacidades motoras, concentração e fundamentos técnicos do futsal após as atividades aplicadas.
Instrumentos de avaliação
Foram utilizadas as variáveis de agilidade, velocidade de deslocamento, coordenação, velocidade de reação, potência dos membros inferiores, capacidade cardiorrespiratória, concentração e fundamentos técnicos de passe (com e sem deslocamento) e condução de bola (pré e pós-exercício), de acordo com os protocolos em anexo.
Agilidade, velocidade de deslocamento e potência dos membros inferiores, utilizou-se os protocolos do PROESP-BR, respectivamente, o quadrado, a corrida de 20 metros e salto horizontal. A capacidade cardiorrespiratória foi utilizado o teste de Cooper 12 minutos, enquanto velocidade de reação e concentração foram usados os protocolos citados por Fonseca (2001), respectivamente o da régua e o da grade numérica. A coordenação foi mensurada através do teste de Burpee, citado por Viana (1991), já os fundamentos técnicos passe (com e sem deslocamento) e condução foram avaliados através dos protocolos de Viana (2003).
Procedimentos de intervenção
Durante o período de treinamento utilizamos as sessões de trabalho de agilidade e coordenação descritas na tabela 01. Respeitando a duração de cada sessão e a freqüência semanal prevista. O treinamento de agilidade e coordenação utilizados durante a intervenção encontra-se em anexo.
Tabela 01. Cronograma de execução das atividades
O treinamento foi dividido em 3 fases:
Fase I – Aquecimento e alongamento (20 minutos)
Fase II – Trabalho de agilidade e coordenação, conforme tabela 01 (30 a 60 minutos), com pausas para recuperação.
Fase III – Alongamento (10 minutos)
Apresentação, análise e discussão dos resultados
No Quadro 1 encontram-se os resultados da avaliação físico-motora especialmente no que diz respeito à coordenação, agilidade, velocidade de deslocamento, potência de membros inferiores, velocidade de reação e capacidade cardiorrespiratória, além do teste de concentração. O sujeito da pesquisa apresentou mudanças positivas em todas variáveis de capacidade motora e também de concentração. A velocidade de deslocamento houve melhora de 10,27% sobre o seu desempenho, já a coordenação o ganho foi mais acentuado, de 41,6 %. O que diz respeito à potência de membros inferiores ouve um incremento de 14 centímetros no seu salto ou 7,14%, a melhora se deve mais a desenvoltura corporal, pois não foi trabalhado força o que corrobora com Barbanti (1996), que diz que potência é altamente dependente da força. Quanto à velocidade de reação o ganho foi de 28,84% no pós-teste, e a capacidade aeróbica foi a que apresentou uma melhora menos relevante, foi de 5,72%.
Esses resultados vêm de encontro à pesquisa desenvolvida por Valentini (2002), onde crianças de 6 a 10 anos com desempenho motor baixo e dificuldades motoras, foram submetidas a 12 semanas de intervenção motora, sendo 2 vezes por semana, e que promoveu um ganho qualitativo em respostas motoras e psicológicas.
A concentração foi uma variável em que o ganho foi muito bom, sendo que o sujeito da pesquisa melhorou 23,52% o seu desempenho. A agilidade melhorou em 1 segundo o seu tempo, o que corresponde a uma melhora de 15,64%.
Em um estudo semelhante, feito por Antunes et al.(2001), com indivíduos que foram submetidos a exercícios físicos, três vezes por semana. Após seis meses de treinamento, foram encontradas melhora na concentração, memória, agilidade. Esses resultados sugerem que a participação em um programa de exercício físico pode ser vista como uma alternativa não medicamentosa importante para a melhora cognitiva bem sucedida.
De acordo com Toledo (2000), que realizou um estudo visando as alterações das capacidades motoras em um macrociclo anual, relatou aumento estatisticamente significante para a potência de membros inferiores, medida por meio do teste de salto horizontal. Para o autor tal aumento deveu-se a uma melhora adaptativa das possibilidades motoras dos atletas, conseguidas, sobretudo, pela modificação do estado funcional e pela melhora da coordenação inter e intramuscular.
Em estudo realizado por Contreira et al. (2007) no qual se verificou a coordenação motora ampla e força em crianças asmáticas submetidas a um programa regular de exercícios físicos, obteve-se diferença estatisticamente significativa entre o grupo na coordenação motora ampla após as 20 sessões. Este resultado levou as autoras a concluírem que para esse grupo um programa efetivo de exercícios físicos pode contribuir para o aprimoramento da coordenação motora ampla, tornando a movimentação do corpo mais eficiente e integrada.
Apesar da velocidade de reação de um indivíduo ser predisposta geneticamente, é possível melhorá-la através do treinamento conforme estudos de Grosser apud Carvalho (1988), e de Schmidt e Wrisberg (2001). Segundo Schmidt essa melhora pode chegar à 15% em atletas.
Quadro 1. Resultados da avaliação físico-motora e concentração
No Quadro 2, encontram-se os resultados da avaliação dos fundamentos especialmente no que diz respeito aos aspectos técnicos de futsal, mais especificamente passe e condução. O sujeito da pesquisa apresentou mudanças positivas, tanto no passe em deslocamento e sem deslocamento, quanto na condução, nesse fundamento a resposta foi muito boa com um aumento de 35,71% sobre o seu rendimento. No passe sem deslocamento, houve um aumento no número de acertos, representando 70 % de passes corretos, frente aos 40% de acertos do pré-teste. Já no passe em deslocamento houve uma melhora de 23,3% com a prática dos exercícios orientados.
Quadro 2. Resultados da Avaliação técnica do futsal
Esses resultados corroboram com Voser (2001) “a base de sustentação das habilidades técnicas do desporto é proveniente do processo de aprendizagem motora bem desenvolvida”. Com a melhora das capacidades motoras houve um crescimento acentuado na desenvoltura frente às habilidades técnicas de futsal.
Podemos verificar que o programa de exercícios planejado e regular de agilidade e coordenação, possibilitou melhoras relevantes tanto nas capacidades motoras como velocidade de deslocamento, agilidade, velocidade de reação, coordenação e menos relevantes como capacidade aeróbica e potência de membros inferiores. Quanto as técnicas de condução e passe as respostas foram muito boas, assim como concentração.
Conclusão
Em relação ao efeito do treinamento regular e específico de agilidade e coordenação em um indivíduo portador de dificuldade motora, ficou clara, através dos resultados obtidos nas avaliações, que o treinamento é uma alternativa viável e que produz bons resultados, quando o objetivo é melhora das capacidades motoras, concentração e desenvoltura frente aos fundamentos de passe e condução, e conseqüentemente, possibilita uma melhoria da qualidade de vida e integração social. Nesta perspectiva, o treinamento com exercícios de agilidade e coordenação, é um elemento importante na reabilitação e reeducação do movimento de portadores de necessidades especiais principalmente, quando realizado com método e com a orientação de um profissional responsável, e vem demonstrar a importância das capacidades motoras serem bem trabalhadas e estimuladas em todas as fases do desenvolvimento.
Referencias
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