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Escola e violência: uma revisão de fatos 

contemporâneos e algumas pesquisas relevantes

Escuela y violencia: una revisión de hechos contemporáneos y algunas investigaciones relevantes

 

*Pós-graduada em administração escolar (UNISUAM/RJ)

**Mestre em educação física (UNIMEP/SP)

(Brasil)

Christiane Lagarto Fontoura*

tianelagarto@ibest.com.br

Rubem Machado Filho**

rubemfisiologista@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo, mostrar a partir de artigos publicados nos periódicos correlatos à educação questões sobre a violência sofrida e cometida no ambiente escolar. Simultaneamente apresentou uma revisão de algumas pesquisas sobre as relações entre violência e escola. Apesar de ainda se incipiente, as produções já traçam um quadro importante no fenômeno Brasil.

          Unitermos: Violência escolar. Sociedade. Pesquisa.

Abstract

          This study aimed to show from articles published in journals related to education issues and the violence committed in the school environment. Simultaneously presented a review of some research on the relationship between violence and school. Although still in its infancy, the productions already outline a framework important phenomenon in Brazil.

          Keywords: School violence. Society. Search.

 

          O artigo é parte integrante do trabalho de conclusão de curso de Pós-Graduação em administração escolar da UNISUAM/RJ apresentado pela primeira autora; O segundo autor foi o orientador do trabalho.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Apesar do intenso debate público em torno da violência e de sua relação com os segmentos juvenis quer como protagonistas, quer como vítimas, as equipes de pesquisadores demoram a assimilar no conjunto de seus interesses o tema das relações entre violência e escola, verifica-se, também, nesses últimos anos, a inexistência de um programa nacional de investigações sobre violência escolar pro posto pelo poder público através de suas agências de fomento à pesquisa (SPOSITO, 2001, p. 87-103).

    Por outro lado, quaisquer tentativas de balanço da produção como afirmam Débarbieux e Montoya (1998), implica também reconhecer que a realização dos estudos se dá em um espaço social de constituição do tema da violência escolar como objeto legítimo de debate no interior da esfera pública e de atenção do estado na condição de problema social.

    É reconhecido e noticiado pela mídia que a escola, de modo concomitante e paradoxal, além de se instituir como instância de aprendizagem de conhecimento e de valores, bem como de exercício da ética e da razão, tem-se configurado como um espaço de proliferação de violências, incluindo, brigas, invasões, depredações e até mortes. É um espaço em que os alunos, em plena fase de desenvolvimento, se deparam com a violência escolar, constroem e elaboram experiências de violência. Freqüentemente, a vulnerabilidade social refletida na vivência escolar reduz a força socializadora da escola, interferindo no ambiente relacional e permitindo que os alunos construam a violência como uma forma habitual de experiência escolar (CAMACHO, 2000, p. 253). Todavia os alunos são ao mesmo tempo socializados e singulares; lapidados pela escola e pela sociedade, ao mesmo tempo constroem a si próprios.

    A escola tornou-se de massa e passou a abrigar alunos diferentes, com inúmeras divergências (CHRISPINO, A.; CHRISPINO, R. S. P., 2002; CHRISPINO, 2004). Habituada a lidar com iguais, a escola não se preparou para essa diversidade dos alunos. Por essa razão, surgem antagonismos que se transformam em conflito e que podem chegar aos extremos da violência. Para responder a essa seqüência de problemas, se faz necessária a instalação da mediação de conflito na escola, não só como alternativa para ela própria, mas também como aprendizado social que pode contribuir para criar uma nova ordem de relação entre os cidadãos (CHRISPINO, DUSI, 2008, p. 597-624).

    Para Chrispino, Dusi (2008, p. 597-624), a escola é o espaço que a sociedade acredita ser o ideal para reproduzir seus valores tidos como importantes para sua manutenção, ocorre que a própria família, em crise e em transformação como outras instituições sociais contemporâneas, passou a delegar à escola funções educativas que historicamente eram de sua própria responsabilidade, o que acarretou uma mudança no perfil de comportamento do aluno. Por outro lado, a massificação da educação trouxe para dentro do universo escolar um conjunto diferente de alunos, sendo certo que a escola atual da maneira como está organizada e da maneira como foram formados os professores só está preparada para lidar com alunos de formato padrão e perfil ideal (CHRISPINO, DUSI, 2008, p. 597-624).

    O conflito e depois a violência surgem da negação da palavra e do diálogo no espaço escolar (BURGUET, 2003, p. 37-46; SANTOS, 2001, p. 105-122; VISCARDI, 1999, p. 360). Se vista por essa ótica, a mediação de conflitos apresenta-se como remédio eficaz.

    Isto posto, esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão de fatos contemporâneos e algumas pesquisas relevantes correlatas ao tema violência escolar.

2.     Comportamento agressivo de crianças na escola

    Para Abramovay (2002, p. 1-145), a violência na escola caracteriza-se por um estado da escola, ou seja, não é permanente. Dessa maneira, as ações voltadas para lidar com o problema da violência, em sua maioria, caracterizam-se por medidas de intervenção que combatem o problema e não são preventivas.

    Camacho (2000), em sua tese de doutorado, estudou a violência e a indisciplina nas escolas entre os alunos adolescentes, buscando compreender sua prática, origem e desenvolvimento. A autora fez um estudo de duas escolas, uma da rede pública e outra particular, em uma capital do Brasil apontada como tendo alto índice de violência.

    A contribuição dessa tese encontra-se particularmente na discussão de escolas consideradas boas do ponto de vista pedagógico, com altos índices de aprovação e com uma população privilegiada social e economicamente, mas que trazem a problemática da violência. Camacho (2000, p.253) aponta que as escolas têm suas ações socializadoras caracterizadas muito mais no rigoroso aspecto pedagógico, apartado de uma proposta educativa. Desse modo, as ações voltadas para a socialização que visam a convivência ou a aproximação entre adolescentes de grupos diferentes não atingem o aspecto relacional, ficando restritas ao pedagógico.

    Esse dado permite a autora averiguar que a escola, pela falta de proposta educativa, não funciona como uma retradutora de valores sociais, permitindo o acesso a valores sociais dominantes. "A falta de alcance da ação socializadora até o ambiente relacional promove brechas que permitem aos alunos a construção de experiências escolares, entre elas, a experiência da violência." E mais adiante, conclui:

    Os mecanismos da socialização atuantes, hoje, no ambiente escolar estão permitindo a entrada das dificuldades da vida coletiva do país e do mundo, como a falta de alteridade, de limites, que gera preconceitos e discriminações, porque a própria escola não está conseguindo imprimir um outro padrão. Na verdade, ela está simplesmente assimilando, sem filtro, o padrão da vida social coletiva. (CAMACHO, 2000, p. 254).

    Já Cavalcanti (2009), fez uma investigação para verificar presença de lesões no complexo maxilofacial em crianças e adolescentes vítimas de violência física no ambiente escolar, foram analisados 42 laudos de exames de corpo de delito envolvendo crianças e adolescentes vítimas de violência física na escola, nos anos de 2003 e 2006, os dados foram registrados em formulário específico e as variáveis coletadas foram gênero, idade, agente agressor, localização das lesões nas distintas regiões do corpo, tipo e número de lesões presentes, acometimento da cavidade bucal e tipo de envolvimento tecidual. Observou-se que 61,9% das vítimas eram do gênero masculino, sendo a faixa etária de 13 a 17 anos a mais atingida. Os colegas foram os perpetradores mais frequentes (92,9%) enquanto os professores foram os agressores em 7,1% dos casos. Lesões nas regiões da cabeça e face estavam presentes em 69,1% da amostra, com 23,8% das vítimas apresentando injúrias na cavidade bucal, sendo que a totalidade das lesões localizadas em tecido mole, principalmente nos lábios. O estudo constatou ser elevada a existência de injúrias na cavidade bucal em vítimas de agressão no ambiente escolar, confirmando a importância da odontologia no diagnóstico de lesões nas regiões da cabeça e face em vítimas de violência física.

    No momento atual, a violência é um fenômeno que se observa com frequência crescente em todos os domínios da vida social. Esse fenômeno também ocorre na escola, onde professores e alunos vivenciam no seu cotidiano diferentes formas de violência (CARVALHOSA, LIMA, MATOS, 2001; BLANK, LIBERAL, 2005).

    A adolescência, como sintoma social - tanto como singularidade psíquica quanto como segmento social -, inquieta e incomoda. Busca expressar aquilo que não se espera, do modo que lhe é possível: apresentando-se tradicionalista ou cética, ao mesmo tempo que rompe com o papel de mudança que dela se espera e expõe a desigualdade e a falta de perspectivas próprias da sociedade atual. (MATHEUS, 2002, p.174).

3.     Pesquisas relevantes sobre violência escolar

    Em estudo realizado por Gonçalves, Sposito (2002), visando apresentar algumas ações do Poder Público que buscaram reduzir a violência em meio escolar, tomando como exemplo as cidades de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, examinaram algumas das modalidades de práticas que nasceram a partir da década de 80, início do processo de democratização política do Brasil. Oscilando entre medidas de caráter educativo e iniciativas relacionadas à área de segurança, as ações ainda demandavam continuidade e maior capacidade de impacto nas escolas públicas dessas cidades, concluíram no entanto, que já era possível, a partir daquelas experiências, traçar a trajetória emergente das políticas públicas destinadas à diminuição da violência nos estabelecimentos de ensino na sociedade brasileira.

    Buscando lançar um olhar sobre a vida escolar de adolescentes de classes médias e de segmentos das elites, incidindo, porém, sobre a prática de violência contra seus pares em duas escolas da cidade de Vitória-ES, sendo uma pública e outra privada, Camacho (2001), realizou uma pesquisa, na qual constituiu-se em um estudo de natureza eminentemente qualitativa, que no entanto valeu-se também de dados quantitativos. No trabalho de campo os dados foram colhidos por meio das técnicas da observação, questionário e entrevistas individuais e em grupos e, também, por meio de depoimentos e da consulta a documentos. O estudo permitiu constatar que nas duas escolas investigadas as ações socializadoras incidem muito mais sobre o aspecto pedagógico do que na proposta educativa, que é deixada em segundo plano. Onde se constata a ausência de uma ampla abrangência da socialização, a escola funciona como reprodutora dos valores sociais e termina por permitir que idéias de discriminação e preconceito, por exemplo, invadam e se estabeleçam no espaço escolar. A falta de alcance da ação socializadora até o ambiente relacional promove o aparecimento de brechas que permitem aos alunos a construção de experiências escolares, dentre elas, a experiência da violência.

    Aquino (1998) publicou um artigo visando discutir a relação entre os conceitos de violência e autoridade no contexto escolar e, particularmente, na relação professor-aluno, o estudo do supracitado autor contrapôs uma leitura de cunho institucional da violência escolar às abordagens clássicas da temática, demonstrando a tese de que há um quantum de violência "produtiva" embutido na ação pedagógica.

    Santana (2007) realizou um estudo em sua dissertação de mestrado, objetivando apresentar o estado atual da arte das pesquisas desenvolvidas pelos programas de pós-graduação stricto sensu da UCB (Universidade Católica de Brasília) relacionadas ao tema violência escolar entre os anos de 1999 e 2006, através de uma busca no site da biblioteca da UCB utilizando as palavras-chave “violência nas escolas” e “violência escolar” a supracitada autora constatou que foram desenvolvidas 12 dissertações de mestrado nos programas de pós-graduação stricto sensu da UCB, sendo 08 na área de educação, 03 em psicologia e 01 em educação física. Os autores descreveram a ocorrência de violência do tipo verbal (08), física (08), simbólica (06), Bullying (03), sexual (01), social (01) e vandalismo (02), detectando a violência física e verbal como as mais freqüentes nas escolas. Quanto aos métodos de estudo, dos quais muitos usados associados em diversas dissertações foram utilizados as observações (08), entrevistas semi-estruturadas (06), questionários (05), análises documentais (04), pesquisas de campo (02), grupo focal (01), a entrevista individual (01) e registro fotográfico do local (01). Todas as pesquisas descreveram que detectaram atos de violência praticados, contra o próximo, ou contra o patrimônio, e tanto os gestores quanto os docentes e discentes foram unânimes em relatar a presença da violência no ambiente escolar.

Tabela 1. Resumo das dissertações desenvolvidas pelos programas de pós-graduação stricto sensu da UCB

 (Universidade Católica de Brasília) relacionadas ao tema violência escolar entre os anos de 1999 e 2006

Fonte: Santana (2007)

4.     Considerações finais

    Tendo em vista as constatações apresentadas neste estudo, buscou-se evidenciar a importância da reflexão sobre os fatos contemporâneos e das pesquisas correlatas ao assunto violência no âmbito escolar. Pode-se afirmar que o comportamento agressivo das crianças na escola poderia ser entendido como “um pedido de ajuda” das mesmas, já que a apresentação de comportamento agressiva pode ser considerada um indicador de que a criança se encontra em situação de risco, frente à exposição à violência severa. Espera-se que o presente estudo sirva de alerta para a necessidade de se desenvolverem serviços de prevenção e intervenção em relação à violência escolar.

Referências bibliográficas

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