Análise de desvios posturais em
profissionais que exercem Análisis de los desvíos posturales en profesionales que ejercen en posición sentada, en la función de atención al público de una empresa del tercer sector |
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*Especialistas em Avaliação e Prescrição de Exercícios Resistidos com Pesos pelo Instituto de Pós-Graduação e Extensão (IPGEX) **Educadora Física e Fisioterapeuta. Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP) Mestre em Ciências da Reabilitação Neuromotora (UNIBAN) (Brasil) |
Cristhian da Silva* Janaína Varela da Silva* Rafaelli Frantchesca Carniel de Souza* Elaine Cristina Farina** |
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Resumo As posturas corporais para a realização das funções no posto de trabalho tem sido foco de preocupação nas áreas da saúde, na promoção de qualidade de vida e melhor produtividade do profissional na empresa. O objetivo desta pesquisa foi identificar os tipos de desvios posturais entre os profissionais que atuam no atendimento ao público e associá-las com a dor referida. A amostra foi composta por 11 sujeitos do gênero feminino, com idade entre 24 e 58 anos, que exercem a função de atendimento ao público por no mínimo 3 anos e com a média de tempo de trabalho de 6,18 anos. Como instrumento de avaliação utilizou-se um questionário para verificar a presença de dor (questionário de dor Pfizer Pharma© 2005) e avaliação postural por fotogrametria no plano frontal na vista anterior e posterior. Os dados foram analisados por estatística descritiva. A maioria dos sujeitos (90,9%) apresentou desvios posturais e a região que mais apresentou desvios foi no nivelamento das escápulas (NES). Entre os sujeitos da amostra apenas um não referiu qualquer dor, sendo este, o único que não apresentou qualquer desvio postural. As dores referidas podem estar relacionadas às alterações posturais, e estas, à função exercida. Unitermos: Desvios posturais. Dor lombar. Postura sentada.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nas atividades de trabalho, muitas das funções nos diversos setores exigem uma postura estática e prolongada, seja esta em pé ou sentada. Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) vêm trazendo alguns problemas à saúde do trabalhador, caracterizando como um grande desafio para os trabalhadores e empresas. (MUROFUSE e MARZIALE, 2000; OLIVEIRA, 1991).
Cardoso e Popolim (2006) citam que nas últimas décadas observou-se um aumento na incidência de doenças osteomusculares, este associado aos novos processos industriais, que levaram o indivíduo a permanecer por períodos prolongados na mesma posição, executando tarefas repetidas estando expostos a níveis maiores de tensão e estresse, que expõe e contribui ao surgimento de problemas físicos, podendo ocasionar afastamentos do trabalho, diminuição do rendimento e conseqüentemente, na diminuição da produtividade.
Para Pereira (2001), os esforços repetitivos, trabalho estático, esforço físico intenso, ritmos intensos de trabalho e posturas inadequadas estão presentes na maioria das atividades profissionais. Com o trabalho, o homem danifica as estruturas da coluna devido às posições incorretas, levando a modificações na postura corporal (KNOPLICH, 2003). O tipo de atividade abordada neste estudo refere-se ao atendimento ao público com a postura sentada em uma empresa do terceiro setor, postura realizada por várias horas na execução da função, tendo como característica a postura repetitiva.
A postura sentada constitui uma imobilização das peças do esqueleto em uma atitude conjunto, que é resultante do trabalho muscular estático, principalmente dos grupos musculares da região posterior do tronco (CARDOSO e POPOLIM, 2006).
No entanto, Soares (1983) com uma visão ergonômica pressupõe que a postura sentada padrão é aquela em que o sujeito está sentado ereto sobre uma superfície horizontal, distendido até a sua altura máxima, olhando para frente, os ombros estão relaxados, com o braço caído verticalmente e antebraço horizontal, onde a altura do assento é ajustada até que as coxas estejam horizontais e as pernas verticais. Este tipo de postura é uma ação aparentemente inofensiva, no entanto, pode agredir a coluna vertebral se considerarmos os fatores envolvidos, a ação de uma má postura e/ou a ergonomia imprópria, pela inadequação dos móveis para realização da função. Estes fatores podem impor esforços adicionais, causando fadiga muscular e conseqüentemente dores.
Os autores RODHER; COURY; SANDE (1996) relatam que o indivíduo que permanece sentado por muito tempo apresenta índice de desconfortos gerais, tais como dor, sensação de peso e formigamento em diversas partes do corpo. Segundo Guimarães e Renner (2003), o trabalho realizado numa postura estática prolongada, tem como decorrência um índice de desconforto e dor maior que com alternância postural. Manter-se com o tronco ereto, a musculatura paravertebral fica em constante tensão e o trabalho estático torna-se altamente fadigante (SJOGAARD; JENSEN, 2000).
A repetição pode gerar várias alterações nas estruturas musculoesqueléticas da coluna lombar, a ação de passagem da postura em pé para a sentada aumenta em aproximadamente 35%, a pressão no interior do disco intervertebral (ZAPATER; SILVEIRA; VITTA; et al., 2004). A pressão intradiscal no núcleo pulposo na postura ereta sentada é de 140 Kg e, quando associada à inclinação anterior do tronco aumenta até 185 Kg, pois o peso do corpo é apoiado nas tuberosidades isquiáticas e nos tecidos moles circundantes (POMPEO, 2001). A curvatura lombar depende da inclinação do sacro, que depende da postura da pelve (SANTOS, 1996).
Não podemos deixar de citar as possíveis conseqüências vasculares pela adoção prolongada da postura sentada, da falta de movimentação nas pernas, o que dificulta o retorno venoso, sinalizados por desconfortos nos membros inferiores (SJOGAARD e JENSEN, 2000).
Estudos apontam que entre os diversos fatores de risco envolvidos, a alteração biomecânica é um dos principais fatores no desencadeamento de distúrbios osteomusculares (VIEIRA e KUMAR, 2004).
A avaliação por meio da fotogrametria computadorizada pode permitir a análise da postura, a detecção das deformidades, quantificação em graus dos desnivelamentos encontrados. Diante disso, o objetivo do estudo foi verificar as possíveis alterações posturais em indivíduos que tem suas atividades de trabalho realizadas com a postura sentada a mais de 3 anos na função e relacioná-las com as dores relatadas. Compreendemos a importância destas avaliações, entendendo que a execução das atividades profissionais cronicamente, em determinadas posturas, pode favorecer a instalação de desequilíbrios musculares e logo, alterações da postura corporal, que por sua vez, podem desencadear a dor.
Material e método
A amostra foi composta por 11 mulheres com idades entre 24 e 58 anos que trabalhavam em uma empresa do terceiro setor, cuja função estava relacionada ao atendimento público em postura sentada por 8 horas diariamente. A empresa foi informada do projeto através de uma solicitação por escrito para utilização do espaço de trabalho, bem como, do grupo de funcionários. Após a autorização e explicação dos procedimentos a serem realizados, os funcionários que exerciam a função de atendimento ao público por no mínimo 3 anos foram convidados a participar da pesquisa, que voluntariamente após sua aceitação, assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Para a coleta de informações foi aplicado um questionário composto por questões relacionadas aos dados que se pretende coletar: gênero, idade, profissão e tempo de serviço na empresa e outro questionário (Pfizer Pharma© 2005) sobre dor (FREYNHAGEN, BARON, GOCKEL, et al., 2006). Os dados foram coletados na própria empresa. A avaliação postural foi realizada por meio de análise fotográfica do indivíduo (fotogrametria), em posição ortostática, nos planos, frontal (anterior e posterior) para observação somente dos desvios laterais. A fotogrametria é instrumento capaz de detectar mais precisamente as assimetrias, bem como, a possibilidade de fazer a reavaliação por diferentes examinadores, pela melhor concordância (IUNES, BEVILAQUA-GROSSI, OLIVEIRA, et al., 2009).
Para a avaliação postural, os sujeitos da pesquisa trajavam roupas esportivas (short e top), foram fotografadas em posição ortostática, sem nenhuma informação de como se posicionar diante da máquina fotográfica, para evitar a sugestão de uma postura adequada, e assim, evitar falsos resultados. Apenas foram informadas para se posicionarem de frente e de costas para máquina fotográfica até que a imagem fosse registrada.
Anteriormente ao posicionamento diante da máquina fotográfica, as voluntárias foram demarcadas com adesivos de 13 mm, nas estruturas anatômicas de referência. O método empregado e os pontos anatômicos de referência neste estudo derivam do protocolo SAPo® (Software para Avaliação Postural). Os sujeitos tiveram seus pontos anatômicos demarcados, no plano frontal com vista anterior: glabela, incisura jugular, acrômios, cicatriz umbilical e nas espinhas ilíacas ântero-superiores; no plano frontal posterior: sétima vértebra cervical, ângulos superior das escápulas (NSE), nona vértebra torácica e na quinta vértebra lombar.
A máquina fotográfica digital da marca Sony Cyber Shot 7.2 mega pixels estava posicionada sobre um tripé estável à 3m de distância do sujeito e a uma altura de 92 centímetros do solo para o registro das fotos. Foram registradas três imagens para cada indivíduo. Após o registro todas as imagens foram calibradas pelos pontos de referência no programa Corel Draw (versão 11.0) para garantir o alinhamento de 90 graus horizontalmente para uma análise fidedigna, sem a necessidade do fio de prumo. Foi mensurado o nivelamento dos ombros (NO), da pelve (NP) e das escápulas - ângulos superiores (NES), o alinhamento onfálico (AO), cabeça-tronco (CT), coluna superior (CS), coluna inferior (CI) conforme figura 1. Os dados foram lançados na planilha Excel e tratados de forma descritiva.
Figura 1. Ângulos avaliados no plano posterior, onde NES (nivelamento escapular superior); CS (alinhamento da coluna superior); CI (alinhamento da coluna inferior), para avaliação
anterior, NO (nivelamento dos ombros); CT (alinhamento cabeça-tronco); NP (nivelamento da pelve) e AO (alinhamento onfálico). Fonte: Imagem adaptada de Iunes et al. (2009, p. 310)
Resultados
Foram avaliados 11 sujeitos do sexo feminino com idades entre 24 e 58 anos, com a média de idade de 34, 36 anos (DP ± 9,42). Mulheres que trabalhavam na função mais de três anos na mesma empresa, a média de trabalho foi de 6,18 anos (DP±2,6), a mínima 3 e a máxima 12 anos exercendo a mesma função. O sintoma de dor nas regiões do tronco e cintura escapular foi citado pela maioria dos sujeitos. Ao analisar as respostas sobre dor do questionário aplicado pain-detect de Pfizer Pharma© GmbH (2005) (FREYNHAGEN, BARON, GOCKEL, 2006), 90,9% (10) dos sujeitos relataram sentir algum tipo de dor, sendo que 09 referiram nas últimas 4 semanas que antecederam a pesquisa e avaliação e um não relatou qualquer dor associada. Entre os 10 sujeitos que apresentaram alguma sintomatologia de dor, 40% (04) referiram intensidade de dor de nível quatro, 20% (02) de nível cinco e 30% (03) dor nível oito na escala de referência entre 0-10 do questionário. As dores são fortes e repentinas na região afetada para 20% (02) para outros 20% (02) uma dor leve pode ser desencadeada por pequena pressão local, enquanto que, para 40% (04) este tipo de toque leva a uma dor de intensidade moderada na região. Para compreender melhor as sintomatologias relacionadas foi realizada uma avaliação postural por fotogrametria.
Os resultados mostrados na tabela 1 referem-se aos dados resultantes das variáveis estudadas, os ângulos de alinhamento e nivelamento estruturais no plano frontal.
Tabela 1. Valores angulares das resultantes dos traçados dos pontos
anatômicos básicos de referência do plano frontal anterior e posterior
Analisando a tabela 1, a amostra está com a média entre os valores considerados funcionais nos ângulos estudados no plano frontal vista anterior tanto na posterior para o NO (91,2° ±1,26) NP (91,4° ±2,04), AO (89,3° ±1,87), CT (89,7° ±3,31), NES (90,4° ±4,92), CS (89,1° ±2,53) e CI (91,1° ±2,51). No entanto, ao observar os sujeitos individualmente pode-se verificar que existem valores angulares que oscilam entre os limites de funcionalidade e acima destes valores entre os nivelamentos e alinhamentos analisados. Em NO os valores estão dentro da normalidade funcional. Em NP três sujeitos (27,2%) apresentam valores fora dos limites da funcionalidade, com supra-nivelamento da EIAS direita em (A), (B) e (C). Ainda na análise pelo nivelamento da pelve pelas EIAS, outros dois sujeitos (D) e (E) estão próximos dos valores limites. No alinhamento CT e de AO a média dos ângulos ficou muito próximo da alinhada, porém, analisando isoladamente percebem-se variações maiores entre os resultados, para os ângulos, o desvio padrão foi de ±3,31 para CT e 1,86 para AO. Um sujeito (A) apresentou um desvio de 6,40° para e esquerda (83,6°) e outro (D) para o mesmo lado em 5,10° em CT, enquanto que, outros dois sujeitos (E/93,2°) e (G/93,4°) apresentaram desvios para a direita fora dos limites funcionais. Em AO, apenas um sujeito (I) apresentou um valor que está em cima do limite funcional (87°), que precisa observado.
No plano frontal posterior, em análise do nivelamento escapular superior (NES), coluna superior (CS) e coluna inferior (CI).
Em NES a média do grupo ficou 90,4°, houve maior variação nos resultados (DP±4,92), dez (90,9%) sujeitos apresentaram desvios posturais acima dos valores considerados funcionais (A/94°), (B/93,8°), (D/83,7°), (E/94,7°), (F/86,5°), (G/87,1°), (H/93,8°), (I/81,9°) e (J/97°). Apenas dois, (C/91,5°) e (K/90,5°) estão entre a normalidade. Entre os que estão fora dos limites, mas que estão em valores funcionais limítrofes, os sujeitos (A), (B), (E), (F), (G) e (H), entretanto, os sujeitos (D), (I) e (J), estão entre os ângulos não funcionais.
Os alinhamentos CS e CI relacionados à coluna vertebral, em superior e inferior, observam-se desvios para a direita de até 4,30° (85,7°) e para esquerda entre os valores de 3 graus de desvio, em CS os desvios em sua maioria se mantiveram dentro dos valores de 3 graus, destacando dois sujeitos, o (A) que apresentou valores acima dos funcionais com desvio de 5,50° para esquerda, e o (H) com desvio de 3,70° para direita (funcionalidade limítrofe). De forma geral, constata-se que a maioria (90,9%) possui algum tipo de desvio postural associada acima dos valores de referência funcionais, acima dos 3 graus.
Discussão
A postura sentada é uma postura que a maioria das pessoas utiliza, passa grande parte do seu tempo nesta posição para as diversas atividades de trabalho, de escritório, nos consultórios ou mesmo durante o descanso, diante da televisão, frente ao computador, ou mesmo lendo (CARDOSO e POPOLIM, 2006). Mandal (1981 apud REIS, MORO e CONTIJO, 2003) relata que as dores nas costas acontecem por sentarmos demais, a trabalharmos sentados, a nos locomovermos sentados e depois vamos para casa sentar. Kendall; McCreary; Provance (1995) citam que a relação e compreensão da dor com a má postura, são os efeitos cumulativos de pequenas, repetitivas e constantes sobrecargas.
Em longo prazo pode-se gerar desequilíbrios musculares que geram modificações angulares e alterações no movimento e, conseqüentemente faz-se a utilização de posturas antálgicas na tentativa de diminuir o desconforto, formando um ciclo vicioso de dor e má postura.
Verderi (2005) cita que muitos sintomas como dores de cabeça, formigamento nos braços, dores em certas regiões do corpo, inclusive dores abdominais, tem sua origem nos desequilíbrios posturais. Grandjean (1997) verificou que a dor na região lombar é o desconforto que mais afeta a saúde do trabalhador com 57% das queixas, pesquisa esta realizada com sujeitos que executavam suas atividades sentadas.
Os sujeitos desta pesquisa relataram que as dores incomodam durante as atividades funcionais do trabalho e em casa, tendo a necessidade de mudança de postura a todo o momento. Nenhum dos sujeitos havia realizado qualquer avaliação postural até o presente momento.
A aplicação de uma avaliação postural foi fundamental para o entendimento das queixas de dor referida nestes sujeitos que permanecem sentados por 8 horas/dia para sua função no trabalho, uma vez que a análise por fotogrametria permitiu averiguar e quantificar os desvios encontrados, e com isso, associar que, as queixas de dor podem ser sugestivas de uma má postura adquirida.
Estudos de Dohnert e Tomasi (2008), “a instalação patológica foi considerada a partir de ângulos inferiores a 88 e 87º, ou superiores a 92 e 93º, respectivamente, em relação aos 90º dos eixos das ordenadas y e abscissas x”.
“Para resultados de alinhamento e nivelamento são admitidas oscilações de até três graus como limite de funcionalidade e/ou dominância lateral”. (RICIERI, 2007, p.172).
Na análise postural na vista anterior em NO observou-se que nenhum sujeito apresentou desvios posturais acima dos valores angulares funcionais e dois sujeitos apresentam elevação do ombro direito próximos dos valores limites (B e G). É importante ressaltar, mesmo que os valores estejam na zona funcional, porém, próximos dos valores limites em determinados ângulos estudados, faz necessário uma investigação e/ou mesmo uma intervenção preventiva para que não se estabeleça futuramente problemas posturais. O nivelamento pélvico (NP) é um ponto estrutural importante de estudo, pois, estabelece a base de suporte e distribuição das cargas. É o elemento básico fundamental do alinhamento postural, um desequilíbrio muscular que se opõem entre si, muda o alinhamento da pelve afetando as partes adjacentes acima e abaixo da mesma (KENDALL, MCCREARY E PROVANCE, 1995). Segundo Westtcot et al (1997 apud GUIMARÃES et al., 2007) pode comprometer a habilidade de manter o centro de massa corporal em relação com a base de sustentação, e até favorecer quedas permitindo a execução dos movimentos incorretamente. No estudo foram relacionados 3 sujeitos com desvios posturais, sendo eles, (A), (B) e (C), representando 27% da amostra.
Em relação ao alinhamento da cabeça, Kendall; McCreary; Provance (1995) pressupõem que um bom alinhamento é aquele mantido numa posição ideal, neutra, sem desvios anteriores, posteriores ou laterais, bem equilibrada com o menor esforço muscular, tal postura depende do alinhamento da coluna superior.
Neste estudo, no alinhamento da cabeça-troco (CT), sete sujeitos (63,6%) apresentaram valores funcionais (B), (C), (F), (H), (I), (J) e (K), isto é, dentro dos três graus de variação. Sendo que (C) está em 92,5° e (F) em 93°, desvios tendendo aos limítrofes da interpretação dos ângulos resultantes; dois sujeitos (18,1%) entre 3 graus e 5 graus, (E) e (G); entretanto, dois sujeitos (18,1%), (A) e (D) apresentaram valores maiores que 5 graus (não funcional).
Em NES foram encontradas a maior quantidade e a maior variação entre os desvios: nove (81,8%) apresentaram desnivelamento escapular, onde 44,44% encontram-se em desvios fora dos limites funcionais. Apenas os sujeitos (C) e (K) não apresentaram desvios posturais nesta região. Desvios escapulares afetam a articulação do ombro e conseqüentemente seu posicionamento no espaço, essas alterações predispõem a lesão e a dor crônica. (KENDALL; MCCREARY; PROVANCE, 1995). A escápula está associada à articulação gleno-umeral, é o pivô central em torno da maioria dos movimentos dessa articulação (KIBLER, 1991).
Ao analisar os sujeitos individualmente observa-se que (A) foi o que apresentou maior número de desvios entre os ângulos estudados. Possui a maior idade do grupo: 58 anos, e igualmente o que tem mais tempo de trabalho na empresa, exercendo a mesma função de atendimento ao público na postura sentada, sugerindo a relação do tempo da função e os desvios posturais presentes. O único sujeito (K) que não apresentou desvios posturais do mesmo modo relatou não sentir qualquer dor, sua média entre os ângulos estudados foi de 90,2°, muito próxima de alinhada (DP± 1,12), o tempo de serviço na empresa é de 4 anos, não sendo o menor tempo de serviço na empresa.
A relação de dor e os desvios posturais do grupo estudado coincidiram que o único sujeito que não relatou dor, não apresentou qualquer tipo de desvio postural. Deve-se salientar que a avaliação postural é estática, no entanto, possui uma relação dinâmica com as partes do corpo, que se adaptam em resposta aos estímulos recebidos. Ao permanecer muito tempo sentado exercendo uma determinada função expõe-se ao surgimento de problemas físicos, que podem ocasionar afastamentos do trabalho, diminuição do rendimento e conseqüentemente a diminuição da produtividade. (CARDOSO e POPOLIM, 2006). Estas adaptações posturais ocorrem em função da diminuição da força muscular, causando progressivos desvios nas estruturas envolvidas que levam a desencadear dores. (FREITAS, NERI, CANÇADO, et al., 2002). Estes desvios posturais geram encurtamentos e/ou contraturas musculares, isto, faz com que, diminua à relação comprimento-tensão do sarcômero comprometendo a capacidade de gerar força, por alterações biomecânicas de contração muscular (McARDLE, KATCH, KATCH, 2003). A coluna vertebral é muito complexa e depende da integração funcional das estruturas do sistema músculo-esquelético adjacente.
Conclusões
O presente estudo demonstrou que a maioria dos sujeitos (90,9%) apresentou desvios posturais na análise no plano frontal, das quais os mesmos 90,9% referiram sentir algum tipo de dor. O único sujeito que não referiu sentir dor, não apresentou qualquer desvio postural neste plano. O sujeito que apresentou maior número de desvios posturais era a mais velha do grupo (58 anos) e a que possuía mais tempo de trabalho na função (12 anos). As dores referidas podem estar relacionadas às alterações posturais, a função exercida e ao tempo em que exerce a função.
Sendo assim, sabendo que os desvios posturais geram movimentos biomecânicos incorretos, que podem criar prejuízos significativos ao sistema musculoesquelético, particularmente às estruturas que compõem a coluna vertebral, e, ainda comprometer a qualidade de vida desses sujeitos. É de fundamental importância a investigação de uma associação de patologias que envolvem diretamente a coluna vertebral, como as escolioses, cifoses e hiperlordoses, bem como, retificações na coluna desses sujeitos que trabalham 8 horas/dia na posição sentada.
Existem muitos estudos sobre a ergonomia no trabalho nas literaturas, no entanto, é recente a cultura ergonômica nas empresas. Talvez estes desvios possam ter sido adquiridos antes mesmo, de todos os ajustes ergonômicos.
Sugere-se que além da conscientização corporal postural, é necessária uma intervenção direta para diminuir ou mesmo fazer desaparecer estes desequilíbrios musculares para melhor desempenho postural, como exercícios resistidos, alongamentos, entre outras técnicas que podem associar-se ao ambiente de trabalho, como a ginástica laboral.
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