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Contribuição dos idosos residentes em uma comunidade rural
brasileira para o processo de desenvolvimento sustentável local

La contribución de las personas mayores residentes en una comunicad rural brasileña al proceso de desarrollo sustentable local

 

*Mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes

**Doutoranda em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG

***Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto Superior de Educação – ISEIB

Certificação Green Belt (com ênfase em Estatística Descritiva e Inferencial - Metodologia “Seis Sigma”)

****Graduado em Serviço Social pelas Faculdades Santo Agostinho

(Brasil)

Máximo Alessandro Mendes Ottoni*

Marília Borborema Rodrigues Cerqueira**

Soraya Cavalcante Nunes Ottoni***

Vercy José Gonçalves-Neto****

maximo.ottoni@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O envelhecimento populacional é uma realidade percebida na maioria dos países, observando-se números crescentes de idosos na atualidade. Estudar o idoso no meio rural é investigar suas peculiaridades, visto que o fato de residirem em áreas rurais faz com que as vulnerabilidades dos idosos sejam naturalmente acentuadas, uma vez que existem características diferenciadas dos idosos da zona urbana. Neste sentido, o objeto geral deste trabalho foi verificar as contribuições dos idosos moradores da comunidade rural Riacho do Meio, distrito do município de Montes Claros, localizado no Estado brasileiro de Minas Gerais, no processo de desenvolvimento sustentável local. A metodologia utilizada foi observação participante e entrevistas com aplicação de questionário semi-estruturado, realizadas em visitas domiciliares, abordando 10 idosos, além da pesquisa bibliográfica e documental. Entre os resultados, ressalta-se o bom padrão de vida dos idosos rurais estudados, apesar dos baixos salários e da renda ser oriunda do governo. Têm moradia própria, em bom estado de conservação e com infra-estrutura adequada para condições de uso na terceira idade. Há um ciclo de amizades, sendo fortes os laços entre eles. Os idosos entrevistados têm uma noção dos cuidados primários com a saúde; fazem uso de medicamentos controlados e recebem informações dos programas de saúde através do Programa de Saúde da Família – PSF. Tratando-se de políticas públicas, também a Bolsa Família tem destaque entre os idosos, com repasses financeiros à população carente. Conclui-se que os idosos que vivem na comunidade Riacho do Meio são a principal fonte de recurso e apoio, enaltecendo-se a família, como fonte de proteção para o envelhecimento rural e, como tal, deve ser foco de políticas governamentais adequadas às particularidades dessa população.

          Unitermos: Envelhecimento populacional. Comunidade rural. Idoso. Desenvolvimento sustentável. Políticas públicas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento, tanto mundial como brasileiro, é uma realidade percebida na maioria dos países, sendo esse o segmento populacional que mais cresce na atualidade. Estudar o idoso no meio rural é investigar suas peculiaridades, suas dificuldades e como essa população pode contribuir para o desenvolvimento da comunidade.

    O fato de residirem em áreas rurais faz com que as vulnerabilidades dos idosos sejam naturalmente acentuadas, uma vez que existem características diferenciadas dos idosos da zona urbana: a média de rendimento dos idosos da área rural é menor que os urbanos; os primeiros têm maiores problemas de saúde e tendem a ser mais severos que os segundos; os moradores da área rural consomem maior quantidade de álcool; ao mesmo tempo em que os problemas de saúde mental não são facilmente tratados e de fato, os serviços de atenção a saúde são escassos, inacessíveis e mais custosos que em área urbana; o transporte público é mais necessário, mas muito menos disponível do que na área urbana, tanto intra como inter regional (MORAIS et al., 2008).

    Sendo assim, será objeto de pesquisa a comunidade rural Riacho do Meio, na qual se pretende verificar as possíveis contribuições dos idosos moradores da comunidade, no processo de desenvolvimento sustentável local. Poucos são os achados literários da comunidade Riacho do Meio, o que instiga a construção da pesquisa; além do interesse pessoal dos pesquisadores na área empírica pelo fato da comunidade ter sido campo de estágio de alguns deles.

    Para desvendar as nuances propostas por essa pesquisa sobre a população idosa da Comunidade Rural Riacho do Meio, distrito do Município de Montes Claros (MG), elegeu-se uma abordagem metodológica que é a pesquisa quanti-qualitativa, comumente chamada de "estudo de campo" que, conforme Gil (1999), procura o aprofundamento das questões propostas, havendo grande flexibilidade no processo de planejamento, podendo ocorrer mudanças mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo do processo de pesquisa. Foi também utilizada a técnica de observação participante que, segundo Moreira (2002), é uma estratégia de campo que combina, simultaneamente, a participação ativa com os sujeitos e a observação intensiva em ambientes naturais. Com essa técnica, pode-se chegar ao conhecimento de um grupo, a partir dele mesmo. A entrevista foi realizada com aplicação de questionário semi-estruturado, com a qual se dispõe a compartilhar as experiências dos sujeitos pesquisados.

    Na pesquisa realizada na comunidade rural Riacho do Meio, os dados foram coletados levando em consideração o tipo de abordagem da pesquisa. Para tal, foram realizadas visitas domiciliares aos idosos da comunidade. O dia eleito para a realização das atividades foi o domingo, por esse ser um dia propício para encontrar o morador em sua residência. A pesquisa foi realizada dia 19/10/2008.

    Participaram da pesquisa 10 idosos moradores da comunidade rural Riacho do Meio, sendo que 01 idoso não pode responder às questões devido a um problema auditivo. Os critérios para a entrevista foram: idosos que tenham 60 anos ou mais, ambos os sexos; ser morador da comunidade rural Riacho do Meio e; estar em boas condições de saúde para responder as perguntas.

1.     A Comunidade Rural Riacho do Meio

1.1.     Breve Histórico da Comunidade Rural Riacho do Meio

    Localizada no Estado brasileiro de Minas Gerais, a 17 km da cidade de Montes Claros, no quilômetro 13, sentido Montes Claros/Pirapora, BR-365, está situada a comunidade rural Riacho do Meio (vide FIG 01). O nome da comunidade é devido a um pequeno curso d’água que corta a região (VELOSO e FIGUEIREDO, 2007).

    A comunidade rural Riacho do Meio é composta por 78 moradores. Das 38 residências, das quais 08 são utilizadas como área de lazer nos fins de semana e 30 residências utilizadas como moradia fixa (ANDRADE, 2006a).

    Na década de 1960, a região era composta por grandes fazendas. O senhor Neco Santa Maria possuía uma fazenda na qual o senhor Calixto Rodrigues Oliveira e sua esposa Maria Pereira Dias foram trabalhar nela. Após alguns anos de trabalho, o senhor Calixto tornou-se proprietário de alguns hectares, através da usucapião (modo derivado de aquisição da propriedade, através de sua posse continuada durante um determinado tempo) (LAROUSSE, 1992).

    Mais tarde essas terras foram divididas entre os filhos, e esses constituíram famílias, dando início à comunidade rural Riacho do Meio (ANDRADE, 2006b).

    No início, não havia energia elétrica e nem água encanada. A água utilizada era do córrego, e a iluminação era feita por meio de lamparinas. A economia era a agricultura de subsistência e havia comércio de produtos como rapadura, farinha, galinhas e porcos. Tais produtos eram comercializados na cidade de Montes Claros, levados precariamente por meio de carroções e animais cargueiros (VELOSO e FIGUEIREDO, 2007).

    O atendimento à saúde era precário, uma vez que moradores que se encontravam enfermos eram levados à cidade de Montes Claros, e muitos dependiam da boa vontade de vizinhos para receberem atendimento médico, o que comprometia a qualidade de vida dos moradores. (Andrade, 2006a).

    O acesso à educação era outro fator dificultador, pois as crianças do Riacho do Meio tinham que se deslocar até a comunidade de Santa Bárbara (distante aproximadamente 4 km da comunidade) onde havia somente o ensino de 1ª a 4ª série (séries iniciais do Ensino Básico). Ao final da década de 1970, criou-se uma escola no antigo posto de gasolina Miguelzinho, mas essa funcionou por apenas um ano. No ano de 1980, a senhora Alice Maciel doou um terreno e foi construída a Escola Municipal Idoleta Maciel. Em 1990, a Escola Municipal Idoleta Maciel foi desativada, e os alunos retornaram para a escola de Santa Bárbara (ANDRADE, 2006b).

    Para lutar pelos seus direitos e buscar melhorias, alguns moradores se reuniram e formaram uma associação comunitária, tendo como presidente o senhor Aristeu Rodrigues dos Reis. Um dos benefícios da associação foi a aquisição de uma caixa d’água abastecida por um caminhão pipa, que foi substituída por um poço artesiano adquirido em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER (ANDRADE, 2006b).

    Na atualidade, algumas famílias recebem apoio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF para aumento da produção, e a comercialização é feita junto à Central de Abastecimento do Norte (Ceanorte). O PRONAF objetiva valorizar e divulgar a agricultura familiar e o desenvolvimento socioeconômico sustentável rural. Dentro do PRONAF, existem ações como a Garantia-Safra que prevê benefício à família no período de seca; o Seguro da Agricultura Familiar, garantindo financiamento ao agricultor familiar; o PAA, incentivando a agricultura familiar, permitindo a compra, formação de estoques e distribuição de alimentos àqueles em situação de insegurança alimentar (KASSOUF et al., 2004). No transporte, o ônibus coletivo passa três vezes por dia, fazendo o trajeto entre a comunidade e a cidade de Montes Claros. Na área da saúde, foi criada a unidade do Programa de Saúde da Família - PSF.

1.2.     Análise dos resultados e discussão

    A maioria dos idosos entrevistados se encontra com a idade entre 65 e 69 anos (40%); os demais se encontram na faixa etária de 60 e 64 anos (20%) e somente 10% se encontram com 80 anos ou mais.

    Camarano (1999) comenta quão crescente é o número de idosos e que, no mundo atual, os centenários ainda são baixos, podendo este subgrupo ser considerado uma raridade. Já no Brasil, em 1996, os centenários não atingiram 0,1% da população total do país. Mas é esperada uma elevação de idade, decorrente da queda da mortalidade.

    Em relação ao sexo dos pesquisados, os dados levantados demonstraram algo diferente das pesquisas, pois foi verificado na comunidade que 60% dos idosos são do sexo masculino, e somente 40% são do sexo feminino.

    Conforme Camarano (1999), as mulheres conseguem uma maior longevidade em comparação aos homens, sendo esse fenômeno chamado de “feminização da velhice”. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, no ano de 2000, para cada 100 mulheres brasileiras entre 60 e 64 anos, havia cerca de 88 homens. E quando se compara idosos de 80 anos ou mais, existe a previsão que para o ano de 2020, 2/3 dos idosos sejam mulheres e vivam nove anos a mais que os homens, ou seja, para cada 100 mulheres, haverá 50 homens da mesma idade.

    Como se vê, à luz da literatura atual, autores comentam sobre a maior longevidade ser do sexo feminino. A justificativa plausível para tal discordância na pesquisa realizada em campo pelos pesquisadores seria que o universo é pequeno para dizer que os homens são maioria no meio rural.

    No quesito escolaridade, 100% (cem por cento) dos idosos responderam que estudaram somente as séries iniciais. O motivo seria que as pessoas precisavam trabalhar na sua infância para ajudar a família. Somando-se a isso, não existia escola na comunidade, e o acesso era inviável devido à grande distância que precisariam percorrer.

    No quesito habitação, a maioria dos idosos disse que possuem residência própria, sendo que somente um (01) mora de favor, em uma pequena habitação um pouco afastada da residência-sede, pois o entrevistado trabalha como empregado no sítio.

    Camarano (1999) comenta que muitas pessoas conseguiram bens devido a uma época mais propícia da economia brasileira, onde havia melhores condições financeiras para a aquisição da casa própria. Andrade (2006a), em seus achados, narra como caracterização in loco que das 38 residências na Comunidade Riacho do Meio, apenas 08 são utilizadas para o lazer dos moradores.

    De acordo com os dados levantados sobre renda mensal, todos os entrevistados têm como renda fixa a aposentadoria. A maioria (09) recebe um salário mínimo, e somente um morador recebe dois salários mínimos. Apesar dos baixos salários e da renda ser oriunda do governo, os idosos da comunidade possuem um bom padrão de vida, de acordo com o diagnóstico situacional realizado pelos pesquisadores.

    Quanto à atividades de lazer, existem poucas alternativas na comunidade, sendo que a maioria (70%) dos idosos afirmou não gostar de jogos. Alguns, ainda, responderam que o motivo é devido à religião protestante que não permite jogos de azar.

    Dos entrevistados, perguntado sobre leitura e acesso às informações, 40% não sabem ler, 20% não gostam de ler e 40% destes fazem uso de leituras de livros e jornais. Quanto ao acesso às informações, a maioria respondeu que as obtêm por meio de TV, seguido por rádio.

    A justificativa para que a maioria dos idosos opte pela prática do acesso à informação por meio da TV e do Rádio é o baixo nível de escolaridade. Há algumas décadas, o estudo não era muito valorizado, da mesma forma que o acesso à escola era privilégio de alguns, principalmente na zona rural. Os idosos entrevistados também apresentaram o mesmo perfil, ou seja, a escolarização dessa clientela era difícil (PIRES e SILVA, 2001).

    Quanto à prática de exercícios entre os idosos entrevistados, 100% deles responderam não realizar esta prática e justificam que já caminham muito pela comunidade. Segundo os mesmos, este tipo de atividade física não é válido, conforme orientações recebidas do PSF da comunidade.

    Referente ao tabagismo, alcoolismo e uso de medicamentos, somente 01 morador relatou que é alcoolista e o outro é tabagista e alcoolista, sendo que todos os idosos responderam que fazem uso de medicamentos.

    Perguntados o que a comunidade tem de positivo, a maioria dos entrevistados respondeu que é a união da comunidade. Outros responderam que são os laços de amizade, e um morador respondeu que foi a presença do Serviço Social em seu meio (pois a comunidade foi um campo de estágio das Faculdades Santo Agostinho). Quando perguntado sobre o que a comunidade tem de negativo, a maioria diz que não tem nada de ruim. Outros disseram que “falta lazer e ajuda do governo” (Entrevistado 09), “falta boa educação e saúde” (Entrevistado 01) e “a patroa não gosta que eu faço amizades” (Entrevistado 08).

    Conforme Pereira (2001, p. 145),

    Comunidade é um agrupamento de pessoas que vivem em uma determinada área geográfica ou território (rural ou urbano) cujos membros têm alguma atividade, interesse, objetivo ou função de comum, com ou sem consciência de pertencimento, e de forma plural, com múltiplas concepções ideológicas, culturais, religiosas, étnicas e econômicas.

    Nas questões referentes ao desenvolvimento sustentável, perguntado se faz algum tipo de plantio ou cria animais, a maioria dos idosos responderam que sim. Somente um respondeu que não faz plantio e nem cria animais devido à sua idade avançada e à condição física e de saúde. Quanto à agricultura, os entrevistados plantam, em sua maioria, hortaliças, milho e feijão. Quanto aos animais, criam principalmente, galinhas, porcos e gado. A produção se destina ao consumo próprio e à comercialização. Somente um idoso consegue agregar valor ao seu produto, repassando a produção agrícola para a pequena fábrica de doces do filho.

    Santos (2007) diz que “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades dos presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades”. E Camargo (2003) comenta sobre a vinculação do desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sustentável. Dessa forma é percebido que os idosos conseguem associar tais questões, em prol do seu sustento e do sustento da sua família.

    Na pergunta “Qual a sua contribuição para a comunidade?”, os moradores responderam que fazem doação aos que necessitam; são amigos; prestam serviços à comunidade; 01 ajuda na celebração da missa; e 01 morador comentou que toma conta e dá manutenção no poço tubular da comunidade, mas recebe contribuição pelo serviço.

    Por contribuição advinda da população idosa, entende-se a continuação na atividade econômica, mesmo quando aposentado, o trabalho voluntário, a contribuição no orçamento familiar, a provisão de acomodação, o cuidado com netos (...). (CAMARANO, 2004, p. 257).

    Pereira (2001) comenta que a participação popular integra as pessoas ao funcionamento harmonioso do sistema, gerando ordem social e criação do poder popular. Ocorre valorização dos moradores, promovendo-se novos tipos de relacionamento comunitário, criando-se espaços e estratégias para formação do senso crítico e a valorização do cotidiano e do concreto da vida dos indivíduos.

    Perguntado o que a pessoa entende por desenvolvimento sustentável, a maioria não soube responder. Alguns responderam cuidar dos rios, outro diz que são projetos que ajudam na agricultura, irrigação e comércio. Quem mais se aproximou da resposta disse que são atividades para o sustento próprio e de demais pessoas.

    Conforme Camargo (2003, p. 75):

    (...) a concepção de desenvolvimento sustentável visa promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. O objetivo seria caminhar na direção de um desenvolvimento que integre os interesses sociais, econômicos e as possibilidades e os limites que a natureza define.

    Na questão que pergunta o que o entrevistado entende por envelhecimento populacional, muitos não souberam responder, mas algumas respostas dizem que: “o sofrimento do trabalho faz com que as pessoas envelheçam. A população está vivendo mais por causa da medicina” (entrevistado nº 10).

    O envelhecimento é considerado pela Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS e pelo Ministério da Saúde - MS como:

    [...] um processo seqüencial, individual, acumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie de maneira que o tempo torne capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente e, portanto aumente sua possibilidade de morte (BRASIL, 2006, p.08).

    Perguntado se o entrevistado pretende continuar a morar na comunidade, a maioria diz que sim: “Sim, nasci e cresci aqui” (Entrevistado 01); “Sim, até morrer” (Entrevistado 03 e Entrevistado 06) “Sim, não tenho vontade de mudar” (Entrevistado 01). Somente um entrevistado respondeu que não, por causa da rigidez da empregadora. Dessa forma, foi percebido um grande apego dos idosos a terra. A única exceção é de um morador que não possui residência no local, pois é empregado em uma fazenda.

    Quando se pergunta sobre a existência de política social na comunidade e quais os benefícios delas, os idosos responderam que existem o PRONAF, a EMATER, o Bolsa Família e a aposentadoria. Mas eles somente souberam falar dos seguintes órgãos: PRONAF - fornece empréstimos com juros mais baixos (Entrevistado 10); EMATER - promove cursos, fornece empréstimos e treinamento (Entrevistados 09 e 10).

    Perguntado se existe alguma programação ou atividade social para a terceira idade, a maior parte dos entrevistados respondeu que não. Alguns responderam que “existem reuniões no PSF para os hipertensos e ensinamentos para cuidados com a saúde” (Entrevistados 03 e 05). Um morador respondeu que a atividade ou programação social era a “reza do terço” (Entrevistado 02). Na pergunta sobre como é a relação social entre os membros da 3ª idade, os idosos foram unânimes em dizer que existe relação de amizade, bom relacionamento, confiança e respeito entre todos.

    Quanto à pergunta se o salário/aposentadoria é a principal fonte de renda, 80% dos moradores responderam que sim, os outros 20% responderam que conseguem uma maior rentabilidade com a comercialização de aves, gado, porcos, leite, frutas e fabricação de queijos (Entrevistados 06 e 09).

    Existem muitos idosos que sustentam suas famílias com a sua aposentadoria. Alguns conseguem estar em melhores condições financeiras do que os jovens. Conforme Camarano (1999) é devido a uma época mais propícia da economia brasileira. Isso leva a pensar que os idosos do futuro estarão em piores condições do que os idosos atuais.

Considerações finais

    A população que vive na zona rural Riacho do Meio está envelhecendo à semelhança dos que vivem nas zonas urbanas, assim como acontece em vários países do mundo. Porém, é possível observar nos resultados dos estudos com esta população as diferenças existentes, e as características da região.

    Apesar dos baixos salários e da renda ser oriunda do governo, os idosos da comunidade possuem um bom padrão de vida. No entanto, mesmo com baixos salários, muitos idosos conseguem sustentar suas famílias com a sua aposentadoria. Alguns conseguem estar em melhores condições financeiras do que os jovens. Isso pode ser explicado pelo processo de divisão de terras partilhadas por seus antepassados, pois, a maioria dos entrevistados possui suas próprias moradias, em bom estado de conservação e com infra-estrutura adequada para condições de uso na terceira idade (poço artesiano, água encanada e rede elétrica).

    Vale ressaltar que estes mesmos idosos entrevistados têm uma noção dos cuidados primários com a saúde, apesar de todos não fazerem prática de exercícios. Eles fazem uso de medicamentos controlados e recebem informações dos programas de saúde através do Programa de Saúde da Família - PSF.

    A distância entre os vizinhos é relativamente pequena, o que contribui para o ciclo de amizades e locomoção dos envolvidos, sendo uma das características marcantes dos entrevistados, a união entre eles, enaltecendo os laços de amizade, independente da opção religiosa. Nesta perspectiva, os idosos da comunidade são divididos em dois grupos, em que a maioria é Católica.

    O fato de haver um desnível no solo da comunidade, os moradores denominaram de “parte alta” e “parte baixa”. Na “parte alta” existe um salão de eventos dos cultos realizados pelos evangélicos e neste mesmo local está a maioria dos idosos evangélicos. Já na “parte baixa” encontra-se o salão comunitário onde, além dos eventos em comum, também são realizadas as celebrações católicas. As residências dos idosos católicos encontram-se no entorno do salão comunitário.

    Os idosos da comunidade têm poucas atividades de lazer, sendo que os evangélicos não apreciam os jogos de azar. No que diz respeito ao acesso à informação, os idosos entrevistados optaram pela TV e Rádio, a justificativa é a dificuldade de outras opções de informação e pelo baixo nível de escolaridade.

    Os entrevistados têm conhecimento das políticas públicas existentes em sua comunidade e citaram o PSF como órgão que auxilia na saúde, a EMATER que fornece orientações e treinamentos, o PRONAF que concede empréstimos, além do Bolsa Família, com repasses à população carente.

    A maioria dos idosos entrevistados não tem noção do que é envelhecimento populacional e do significado de desenvolvimento sustentável e, mesmo não conhecendo os termos, são participantes ativos deste processo. A maioria já faz uso de agricultura e criação de animais, o que contribui para uma melhora na alimentação da família, porém, poucos são os idosos que comercializam a produção de alimentos.

    Na pesquisa ficou evidente que os idosos que vivem na comunidade Riacho do Meio são a principal fonte de recurso e apoio. As políticas públicas no meio rural existem, mas em pequena quantidade, o que faz com que o idoso do meio rural consiga menos benefícios dessas políticas. Já a família, é uma fonte de proteção para o envelhecimento rural e, como tal, deve ser foco de políticas governamentais adequadas às particularidades dessa população.

Referências

  • ANDRADE, Virgínia Flávio. Diagnóstico da comunidade Rural Riacho do Meio – Desenvolvimento de Comunidade Rural / Santo Agostinho, 2006a.

  • ANDRADE, Virgínia Flávio. Histórico da Comunidade Rural Riacho do Meio [Faculdades Santo Agostinho], 2006b.

  • BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília (DF): MS, 2006 [acesso em 2012 Mar 22]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/caderno_do _idoso_2007.pdf

  • CAMARANO, Ana Amélia. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, 1999.

  • CAMARANO, Ana Amélia. Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA, 2004.

  • CAMARGO, Ana Luíza de Brasil. Desenvolvimento sustentável: Dimensões e desafios. Campinas, SP: Papirus, 2003.

  • GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed., São Paulo: Atlas, 1999.

  • KASSOUF, Ana Lúcia et al. Análise das políticas e programas sociais no Brasil. Brasília, OIT / Programa IPEC América do Sul, 2004. 108 p.

  • LAROUSSE. Dicionário da Língua Portuguesa, São Paulo: Nova Cultural, 1992.

  • MORAIS, Eliane Pinheiro de; RODRIGUES, Rosalina Aparecida Partezani; GERHARDT, Tatiana Engel. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, Abr-Jun; 17(2): 374-83, 2011.

  • MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

  • PEREIRA, Willian Cesar Castilho. Nas trilhas do trabalho comunitário e social: teoria, método e prática. Belo Horizonte: Vozes: PUC Minas, 2001.

  • PIRES, Zenith Rose dos Santos.; SILVA, Maria Josefina da - Autonomia e capacidade decisória dos idosos de baixa renda: uma problemática a ser considerada na saúde do idoso. Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v.3, n.2, jul-dez. 2001.

  • SANTOS, Antônio Silveira Ribeiro dos. Desenvolvimento Sustentável: Considerações. Disponível em: www.aultimaarcadenoe.com. Acesso em 31 mar. 2007.

  • VELOSO, Erivelto Soares; FIGUEIREDO, Miquéias Mota. Serviço Social e Meio Ambiente: uma análise da relação homem x natureza a partir da experiência na comunidade de Riacho do Meio – Montes Claros (MG). 2007. [Monografia de conclusão de curso das Faculdades Santo Agostinho]. FACISA – Faculdades de Ciências Sociais e Aplicadas, 2007.

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