Competições escolares: a realidade da formação de equipes de handebol em escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro La competencias escolares: la realidad de la formación de equipos de balonmano en escuelas públicas y privadas de Río de Janeiro |
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*Mestre em educação Física, UGF **Aluna de graduação do Instituto de Educação Física e Desportos, UERJ (Brasil) |
Camilo Araújo Maximo de Souza* Amanda Catharine da Silva** |
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Resumo O esporte é um elemento de grande relevância no cenário da educação física escolar no Brasil. As competições esportivas escolares estimulam a cultura esportiva na escola. Este trabalho tem como objetivo revelar a realidade vivenciada por professores de educação física responsáveis pela formação e pelo desenvolvimento de equipes de handebol em escolas públicas e privadas que participam regularmente de competições estudantis. A pesquisa revelou existir muitas semelhanças na realidade das escolas públicas e privadas na formação e no desenvolvimento das equipes, as principais diferenças estão nos fatores que dificultam a formação dessas equipes. Unitermos: Competições esportivas escolares. Handebol. Formação de equipes.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O esporte é um elemento, social, cultural, econômico e político de grande relevância na sociedade moderna. Mobiliza um grande número de indivíduos que se relacionam de várias maneiras com este fenômeno, de espectadores do esporte para entretenimento, aos praticantes que preenchem seu tempo de lazer com qualidade ou os que estão inseridos no mercado de trabalho através do esporte profissional.
No mundo contemporâneo, podemos entender o esporte como uma mercadoria como outra qualquer, estando submetido aos princípios que regem o mercado e os seus interesses. O esporte movimenta atualmente, ao redor do mundo, quantias financeiras de grande relevância, tornando-se um importante fator para a economia mundial.
O esporte pode ser considerado também como um elemento de forte teor político, que sofre manipulações de acordo com as finalidades priorizadas pelos governantes, utilizado como parte integrante da política pública de um país, um estado ou um município.
O ideal esportivo, que se desenvolveu notavelmente nas décadas de 1960 e 1970, continua forte e ainda é o principal elemento legitimador da educação física escolar (Millen Neto, Ferreira e Soares, 2011).
As competições escolares são o ápice da relação esporte e educação física na escola. Normalmente essas competições são organizadas de acordo com os modelos determinados no esporte de rendimento, pois as normas, as regras e os objetivos são os mesmos.
Montagner e Soares (2012) defendem que o jogo esportivizado deve ser desenvolvido, como atividade extracurricular, em competições interescolares, intercolegiais e outros torneios, para os interessados em participar das equipes competitivas da escola, com treinamentos em horários diferenciados das aulas de educação física.
Segundo Graeff e Ghiggi (2011), os eventos esportivos escolares demandam uma série de preparativos, como o ensino e a prática das modalidades, as “peneiras” para selecionar os alunos que irão participar das competições, uniformes e deslocamentos, entre outros.
Existe uma clara opção dos professores envolvidos nas competições esportivas estudantis de focalizar o seu trabalho, na escola, em um único elemento da cultura corporal de movimento: o esporte.
Este trabalho tem como objetivo apresentar informações relevantes sobre as realidades vivenciadas por professores de Educação Física, em escolas públicas e privadas, que atuam como treinadores de equipes femininas e masculinas da modalidade handebol.
As informações foram coletadas através de um questionário respondido pelos professores. Esse questionário foi elaborado com perguntas que buscaram conhecer os motivos da participação desses profissionais nas competições estudantis, identificar se as direções das escolas apoiam o trabalho e se estes professores encontram dificuldade para montar e treinar as equipes da escola.
A competição estudantil esportiva escolhida para a realização desta pesquisa foi o Intercolegial, que na época deste estudo estava na sua vigésima nona edição. O intercolegial1 é uma competição disputada, há mais de duas décadas, por milhares de jovens alunos de centenas de escolas, que atualmente participam de dezoito modalidades esportivas.
A participação no intercolegial tem despertado, ao longo dos anos, um grande interesse em escolas públicas e privadas do estado do Rio de Janeiro, por ser uma competição tradicional no cenário esportivo estudantil e por sua visibilidade na mídia. Atualmente, esta competição possui três patrocinadores importantes: uma rede multinacional de lanchonetes, um jornal de grande circulação no país e um canal de televisão especializado em esporte.
A escolha dos treinadores das equipes de handebol ocorreu basicamente por dois motivos: a experiência dos autores deste artigo nesta modalidade e o grande destaque da mesma2, dentro da competição, por ser a segunda modalidade mais popular, só ficando atrás do futsal, em número de equipes e competidores.
Metodologia
Neste estudo, foram entrevistados dezessete treinadores de equipes femininas e masculinas de handebol das categorias sub 12, sub, 14, sub 16 e sub 18, que chegaram as quartas de final da 29ª edição do Intercolegial. Desse grupo de treinadores, seis treinavam equipes de escolas públicas e onze de escolas particulares. Todos os treinadores já haviam participado de edições anteriores do Intercolegial.
A coleta de dados foi realizada através de um questionário aplicado aos treinadores, em entrevistas realizadas pelos pesquisadores. Este questionário era composto de perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha. Todos os treinadores foram entrevistados no mesmo dia, durante a realização da fase final desta competição.
O objetivo da análise dos questionários foi identificar quais as respostas mais freqüentes dadas pelos professores de escolas públicas e privadas a cada uma das perguntas, para uma posterior comparação entre as respostas dos professores desses dois tipos de instituições educacionais, no que diz respeito aos motivos que os levaram a participar da competição, ao nível de apoio oferecido pelas escolas a esses profissionais, e à existência ou não dificuldades em montar e treinar suas equipes.
Como resultado, podemos identificar se existem ou não semelhanças e diferenças, entre as realidades encontradas por professores de educação física de escolas públicas e privadas do Rio de Janeiro que participam de competições esportivas escolares.
Resultados
Questão 1. Qual motivo o levou a inscrever sua escola no Handebol para disputar o 29º Intercolegial*?
Na questão de número 1, o professor podia assinalar mais de uma opção. O resultado referente às respostas dos professores das seis escolas públicas mostrou que a tradição de a escola participar de eventos esportivos, naquela modalidade, influencia e estimula diretamente o professor a participar com suas equipes. A segunda opção escolhida foi à solicitação dos alunos que demonstraram interesse em participar da competição em uma modalidade específica. A escolha pessoal do professor de participar aparece como a terceira opção, assim como outras possibilidades apresentadas como: a divulgação da escola através do esporte e a busca de um patrocínio para custear o projeto esportivo dela.
Os professores das escolas privadas também citam a tradição da escola, como o principal motivo para a participação na competição. Em segundo lugar, aparecem empatadas as opções: solicitação dos alunos, escolha pessoal do professor e outras possibilidades, tais como: a possibilidade de o aluno vivenciar uma atividade extraclasse, a divulgação do projeto esportivo da escola e o reconhecimento da escola enquanto um centro de referência no desporto escolar.
Questão 2. Do seu ponto de vista, qual a opinião da escola quanto à participação da mesma nestas competições?
Na questão de número 2, referente ao apoio dado pelas escolas aos professores e suas equipes, fica claro que, na realidade das escolas públicas, existe apoio por parte da maioria das direções. O número de escolas que apóia pouco ou não apóia as equipes escolares é menor, mas não deve ser desconsiderado, dentro do número de professores entrevistados.
Os professores das escolas privadas responderam que recebem apoio total da escola. Apenas um professor respondeu que a direção de sua escola era indiferente à participação nas competições escolares.
Questão 3. Existe ou já existiu alguma dificuldade em montar e treinar a equipe?
Nesta questão, os professores que responderam ter alguma dificuldade em montar a equipe relataram estas dificuldades, na questão número 4.
Nas escolas publicas, a maior parte dos professores tem algum tipo de dificuldade em montar a equipe, somente um professor diz não ter nenhuma dificuldade.
Realidade semelhante apresentam os professores da rede privada, mais da metade dos entrevistados afirma encontrar dificuldades na montagem e no treinamento de suas equipes.
Questão 4. Em caso afirmativo, qual(is)?
A questão 4 é um desdobramento da questão anterior. Por ser uma questão aberta, possibilitou o surgimento de um número considerável de respostas diferentes, já que cada entrevistado pôde relatar as dificuldades encontradas.
A maior dificuldade encontrada na rede de ensino pública é o apoio financeiro insuficiente para o transporte e a compra de uniformes das equipes. A pequena quantidade de material disponibilizado para os treinos aparece como outra grande dificuldade a ser vencida. Por último, o espaço físico inadequado e a reduzida carga horária disponibilizada para treinamento aparecem, nas entrevistas, como fatores que influenciam negativamente o trabalho desses professores.
Nas escolas privadas, a resistência dos jovens a praticar atividade física regularmente aparece como a principal dificuldade encontrada pelos professores, na montagem e treinamento de suas equipes. O pouco material disponível para os treinos, o espaço físico inadequado para os treinos, carga horária reduzida para o treinamento, a baixa remuneração dos professores responsáveis pelas equipes, a escassez de bolsas de estudo para os integrantes das equipes, a pequena visibilidade da modalidade esportiva na mídia e o calendário das competições esportivas são as dificuldades complementares relatadas por estes professores.
Discussão
A tradição da escola surge como o principal motivo para o desenvolvimento da modalidade e para a participação de escolas públicas e privadas em competições esportivas.
A tradição está intimamente ligada à história de todos os personagens que constituem a comunidade escolar: pais, alunos e professores, demonstrando existir um entendimento de que o projeto esportivo, na escola, faz parte do corpo de atividades elementares desenvolvidas na mesma.
Muitas vezes, esta tradição é reconhecida pelo “mercado” de competições escolares. Várias escolas são conhecidas pelo seu nível de excelência em uma modalidade específica e escolhidas como modelo a ser seguido por escolas concorrentes. Este reconhecimento faz com que a própria escola sinta-se valorizada e permaneça apoiando suas equipes, ao longo dos anos.
A solicitação dos alunos de manutenção dessas equipes esportivas aparece como elemento fundamental ao desenvolvimento do esporte na escola. A viabilidade de representar a escola em competições, a participação em eventos fora da escola e a possibilidade de vivenciar a realidade do esporte de rendimento, através dos treinos especializados e das competições formais, parecem justificar o interesse revelado.
A escolha pessoal do professor também deve ser considerada como um dos motivos importantes para a formação de equipes. Geralmente, esta escolha fundamenta-se em experiências anteriores que o docente teve com a modalidade, influenciando na opção por uma determinada modalidade, em detrimento de outra.
Paes (2001) apresenta alguns dados coletados em entrevistas com professores da rede municipal de Campinas, mostrando que um dos fatores de maior influencia para a escolha da carreira foi o passado ligado a alguma modalidade esportiva.
A participação da escola em competições depende do apoio da direção. Sem que isso aconteça, todo projeto está comprometido. De acordo com os resultados de nossa pesquisa, a grande maioria dos professores afirmou receber apoio oficial da direção, tanto em escolas públicas quanto em privadas.
Este apoio oficial da escola está baseado em alguns fatores: a estrutura física disponibilizada, a remuneração do professor responsável, o investimento em material (bolas, uniformes, equipamentos) e o aluguel de veículos para transporte das equipes.
Outro fator de grande relevância para a formação de equipes que representam as escolas é a distribuição de bolsas de estudos aos alunos das escolas particulares que, através da participação em uma das equipes do colégio, recebe como contrapartida a isenção do pagamento de mensalidade. Levando em consideração os altos valores cobrados nas mensalidades e os anos que o aluno passa nos bancos escolares, esta passa a ser uma situação que mobiliza toda a família do aluno pela possibilidade de diminuir os gastos financeiros com a sua educação.
Na escola pública, a realidade é diferente, pois não é necessário oferecer bolsas de estudos, uma vez que a escola é gratuita, porém, existe também um processo de seleção dos melhores atletas, que são convidados a mudar de escola, motivados por ofertas de participação em competições de maior prestígio, muitas vezes em outras cidades e estados, de melhor estrutura para treinamento, de recebimento de material esportivo (roupas, tênis) e de possibilidade de conquistas de títulos e medalhas.
Os professores entrevistados apontam algumas dificuldades encontradas para o desenvolvimento do seu trabalho. Neste ponto, surgem as maiores divergências entre as escolas públicas e privadas.
A realidade da escola pública brasileira apresenta dificuldades enormes, por baixo investimento na estrutura física, falta de profissionais em diversas áreas e baixa remuneração de seus professores e funcionários.
A principal dificuldade encontrada pelos professores de escolas públicas é a falta de recursos financeiros, que se reflete na pequena quantidade de material para os treinamentos, na falta de recursos para custear o transporte aos locais das competições e na dificuldade de aquisição dos uniformes.
A escola privada apresenta outra realidade para os seus professores. Em geral, uma realidade melhor, que pode ser comprovada por intermédio das respostas fornecidas nas entrevistas, porque os problemas enfrentados não estão ligados à questão financeira e sim ao baixo nível de interesse dos alunos pela prática regular de atividades físicas.
Os jovens das classes mais elevadas da sociedade, em sua maioria estudantes de escolas particulares, têm acesso a um número maior de opções de cultura, lazer, esportes e outras atividades que complementam a formação acadêmica adquirida na escola: cursos de línguas e aulas de reforço escolar. Estas atividades concorrem com o processo de treinamento, que exige do aluno uma grande quantidade de horas de dedicação a treinamentos e jogos.
Nas escolas públicas, principalmente as situadas em comunidades carentes, às opções proporcionadas aos alunos, além da grade curricular oficial, são menores, embora, nos últimos anos, venham ocorrendo mudanças e tenha crescido o número de projetos dos mais variados que oferecem aos alunos outras vivências além do currículo formal.
Considerações finais
Com o propósito de entender as realidades vivenciadas por professores de educação física responsáveis pela formação e treinamento de equipes de handebol, nas escolas, apresentamos alguns dados que podem servir de base para o exame da organização deste processo.
O respaldo da comunidade escolar, que identifica, na participação dos alunos da escola em competições esportivas, algo de positivo, criando a expectativa da manutenção do projeto ao longo dos anos, estimula o professor a continuar o trabalho com as equipes.
A participação da direção da escola e o seu apoio ao projeto esportivo são fundamentais, para que o professor qualifique ainda mais o seu trabalho.
Escolas públicas e privadas encontram dificuldades em executar seus projetos esportivos, porém, fica claro que existem diferenças relevantes entre elas. Nas escolas públicas a dificuldade financeira aparece como maior empecilho ao desenvolvimento do trabalho, já nas escolas privadas a falta de interesse dos alunos parece ser a maior dificuldade.
Este artigo tem como finalidade contribuir para uma maior compreensão do ambiente esportivo escolar, porém não tem a finalidade de esgotar o debate sobre o assunto, por isso outros estudos devem ser realizados para suprir as informações não abordadas neste trabalho.
Notas
Esta edição do Intercolegial contou com duzentos e oitenta e cinco colégios.
As informações foram obtidas no site da competição: <http://intercolegial.boltbrasil.com.br/noticias/handebol/handebol-tera-modificacoes-na-competicao-de-2011.html. Acessado em 21/02/2013>.
Referências bibliográficas
Graeff. B; Ghiggi, M.V. Esporte e escola: as competições escolares e as disputas que estão em jogo dentro e fora da escola. Revista Didática Sistêmica, v. especial, n.1, p. 231-245, 2012.
Millen Neto. A. R; Ferreira. A. C; Soares. A. J. G. Políticas de esporte escolar e a construção social do currículo de educação física. Revista de Educação Física Motriz, v. 17 (3), p. 416-423, 2011.
Montagner. P.C.; Soares. F. C. A competição esportiva escolar como conteúdo de intervenção: relato de experiência. 1ed. São Paulo, Phorte Editora, 2012.
Paes. R.R. Educação Física Escolar: o esporte como conteúdo pedagógico do ensino fundamental. Canoas, Editora Ulbra, 2001.
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