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Análise da formação inicial e dos campos de atuação dos 

egressos de um curso de Educação Física - Licenciatura, RS, Brasil

Análisis de la formación inicial y de los campos de intervención de los
egresados de un curso de Educación Física – Licenciatura, RS, Brasil

Analysis of the initial formation and working fields of Physical Education
graduate students from a graduation of RS, Brazil

 

*Graduação em Educação Física – Licenciatura (UFSM)

Mestrado em Ciência do Movimento Humano (UFSM)

Doutorando do Programa Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (Univates)

**Profa Orientadora. Graduação em Pedagogia (Unisinos). Mestrado em Educação (Unisinos)

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (Univates)

Derli Juliano Neuenfeldt*

Daiani Clesnei da Rosa**

derlijul@univates.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esta pesquisa descritiva teve como objetivo identificar e analisar com os egressos de um curso de graduação em Educação Física – Licenciatura/RS/BRA se eles necessitam aprofundar conhecimentos adquiridos na graduação ou se o campo de atuação lhes exige novos saberes. A população foi constituída por 252 egressos do curso de EF do período de 2005A a 2012A. Participaram da amostra 44 acadêmicos (17,5%). A coleta das informações ocorreu por meio de um questionário. Constatou-se que 84,10% dos egressos estão atuando na área da Educação Física, predominando a não escolar (72,97%). O currículo foi avaliado positivamente no que se refere: à formação para atuação na escola (21,82%), à relação teoria e prática (23,64%), ao desenvolvimento de conhecimentos diversificados (25,45%), à possibilidade de atuação plena (14,54%), ao incentivo à busca de conhecimentos (5,45%) e à contribuição para formação pessoal (5,45%). As áreas de interesse por cursos de Pós-graduação a nível latu sensu relacionam-se, principalmente, a área não escolar, tais como: Treinamento Esportivo (17,24%), Avaliação e Prescrição de Exercícios Físicos (21,84%); Fisiologia do Exercício (17,24%), Jump, Step, Pilates, Ginástica de Academia (8,05%), Inclusão (5,75%) entre outros. Para a área escolar, as dificuldades estão relacionadas à atuação na Educação Infantil (15,38%), na relação professor/aluno (15,38%), na resistência dos alunos ao novo (11,54%), na desvalorização e no desconhecimento do papel da Educação Física na escola (11, 54%) e na necessidade de conhecimento de Primeiros Socorros (11,54%). Conclui-se que predominam as solicitações de conhecimentos na área não escolar que atualmente estão presentes no curso de Bacharelado.

          Unitermos: Educação Física. Currículo. Formação continuada. Mercado de trabalho.

 

Abstract

          The present descriptive research aimed to identify and analyze along with Physical Education graduate students from a graduation of RS/BRA regarding whether they need to deepen knowledge acquired during graduation or working field requires new knowledge. The population was constituted by 252 graduate students from 2005A to 2012A. The sample was composed by forty-four graduate students (17.5%) and data was collected by a questionnaire. It was discovered that 84.10% of the graduate students are working in Physical Education field, predominating the non-school activities (72.97%). The curriculum was positively evaluated regarding to: formation to work in schools (21.82%), theory and practice relation (23.64%), diversified knowledge development (25.45%), possibility of working full time (14.54%), search for knowledge incentive (5.45%), and personal formation contribution (5.45%). Motivation for Latu Sensu Post Graduation Programs is mainly concerning to non-scholar fields such as: Sporting Training (17.24%), Physical Exercise Evaluation and Prescription (21.84%), Exercise Physiology (17.24%), Jump, Step, Pilates, Academy Gymnastics (8.05%), Inclusion (5.75%), among others. Difficulties in schools regards to work with Children Education (15.38%), teacher and student relationship (15.38%), students’ resistance facing the new (11.54%), discouragement and disregard with the role of Physical Education in schools (11.54%), and first aid needs (11.54%). It was concluded that the search for knowledge in non-school field is predominant which permeates The Bachelor’s Physical Education Program.

          Keywords: Physical Education. Curriculum. Continuing education. Working field.

 

          Artigo elaborado no curso de Pós-Graduação em nível de Especialização em Gestão Universitária do Centro Universitário UNIVATES, como exigência parcial para a obtenção do título de especialista em Gestão Universitária.

 

          A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa pelo Parecer Consubstanciado nº 41.974, de 18/06/2012.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Curso de Educação Física, licenciatura do estudo foi autorizado a funcionar pela Resolução 109/Reitoria/18/11/1999. Iniciou, no semestre 2000/A, o curso noturno e, no semestre 2000/B, o curso diurno. Ao longo de seu desenvolvimento ocorreram modificações no Projeto Pedagógico de Curso (PPC) em razão de normatizações externas e internas, assim como ações resultantes de processos avaliativos promovidos pela mantenedora.

    Em relação às normas externas, a primeira proposta de curso foi articulada com base na Resolução no 003, de 1987 (BRASIL, 1987). O currículo tinha 3.300 horas e ficou vigente, para ingresso de calouros, até 2005/B e como prazo máximo para a conclusão do curso o ano de 2012B.

    A partir de 2006 inicia-se nova matriz curricular, atendendo-se as Resoluções no 001 (BRASIL, 2002a) e no 002 (BRASIL, 2002b), de 2002, que estabeleceram as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores, e a Resolução no 07, de 2004 (BRASIL, 2004a), que apresentou as Diretrizes Curriculares para o curso de Educação Física. O novo currículo foi estruturado com 3.000 horas, incluídas nestas 210 horas de atividades complementares. Em 2009, houve a inclusão de Libras, atendendo ao Dec. no 5.626/2005 (BRASIL, 2005a).

    Quanto aos processos internos, passou, a partir de 2011, a ter cinco disciplinas compartilhadas pelas licenciaturas (Didática Geral, Teorias e Processos de Aprendizagem, Pedagogia e Diferenças, Libras e Organização da Educação Brasileira e Políticas Educacionais) com o propósito de formar o professor e aproximar já na graduação os futuros educadores que, na escola, terão que atuar coletivamente. Também, preocupando-se com a formação geral dos acadêmicos, desde 2012, o Curso de Educação Física compartilha com outros cursos da instituição cinco disciplinas: Filosofia e Ética, Leitura e Produção de Texto I, Temas Contemporâneos, Metodologia da Pesquisa e Empreendedorismo. Neste ano, instituiu-se a terceira proposta curricular.

    Além disso, o curso tem realizado modificações em seu currículo a partir da Avaliação Institucional realizada pela mantenedora, que ocorre semestralmente, tais como: redução ou aumento de carga horária de disciplinas, revisão de ementas e conteúdos programáticos. Outro processo que o curso leva em conta na estrutura e desenvolvimento do PPC é o atendimento ao Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) do Brasil, instituído pelo Ministério da Educação em 2004, pela lei no 10.861 (BRASIL, 2004b). Este sistema é composto por três avaliações: Reconhecimento de Curso, Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e Avaliação Institucional.

    O processo de Reconhecimento do Curso de Educação Física - Licenciatura ocorreu no ano de 2004 com a visita in loco. A Portaria do MEC no 2.598 foi publicada em 25/07/2005 (BRASIL, 2005b). A renovação do reconhecimento deu-se com os bons resultados do Enade realizados em 2004, 2007 e 2011, todos com conceito 4, publicados na Portaria do MEC no 775, de 07/11/2008 (BRASIL, 2008), e Portaria MEC no 286, de 21/12/2012 (BRASIL, 2012).

    A partir disso, e compreendendo que a graduação é uma formação inicial, e que o currículo de um curso necessita atender a uma série de exigências legais, reconhece-se que o egresso necessita continuar o processo formativo. Até o presente momento, entre os egressos do Curso de Educação Física do estudo prevalece a formação de profissionais que ingressaram no currículo orientado pela Resolução no 003, de 1987, possibilitando-lhes atuação plena, ou seja, na área escolar e não escolar.

    Dessa forma, os egressos podem atuar como professores de Educação Física escolar, foco central do curso, mas também em academias, clubes, escolinhas esportivas, em secretarias de esporte e lazer, entre outros campos de atuação dos profissionais de Educação Física.

    Considerando que o Curso de Educação Física – Licenciatura do estudo formou seus primeiros profissionais em 2005/A, apresentam-se as seguintes questões de pesquisa: Quais são as áreas de conhecimento em que os egressos estão necessitando acentuar a formação continuada? Quais as áreas de conhecimento em que pode haver interesse em uma formação em nível de pós-graduação lato sensu ou cursos de extensão? Quais são os principais campos de atuação do profissional de Educação Física? Quais os pontos fortes do currículo do Curso de Educação Física - Licenciatura? Quais as dificuldades que os egressos do Curso de Educação Física – Licenciatura têm encontrado no exercício da profissão na escola e na área não escolar?

    Para tanto, a presente pesquisa tem como objetivo geral identificar e analisar com os egressos de um Curso de Graduação em Educação Física – Licenciatura se eles estão necessitando aprofundar conhecimentos adquiridos na graduação ou se o campo de atuação lhes exige novos saberes.

    Complementando o foco da pesquisa, esta se desdobra nos seguintes objetivos específicos: identificar os principais campos de atuação do profissional de Educação Física egresso; identificar e analisar as áreas de conhecimento que há interesse em formação em nível de pós-graduação lato sensu e/ou cursos de extensão; identificar e analisar os pontos fortes do currículo de Educação Física – licenciatura e, identificar e analisar dificuldades encontradas pelos egressos do curso de Educação Física – Licenciatura no exercício da profissão na escolar e na área não escolar.

    Os cursos superiores estruturam suas propostas de formação de profissionais seguindo diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação. Além disso, há a preocupação com o ENADE, em atender a demanda do mercado de trabalho preocupando-se com o desenvolvimento regional. Dessa forma, ao se organizar um curso superior, procura-se atender a todas as instâncias e exigências acima mencionadas, mas se reconhece que a graduação é uma formação inicial e que não há como aprofundar todas as áreas de atuação possíveis de um profissional de Educação Física.

    Portanto, este estudo justifica-se pela necessidade de levantar informações sobre o processo formativo que se dá neste Curso de Educação Física - Licenciatura. A partir disso, acredita-se ser possível analisar a repercussão do PPC em relação à formação dos egressos do Curso de Educação Física buscando elementos científicos que possibilitem a tomada de decisões pelo colegiado do curso; fortalecer e qualificar o Curso de Educação Física, e identificar fragilidades que possibilitem a estruturação e propostas de cursos de pós-graduação lato sensu de interesse dos egressos, assim como de cursos de extensão.

Metodologia da pesquisa

Característica da pesquisa

    Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, sendo que de acordo com Triviños (1987) a maioria dos estudos no campo da educação é de natureza descritiva e seu foco principal é conhecer o desejo de uma comunidade, seus traços característicos, seus problemas e outros.

População

    A população é representada por 252 egressos de um curso de graduação em Educação Física – Licenciatura do RS/BRA do período de 2005B a 2012A. Os dados foram levantados com base no sistema ALFA da IES restrito a gestores e administradores da instituição. Neste caso a informação foi conseguida com o coordenador do curso de Educação Física – Licenciatura.

Amostra

    A amostra foi constituída de 44 egressos que representam 17,5% da população. Ela foi constituída de forma não aleatória, sendo composta por adesão voluntária e individual.

Técnicas e procedimentos de coleta de informações

    Para o desenvolvimento deste estudo foram coletadas informações mediante o uso de um questionário contendo duas questões fechadas e cinco questões abertas. O instrumento foi validado mediante a testagem com quatro egressos de Cursos de Educação Física, de outras instituições de ensino superior, sendo que, ao respondê-lo, foi possível verificar a clareza das questões e fazer ajustes necessários para que se obtivesse respostas que atendessem aos objetivos do estudo. Optou-se por um questionário pois, de acordo com Gil (1999), ele possibilita atingir um maior número de pessoas e permite que as mesmas o respondam no momento que julgarem conveniente. E justifica-se a predominância das questões abertas porque estas não forçam o respondente a enquadrar sua percepção em alternativas preestabelecidas.

    Em relação à entrega dos questionários e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos respondentes esta se deu de duas formas: a) o pesquisador entregou pessoalmente ao egresso; b) via acadêmico do curso de Educação Física ou outra pessoa que tivesse contato direto com algum participante da pesquisa. Ao se esgotarem essas possibilidades foi feito contato via e-mail através da lista de egressos disponibilizada aos pesquisadores, solicitando-se a participação no estudo. Neste caso, o questionário pode ser respondido e enviado vida e-mail, mas na condição de ser encaminhado o TCLE assinado.

Análise das informações

    As informações obtidas por meio do questionário foram tabuladas fazendo-se a contagem das freqüências nas categorias estabelecidas, apresentadas em forma de freqüência percentil em relação aos indicadores que mais se destacaram (GIL, 1999). As categorias de análises, conforme Gomes (2004), significam agrupar elementos, ideias e expressões em torno de um conceito com características comuns, ou que se relacionam entre si.

    As categorias estabelecidas foram: campos de atuação dos egressos em Educação Física – Licenciatura; pontos fortes do currículo do Curso de Educação Física – licenciatura; áreas de conhecimento em que há interesse em formação em nível de pós-graduação lato sensu e/ou cursos de extensão e dificuldades encontradas no exercício da profissão.

    Além disso, foi realizada a triangulação das informações obtidas nos questionários com o referencial teórico. A triangulação das informações, conforme Triviños (1987, p. 138), “tem por objetivo abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo”.

    Cabe destacar que o nome dos egressos que participarem da pesquisa não foram divulgados, garantindo-se o anonimato.

Campos de atuação dos egressos em Educação Física - Licenciatura

    Ao perguntarmos aos egressos sobre estarem ou não atuando na área de habilitação após terem concluído o curso, constatou-se que 84,10% encontram-se em exercício profissional na área da Educação Física e que 15,90% não atuam na área, de acordo com o gráfico abaixo:

Grafico 1. Percentual de egressos do Curso de Educação Física – Licenciatura que atuam na área de habilitação de sua formação

    Em relação à area de atuação da Educação Física remete-se ao Art. 3o da Lei no 9.696, de 1998, que regulamentou a profissão de Educação Física e que estabelece que:

    Compete ao profissional de Educação Física coordenar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar trabalhos, programas, planos e projetos, bem como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas de atividades físicas e do desporto (BRASIL, 1998).

    No caso dos participantes da pesquisa, egressos de um curso de licenciatura, predomina a possibilidade de atuação plena (88,64%), ou seja, na área escolar e não escolar em razão de terem ingressado no curso até o período de 2005B, cuja matriz curricular é amparada pela Resolução no 003/CFE/1987.

    Com a regulamentação da profissão (BRASIL, 1998) foram criados o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) e os Conselhos Regionais de Educação Física. No site do Conselho Regional de Educação Física do Rio Grande do Sul (CREF2) encontram-se as seguintes áreas de atuação para os licenciados de acordo com a base legal que norteia o currículo pelo qual o graduado em Educação Física se forma:

    Profissionais Formados conforme Resolução CFE 03/87 (Licenciatura Plena) – Estes profissionais de acordo com a base legal estão habilitados para atuar no âmbito escolar (pré-escolar, 1o, 2o e 3o grau), hoje educação infantil, ensino fundamental, médio e superior, e no âmbito não escolar (academias, clubes, centros comunitários, ginástica laboral, técnico desportivo, preparador físico, condomínios, etc.)

    Cédula de Identidade Profissional: Categoria: Licenciado - Atuação: Plena [...]

    Profissionais Formados pelas Resoluções 1/02 e 2/02 do CNE – Estes profissionais estão habilitados para atuar na Educação Básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e médio.

    Cédula de Identidade Profissional: Categoria: Licenciado – Atuação: Educação Básica (CONSELHO..., 2013, texto digital).

    Dessa forma, o CONFEF institui dois tipos de egressos dos cursos de licenciatura, os que podem atuam em todos os campos da Educação Física e os que estão restritos à escola. Neste último caso os que se formam com o currículo organizado a partir da Resolução no 001 e no 002, de 2002, e Resolução no 07, de 2004, são limitados à atuação como professores de Educação Física na Educação Básica.

    Assim, ao questionar-se em relação aos campos da Educação Física em que se encontram os egressos que estão no mercado de trabalho, encontrou-se que 59,45% atuam apenas na área não escolar, 27,03% apenas na área escolar, 10,82% em ambas áreas e 2,7% na área não escolar e Ensino Superior, conforme gráfico a seguir:

Gráfico 2. Áreas de atuação dos profissionais de Educação Física – Licenciatura

    Cabe destacar que, por ser um curso de licenciatura, tem-se apenas 40,55% que se encontram atuando no meio educacional. Em contrapartida, 72,97% exercem alguma atividade na área não escolar. O fato de haver um índice menor de egressos atuando na área escolar não pode ser analisado apenas como escolha. Cabe também uma análise sobre as possibilidades de atuação que o mercado oferece.

    No contexto brasileiro, tem sido apontada, no entanto, a necessidade de ampliar e incentivar a formação de professores visando à atuação na escola devido à existência de um déficit, em 2011, de cerca de 300.000 professores para as escolas púlicas de Educação Básica (O GLOBO, 2011). Várias políticas de incentivo têm sido implementadas pelo governo federal para modificar esse cenário, entre elas: Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) do Ministério da Educação que financia o Ensino Superior em Instituições não gratuitas, havendo inclusive a possibilidade de o egresso da licenciatura abater o finaciamento com o exercício da profissão em rede pública de ensino (QUEM ACREDITA..., 2013) e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), que visa ao aperfeiçoamento e à valorização da formação de professores para a educação básica, “concedendo bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino” (PIBID..., 2013, texto digital). Além disso, tem como uma das intenções promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas de maneira que venham a, futuramente, atuar na escola como professores.

    Em relação aos níveis de ensino nos quais os egressos atuam tem-se: 42,11% na Educação Infantil, 36,84% no Ensino Fundamental, 15,79% no Ensino Médio e 5,26% no Ensino Superior, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 3. Distribuição do percentual de egressos do Curso de Educação Física – Licenciatura que atuam como docentes em relação aos níveis de ensino

    Um dado que surpreendeu nesta pesquisa foi o fato de a Educação Infantil se apresentar como o nível de ensino em que há maior percentual (42,11%) de egressos, licenciados em Educação Física, atuando no contexto educacional. Em relação à legislação, desde 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei nº 9.394 (BRASIL, 2003), a Educação Física é componente curricular obrigatório da Educação Básica. Esta compreende a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

    O estudo mostra a Educação Infantil como um campo promissor para a atuação dos licenciados de Educação Física. De acordo com Cavalaro e Muller (2009), a Educação Infantil é campo de atuação da Pedagogia e um dos entraves para a atuação de outro profissional, especialista, está relacionado à unidocência. Essas autoras defendem que um trabalho integrado, se houver um planejamento coletivo entre o pedagogo e o professor de Educação Física, traria a melhoria da proposta pedagógica. Mas também apontam como outro entrave a questão financeira que afeta diretamente a disponibilidade dos recursos para pagamento dos custos da Educação.

    Dos profissionais que exercem a profissão na área não escolar 46,51% atuam na orientação e prescrição de exercícios físicos (academia, fitness, atividades aquáticas, personal, pilates, laboral); 20,93% na gestão do esporte e lazer, na área pública ou privada; 13,96% como docentes em escolinhas esportivas, técnicos ou árbitro; 9,3% em projetos sociais; 4,65% em equipe multidisciplinar da área da saúde; e 4,65% em grupos de terceira idade. Esses índices estão representados no gráfico abaixo:

Gráfico 4. Campos de atuação dos egressos em Educação Física – Licenciatura na área não escolar

    É percebível que a procura das pessoas por orientação e prescrição de exercícios físicos em academias de ginástica e musculação, por práticas corporais, tais como: musculação, ginástica de academia, alongamento, Pilates, ou mesmo pela orientação dos serviços de um Personal Training, faz com que este campo de atuação apareça como principal na área não escolar (46,51%). Em estudo realizado por Araújo et al. (2007) com 83 alunos regularmente matriculados nas diversas atividades oferecidas em uma academia da cidade de Caratinga/MG, com idade de 18 a 36 anos e de ambos os sexos, em relação aos motivos que fazem com que procurem por academias para a prática de exercício físico evidenciou que a preocupação com a estética aparece em primeiro lugar (50,60%), seguida de condicionamento físico geral (31,30%), saúde (14,40%), profilático (2,40%) e lazer (1,30%). Outros fatores, tais como: terapêutico, preparação física ou alto rendimento, não foram citados.

    Em segundo lugar, na pesquisa aparece a atuação na área da gestão do esporte e lazer, destacando-se tanto a atuação em instituições privadas como em públicas vinculada a Secretarias de Esporte dos municípios quando da existência delas. Ao contrastar-se com o estudo de Chemin et al. (2010) sobre o Cenário do Esporte e do lazer nos municípios do Vale do Taquari/RS, encontra-se que em 36,11% deles não há nenhum professor de Educação Física na sua estrutura hierárquica. Além disso, em 80% deles, principalmente os com menor população, o desporto e lazer estão afetos à Secretaria de Educação, enquanto que em 16,66% das prefeituras essa área se reporta a Secretarias compartilhadas. O estudo demonstrou que há necessidade de formação de recursos humanos para a atuação na área de gestão pública do esporte e do lazer. Ainda, cabe destacar que, apesar de modesta e de aparecer com percentual menor de atuação (4,65%), já é perceptível a presença de profissionais de Educação Física atuando em equipes multidisciplinares da área da saúde (4,65%). A atuação se dá em programas como Centros de Referências de Assistência Social (Cras).

Pontos fortes do currículo do curso de Educação Física - Licenciatura

    As respostas dos egressos apontaram que o currículo no qual se formaram é muito bom no que se refere à formação de professor para a atuação no contexto escolar (21,82%). Destacaram as relações da teoria com a prática, principalmente a importância dos estágios e das práticas de ensino desenvolvidas nas disciplinas (23,64%), que tiveram conhecimentos diversificados (25,45%), possibilidade de atuação plena (14,54%), incentivo à busca de conhecimentos (5,45%) e contribuições para a formação pessoal (5,45%) (Gráfico 5). É importante destacar que o primeiro PPC, que iniciou em 2000, denominava-se “Educação Física – Licenciatura – Docência em Educação Básica”. A partir disso, é possível perceber a ênfase em relação à Educação Física Escolar que é mantida, mesmo não tendo mais no nome a área de aprofundamento “Docência em Educação Básica”. Contudo, com uma carga horária de 3.300 horas era possível uma diversificação maior das áreas de conhecimento. O atual objetivo geral do curso é: [...] “a formação de profissionais qualificados na área para atuarem em instituições de Educação Básica, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, como professores de Educação Física” (PROJETO..., 2011a, p. 27).

    Os acadêmicos também destacam a importância das relações da teoria com a prática, a importância dos estágios e das práticas de ensino desenvolvidas nas disciplinas (23,64%). Para atender a complexidade da prática pedagógica, Borges (1998) destaca as seguintes questões referentes à formação de professores: “Como deve ser a formação? O que é fundamental para a prática docente? Quais saberes são relevantes para dar uma base, ainda que inicial, ao professor?” (BORGES, 1998, p. 21). Para Tardif et al. (1991) apud Borges (1998) o saber docente compõe-se a partir de vários saberes provenientes de diversas fontes: da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica); das disciplinas (sistematizados e tematizados na instituição universitária); curriculares (selecionados pela escola para serem ensinados); e da experiência (desenvolvidos pelo professor no exercício da profissão). A partir desse apontamento, o reconhecimento da importância dos estágios e práticas de ensino na formação do futuro professor é fundamental.

Gráfico 5. Pontos fortes do currículo de acordo com a avaliação dos egressos

    Em relação à formação foi destacado o incentivo pela busca de conhecimentos e a formação pessoal. Para Caparroz e Bracht (2007), um aspecto importante na formação do professor diz respeito a ele perceber-se e constituir-se como autor de sua prática pedagógica, imbuído de autonomia e autoridade. A autonomia docente está relacionada com uma perspectiva na qual os professores devem buscar construir e conquistar sua competência didático-pedagógica para desenvolver sua prática pedagógica na complexa trama do cotidiano escolar, de modo que não permita que os professores sejam reféns dos especialistas/experts (pesquisadores do âmbito acadêmico-universitário) ou das políticas educacionais. Além disso, os professores devem valer-se de sua autoridade, construída pela sua competência profissional, e de sua autoria docentes para buscar sua autonomia para poder escolher e construir sua prática pedagógica.

    Em relação à formação pessoal, ela é considerada por Negrine (1999, p.13) como uma via de formação inovadora, pois proporciona reflexões sobre o autoconhecimento. A formação pessoal “[...] se dá a partir da vivência de situações concretas, isto é, a partir da via corporal, sendo o corpo na sua totalidade o protagonista da ação e da interação com os outros e com os objetos”. Esse autor, que teve influência na sustentação do PPC do Curso de Educação Física, ainda aponta mais duas vias importantes na formação do professor: a pedagógica e a teórica.

    A questão da atuação do licenciado na área não escolar (atuação plena) é apontada como aspecto positivo para 14,54% dos egressos. Atualmente, não há mais essa possibilidade. Contudo, há posições diferentes adotadas pelo MEC e pelo sistema CREF/CONFEF em relação à atuação do licenciado na área não escolar. A lei n.º 9.696/1998, que regulamenta a profissão de Educação Física, estabelece que, para se obter o registro de profissional de Educação Física, é necessário ter diploma em Curso de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido, conforme art. 2o (BRASIL, 1998).

    A partir disso, algumas consultas foram feitas ao MEC sobre o campo de atuação do licenciado em Educação Física. Uma das primeiras instituições a solicitar esclarecimento foi o Instituto Superior de Educação Uirapuru de São Paulo. Entre as perguntas está: É admissível que dois cursos que conduzam à licenciatura em Educação Física ensejem registros em campos de atuação diversos? Em resposta, no parecer no 400 do CNE/CES, obteve-se:

    Reitera-se aqui que todas as licenciaturas em Educação Física no Brasil estão sujeitas ao cumprimento da Resolução CNE/CES no 1/2002. Portanto, todos os licenciados em Educação Física têm os mesmos direitos, não devendo receber registros em campos de ação diferentes (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2005, p. 03).

    A instituição do curso estudado também encaminhou ofício, em 2010, ao Ministério da Educação perguntando sobre o campo de atuação do Licenciado que ela está formando. A reposta veio em 22 de novembro de 2011:

    Assim, tanto do ponto de vista do mérito quanto do ponto de vista da forma, a formação acadêmica de licenciados e de bacharéis os qualifica para o registro profissional como possuidores de diploma em curso de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido, nos termos do Art. 2o da Lei no 9696/1998, de modo a atuarem profissionalmente na área da Educação Física em espaços profissionais não escolares como academias, clubes esportivos e similares (CAMARA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO, 2011, p. 02 e 03).

    Por fim, em razão da situação apresentada anteriormente, percebe-se uma divergência entre o sistema CONFEF/CREFs e as normativas do MEC em relação à possibilidade de atuação do licenciado em Educação Física na área não escolar. Nesse espaço encontram-se as instituições de Ensino Superior que necessitam pensar a formação de novos profissionais. No Brasil, sucedeu que a maioria das instituições de ensino superior está oferecendo as duas modalidades para a Educação Física: Licenciatura e Bacharelado. Em grande parte pelas restrições de atuação impostas pelos CREFs, mas também por ter profissionais de Educação Física que não possuem interesse pela escola e haver Diretrizes Curriculares específicas para a formação do bacharel em Educação Física.

Áreas de conhecimento em que há interesse de formação em nível de pós-graduação lato sensu e/ou cursos de extensão

    Em relação à busca pela formação continuada, evidenciou-se que 56,82% dos egressos o fazem e que 43,18% têm permanecido com a graduação. A procura pela pós-graduação em nível de especialização ocorreu por 34,09%, predominando conhecimentos do campo de atuação da área não escolar. Os cursos já realizados pelos egressos são: Fisiologia do Exercício, Gestão do Esporte, Personal Training, Musculação e Treinamento de Força, Dança, Futebol, Educação Especial Inclusiva e Administração, Orientação e Supervisão Escolar. Em nível de mestrado 6,82% o fizeram (ou estão realizando) nas áreas de Biotecnologia, de Ambiente e Desenvolvimento e de Formação de Professores. Em relação à graduação, 2,27% estão realizando o curso de Educação Física – Bacharelado.

    Ao indagar-se sobre área de interesse por cursos de Pós-graduação em nível lato sensu aparece o conhecimento sobre avaliação e prescrição de exercícios físicos, musculação (21,84%), possibilitando, também, atuação como Personal Training; treinamento esportivo (17,24%) envolvendo conhecimentos sobre treinamento, pedagogia, psicologia, nutrição e medicina do esporte; fisiologia do exercício (17,24%); jump, step, pilates, ginástica de academia (8,05%); inclusão (5,75%); gestão escolar (5,75%); gestão esportiva (4,6%); recreação e lazer (3,45%; saúde (4,6%); e outras áreas (11,48%), citadas com menor ênfase (Educação Física Escolar, 2,3%; dança, 2,3%; natação, 2,3%; terceira idade, 2,3%; psicomotricidade, 1,14%; educação, 1,14%), conforme gráfico abaixo.

Gráfico 6. Áreas de interesse por cursos de pós-graduação lato sensu

    Em relação a cursos de extensão, as áreas de interesse são muito próximas das sugeridas para cursos de especialização, predominando a busca por formação na área não escolar, tais como: avaliação, prescrição de exercícios físicos e musculação (32,43%); ginástica de academia, jump, Pilates (16,22%); treinamento esportivo (13,51%); natação, hidroginástica (10,80%), entre outras áreas, tais como terceira idade (4,06%), necessidades especiais (2,7%), primeiros socorros (5,42%). Na área escolar a solicitação foi restrita a cursos para capacitação para atuar com a Educação Infantil (4,06%), gestão escolar (1,35%), Educação Física Escolar (1,35%). Ainda na categoria outros (8,09%) encontram-se práticas corporais citadas apenas uma vez, tais como: capoeira, futebol, ginástica laboral e os cursos na Educação Física Escolar, psicomotricidade ou gestão escolar (Gráfico 7).

    Analisando as solicitações por curso de especialização e cursos de extensão percebe-se que o interesse está diretamente ligado ao campo de atuação. Consequentemente, como 72,97% dos egressos atuam na área não escolar, é compreensível que solicitem aprofundamento nessas áreas. A outra questão que merece ser destacada é que o Curso de Educação Física - licenciatura tem foco na formação de professores para atuação na Educação Física – Escolar, priorizando conhecimentos relacionados a esse contexto. Como exemplo cita-se que todos os estágios ocorrem em escolas, e que o estágio é um elemento extremamente importante no processo formativo (PROJETO-POLÍTICO..., 2006).

    Para Terra e Pirolo (2007, p. 02), “um projeto de formação continuada deve considerar o cotidiano dos professores de educação física somente na medida em que este seja, de fato, o espaço onde se discuta, delibere sobre as situações problemas para enfrentar e superar os dilemas referentes a seu cotidiano”. Para que isso ocorra, o especialista não pode criar uma situação de dependência e submissão em relação ao conhecimento dos professores, mas, ao contrário, deve entender o professor como um sujeito intelectual que constrói saberes no confronto com sua prática pedagógica.

    As autoras propõem na formação continuada a investigação-ação como principio metodológico pautado na ação colaborativa de maneira que o saber dos professores seja valorizado e representativo na construção de projetos político-pedagógicos. Acrescentam que não tem mais sentido estabelecer diretrizes ou parâmetros sem conhecer os professores e sem que haja uma participação efetiva destes no processo de construção de sua formação. Por fim, apontam que a Educação Física tem se mostrado bastante tímida no que se refere ao entendimento e à ação de investigação nessa perspectiva colaborativa.

Gráfico 7. Áreas de interesse por cursos de extensão

Dificuldades encontradas pelos egressos do curso de Educação Física – Licenciatura no exercício profissional

    Por fim, foi solicitado aos egressos quais dificuldades eles têm encontrado no exercício da profissão. As respostas foram separadas em relacionadas à área não escolar e referentes à área escolar.

    Na área não escolar foi apontada a necessidade de mais conhecimentos na área biomédica e na prescrição de exercícios físicos (52,63%), assim como na área de gestão (26,32%) (Gráfico 8). Esses conhecimentos hoje estão contemplados no Curso de Educação Física – Bacharelado, que iniciou em 2008. Ele possui disciplinas como: Avaliação e Prescrição de Exercícios Físicos I e II, Biomecânica, Educação Física e Saúde, Saúde Coletiva, Educação Física Gerontológica, Fisiologia do Exercício, Bases Teórico Metodológicas do Treinamento Esportivo, Preparação Física, Musculação, Esporte e Lazer: políticas públicas, entre outras (PROJETO..., 2011b).

    Outro aspecto diz respeio à falta de valorização profissional e financeira (15,79%) e, com pouca incidência, dificuldades de espaço físico (5,26%). De acordo com Guaita e Silva (2007), há uma supervalorização do Confef em relação ao profissional de Educação Fisica que atua no campo não escolar. Este seria um profissional liberal que não iria carregar consigo o ar de fraqueza do professor proporcionado pelo magistério. Contudo, as autoras preocupam-se com a perda dos direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora e pelo incentivo à informalidade nas relações de trabalho às quais os profissionais da área não escolar são submtidos.

Gráfico 8. Dificuldades dos egressos na atuação profissional na área não escolar

    Já na atuação na escola foram mencionadas como dificuldades: a atuação na Educação Infantil (15,38%), a relação professor-aluno (15,38%), a resistência dos alunos ao novo (11,54%), a desvalorização e o desconhecimento do papel da Educação Física na escola (11, 54%) e a necessidade de conhecimento de Primeiros Socorros (11,54%), Ainda, com menor ênfase, foram apontadas: descaso com a Educação (7,69%), atuação com necessidades especiais (7,69%), precárias condições de estrutura física e material (3,85%), dança/coreografia (3,85%) e didáticas (3,85%), conforme gráfico a seguir:

Gráfico 9. Dificuldades dos egressos na atuação na área escolar

    A Educação Física na Educação Infantil já havia sido mencionada como o principal nível de ensino em que atuam os egressos, assim como uma área de interesse para a formação continuada. É um campo novo para os professores de Educação Física que, por muito tempo, foram formados e preparados para atuar com esporte, processo de iniciação que ocorria a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental. Dessa forma, uma das principais barreiras a serem rompidas é ter uma visão diferente de Educação Física. De acordo com Falkenbach (2005), a psicomotricidade relacional pode ser uma proposta para a Educação Infantil, pois tem como finalidade ser um meio lúdico-educativo que permite o expressar-se por meio do jogo e do exercício, facilita a comunicação por intermédio da expressividade motriz e potencializa atividades em grupos que favorecem a liberação de conflitos por intermédio do jogo simbólico.

    Em relação aos demais aspectos, pode-se observar que, apesar de aparecer a questão da necessidade de melhorias em relação à infraestrutura e materiais, este aspecto aparece como um dificuldade com menor incidência do que os que tratam da relação professor-aluno e de reconhecimento da disciplina no contexto escolar. A escola é um lugar em que há o encontro de diferentes alunos, com vivências de mundo diferentes, e nem todos a veem como a principal oportunidade de melhoria de vida. Por outro lado, a questão da falta de reconhecimento da Educação Física no contexto escolar é um aspecto que permeia o discurso dos professores. Contudo, Lovisolo (1996) aponta que o caminho do reconhecimento é o trabalho de qualidade e que o desejo de valorizar a profissão exige esforços e, sobretudo, abandonar o autocastigo verbal e agir. Outro aspecto importante para sermos também reconhecidos no meio científico, apontado por Ron (2003), é passarmos da oralidade para a escrita. Contudo, “parece que nós, professores de educação física, não temos coisas a dizer, que na educação física não há coisas a serem ditas. Parece que os outros podem dizer por nós, que outros campos dão sentido ao nosso campo, dizendo o que somos e o que fazer” (RON, 2003, p.. 82).

    Ainda cabe comentar que os egressos apontaram a dificuldade na atuação com alunos com necessidades especiais. Falkenbach et al. (2010) investigaram as compreensões acerca da inclusão na escola a partir do discurso de quatorze professores de Educação Física da rede estadual e oito da rede municipal, todos de Porto Alegre/RS e que tinham alunos com necessidades especiais em suas turmas regulares. Constaram que os professores percebem fragilidades em sua formação inicial e continuada, consideram a inclusão um grande desafio pessoal e pedagógico e que desenvolvem experimentos empíricos para conseguir desempenhar suas aulas com a participação coletiva, assistemáticos, sendo aprendizes em conjunto com seus alunos. Por fim, os autores apontam, em relação à inclusão, que já houve um bom desenvolvimento de documentos oficiais e de conteúdos teóricos acerca do seu exercício nas escolas, mas faltam investimentos na formação dos novos professores e na ação pedagógica exercida nas escolas.

    Um aspecto que também foi mencionado diz respeito à necessidade de o professor de Educação Física ter conhecimentos sobre primeiros socorros. Esta é uma disciplina eletiva no curso, mas que, em razão das manifestações, que são oriundas de professores que estão no campo de atuação, merece ser analisada a possibilidade de sua inclusão como obrigatória no currículo.

Considerações finais

    Ao final do estudo evidencia-se que, em relação aos campos de atuação dos egressos do curso de Educação Física – Licenciatura estudado que predomina a presença na área não escolar, principalmente em setores que necessitam de profissionais para orientar, avaliar e prescrever exercícios físicos, e na gestão do esporte e lazer. Também há profissionais que atuam na área escolar, destacando-se na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Contudo, não foi objetivo deste estudo levantar as causas que levam à escolha de um ou outro campo, assim como também daqueles que atuam nos dois. Para responder a essa questão, sugere-se novo estudo.

    Em relação às áreas de conhecimento que os egressos apontam como necessidade de aprofundar conhecimentos e o interesse por cursos de especialização em nível de pós-graduação lato sensu ou cursos de extensão estão, principalmente, voltados para avaliação e prescrição de exercícios físicos; treinamento esportivo; fisiologia do exercício, práticas corporais de academias de ginástica, inclusão e gestão. Percebe-se que, por serem oriundos de um curso que teve como foco principal a formação para ser professor em escola, a área não escolar é solicitada com mais ênfase e por estarem atuando mais neste campo.

    Essas respostas vão ao encontro dos pontos fortes e do currículo quando os egressos mencionam que ele é muito bom no que se refere à formação de professor para a atuação no contexto escolar, destacam as relações da teoria com a prática, que tiveram conhecimentos diversificados, a possibilidade de atuação plena, incentivo à busca de conhecimentos e contribuições para a formação pessoal. É possível nessas respostas identificar a fundamentação do Projeto Pedagógico do Curso que se alicerça em três pilares para a formação: teórica, pedagógica e pessoal.

    Contudo, também se percebe que, ao mesmo tempo em que se valoriza a possibilidade de atuação plena, na área escolar e não escolar, se critica o fato de estarem percebendo a necessidade de mais conhecimentos para atuarem fora da escola, principalmente nas áreas biomédicas e conhecimentos relacionados à prescrição de exercícios físicos. Na área escolar as maiores dificuldades estão relacionadas à atuação na Educação Infantil, na relação professor-aluno e na resistência ao novo. Em ambas as áreas é apontada, por parcela dos egressos, a falta de valorização do profissional de Educação Física.

    Concluindo, a pesquisa trouxe importantes informações referentes à formação que o Curso de Educação Física – licenciatura possibilitou aos seus alunos no período de 2000 a 2012A. Contudo, no contexto atual, muitos dos conhecimentos solicitados encontram-se no Curso de Educação Física – Bacharelado, criado em 2008. Dessa forma, as questões relacionadas à área não escolar devem ser analisadas com cautela quando se pensar em reformulações curriculares. E, ainda, cabe lembrar que graduação é formação inicial e que uma das propostas do curso é ampliar os horizontes dos acadêmicos e auxiliá-los na busca pelo conhecimento, que pode ser por estudos próprios, por cursos de extensão ou pós-graduação.

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