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Caminhada, estilo de vida e lazer

Caminata, estilo de vida y recreación

 

Instituto de Biociências, UNESP-Rio Claro, SP

(Brasil)

Mstdo. Marcelo Augusti

Dra. Carmen Maria Aguiar

marceloaugusti@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste artigo é promover uma reflexão sobre a prática da caminhada e sua relação com o estilo de vida ativo, situando tal atividade no contexto do lazer e sua incidência na qualidade de vida.

          Unitermos: Caminhada. Estilo de vida. Lazer. Qualidade de vida.

 

Resumen

          El propósito de este artículo es promover la reflexión sobre la práctica de caminar y su relación con el estilo de vida activo, situando esta actividad en el contexto del ocio u su impacto en la calidad de vida.

          Palabras clave: Caminar. Estilo de vida. Ocio. Calidad de vida.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A caminhada é considerada como um dos ‘remédios’ mais eficazes no combate ao sedentarismo e melhora da qualidade de vida. Trata-se de uma atividade física de baixo impacto, sem maiores exigências de aprendizagem técnica ou necessidade de equipamentos sofisticados.

    Pensando na relevância da prática da caminhada nos dias de hoje e no crescente número de adeptos desta prática, propomos uma breve reflexão sobre esta atividade e suas relações com o estilo de vida ativo, o lazer e, como conseqüência, o que deste contexto reverbera na qualidade de vida.

Estilo de vida ativo

    A incorporação da prática de atividades físicas na rotina dos indivíduos expressa um determinado estilo de vida, que se relaciona com motivações pessoais e conforme as limitações impostas pelo universo cultural e socioeconômico de cada um. A prática da caminhada, assim, pode estar associada a um estilo de vida ativo que tem como finalidade a melhora da qualidade de vida.

    As motivações pessoais podem ser geradas por necessidades próprias ao indivíduo, conforme ocorram desequilíbrios nas esferas biológica, psicológica e / ou social A partir de um abalo na dinâmica dessa estrutural biopsicossocial, o indivíduo fica exposto aos conflitos e tensões internas e externas que, por sua vez, provocam estímulos para atitudes em direção a suprir as insatisfações individuais e sociais geradas por tal ruptura (Teles, 1997).

    As singularidades individuais acabam determinando motivos diferentes para a realização de práticas semelhantes. No caso da caminhada, nem todos que caminham o fazem pelas mesmas motivações pessoais. Assim, as ações dos indivíduos no sentido de estabelecer um estilo de vida que mais tem a ver com as suas experiências de vida e expectativas futuras são perpassadas pela razão e pela sensibilidade, conduzindo para situações distintas que tanto podem reproduzir os estilos de vida que estão na moda ou a eles oferecer resistência (Teles, 1997).

    O estilo de vida ativo decorre, assim, tanto de uma atitude genuína em querer viver bem de fato, isto aqui entendido como uma intencionalidade que se dá pela conscientização de uma maneira mais simples e natural de viver, bem como por comportamentos induzidos pelos padrões midiáticos de consumo ditos saudáveis. Tal relação evidencia-se quando os indivíduos adotam a caminhada exclusivamente como exercício físico e unicamente como meio para melhora da estética corporal, e não se atentam para outros fatores peculiares a atividade que lhe proporcionariam benefícios mais duradouros.

    No contexto da sociedade contemporânea, onde os valores de mercado invadem quase todas as esferas da vida social e tudo se transforma em potencial para consumo, conforme assinala Sandel (2012), somente por uma atitude crítico-reflexiva perante o mundo social e pela sensibilidade humana diante da existência é que o indivíduo poderá adotar um estilo de vida ativo com consciência, ou seja, agir em direção a uma perspectiva de vida saudável, tanto para si quanto para o meio em que vive.

    Assim, pode-se dizer que estilo de vida é "o modo pessoal pelo qual cada indivíduo planeja sua vida cotidiana" (Gaelzer, 1979, p.51), e que as atividades de livre iniciativa ocupam um lugar de destaque na realização do ideal de qualidade de vida. É neste sentido que a prática da caminhada expressa os valores, as crenças e as atitudes do indivíduo e que remetem ao seu próprio estilo de vida ativo.

Estilo de vida e qualidade de vida

    A prática regular de atividades físicas, e com ela a caminhada, alcançaram índices surpreendentes de adesão e expansão na sociedade contemporânea a partir dos anos 1970, tornando-se um elemento indispensável ao lazer, para a saúde e qualidade de vida. Como benefícios fisiológicos, a caminhada proporciona a melhora da condição cardiorrespiratória e que são responsáveis pela redução do peso corporal, pelo combate às dislipidemias, pelo controle da glicemia e, dentre outros, responsáveis pela maior disposição física e emocional aos indivíduos (Guiselini, 2006).

    Atualmente, com o ideal do bem-estar físico inculcando hábitos saudáveis na população, além das praças e parques, também são utilizadas para caminhadas as ruas e avenidas. E o indivíduo, insatisfeito com os modos de vida da cidade, também busca no campo, nas montanhas, nas praias e nas áreas rurais novos lugares para concretizar suas necessidades de viver bem, conforme assinala Bruhns (2009).

    Ao atrelar estilo de vida à qualidade de vida, contudo, algumas considerações devem ser feitas, pois não se trata de algo tão óbvio. A qualidade de vida não se associa única e diretamente à prática de atividades físicas ou ao estilo de vida. Trata-se de

    "[...] a condição humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano"; a "[...] satisfação, realização pessoal, qualidade dos relacionamentos, opções de lazer, acesso a eventos culturais, percepção de bem-estar geral e outros" (Nahas, 2006, p.5-6)

    Muitos são os fatores que determinam a qualidade de vida, incluindo tanto os ditos objetivos (condições materiais de existência), como os subjetivos (autoestima, autoimagem, estilo de vida), estes últimos decorrentes das representações de mundo de cada indivíduo e reflexos de sua identidade cultural que orientam as atitudes em direção às realizações pessoais e sociais, responsáveis por promover um estado de satisfação e alegria com a própria existência.

    Ao relacionar estilo de vida à qualidade de vida, logo, devemos falar das relações entre as maneiras de ser do indivíduo e as suas escolhas e comportamentos, isto é, um conjunto de hábitos particulares que expressam valores e manifestam oportunidades que acenam em direção à melhora do padrão geral de vida.

Caminhada e lazer

    Quando o indivíduo entrega-se, espontaneamente, a uma tarefa após desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais, seja para entreter-se e divertir-se ou para desenvolver alguma capacidade pessoal, seja ela criativa ou não, de modo individual ou inserido em algum grupo social, isto se constitui lazer (Dumazedier, 1979).

    A experiência do lazer, aliviando o desconforto do trabalho cotidiano, pode promover sentimentos de serenidade e satisfação e o reencontro do ser humano com a sua ancestralidade. A contemplação no alto de uma montanha, a apreciação de uma obra de arte, uma leitura edificante e caminhar pelas areias da praia, são exemplos disso.

    No contexto do lazer, atribui-se a atividade física um sentido de potencialidade humana para o desenvolvimento pessoal e social, pois as vivências do lazer (práticas corporais, principalmente, onde o lúdico, o prazer e o espontâneo estão presentes) apresentam-se como condições fundamentais para a aderência e manutenção a um estilo de vida ativo.

    Entretanto, para que a caminhada seja lazer e este, de fato, um ‘tempo livre’ (isto é, não submetido aos imperativos mercadológicos da ‘indústria do entretenimento’), ambos devem atender às expectativas dos indivíduos em relação às escolhas que tenham a ver com as suas singularidades e que, mais importante, conduzam à emancipação do capital como forma preponderante de dominação social.

    Trata-se, portanto, de um momento que sirva para “enriquecer os indivíduos sociais de forma significativa pelo processo do exercício criativo do seu tempo livre pessoalmente disponível” (Mészáros, 2007, p. 44).

Considerações finais

    Caminhar é uma forma de apropriação do ‘tempo disponível’, isto é, uma ação que “emerge das próprias deliberações autônomas” do ser humano, conforme nos alerta Mészáros (2007) sobre a busca de objetivos livremente escolhidos pelos indivíduos como ponto fundamental para a concretização de suas expectativas e benefícios prometidos pela atividade que se realiza, uma “maneira de transformar os potenciais emancipatórios da humanidade na realidade libertadora da vida cotidiana” (Mészáros, 2007, p. 53).

    A caminhada, portanto, no âmbito do lazer como aqui esclarecido e como expressão de um estilo de vida ativo, pode proporcionar ao indivíduo a satisfação pessoal, a interatividade social e a saúde física e emocional, reverberando tais aspectos, justamente, na promoção de um viver com mais qualidade.

Referências

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