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Avaliação posturográfica em atletas de remo
de alto nível de rendimento

Evaluación posturográfica de remeros de alto rendimiento

 

Prof. Dr. Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

na Universidade Regional de Blumenau – FURB

** Pesquisadores autores do TCC (FURB)

(Brasil)

João Augusto Reis de Moura*

Décio Leandro Quarantani**

Gabriel Araujo Teixeira Paulo**

joaomoura2009@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo verificar se a prática do remo sob condições de alto rendimento pode causar alguma anomalia postural. Foram avaliados 15 atletas de alto rendimento do sexo masculino entre 19 e 34 anos com pelo menos quatro anos de treinamento. Utilizou-se o Software de Avaliação Postural (SAPO) para a avaliação postural via fotogrametria digital. Os indivíduos foram fotografados em vista anterior e posterior para análise de nivelamento horizontal de cabeça, ombro, pelve, coxa e perna, e nivelamento vertical da coluna vertebral e membros inferiores (MMII). Os principais desalinhamentos observados foram às horizontalidades de cabeça e pelve e verticalização de coluna vertebral e MMII direito e esquerdo, sendo a análise conjunta destes desvios sugestiva de escoliose cérvico-tóraco-lombar. O treinamento de remo realizado num programa de alto rendimento parece ser um fator potencializador de desvios posturais, sendo estes mais caracterizados na coluna vertebral.

          Unitermos: Remo. Postura. Desvio postural. Alto nível de rendimento.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O remo é um esporte que vem crescendo no Brasil. Impulsionado por recentes e expressivas vitórias de nível internacional, o remo esta se tornando cada vez mais popular em todo o país. O desporto remo entrou nas Olimpíadas em 1900, em Paris, e desde lá vem evoluindo tanto na tecnologia dos equipamentos usados quanto no treinamento técnico e tático dos atletas. Pode ser praticado em rios, lagos, represas e mares, sendo que suas categorias competitivas envolvem a utilização de um ou dois remos por remador, sendo que o uso de um remo por remador denomina-se palamenta simples e o uso de dois remos denomina-se palamenta dupla divididos em barcos de um, dois, quatro ou oito remadores, onde ainda pode haver timoneiros que controlam o barco e dão instruções aos remadores.

    Não diferentemente de outros esportes, o remo praticado em alto rendimento, pode trazer cargas mecânicas descompensatórias sobre o corpo humano (MOURA; SILVA, 2012), e assim, complicações articulares e posturais podem aparecer a curto ou a longo prazo. Guimarães et al. (2007) verificaram anteriorização e a tendência de agravamento da hiperlordose lombar em meninas de ginástica olímpica entre 08 a 12 anos que praticavam a modalidade em uma freqüência maior que duas vezes por semana ou mais de três horas por semana. Neto Junior et al. (2004) identificaram alterações posturais importantes em atletas brasileiros de provas de potência muscular (atletismo de pista) em competições internacionais. Tais incidências de desvios posturais podem levar ao agravamento de lesões como as encontradas no futebol de salão (futsal) por Ribeiro et al. (2003). Tais afirmações mostram que este tipo de estudo (análises posturais) é necessário em todas as modalidades desportivas cíclicas (repetitivas) e torna-se, particularmente importante, em esportes de ações motoras assimétricas.

    Uma abordagem prática mostra que problemas relacionados à coluna vertebral são frequentes entre os remadores, já que grande parte da força exercida para mover o barco direciona-se na mesma. A cada nova remada há um momento de travagem que ocorre quando a pá do remo entra na água, sendo este o momento em que uma nova carga mecânica será aplicada. A fase ideal para a aplicação da força encontra-se quando os remos estão de forma perpendicular com o barco (maior braço de alavanca), formando um ângulo reto com o mesmo. É nesta fase que a coluna lombar entra com grande solicitação, impulsionando o barco. Este uso repetitivo da coluna vertebral, aliado à travagem que ocorre no início de cada remada são questões biomecânicas potencias para gerar lesões e desvios posturais (MOURA; SILVA, 2012).

    Como dito anteriormente uma das categorias do remo é a palamenta simples, onde o remador usa somente um remo. Nela o atleta direciona-se para um lado no movimento da remada. Esta função exige uma maior conscientização da postura corporal, pois é um esporte que baseia-se na execução de movimentos repetitivos e neste caso unilaterais, que associados a longos períodos de treino e somados a anos de prática, pode favorecer a instalação de desvios posturais. Remadores que passam uma carreira inteira nesta categoria se envolvem somente com um lado, portanto podem vir a ter desvios posturais, entre outras complicações.

    Sendo assim, aliado à escassez de pesquisas relacionadas ao remo brasileiro, o presente estudo tem como objetivo verificar se a prática do remo sob condições de cargas de treino e competição visando alto rendimento pode causar desvio postural e em que magnitude os mesmos ocorrem.

Metodologia

Amostra

    Este estudo avaliou 15 atletas do sexo masculino (idade média de 23,8±4,8 anos) de nível competitivo nacional e internacional com no mínimo quatro anos de prática em um modelo de treinamento de alto rendimento. Como critério de exclusão não participaram atletas que já tinham algum tipo de lesão diagnosticada anteriormente ao início da carreira ou que, por motivo de lesão ou força maior, não estivessem em treinamento intenso por mais de 03 meses.

    O projeto de pesquisa que deu origem a este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e ao grupo de estudo foram explicados, minunciosamente, os procedimentos o presente estudo e lhes foi passado para leitura e análise pelos seus responsáveis o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) o qual versava sobre os objetivos do estudo, os procedimentos metodológicos de testagem ao qual iriam se submeter e que estes poderiam desistir do estudo em qualquer fase deste sem qualquer tipo de ônus aos mesmos.

Coleta de dados

    Inicialmente os técnicos dos clubes os quais continham os principais atletas presentes no Campeonato Brasileiro de Remo de 2012 foram contatados. Após o aceite dos mesmos, os atletas foram direcionados para um local específico onde às coletas foram feitas no próprio local da competição. Primeiramente um questionário foi aplicado ao grupo de estudo, para se obter um perfil mais detalhado de cada elemento amostral, questionando também a existência no programa de treinamento dos atletas do TRP (Treinamento Resistido com Pesos) já que o mesmo corrige certos desvios posturais (MOURA; SILVA, 2012).

Avaliação posturográfica estática por fotogrametria digital

    Utilizou-se o programa SAPO (Software de Avaliação Postural) versão 0.68 de distribuição livre para a avaliação dos alinhamentos corporais via fotogrametria digital. Os atletas foram fotografados em posição de ortostase, usando trajes de banho ou roupa intima, no plano coronal-anterior e coronal-posterior com os membros superiores ao longo do corpo. As fotos foram realizadas em uma sala reservada com fundo não reflexivo registras por uma câmera fotográfica digital da marca Sony® SL420 com 10.2 megapixels de resolução, sem o uso de zoom, posicionada a uma distância horizontal de três metros do avaliado, à altura aproximada da cintura deste.

Pontos de demarcação

    Os pontos de análise postural foram os mesmos utilizados por Moura e Machado (2011), sendo eles demarcados de forma bilateral: trago, borda lateral dos acrômios, Espinhas Ilíacas Ântero Superior (EIAS), Espinhas Ilíacas Póstero Superior (EIPS), trocanter maior do fêmur, tuberosidade da tíbia, cabeça da fíbula e maléolos laterais. Ainda foram demarcados: borda superior do manúbrio, sétima vértebra cervical (C7), ponto sobre a coluna vertebral torácica (processo espinhoso) que fosse a intersecção da linha imaginária que une os dois ângulos inferiores da escápula direita e esquerda e, finalizando, ponto sobre a coluna vertebral sacral que correspondesse ao ponto de interseção da linha imaginária horizontal que une as EIPS direita e esquerda, totalizando 12 pontos anatômicos (figura 1). Os pontos descritos anteriormente foram demarcados com esferas de isopor de 35 mm fixadas sobre a pele através de fita dupla face.

Definição dos alinhamentos corporais analisados

    Os segmentos de reta descritos a seguir formam diferentes tipos de ângulos, estes tendo como referência a linha horizontal ou vertical e definem os alinhamentos corpóreos horizontais e verticais no plano frontal respectivamente (figura 1). O segmento de reta constituído pelo trago direito e esquerdo (linha “A”) constituiu o Alinhamento Horizontal da Cabeça (AH_C). O segmento de reta (linha “B”) formado por EIAS direita e esquerda definiu o Alinhamento Horizontal da Pelve (AH_Pel). O segmento de reta (linha “C”) formado pelos trocanteres maior dos fêmures direito e esquerdo definiu o Alinhamento Horizontal da Coxa (AH_Cx). O segmento de reta (linha “D”) formado pela tuberosidade da tíbia direita e esquerda definiu o Alinhamento Horizontal da Perna (AH_Pn). O segmento de reta (linha “F”) formado pelos acrômios direito e esquerdo definiu o Alinhamento Horizontal da Cintura Escapular (AH_CE).

    Os alinhamentos verticais da coluna vertebral e dos MMII foram determinados de duas formas. Para análise da verticalização da coluna vertebral, o ângulo formado (do lado direito corporal) entre os segmentos de reta constituídos por C7 até ponto de intersecção dos ângulos inferiores da escápula, com o segmento de reta do mesmo ponto torácico-escapular até a intersecção das EIPS (linha “E”). Este foi definido como Alinhamento Vertical Posterior da Coluna Vertebral (AVP_CV). E para a verticalização dos MMII, o ângulo formado (do lado direito e esquerdo do corpo) entre os segmentos formados pelo trocanter maior até a cabeça da fíbula, com o segmento de reta do mesmo ponto até o maléolo, formando assim o Alinhamento Vertical dos Membros Inferiores (AV_MI). Lembrando que este processo foi feito tanto para a perna direita como para perna esquerda (linhas “G”).

Figura 1. Imagens mostrando os pontos de demarcação utilizados e os nivelamentos corporais analisados (foto de um dos atletas avaliados)

Descrição da técnica da remada

    Uma remada é constituída de duas fases, sendo uma de relaxamento e uma de contração e começa no momento em que a pá do remo entra na água. Na fase de relaxamento é necessário que o remador equilibre o barco de forma que os remos não toquem na água, caso contrário, isto fará com que a pá do remo arraste na água e cause certa resistência, fazendo com que o barco perca velocidade. Esta fase é iniciada no momento em que a pá do remo sai da água, instante este em que o remador está com os joelhos estendidos e o tronco (coluna vertebral) inclinado para trás devido ao uso do mesmo na fase de contração (imagem “A”, figura 2). Logo após, os cotovelos se estendem seguido pelo tronco que vai à frente e por último os joelhos são flexionados a fim de se obter uma remada mais ampla e um grande uso dos membros inferiores como força de deslocamento do barco.

Figura 2. Imagens mostrando os momentos que compõem a remada

    A fase de contração começa quando a pá do remo entra na água (imagem “B”, figura 2). Neste momento os MMII são inicialmente acionados, seguidas de uma forte utilização do tronco, que se direciona no vetor de deslocamento do barco e por último os braços que irão finalizar e remada e tirar as pás da água para que uma nova remada aconteça.

    A categoria de palamenta simples se difere desta técnica no momento em que a pá entra na água, onde, dependendo do lado em que o remador está remando (direito ou esquerdo) ele irá se direcionar para o mesmo. Nesta fase o remador faz uma rotação do tronco (coluna vertebral) para o lado em que ele está (imagem “C”, figura 2) juntamente com uma inclinação que ocorre em praticamente toda a remada (imagem “D”, figura 2).

Tratamento estatístico

    Foi aplicada estatística descritiva aos dados coletados com medidas de tendência central e de dispersão sendo usado para tal o programa SPSS versão 14.0.

Resultados

    Para os alinhamentos horizontais ideais (valores de referência) esperava-se que os segmentos de reta formassem ângulo zero com a linha horizontal para estarem completamente alinhados (horizontalizados). Na tabela 1 foram analisadas as discrepâncias gerais, ou seja, os ângulos de desvios com as linhas horizontais em valores médios (média geral) e a variação dos mesmos através do desvio padrão (DP geral) e coeficiente de variação (CV).

    Também, os desalinhamentos encontrados em relação à horizontal foram segmentados em valores de zero à 2,9º; de 3,0º à 5,0º e maiores à 5,0º. Nesta segmentação foram analisados o número de indivíduos que se encontravam no grupo segmentado, o quanto percentualmente (%) estes representam da amostra total (n=15) e foi ainda calculado o valor médio do desalinhamento dentro do grupos de segmentação angular.

    Os alinhamentos gerais apresentaram baixos ângulos de divergência com a linha horizontal, sendo que somente AH_C apresentou média geral superior à 2,0º (2,4º). A variabilidade foi alta, apresentando uma média dos percentuais de variação de 81,5%, sendo que AH_Pn apresentou 100% de variação, porém para uma média de desalinhamento baixa (1,20). O AH_Cx em valores médios foi de 1,5º o que pode ter influenciado o AH_Pel (1,6º).

Tabela I. Alinhamentos horizontais (em graus) no plano frontal de diferentes pontos anatômicos

    Nos grupos de segmentação angular a maioria da amostra ficou nos desvios entre zero e 2,9º (com exceção do AH_C todos os demais alinhamentos apresentaram no mínimo 86,7% da amostra nesta categoria). O AH_C apresentou desvios mais pronunciados onde quatro indivíduos (26,7% da amostra) obtiveram desvios entre 3,0º e 5,0º, e um deles apresentou desvio acima de 5,0º (7,4º). O AH_Pel e AH_Cx somente apresentaram dois indivíduos com desvios superiores a 3,0º com médias de 3,7º e 3,5º; respectivamente.

    Na tabela 2 são apresentadas as médias e variações gerais dos dados e foram formados grupos de segmentação angular de zero à 2,0º, de 2,1º à 4,0º e maiores que 4,0º para análise de verticalização da coluna vertebral e dos MMII.

Tabela II. Ângulos (em graus) de verticalização da coluna vertebral e dos MMII.

    Para análise de verticalização posterior da coluna vertebral (AVP_CV) e dos MMII (AV_MId e AV_MIe) o considerado ideal (referência) são valores angulares de 180º entre os segmentos de reta utilizados para análise, ou seja, a coluna e os membros inferiores apresentarem um comportamento completamente vertical (linhas “e” e “g”, figura 1).

    Na AVP_CV a média da diferença entre os ângulos mensurados e o ângulo de perfeito alinhamento (referência de 180º) foi de 2,6º, sendo que a maioria dos atletas apresentaram diferenças angulares de 2,1º a 4,0º representando 46,7% e dois sujeitos (13,3% da amostra) apresentaram diferenças superiores a 4,1º. Ao somarmos os desvios acima de 2.10 temos 09 sujeitos (60,0% da amostra) com um desalinhamento importante da coluna vertebral no plano sagital.

    Na análise dos MMII (AV_MId e AV_MIe) a média de diferença entre os ângulos mensurados e o ângulo de 180º foi de 2,2º para o AV_MId e de 2,6º para o AV_MIe sendo que a maioria dos atletas ficaram no grupo de diferenças angulares entre zero e 2,0º para ambos os membros, representando 60% no membro direito e 46,7% para o esquerdo.

Discussão

    O esporte de alto rendimento exige um volume de treinamento elevadíssimo, onde muitas sessões envolvendo diferentes capacidades físicas e diferentes ações motoras são realizadas em uma semana de treino. O esporte que tem como a característica do seu ato motor movimentos cíclicos pode fazer com que cargas sejam aplicadas inúmeras vezes sobre um mesmo ponto do corpo. No caso do remo a coluna vertebral, mais intensamente na região lombar, seria um dos pontos que mais receberia carga e o fato de existir uma categoria onde os remadores remam unilateralmente pode ser um fator potencialmente agravante, se pensarmos que tais cargas podem trazer lesões e comprometer os alinhamentos corporais gerando desvios em diferentes segmentos corporais. 

    Estudos relacionados ao alto rendimento e às exposições que os atletas recebem no que se diz respeito ao ato cíclico do movimento esportivo mostram que tais repetições podem sim trazer complicações posturais. Neto Junior et al. (2004) identificaram alterações posturais importantes em atletas brasileiros de nível internacional de provas de potência muscular (atletismo de pista). Com relação ao volume de treino Guimarães et al. (2007) verificaram anteriorização pélvica e a tendência de agravamento da hiperlordose lombar em meninas de ginástica olímpica entre 08 a 12 anos que praticavam a modalidade em uma frequência maior que duas vezes por semana ou mais de três horas por semana.

    Corroborando com estas informações Mansoldo e Nobre (2007) encontraram diferente desvios posturais em nadadores federado praticantes do nado borboleta em provas rápidas de 100 e 200 metros. Pereira et al. (2008) estudaram bailarinas clássicas de longa data e identificaram dentre outros desvios posturais um alto índice de hiperlordose lombar (91,3% das bailarinas) creditado a prática sistemática da modalidade.

    Embora o elevado condicionamento físico-muscular de atletas de remo seja eficiente para um bom controle postural estático em ortostase (VIEIRA; OLIVEIRA, 2006), em função dos dados encontrados em nosso estudo, parece não ser suficiente para manter um bom alinhamento corporal. Portanto, a prática do TRP com as cargas praticadas pelos atletas do nosso estudo e em duas sessões por microciclo (semana) de treino, parecem não garantir um equilíbrio postural.

    O ponto AH_C foi o ponto que relatou a maior média de desalinhamento angular dentre os alinhamentos horizontais. Isto pode estar relacionado com o fato de ter havido um resultado além do comum, ou seja, o indivíduo que obteve um desvio de 7,4º (único remador de palamenta simples em toda a carreira esportiva) que apresentou efeito sobre a média obtida, porém entendemos como baixo efeito já que tratavam-se de um total de 15 remadores. Outra hipótese pode estar relacionada com o alinhamento vertical da coluna que obteve maior número de resultados entre 2,1º e 4,0º sendo que a não verticalização da coluna é um fator que pode desalinhar a cabeça horizontalmente (MANSOLDO; NOBRE, 2007; MOURA; SILVA, 2011).

    O AH_CX apresentou média de 1,5º de desvio com a horizontal, sendo que tal resultado pode ter sido influenciado pelos desvios relatados pelo AHPn que já apresentava média de desvio com a horizontal de 1,20. Tais desalinhamentos podem ter influenciado o AH_Pel que, influenciado pelos desalinhamentos a baixo deste ponto anatômico, elevou a média do desalinhamento para 1,60, isto é, houve um crescimento dos desalinhamentos que parecem irem somando-se de baixo para cima até “atingirem” a pelve. Por outro lado, este desnivelamento da pelve pode ter alterado negativamente a verticalização da coluna vertebral já que é a base de suporte para o sacro e este a base de L5 e todas as demais vértebras superiores da coluna vertebral (KAPANDJI, 1991).

    Os alinhamentos verticais mostraram o maior número de indivíduos com desvios acima do limiar de aceitação (0,00 a 2,00), sendo que no AVP_CV isto pode ter ocorrido por influencia de um desalinhamento da cabeça ou então da pelve, variando de indivíduo para indivíduo. Outra hipótese, seria o fato do remo trabalhar fortemente toda a região posterior do tronco, e durante a ação motora os remadores buscam se ajustar de diferentes modos para que no momento da contração, não percam a eficácia da sua técnica ajustando-se para que o barco continue em equilíbrio. Sendo que este ajuste pode ser um dos fatores que causou desvios nos MMII já que na fase de contração os mesmos têm influencia no equilibro do barco e na direção do vetor da força para o qual o barco se direciona.

    A maior questão levantada sobre este estudo está relacionada à categoria palamenta simples. O fato do remador se projetar somente para um lado e realizando este movimento repetitivamente durante suas sessões de treinamento parece ser o fator que mais se relacionou com os desvios obtidos. Moraes (2002) verificou que posturas estáticas ou dinâmicas adotadas por longos períodos de tempo em desacordo com linhas de ação gravitacional em que os momentos das forças atuantes sobre o corpo não se equilibram, tornam-se fatores potencializadores de desconfortos musculares e de desvios posturais, o que foi relatado pelo AH_C, onde apenas um remador apresentou níveis de desvio acima de 5,0º (7,4º), sendo que este foi o único individuo que em sua carreira esportiva teve a maioria das experiências como remador de palamenta simples, raramente participando ou até treinando na categoria de palamenta dupla. Este remador utiliza o remo posicionado no lado boreste do barco (lado esquerdo), o que significa que no momento em que ele vai à frente para começar uma nova remada, ele rotaciona seu tronco para a esquerda.

    Foi relatado que o desvio AH_C deste indivíduo é inclinado para a direita; direção contrária à da remada. Em relação ao desvio da coluna, que pode ser um fator influenciador deste resultado, o mesmo obteve um desvio considerável (4,2º maior desvio de verticalização de 1800 da coluna vertebral), porém este desvio já direcionava-se para o lado em que ele rotaciona o tronco na hora de encaixar o remo na água. O desalinhamento da cabeça pode estar relacionado com este desvio exacerbado devido à uma adaptação que o próprio atleta criado ao longo do tempo para manter uma técnica eficiente num momento onde realiza uma grande contração muscular.

    Nossa argumentação encontra respaldo no estudo de Penha et al. (2005), quando os autores ao estudarem a postura de 132 meninas de 07 a 10 anos detectaram alto índice de escoliose e afirmaram que demandas diárias sobre o corpo e sentar em mobiliário inadequado além do uso de mochila de forma unilateral são os principais fatores causa do desvio. Desta forma, entendemos que movimentos repetitivos por longa data, principalmente em ações motoras unilaterais, podem gerar desalinhamentos/desvios posturais.

Conclusão

    A coluna vertebral foi o ponto de maior incidência de desvios e isto pode ter induzido o desalinhamento horizontal da cabeça. A análise individualizada sobre um atleta de uso de palamenta simples mostrou ser esta potencializadora dos desvios.

    O método de avaliação posturográfica foi eficiente para a avaliação dos desvios posturais em atletas de remo de alto rendimento, sendo que os principais desalinhamentos observados foram o AH_C, o AH_Pel, o AVP_CV e o AV_Mi direito e esquerdo, sendo a análise conjunta destes desvios sugestiva de escoliose cérvico-tóraco-lombar.

    O treinamento de remo realizado num programa de alto rendimento parece ser um fator predisponente de desenvolvimento dos desalinhamentos/desvios em potencial, sendo estes mais comuns na coluna vertebral e o uso unilateral do remo parece ser fator agravante.

Referências

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