Influência da atividade física na auto-estima da pessoa com deficiência do Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil Influencia de la actividad física en la autoestima de las personas con discapacidad del Núcleo de Educación Física y Deporte Adaptado de la Universidad Estatal de Feira de Santana, Bahía, Brasil Influence of physical activity in the self-esteem of people with disabilities of the Nucleus of Physical Education and Sport Adapted of the State University of Feira de Santana, Bahia, Brazil |
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Graduação em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS, BA Pós-graduado (Lato Sensu) em Educação para atividade física e reabilitação na terceira idade pela FVC/FETRAB, BA Pós-graduado (Lato Sensu) em Metodologia da Educação Física e Esporte Escolar pela Universidade Estadual de Santa Cruz UESC, BA Discente da pós-graduação (Lato Sensu) em Personal Training: Metodologia da Preparação Física Personalizada pela Universidade Gama Filho Professor da Secretaria de Educação do Estado da Bahia |
Thiago Amaral Martins thiagomartins_personal@hotmail.com (Brasil) |
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Resumo O presente estudo é uma pesquisa qualitativa que visa estabelecer, a relação entre atividade física e a melhoria da auto-estima do público de deficientes do Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado (NEFEA) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), tentando evidenciar a influencia da atividade física para a melhoria da auto-estima das Pessoas com Deficiência, e identificar como eles percebem a relação entre a prática da atividade física realizadas no núcleo e os possíveis benefícios para a elevação e melhoria na sua auto-estima; além de relacionar esses benefícios com suas ações no convívio em sociedade. Unitermos: Auto-estima. Atividade física. Pessoas com deficiência.
Resumen Este estudio es una investigación cualitativa que tiene como objetivo establecer la relación entre la actividad física y la mejora de la autoestima de las personas con discapacidad, del Núcleo para la Educación Física y el Deporte Adaptado (NEFEA) de la Universidad Estatal de Feira de Santana (UEFS), tratando de mostrar la influencia de la actividad física para mejorar la autoestima de las personas con discapacidad, e identificar cómo perciben la relación entre la actividad física realizada en el Núcleo y los posibles beneficios para la elevación y mejora de su autoestima, además de relacionar estos beneficios a sus acciones en la vida en sociedad. Palabras clave: Autoestima. Actividad física. Personas con discapacidad.
Abstract This study is a qualitative research which aims to establish the relationship between physical activity and improving self-esteem of Persons with Disabilities of the Center for Adapted Physical Education and Sport (NEFEA) State University of Feira de Santana (UEFS), trying to show the influence of physical activity to improve the self-esteem of people with disabilities, and identify how they perceive the relationship between physical activity performed in the core and the possible benefits for the elevation and improvement in their self-esteem, in addition to relate these benefits to your actions in life in society. Keywords: Self-esteem. Physical activity. People with disabilities.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A pesquisa parte da constatação, da relação entre atividade física e melhoria da auto-estima. A auto-estima pode ser acentuada através da participação em atividade física, talvez estimulando a habilidade física e o amor próprio (SHARKEY 1998, p.43). A relação com o amor próprio esta diretamente ligada ao autoconceito que segundo Santana (2003 p.2), seria classificado por autores diversos da psicologia como,
a maneira que o individuo se determina, incluindo aspectos físicos, psíquicos, sociais, materiais e espirituais. [...] o autoconceito é um elemento da nossa personalidade que influenciara nossas percepções perante os objetos, pessoas e nossas relações, e que é de fundamental importância para a formação de um individuo seguro, capaz, feliz e vitorioso.
A relação de aumento do autoconceito/auto-estima está associada, a melhora física corpórea e os benefícios advindos das reações fisiológicas, como a liberação de hormônios (CRUZ, HAKAMADA & FILHO 2013), que podem influenciar nas relações psicossociais; Déficit no tônus dopaminérgico tem sido implicado nos transtornos depressivos, de déficit de atenção, de fadiga e aditivos (FRONTERA et al, 2001 p.318), a relação entre déficit de atenção e transtornos depressivos estão ligados diretamente com quedas nos níveis da auto-estima implicando em perdas sociais (relacionamento com as outras pessoas afetados, gerando exclusão) alem de desgosto em relação às possibilidades de movimentação, por estarem debilitados, por conseqüência da idade avançada e da deficiência que os acomete.
Objetivo
A pesquisa torna-se relevante para que se possa afirmar a influencia dos benefícios da atividade física para a auto-estima nas Pessoas com Deficiência nos programas de extensão do NEFEA-UEFS, acarretando ganhos, através dos benefícios psicológicos obtidos pelos alunos.
Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado - NEFEA
O Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado faz parte da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, localizada na cidade de Feira de Santana, no estado da Bahia - Brasil; constituído como Núcleo de Extensão e Pesquisa, com objetivo de:
Assegurar em parceria com instituições públicas e/ou privadas, a participação de portadores de necessidades especiais através do esporte e da atividade física nos programas da UEFS, favorecendo o intercambio cientifico, técnico e pedagógico entre as diversas supra mencionadas instituições. (PORTARIA Nº 1422/2000 apud OLIVEIRA 2003, p. 36)
A forma como o núcleo estabelece seu programa de trabalho e suas concepções, encontram-se no projeto ao qual o mesmo está vinculado: Projeto Sem Barreiras que busca sua legitimação através do seguinte pensamento:
A Universidade deve assumir um compromisso com a comunidade na qual se insere, da qual faz parte para poder receber sua legitimação. Para isso faz necessário uma verdadeira integração e interação da Universidade com a comunidade que por meio dela se faz presente e atuante, tornando-se assim uma comunidade participante das atividades da Universidade. (SANTOS, 2000; apud OLIVEIRA 2003, p. 39)
Através deste pensamento o projeto desenvolvido pelo NEFEA, procura uma integração com a comunidade das Pessoas com Deficiência, para quebrar as barreiras simbólicas, sociais e arquitetônicas existentes, remontando padrões provocando mudanças na sociedade.
Deficiência, auto-estima e atividade física
A atividade física relaciona-se com a deficiência à medida que, induz o individuo ao convívio social, além de fazê-lo perceber que nele há qualidades a serem ressaltadas. A utilização do esporte serve de alavanca muito grande a valorização do deficiente, por ter na atividade física, instrumento de notoriedade na sociedade.
Souza (1994, p. 36) relata que o desporto oferece condições ótimas de valorização da pessoa portadora de deficiência, já que tem condições de desenvolver, aprimorar, fixar e ressaltar os seus potenciais.
A partir do momento que se utiliza o esporte para ressaltar qualidades, os deficientes constroem sentimentos de valoração por perceber que são capazes de realizar varias habilidades, convencendo aqueles que os vêem praticando, sobre suas potencialidades e competências. O esporte e a atividade física conseguem estimular, o convívio e interação social; conhecendo novas pessoas, estabelecendo novos vínculos sociais. A interação social seria um dos ganhos para o deficiente; outros efeitos podem ser observados, eles estariam ligados ao fator psicológico.
...perceber espaço-temporal, atenção, concentração, capacidade de iniciativa, força de vontade (resistência ao cansaço), motivação, auto-imagem, capacidade de interação social, responsabilidade com a própria saúde e a própria segurança, e auto-estima. (SOUZA 1994, p.35)
Quando o autor refere principalmente aos benefícios psíquicos de força de vontade, motivação, auto-imagem, capacidade de interação social, responsabilidade com a saúde e segurança, ele refere a elementos do autoconceito; a auto-estima seria a avaliação do autoconceito (BRANDEN 2000; VILLA SANCHES & ESCRIBANO, 1999; MUSSEN et al, 1995 apud SANTANA 2003); estando ela ligadas intrinsecamente a quase todos os fatores citados acima, em muitos dos benefícios psicológicos da atividade física para as Pessoas com Deficiência.
Metodologia
A pesquisa tem característica de abordagem qualitativa, com uma amostra de 03 (três) alunos sendo dois cegos e 01 (um) paraplégico, do sexo masculino, na faixa etária compreendida entre 23 e 73 anos de idade regularmente inscritos no NEFEA, realizada por um gravador de áudio (Digital Media Player da Sony-MP3). Como aspecto ético, os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a utilização e a publicação dos dados coletados. A entrevista não estruturada tem um roteiro com perguntas abertas, onde o informante aborda livremente o tema proposto.
SORIANO 2004, p.150).Quando o conhecimento sobre a situação ou sobre o grupo que se deseja estudar é superficial e não se conta com informação suficiente para estruturar devidamente um guia de uma entrevista, existe o recurso de elaborar um roteiro geral a fim de orientar a entrevista. Na pratica, esse roteiro vai sendo modificado durante a entrevista e em função das características pessoais da fonte de informação (
A análise teve caráter qualitativo, segundo Triviños (1987, p.137) ela se desenvolve em interação dinâmica retroalimentando-se, reformulando-se constantemente, de maneira que, por exemplo, a Coleta de Dados, num instante deixa de ser tal e é Análise de Dados, e esta, em seguida, é veiculo para nova busca de informações; justificando a inclusão de algumas perguntas, para uma clareza a respeito das informações a serem coletadas sobre o tema, deixando claros pontos que se desejava abordar.
Análise dos dados
Os participantes dessa entrevistas são pessoas com cegueira ou paraplegia, que segundo eles no começo da sua deficiência se abateram, mas procuraram sair desse estado, ocupando seu tempo com afazeres; são pessoas humildes, que vivem de seus benefícios advindos do Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, mas com o incentivo da UEFS via NEFEA, consegue praticar a atividade física. Pois os mesmos chegaram com objetivos de apenas praticar alguma atividade física, e também de conhecer o que ela podia lhe proporcionar, por conta de muitos nunca terem tido contato com ela.
Ao serem realizadas as entrevistas, foi ficando claro como as Pessoas com Deficiência relacionam a atividade física, principalmente em grupo, a benefícios na área psicossocial. Tendo em vista a historia de segregação sofrida por essa população no passado, nota-se como ela mesma sente-se incapacitada hoje em dia, por ser má conceituada na sociedade, acabando por construir uma auto-imagem inferiorizada.
A principal relação com atividade física e a vida deles, aprecia com a pergunta do que eles compreendiam (conceito) sobre atividade física, logo eles respondiam:
É algo que serve para melhorar os movimentos físicos das pessoas, por onde a pessoa tem a necessidade de se movimentar, de fazer [...], todo tipo de atividade para seu melhor bem-estar fisicamente. [...] bem-estar também compreende na área de você ter uma mente mais aberta, mais arejada. ENTREVISTADO 1
É um negocio que agente fica bem satisfeito [...]; agente se sente bem, o corpo d’agente fica leve, agente se sente outro, tem alegria, satisfação, com o que agente faz. ENTREVISTADO 2
Os entrevistados demonstram que, percebem os efeitos benéficos para sua saúde, não só nos aspectos antropométricos e musculares, mas também nos aspectos psicológicos, que seriam a melhoria na auto-estima e autoconceito, diminuição do estresse e ansiedade, melhoria das funções cognitivas e de socialização (MATSUDO & MATSUDO, 2000), essa como um dos principais focos no combate a depressão causada pela auto-exclusão dessas pessoas.
A atividade física viria a contribuir na solução de melhora da integração das Pessoas com Deficiência; nas possibilidades de novas vivencias motoras, sensoriais e cognitivas; na obtenção de ganhos fisiológicos; alem de propiciar nela a integração com outros indivíduos proporcionando nessas pessoas novas construções de conceito próprio.
O autoconceito, fica abalado, devido à nova realidade a ser enfrentada, necessitando de uma reestruturação nos esquemas cognitivos (MARKUS, 1997 apud TAMAYO, 2001), além também dos indivíduos estarem impregnados culturalmente por estigmas sociais relacionados às Pessoas com Deficiência, fazendo-os auto-avaliarem num primeiro momento como inferiores.
Na passagem a seguir o entrevistado demonstra um pouco desse estigma, ao ser perguntado, “Como ficou sua vida depois do projeto”:
O corpo tem muito haver. Tem por quê, você chega num ambiente como o shopping, todo mundo olha pra suas perninhas e diz:
- Ó que perninhas! Ó que perna! Ali é de nascença
- Há da dó!
Aí muitos ficam com vergonha de ser descriminado pela população, por quê queira ou não queira, o deficiente tem um pouco de descriminação ate consigo mesmo. ENTREVISTADO 3
Observa-se nas frases acima a influencia do olhar das outras pessoas e das estratégias de auto-apresentação na formação do autoconceito. A apresentação que se deseja fazer para os olhares externos, moldando todo o seu conceito próprio. Schleder, Dlugolecki & Doherty (1994 apud TAMAYO, 2001 p.158), cita que ao considerar no autoconceito os componentes avaliativos, cognitivos e comportamental, consistindo no ultimo as estratégias de auto-apresentação, utilizadas pelo individuo com objetivo de transmitir aos outros uma imagem positiva de si.
O aspecto comportamental seria importante no processo de auto-apresentação, agindo mutuamente com os aspectos avaliativo e cognitivo. A representação que a pessoa tem de si mesma, esta estocada na sua memória, da mesma forma que a representação que ela tem de outra pessoa ou objetivo (TAMAYO, 2001, p. 158). Assim torna-se imprescindível que as Pessoas com Deficiência, tenha um autoconceito favorável a eventos positivos, como alegria de viver, busca de um sentido pra vida, ser útil, dentre outros, para que com auto-estima positiva, livre-se de eventos negativos, advindos de baixa auto-estima como depressão, auto-exclusão e estresse, sendo o primeiro, capaz de induzir a eventos vez por outra mortais, como suicídio.
A auto-exclusão torna-se comum, devido ao olhar das pessoas do seu convívio social não notarem nele suas qualidades num primeiro momento e sim seu defeito, sua deficiência, alguns não estão preparados para se deparar com essa nova realidade, se auto-excluindo de muitos ambientes de convívio social, essa exclusão pode vir a gerar eventos piores, como depressão. Logo a seguir veremos fala dos entrevistados mostrando a relação dessa exclusão social para seu convívio em sociedade, alem da interferência deles no conceito das Pessoas com Deficiência.
Nas falas da entrevista podemos notar essa auto-exclusão, quando as Pessoas com Deficiência, na pergunta “Como ficou sua vida depois do projeto”, surgiu uma dúvida gerando o uma nova pergunta (sub-tópico), sobre, “A que você atribui a essa restrição? (relação a se restringir dos ambientes sociais) É a pessoa que se exclui, ou ele é excluído pelas outras pessoas”,
...ele é excluído em alguns lugares onde ele freqüenta,(...), por quê o pessoal olha com olhos de piedade, olhos de às vezes, de desprezo, (...) e por isso também ele se limita, e se retrai entre quatro paredes... ENTREVISTADO 1
E na pergunta sobre “Como ficou sua vida depois do projeto”, no sub-tópico, “Isso causa isolamento”, ao qual faço referencia a falta de instrução (analfabetismo) de alguns Pessoas com Deficiência:
ENTREVISTADO 2Quando eu comecei logo a perder a visão, (...), eu era um homem triste. Eu achava que a vida [pensativo], a vida pra mim não tava existindo, não tinha sentido viver.
A relação de baixa auto-estima à depressão, também é descrita nas entrevistas, na pergunta “Como você percebe a sua participação neste projeto”, em referencia a uma afirmativa dele tentar não desanimar:
...tem muitos que chega ao suicídio, outros não quer sair de casa, com depressão, por quê a musculatura cai, e só você praticando você começa ganhar musculatura,... ENTREVISTADO 3
A depressão é um fenômeno psíquico, que gera varias características, como tristeza, auto-estima baixa, pessimismo, desesperança e desespero (SHARKEY, 1998, p.41), que fazem com que, quem esteja com essa doença, se sintam inferiores em relação às outras pessoas.
A depressão pode ser gerada por uma relação depreciada do corpo, induzida por olhares de outras pessoas. A relação com o corpo se torna também evidente, devido à necessidade de exposição positiva ao olhar das outras pessoas, ocorrendo nas Pessoas com Deficiência uma nova autoconceituação, gerando nela maior autovaloração (auto-estima elevada) (esses são aspectos antropométricos da saúde, e são contribuições vindas da atividade física).
Durante a entrevista são observados relatos de benefícios à saúde com relação aos aspectos antropométrico e neuromusculares, após o entrevistado ser indagado, “Então você se compara como capaz de qualquer coisa”:
Não tinha muito equilíbrio de tronco, ai comecei pegando peso. Eu tinha uma filha que na época tinha (...) 10 a 12 Kg, e não conseguia pegar ela sentado. Hoje ela ta com 18 a 19 Kg e eu pego ela folgado, com facilidade, então ganhei esse equilíbrio. ENTREVISTADO 3
Outro trecho que expõe essa relação é quando o mesmo entrevistado foi indagado sobre, “como ficou sua vida depois do projeto”:
...agora em termo de peso, eu tinha o que, 40 e poucos quilo, mais ou menos, hoje eu to com 63, eu ganhei esses peso! E muitos colega, não sai de casa porque, muito conhecido com físico adequado pro corpo dele, depois da lesão emagreceu, ai muitos ficam com vergonha de ser discriminado pela população, porque queira ou não queira, o deficiente tem um pouco de discriminação ate consigo mesmo! Então o projeto aqui, ajuda com o que, o , e você ganhe peso e você não tem vergonha de chegar em lugar nenhum, você sai pra qualquer ambiente né! ENTREVISTADO 3
Acima, o entrevistado relata com entusiasmo que antes da prática de atividade física, ele não tinha nem força nem equilíbrio no tronco (musculatura toraco-lombar) para levantar a filha, sendo que após freqüentar as atividades ele recuperou o equilíbrio, ganhou força e pôde assim pegar a filha, por conta da pratica regular de atividade física, gerando um novo olhar das outras pessoas, sendo essas contribuições relativas à saúde nos aspectos antropométricos e neuromusculares.
Ao se tratar de atividade física e seus benefícios, a saúde e os aspectos relacionados a ela como aspectos antropométrico, neuromuscular, metabólico e psicológico estarão envolvidos no contexto.
Saúde segundo Bouchard (1990 apud ASSUMPÇÃO 2002), saúde é definida como, uma condição humana, com dimensões física, social e psicológica
Essa relação mais ampla de saúde vem nos demonstrar que as relações sociais seriam importantes componentes para poder ocorrer ganhos em auto-estima, por entender que, o autoconceito seria segundo Santana (2003), a maneira que o individuo se determina, incluindo aspectos físicos, psíquicos, sociais, materiais e espirituais; a vida social do indivíduo torna ponto principal de como esse indivíduo pode estar se conceituando, ou considerando a conceituação das outras pessoas. Crano, Crano & Baggio (1983) reforça a afirmação sobre a influência das relações sociais na definição do autoconceito:
Autoconceito consiste de um conjunto de atitudes e crenças inter-relacionadas que o indivíduo tem a respeito de si próprio.[...]. A manutenção e aprimoramento do autoconceito constituem em uma força motivadora para muito comportamento social. (apud SANTANA 2003 p.7)
A interação social, das Pessoas com Deficiência, mostrou-se como principal fator benéfico da atividade física realizada no NEFEA, ao ser perguntado sobre “E sua interação com as outras pessoas”, ‘um dos entrevistados diz que:
A partir do momento que você sai de casa vem ate aqui a universidade, você tá conhecendo outras pessoas, e também, ate participando de uma integração, onde você pode dar sugestões ou ate seus conhecimentos para estas pessoas... ENTREVISTADO 1.
O simples ato de sair de casa já proporciona as Pessoas com Deficiência benefícios, já que essa seria uma população historicamente excluída das vivencias na sociedade, tendo em vista que as relações sociais estabelecidas por elas geram alterações no conceito próprio e por conseqüência na auto-estima, já que a ultima consiste em aspecto avaliador do autoconceito (TAMAYO, 2001). Mais evidente, Coopersmith (1967 apud GOBILLA e GUZZO 2002), afirma que:
a auto-estima é um juízo de valor que se expressa mediante as atitudes que o individuo mantém em face de si mesmo. (p.144)
Essa avaliação própria depende das experiências vividas com outras pessoas por cada Pessoa com Deficiência; Buscaglia (1993 apud SANTANA 2003) relata que, as pessoas aprendem e constroem sua personalidade a todo o momento, aprendendo através de experiências individuais e com outras pessoas; assim as experiências em grupo tornam-se ponto chave para essa elevação de auto-estima nas Pessoas com Deficiência (aspecto psicológico), além da atividade física também poder proporcionar benefícios corporais visuais, como aumento de massa muscular (aspecto antropométrico) e conseqüente mente aumento de força (aspecto neuromuscular).
Os aspectos antropométricos da saúde, diretamente ligados à atividade física, como o aumento da massa muscular, provocam uma visão de respeito das outras pessoas em relação a Pessoas com Deficiência, e também dela em relação a si.
Hoje mesmo eu tava num ambiente e o rapaz nem me conheceu (...) ele me falou:
- Rapaz você tava magrinho, passou por mim e nem te conheci!
- Se você não fala comigo eu não te conhecia. ENTREVISTADO 3.
As relações sociais são muito importantes na manutenção e ascensão da auto-estima das Pessoas com Deficiência, essas relações, podem ocorrer, pelo respeito adquirido com os ganhos antropométrico.
O fato de ser respeitado, de conhecer e estabelecer novos vínculos de amizade, melhora nas Pessoas com Deficiência o convívio e a interação na sociedade. Este convívio acaba remetendo elas muita das vezes a situações de descaso nos meios sociais ao qual teria direito de acesso, que, são negadas devido à falta de sensibilidade e desinformação da legislação vigentes e pelas autoridades governantes ou administrativas. As relações negativas ao projeto dizem respeito ao direito de ir e vir, negados, por conta das barreiras arquitetônicas, das ruas e locais como lojas, e também por conta do descaso social, afetando sua acessibilidade.
As Pessoas com Deficiência necessitam de locais que estejam adaptados à suas necessidades, e no caso da UEFS, não encontramos ainda locais em que essas pessoas possam exercer seu simples direito de ir e vir livremente.
Nas entrevistas a seguir, ao serem perguntados sobre, “O que você acha do projeto”, se identificada uma relação indireta com o projeto, mas que influencia diretamente no andamento dele, devido ao fato de tornar menos acessível à vinda do deficiente ate a UEFS, mesmo que essas não sejam ligadas diretamente à atividade física, mas estão relacionadas ao conceito de auto-estima, acessibilidade e saúde;
Eu tenho condição de sair vir, ou com um colega ou com carro próprio; só que tem muitos que tem vontade de praticar esporte, mas os coletivos urbanos, não estão adaptados adequadamente para os deficientes! ENTREVISTADO 3.
Eu esperava que tivesse transporte pra pegar agente né; um ponto certo no centro da cidade. [...] pra agente vir de casa mais tranqüilo, sem ter que sair nas carreira pra pegar o coletivo. ENTREVISTA 2.
Ao relacionar às experiências sociais com o autoconceito e conseqüentemente a auto-estima, nota-se que o descaso das autoridades elegidas (governo municipal, federal e estadual), seria um importante ponto influenciador, da exclusão hoje das Pessoas com Deficiência, além é claro da desinformação dos outros indivíduos quanto às possibilidades dessas pessoas.
Na próxima passagem há um trecho da entrevista onde o entrevistado relata como a desinformação ainda contribui muito para a exclusão das Pessoas com Deficiência, ele diz:
As pessoas não valorizam, e não procuram saber, nem a capacidade que eles tem; então por não conhecerem a capacidade que tem um deficiente, ele não dão valor e os exclui de qualquer setor da sociedade. ENTREVISTADO 1.
A exclusão gera déficits no aspecto psicológico, acarretando quedas nos níveis de auto-estima, podendo surgir, a partir daí, a própria exclusão, e uma desmotivação para o convívio com outras pessoas e consigo; conseqüentemente, aumenta o aparecimento de casos de depressão, por conta dela, levando muitas Pessoas com Deficiência ao suicídio; denotando na inclusão delas na atividade física, um importante aliado no combate a esse mau.
Considerações finais
No trabalho, notaram-se, as principais contribuições da atividade física, não só no que diz respeito aos benefícios diretos, mas também nos indiretos.
As relações indiretas entre atividade física e auto-estima são descritas por Villa Sanches & Escribano (1999 apud SANTANA 2003 p. 26) ao admitir o valor das relações sociais na formação da auto-estima, afirmando que a auto-estima é a atitude valorativa emocional que uma pessoa tem de si mesma, ou seja, a percepção do próprio valor pessoal, proveniente da experiência do meio ambiente e do contato com os outros, evidente na pratica de atividade física em Pessoas com Deficiência, por os fazerem vivenciar praticas esportivas em grupo (SOUZA 1994). O simples ato de os fazerem freqüentar meios sociais, não antes explorados, permite uma grande inclusão das Pessoas com Deficiência no convívio em sociedade.
Como contribuições diretas, temos os ganhos em aspectos neuromusculares, melhorias da força (percebido nas ações do seu dia-dia) e melhorias motoras (coordenação); ganhos subjetivos nos aspectos psicológicos (auto-estima), que seria uma soma dos outros aspectos, numa relação com o ambiente de convívio (meio social) e o seu ego (eu), percebida por um grande bem-estar e alegria em viver.
Os benefícios diretos, e os benefícios indiretos da atividade física, relacionam-se com a auto-estima, por proporcionar um conceito próprio mais claro, além de demonstrar isso na sociedade, que passa, a saber, que mesmo com limitações motora, sensorial, física ou metal; as Pessoas com Deficiência têm qualidades, possibilidades e habilidades que podem e devem ser exploradas, compensando qualquer outra limitação imposta pela deficiência.
Referências
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CRUZ, Juliano R. da, FILHO, Pierre C. A., HAKAMADA, Erica M. Benefícios da endorfina através da atividade física no combate a depressão e ansiedade. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 18, nº 179, abril de 2013. http://www.efdeportes.com/efd179/beneficios-da-endorfina-atraves-da-atividade-fisica.htm
FRONTERA, Walter R., DAWSON, David M., SLOVIK, David M. Exercício Físico e Reabilitação. Porto Alegre. Artmed, 2001.
GOBILLA, Mônica, GUZZO, Raquel S. L. Estudo Inicial do Inventario de Auto-Estima (SEI) - Forma A. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Artigo. Campinas-SP, 2002.
MATSUDO, Sandra M., MATSUDO, Victor K.R. Evidências da importância da atividade física nas doenças cardiovasculares e na saúde. Revista Diagnóstico e Tratamento, v.5, n. 2, p. 10-17, 2000.
MATTOS, Mauro G. de, ROSSETO, Adriano José. Júnior, BLECHER, Shelly. Teoria Pratica da Metodologia da Pesquisa em Educação Física: Construindo sua Monografia e Projeto de Ação. São Paulo, Phorte Editora, 2004.
OLIVEIRA, João Danilo B. de. Representação Social do Núcleo de Educação Física e Esporte Adaptado (NEFEA), no olhar das Pessoas Portadoras de Deficiência. Universidade Estadual de Feira de Santana. Monografia de graduação. Feira de Santana, 2003.
SANTANA, Vanessa Helena. Avaliação do Autoconceito Aplica à Atividade Física. Dissertação de mestrado. UNICAMP, Campinas-SP, 2003.
SHARKEY, Brain J. Condicionamento Físico e Saúde. 4ª ed, Porto Alegre: Artmed, 1998.
SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Petrópolis- RJ. Vozes, 2004.
SOUZA, Pedro Américo de. O Esporte na Paraplegia e Tetraplegia. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1994.
TAMAYO, Álvaro, et al. A Influência da Atividade Física Regular Sobre o Autoconceito. Estudos de Psicologia 2001, 6(2), 157-165.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo, Atlas, 1987.
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