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Aplicação do conteúdo de lutas para 3º e 4º ano
do Ensino Fundamental I

Aplicación del contenido luchas para 3º y 4º año de Enseñanza Básica I

 

*Autora. Professora da Prefeitura de São Paulo – SME/SP

Especialista em Educação Física: fundamentos teóricos e a prática profissional na escola - UNICAMP

**Coautor. Professor da Prefeitura de São Paulo – SME/SP

Mestre em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência – UNIFESP

(Brasil)

Nathalia Chaves Gomes*

nathichaves@hotmail.com

Luciano Nascimento Corsino**

lucianocorsino@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho pretende relatar a experiência de aplicação do tema Lutas na Educação Física escolar envolvendo turmas de 3º e 4º ano do Ensino Fundamental I, em escola da rede municipal de ensino de São Paulo. Como metodologia foi utilizada uma pesquisa descritiva com uma abordagem qualitativa. A abordagem do tema revelou a possibilidade de ressignificação dos estereótipos que fundamentam a argumentação desfavorável à aplicação das lutas na escola, assim como mostrou que o tema pode ser significativo para os alunos.

          Unitermos: Lutas. Educação Física escolar. Cultura Corporal

 

Abstract

          This paper aims to report the experience of implementing the theme Fights in Physical Education classes involving 3rd and 4th year of elementary school, school in the municipal schools in São Paulo. The methodology used was a descriptive study with a qualitative approach. The theme revealed the possibility of reframing the stereotypes that underlie the arguments unfavorable to the application of fights at school, and showed that the topic can be significant for students.

          Keywords: Fights. Physical Education. Culture Body.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As aulas foram pautadas nas Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para o Ensino Fundamental I da Prefeitura de São Paulo (SÃO PAULO, 2007) que afirmam que o objetivo da Educação Física nos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental é estimular a expressão dos estudantes por meio da linguagem gestual, visando à comunicação e compreensão dos sentimentos, valores, crenças e conceitos, interpretando os sentidos e significados em diferentes contextos, possibilitando ao estudante refletir, ressignificar, apropriar-se, analisar criticamente e ampliar seus conhecimentos a respeito da cultura corporal.

    As lutas constituem parte da cultural corporal, conhecimentos produzidos e sistematizados que são transmitidos de geração a geração, formando um patrimônio cultural, que deve ser usufruído e refletido no ambiente escolar, mais precisamente nas aulas de Educação Física (SOARES et al., 1992).

    Olivier (2000) aponta que desde cedo podemos constatar nas escolas, crianças disputando objetos ou territórios, e que isso faz parte do processo de desenvolvimento para aprender a regular seus conflitos, sendo uma forma de comunicação e expressão pela qual a criança possa estar reagindo. O autor afirma que jogos e brincadeiras envolvendo elementos das Lutas poderão contribuir para que a criança aprenda a gerir e a controlar a complexidade das relações violentas no interior do grupo social. Portanto, a Luta tem notável presença no universo infantil e pode ser tratada desde a Educação Física Infantil, permitindo que a criança diferencie Lutas e brigas.

    No espaço de intervenção escolar, Nascimento (2007) afirmar que o tema/ conteúdo de Lutas é pouco acessado e, inclusive, o seu trato pedagógico suscita questionamentos e preocupações diversas por parte dos profissionais atuantes na Educação Física. Apresenta também argumentos restritivos em relação ao trato da luta na disciplina de educação física, sendo retratado em pesquisas que as Lutas são vistas por muitos professores com receio devido à associação com a violência, o engano de que precisa ser especialista para ensinar, ou que os materiais pedagógicos são caros, somados as dificuldades encontradas no contexto escolar.

Aplicação das Lutas na Educação Física escolar

    Inicialmente, os alunos foram questionados sobre o que significava Lutas, sendo obtido uma tempestade de respostas contraditórias como: briga, porrada, caratê, capoeira, arte marcial, aprender a ter disciplina, judô, chutar, soco, voadora, defesa pessoal, forma de atacar, dentre outras significações.

    Em seguida foram propostos alguns jogos com elementos de lutas, tais como: - empurra-empurra, puxa-puxa, “briga” de galo, “briga do saci”; - foram realizados em dupla, e sempre alternando, diversificando ao máximo (meninas com meninos, alto e baixos, corpo mais leve com mais pesado) proporcionando diferentes formas de subjugar o adversário, que exigiam capacidades diferentes, sendo assim o “vencer” era distribuído, não havendo uma hegemonia em que apenas um vencia.

    Os alunos ficaram bastante motivados com as atividades, em seguida foram questionados sobre as vivências, buscando assim a diferenciação entre lutas e brigas, e estimulando a reflexão sobre a garantia da integridade física do colega, além do respeito à diversidade (todos podem participar) e ao adversário, pois sem ele não era possível ocorrer as Lutas.

    No final da aula foi apresentado um tipo de saudação, elemento presente nas lutas - principalmente nas artes marciais, como forma de demonstrar respeito ao adversário-, todos os alunos se cumprimentaram, fato interessante, pois havia um receio da professora perante a questão do “tocar” o colega, mas os alunos gostaram muito da idéia de cumprimentar, tornando-se algo prazeroso.

    Nas aulas seguintes, os jogos de lutas foram revisados, relembrando a discussão da aula anterior, aprofundando e relacionando as discussões com exemplos de desenhos animados (Jackie Chan, Dragon Ball, As meninas Super Poderosas, X-men, Naruto...), filmes (Menina de ouro, The Karate Kid ...) e jogos virtuais (Street Fighter, The King of Fighters, Mortal Kombat ...) onde foram identificadas situações positivas e negativas dessa temática, buscando a ressignificação das Lutas. Em seguida, foram vivenciados mais jogos com elementos de Lutas e com princípios de artes marciais incorporados nos jogos, como o - Pega-pega Samurai (o pegador estará com o Shinai - espada de jornal - e terá que paralisar os fugitivos tocando esta em seu corpo, desde que eles não estejam de costas - atacar o adversário pelas costas, não possibilita a defesa e no código dos samurais isso era proibido, trabalhando valores como ética e honestidade -, e quem for pego só poderá sair quando um fugitivo parar em sua frente e realizar a saudação); Rouba-rabo, Pisa-pé, toca o ombro, cabo-de-guerra (conceitos de ataque e defesa); - desequilibrar na linha; - empurrar com as costas; - Estátua dos movimentos de Lutas, dentre outros jogos.

    Os alunos realizaram pesquisas sobre origem e tipos de Lutas, proporcionando a contextualização do conteúdo, a criação de um texto pelos alunos sobre como surgiu as Lutas e a diferenciação de Lutas, Artes marciais e brigas. Neste momento, os alunos vivenciaram e experimentaram algumas capacidades psicológicas (auto-controle, concentração da força, conter agressão, tolerância...) visadas nas artes marciais para o aperfeiçoamento humano, através de uma dinâmica de meditação.

    Nas últimas aulas foram contextualizados sobre as lutas com implementos. Foi proposto o festival de esgrima, onde cada aluno confeccionou sua espada de Jornal e sua armadura com caixa de papelão ou tapa da embalagem de pizza. Cada turma foi organizada de forma diferente:

    E uma ultima aula os alunos avaliaram o festival e elaboraram formas de registros das aulas de Lutas.

Resultados

    Durante o processo de reflexão sobre a aplicação as aulas foi possível identificar que não é necessário ser especialista abordar as Lutas na Educação Física, tendo em vista, pois o papel do professor será o de proporcionar aos alunos a contextualização, resignificação e ampliação sobre as Lutas, para que o educando conheça sobre essa manifestação da cultura corporal, os elementos que a constituem, sua origem, seus tipos, questões transcendentes (violência, respeito, ética, questão de gênero, relações étnico-raciais), amplie as possibilidades de prática e assim desenvolva a consciência critica para usufruir, refletir e transformar essa prática corporal.

    Não foi preciso o uso de materiais pedagógicos caros para a aplicação das aulas: sendo necessário um espaço amplo (pode ser a quadra ou pátio); na maioria das atividades os alunos utilizaram o próprio corpo; utilizaram jornal, tinta e papelão que são materiais de baixo custo. A “sucatização” dos materiais da Educação Física escolar não é o ideal, há improvisos devido às condições precárias dos materiais das escolas.

    Quanto à violência/agressividade dos alunos, foi resolvido parcialmente, pois durante as aulas os alunos tiveram consciência da diferença entre Lutas e brigas, constatadas nas falas dos alunos e nas realizações das atividades, ocorrendo menos acidentes do que nas aulas de jogos coletivos, por exemplo. Sendo assim, não contribuiu para aumentar a agressividade, embora não tenha diminuído totalmente, pois o contexto de violência e agressividade transcendem as Lutas, ocorrendo essas atitudes negativas no ambiente familiar, escolar e na sociedade.

    Para avaliação do processo de ensino-aprendizagem referentes às Lutas foram utilizados como instrumentos a observação, a participação durante as aulas e os registro no caderno de Educação Física. Ocorrendo dificuldades nesta fase perante o curto tempo de aula, além das limitações pessoais docente quanto à escolha de critérios para a avaliação dos alunos. Não só uma limitação pessoal, mas também uma limitação da Educação Física escolar, talvez os critérios de avaliação sejam um dos grandes desafios da área. Consequentemente, não foi possível um resultado mais concreto e embasado, dificultando a demonstração efetiva dos resultados da aplicação das Lutas na escola.

    De acordo com as observações das aulas, os alunos se identificaram com o conteúdo, tornando a aprendizagem significativa, prazerosa, motivadora e produtiva, demonstrada através dos sorrisos estampados no rosto dos alunos ao vivenciarem as lutas e diversas atividades relacionadas.

    As discussões sobre Lutas foram surpreendentes, muitas vezes subestimamos o conhecimento dos alunos e durante as aulas eles demonstraram certo conhecimento sobre o conteúdo, participando ativamente dos questionamentos e nas resoluções de conflitos, algumas vezes eram confusos, mesmo assim contribuíam para o enriquecimento das discussões.

    Os registros no caderno de Educação Física eram realizados nos 5 minutos finais das aulas, onde os alunos descreviam o que aconteceu na aula do dia, colocavam comentários pessoais e desenhavam (opcional). Diante dos registros, verificaram-se novamente a apreciação pelas Lutas de forma positiva.

Considerações finais

    De maneira geral os alunos gostaram do conteúdo de Lutas, ocorrendo uma grande aderência. Sendo possível contrapor as questões que estereotipavam as Lutas na escola, desmistificando e comprovando que não é necessário ser especialista para dar aula de Lutas; e em relação à violência/agressividade dos alunos, foi resolvido parcialmente, não contribuiu para aumentar a agressividade, embora não tenha diminuído totalmente.

    Por ser a primeira experiência da professora com o trabalho de Lutas com alunos do ensino Fundamental I, foi muito válido, embora haja possibilidade de maior aprofundamento do conteúdo. As limitações foram consequência da inexperiência e desconhecimento do conteúdo pelas falhas na formação inicial. Todavia, demonstraram-se avanços, ampliando as possibilidades de intervenção pedagógica e perspectivas para o ensino de Lutas na escola.

Referências

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