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Prevenção das alterações posturais em crianças e adolescentes
surdas e ouvintes das escolas de Divinópolis, MG

La prevención de las alteraciones posturales en niños y adolescentes sordos y oyentes de las escuelas de Divinópolis, MG

 

*Acadêmicas do curso de Medicina

da Universidade Federal de São João del Rei, Divinópolis

**Acadêmica do curso de fisioterapia da FUNEDI, Divinópolis

***Fisioterapeuta. Professora de Anatomia e Neuroanatomia da UFSJ

Campus Centro Oeste Dona Lindu. Mestre em Neurociência

pela Universidade Federal de São João del Rei, Divinópolis

Priscila da Silva Heleno* | Isabela Ramos Santos*

Andréia Silva Ferreira* | Ana Gabriela Magalhães*

Letícia Gouthier Bicalho* | Thaylla Haydee Silva Pinto**

Laila Cristina Moreira Damázio***

lailadamazio@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          As alterações posturais estão relacionadas com hábitos inadequados ou adquiridas na adolescência. Com isso, a prevenção dessas alterações deve iniciar o mais precoce possível. O objetivo do trabalho foi prevenir as alterações posturais entre as crianças surdas e ouvintes da cidade de Divinópolis-MG. Foram avaliadas e orientadas cerca de 112 alunos, sendo 22 da escola 1 e 90 da escola 2. Os alunos da escola 1 são os alunos com déficits auditivos. Foi utilizada uma ficha de avaliação postural e o teste de equilíbrio corporal denominado teste timep up and go. As crianças e adolescentes surdas apresentam déficits no equilíbrio corporal devido à hipoatividade do sistema vestibular. Foram evidenciadas altas incidências de alterações posturais entre os estudantes avaliados de 9 a 15 anos de idade e existem vários fatores predisponentes para essas alterações, sendo que o peso das mochilas não é o principal desencadeante dessas alterações.

          Unitermos: Alterações posturais. Crianças e adolescentes surdas. Escolas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A postura correta é a posição na qual um mínimo de estresse é aplicado em cada articulação e segundo MAGEE (2002) é composto pelas posições das diferentes articulações do corpo num dado momento. O problema da má postura pode se apresentar como um problema estético sendo esse um dos malefícios de menor importância. (KENDALL et al., 1999). A alteração postural não é apenas um problema estético, mas causa desconforto, dor e incapacidade.

    Na adolescência são comuns as manifestações de alterações posturais relacionada a uma postura inadequada, pois, é o período em que ocorre o estirão de crescimento, além disso, problemas físicos que tem início na fase de crescimento são fatores de risco para disfunções irreversíveis da coluna vertebral na fase adulta. A detecção precoce desse tipo de problema e as orientações sobre uma postura correta assumem grande importância, uma vez que, a maioria dessas alterações não tem uma etiologia definida e são decorrentes de posturas inadequadas durante as atividades da vida diária. (MARTELLI e TRAEBERT, 2006)

    No período de crescimento é possível reverter os problemas posturais que surgem e impedir a instalação de lesões, mas para se obter sucesso é importante a atenção de pais e professores quanto á boa postura das crianças e adolescentes. (CONTRI et al.,2009)

    Dentre as alterações posturais mais comuns na adolescência encontram-se as hiperlordoses, hipercifoses, escolioses funcionais, cifoescolioses funcionais, escolioses estruturais, cifoescolioses estruturais, lordoescolioses funcionais e lordoescolioses. (MARTELLI e TRAEBERT, 2006)

    A avaliação da postura permite detectar e corrigir precocemente vícios de postura, que poderiam levar às patologias degenerativas da coluna vertebral. Nos adultos, muitos casos de dor lombar estão relacionados à postura defeituosa, hábitos posturais adquiridos e com efeitos cumulativos de pequenas sobrecargas. Porém, esses efeitos podem ser corrigidos ou amenizados quando detectados á tempo. (Pinto e Lópes, 2003)

    Existem evidências que a população surda é mais afetada por problemas posturais, uma vez que, uma das fontes de informação que regula a postura é o sistema vestibular e esse se encontra muito próximo a estrutura responsável pela audição o que torna comum que crianças com deficiências auditivas também tenham deficiências do aparelho vestibular (MELO et al., 2011), tanto que, um achado comum nas avaliações otoneurológicas de crianças com deficiências auditivas é a hipoatividade do aparelho vestibular. (Lisboa et al, 2005; Potter e Silverman ,1984). Além disso, há uma relação que quanto mais profunda a surdez, maior a chance de lesão dos receptores do aparelho vestibular. (Vasconcelos, 2010).

    É provável que crianças com deficiência auditiva desenvolvam estratégias posturais para compensar as dificuldades de equilíbrio o que pode gerar alterações posturais que á longo prazo podem gerar danos mais graves na postura do adulto. (Resende e Borsoe, 2006)

2.     Objetivo

    O objetivo geral do trabalho foi prevenir as alterações posturais entre as crianças surdas e ouvintes nas escolas da cidade de Divinópolis-MG. Os objetivos específicos são: avaliar a postura das crianças e adolescentes surdos e ouvintes das escolas de Divinópolis-MG; identificar os tipos de alterações posturais mais encontradas entre as crianças avaliadas; orientar as crianças, adolescentes, os pais e os professores, sobre a postura e o ambiente ergonomicamente correto e saudável.

3.     Metodologia

    O projeto consistiu na avaliação e orientação ergonômica sobre a postura correta de crianças e adolescentes com idades entre 9 e 15 anos em duas escolas de Divinópolis-MG. O estudo foi realizado nas escolas 1 e 2 , as quais oferecem ensino de 6ª, 7ª, 8ª, 9º, 1º, 2º e 3º ano. Foram incluídas no estudo todas as crianças que os responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido aceitando participar do estudo, além de pertencer na faixa etária de 9 a 15 anos de idade. Foram avaliadas e orientadas as crianças e adolescente com e sem deficiência auditiva.

    A avaliação postural consistiu na observação dos itens da avaliação postural global, onde a criança ou adolescente permaneceram na postura de pé à frente do avaliador, possibilitando uma visão anterior, posterior e sagital (perfil) do avaliado. Além disso, também foi avaliada a posição do quadril e a existência de encurtamentos musculares através de testes clínicos ortopédicos.

    Após a avaliação o participante recebeu explicações sobre como manter uma postura correta e sobre os resultados da sua avaliação e as conseqüências dos achados á longo prazo. Além da explicação, também foi entregue uma ficha contendo o resultado da avaliação e as orientações por escrito.

    A avaliação foi realizada pelos alunos participantes da pesquisa em um local calmo, durante o intervalo entre as aulas das escolas, para tanto, um aluno por vez foi convidado a participar da avaliação. Antes do início da avaliação foram explicados todos os passos e só foi realizada a avaliação caso o participante permitisse.

    Também foi avaliado o equilíbrio corporal das crianças através do teste timep up and go. O teste timep up and go foi aplicado em ambiente calmo onde foi solicitado para a criança percorrer uma distância de 3 metros da cadeira e voltar para sentar. O avaliador marcou o tempo que a criança gastou para percorrer os 6 metros da posição inicial.

    No final das avaliações os dados coletados foram analisados e um parecer sobre o resultado foi entregue a escola, juntamente com cartilhas educativas sobre como manter uma boa postura e manter o ambiente escolar ergonomicamente correto. Além disso, foram oferecidas palestras para os pais e professores sobre a importância da prevenção de alterações posturais entre as crianças e adolescentes.

    Para análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico SPSS 11.0 com uma descrição qualitativa e quantitativa dos resultados utilizando um nível de significância de 5%.

4.     Resultados

    A amostra do presente estudo foi de 112 alunos. A distribuição etária da amostra situa-se entre os 9 aos 15 anos, com uma média de idade de 12,42. Cerca de, 33% são meninos e 67% são meninas. Na escola 1 foi identificado cerca de 22 alunos (19,65%) e na escola 2 uma amostra de 90 alunos (80,35%). O ano de escolaridade na escola 2 está mais concentrado no 6º ano, com 39 alunos (43,4%) seguidos do 7º ano com 21 alunos (23,4%). Foram observados cerca de, 31,25% de alunos com onze anos e 27,68% dos alunos com doze anos.

    Através das análises das alterações posturais foi possível identificar na escola 1 cerca de 16 crianças ou adolescentes com retroversão pélvica; 14 com encurtamento muscular de isquiotibiais; 4 com anteversão pélvica e 5 com encurtamento muscular de reto femoral. Na escola 2 foi observado cerca de 41 crianças com retroversão pélvica e 55 com encurtamento de isquiotibiais; 6 crianças apresentaram anteversão pélvica e 55 com encurtamento de reto femoral (gráfico 1).

Gráfico 1. Alterações encontradas nos membros inferiores das crianças e adolescentes avaliadas na escola 1 e 2

    Foram observados aumento do número de crianças com o ombro esquerdo ou direito elevado tanto na escola 1 e 2. Também foi identificado maior número de crianças e adolescentes com o joelho valgo, como demonstrado no gráfico 2.

Gráfico 2. Alterações encontradas no ombro e joelho das crianças e adolescentes avaliadas na escola 1 e 2

    Com relação às alterações da coluna vertebral foram observadas altas incidências de retificação cervical, hiperlordose lombar e escoliose em S tanto na escola 1 e 2, como evidenciado no gráfico 3.

Gráfico 3. Alterações encontradas na coluna vertebral das crianças e adolescentes avaliadas na escola 1 e 2

    No gráfico 4, evidencia-se que das 22 crianças ou adolescentes avaliadas na escola 1 foi identificado 127 alterações posturais. Já na escola 2, dos 90 estudantes avaliados foi encontrado cerca de 465 alterações posturais.

Gráfico 4. A incidência de alterações posturais encontradas entre as crianças e adolescentes avaliadas na escola 1 e 2

    Considerando a proporção total de alunos com o número de alterações posturais encontradas tanto na escola 1 e 2 é possível evidenciar um aumento de cinco vezes no número de alterações posturais. Apesar da literatura mencionar que crianças e adolescentes surdas apresentam maior número de alterações posturais (MELO et al., 2011), o presente estudo não identificou tal relação.

    Através do teste timed up and go foi possível avaliar o equilíbrio corporal dos estudantes da escola 1 e 2; onde na escola 1 o tempo gasto para percorrer 6 metros foi de 6,4m/s e na escola 2 foi de 4,8m/s (gráfico 5).

Gráfico 5. Tempo gasto para percorrer os 6 metros no teste timed up and go na escola 1 e 2

    Com relação ao equilíbrio corporal, as crianças e adolescentes surdas gastaram mais tempo no teste de equilíbrio corporal que os alunos da escola 2. Isso corrobora com os dados de Lisboa et al. (2005) que menciona existir deficiência do sistema vestibular em crianças com deficiência auditiva prejudicando o equilíbrio corporal.

    Na tabela 1 é possível observar que as crianças da escola 1 apresentaram maior peso corporal que os alunos da escola 2. O peso da mochila dos alunos da escola 1 foi menor que dos alunos da escola 2. A altura dos alunos da escola 1 foi maior que da escola 2, o que refletiu no IMC da escola 1 ser menor que da escola 2. As crianças da escola 1 apresentaram menos peso na mochila que os alunos da escola 2, mas esse fator não contribuiu para diminuir significativamente a incidência de alterações posturais nessa escola. No estudo de Schiaffino (2010) foi relatado que os pesos das mochilas estão diretamente relacionados com a alta incidência das alterações posturais em estudantes.

Tabela 1. Média do peso corporal, peso da mochila, altura e IMC dos alunos da escola 1 e 2

5.     Conclusões

    Conclui-se que crianças e adolescentes surdas apresentam déficits no equilíbrio corporal devido à hipoatividade do sistema vestibular. Foram evidenciadas altas incidências de alterações posturais entre os estudantes avaliados de 9 a 15 anos de idade e que existem vários fatores predisponentes para essas alterações, sendo que o peso das mochilas não é o principal desencadeante dessas alterações.

Referências bibliográficas

  • Biasotto, CB; Godoy Gomes, CR. Análise postural em escolares do ensino fundamental com programa de prevenção PDE. (2008). Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2271-8.pdf?phpsessid=2010012008183564. Acesso em: 19 de janeiro de 2012.

  • Contri, D E;Petrucelli, A; Nogueira M P, Bianchini DCIncidência de desvios posturais em escolares do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Conscientiae Saúde. Vol. 8, Núm. 2, 2009, pp. 219-224

  • Kendall, F.P. et al. Músculos, provas e funções. 4ª ed., São Paulo, Manole, 1999.

  • Lisboa, TR; Jurkiewicz, AL; Zeigelboim, BS; Martins-Bassetto, J; Klagenberg, KF. Achados vestibulares em crianças deficientes auditivas. Revista Arq Otorrinolaringol. 2005,9(4):271-9.

  • Martelli, R C; Traebert, J. Estudo descritivo das alterações posturais de coluna vertebral em escolares de 10 a 16 anos de idade. Tangará-SC, 2004. Rev Bras Epidemiol. 2006; 9(1): 87-93

  • Melo, RS; Silva, PWA; Silva LVS; Toscano, CFS. Avaliação postural da coluna vertebral em crianças e adolescentes com deficiência auditiva. Arquivos Int. Otorrinolaringol. (Impr.) vol.15 no.2 São Paulo May/June 2011

  • Pinto, H.H.C. Lopes, R.F.A. problemas posturais em alunos do centro de ensino médio 01 Paranoá - Brasilia DF. Disponivel em:http://www.geocities.ws/gagaufera2003/ModuloII/Artigos/AvaliacaoPosturalAplicada/ARTIGO_10.pdf. Acesso 23 de janeiro de 2012

  • Potter, CN; Silverman, LN, Characteristics of vestibular function and static balance skills in deaf children with. PhysTher. 1984, 64(7):1071-5.

  • Resende, FL; Borsoe AM. Investigação de distúrbios posturais em escolares de seis a oito anos de uma escola em São José dos Campos, São Paulo. Revista Paulista de Pediatria. 2006, 24(1):42-6.

  • Vasconcelos, GAR; Fernandes, PRB; Oliveira, DA; Cabral, ED; Silva, LVC. Avaliação postural da coluna vertebral em escolares surdos de 7-21anos, Fisioter Mov., v.23 n.3 Jul./Set. 2010.

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