A hereditariedade somatotípica: um estudo com gêmeos La herencia somatotípica: un estudio con gemelos |
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Licenciatura Plena em
Educação Física, UFRN |
Márnia Marina da Costa Barbosa | Michelle Vasconcelos de Oliveira Elys Costa de Sousa | Luciano Alonso Valente dos Santos Paulo Moreira Silva Dantas | Vanessa Carla Monteiro Pinto |
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Resumo Introdução: A prática adequada e regular de exercício físico é um importante componente na prevenção de diversas doenças crônico-degenerativas. Uma das características do organismo a ser estudada para auxílio nas prescrições dos exercícios físicos é a somatotipia, pois esta determina o tipo físico de cada indivíduo. O estudo que ora se propõe tem como objetivo analisar a hereditariedade do somatotipo utilizando gêmeos monozigotos e dizigotos. Metodologia: A amostra foi composta por 12 indivíduos gêmeos, (06) monozigóticos (MZ) e (06) dizigóticos (DZ), sendo 10 indivíduos do sexo feminino e 2 do masculino, na faixa etária entre 09 e 28 anos de idade, moradores na região metropolitana da cidade do Natal/RN, Brasil. Para avaliação do somatotipo foram utilizados, os perímetros do braço direito contraído e da panturrilha direita, as dobras cutâneas subescapular, triciptal e supra-espinhal, os diâmetros ósseos bicôndilo-umeral e bicôndilo-femural, a estatura corporal, e a massa corporal. Os dados foram avaliados em estatística não paramétrica, analisados com base na variância intrapar de gêmeos. Para demonstrar o quanto cada variável possui de caráter genotípico e fenotípico aplicou-se o índice de herdabilidade (h²) = ((S²DZ-S²MZ)/S²DZ)x100. Resultados: Encontramos uma influência ambiental significativa para todas as variaveis do estudo, com o índice h² mínimo de 25% para mesomorfia e máximo de 38% para endomorfia. Conclusão: Diante do exposto, ficou demonstrado que as características somatotípicas – endomorfo, mesomorfo e ectomorfo – são fortemente explicadas por efeitos ambientais, o que reforça a importância da prática de exercícios físicos na caracterização do somatotipo. Unitermos: Herdabilidade. Somatotipo. Fenótipo. Genótipo.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Estudos apontam o sedentarismo e a inatividade física como um dos maiores problemas de Saúde Pública da modernidade, sendo as crianças e os adolescentes os mais afetados por este comportamento de risco, tendendo a repercutir-se no estado adulto dos sujeitos (SEABRA, MENDONÇA et al., 2008). Logo, a prática adequada e regular de exercício físico é um importante componente na prevenção de diversas doenças crônico-degenerativas, associada a uma dieta saudável, visto que, o exercício físico aumenta a capacidade funcional e promove a interação e a integração social (WHO, 2003).
Uma das características do organismo a ser estudada para auxílio nas prescrições dos exercícios físicos é a somatotipia, pois esta determina o tipo físico de cada indivíduo (SIVKOV e AKABALIEV, 1999). O somatotipo é composto por três componentes: a endomorfia, que representa a adiposidade relativa; a mesomorfia, representando a relação do músculo esquelético; e a ectomorfia, relacionada à magreza (CARTER e HEATH, 1990). A somatotipia e seus componentes estão relacionados aos fatores de riscos das doenças cardiovasculares, e também a diferentes níveis de desempenho atlético em diferentes modalidades (BAILEY, 1985; CARTER e HEATH, 1990; MALINA, KATZMARZYK et al., 1997).
Estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos têm fornecido informações valiosas sobre as contribuições relativas às influências genéticas e ambientais nos indivíduos (CLARK, 1956; BEIGUELMAN, 2008), pois a avaliação da hereditariedade de uma característica ou de um traço está relacionada ao genótipo e ao fenótipo, sendo o primeiro, a constituição genética de um indivíduo, e o segundo, o produto final de influências genéticas e comportamentais (BRAGA, HOFFELDER et al., 2010). Gêmeos monozigóticos possuem o genótipo igual e qualquer diferença entre eles pode ser resultado da influência ambiental (FERNANDES FILHO e CARVALHO, 1999). Portanto, faz-se necessário a compreensão dessas características fenotípicas, relacionadas ao desporto, para a atuação adequada do profissional da atividade física.
O estudo que ora se propõe tem como objetivo analisar a hereditariedade do somatotipo utilizando gêmeos monozigotos e dizigotos.
Métodos
A amostra foi composta por 12 indivíduos gêmeos, (06) monozigóticos (MZ) e (06) dizigóticos (DZ), sendo 10 indivíduos do sexo feminino e 2 do masculino, na faixa etária entre 09 e 28 anos de idade, moradores da região metropolitana da cidade do Natal/RN, Brasil. Foram excluídos do estudo portadores de deficiência física que impediam a avaliação antropométrica, mulheres grávidas, indivíduos em tratamento medicamentoso relacionado à obesidade ou portadores de obesidade endógena ou secundária (síndrome de Down, Prader Willi, hipotireoidismo, etc.), os pares de gêmeos de sexos diferentes, os gêmeos com diferente estadiamento puberal, diferentes hábitos de atividade física e vida.
Participaram da pesquisa os indivíduos saudáveis que assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No caso dos menores de 18 anos, o TCLE foi assinado pelos pais ou responsáveis. No dia da coleta de dados foram realizadas as entrevistas de anamnese, o questionário de atividade física PAR-Q (THOMAS, READING et al., 1992) e a auto avaliação da maturação sexual (TANNER, 1981). A determinação da zigosidade foi realizada por meio de um questionário, aplicado pessoalmente ou por telefone às mães dos gêmeos (PEETERS, VAN GESTEL et al., 1998). Além disso, foi realizada uma observação da semelhança de cada par de gêmeos verificando a cor do cabelo, cor dos olhos, traços faciais, estatura e peso (BEIGUELMAN, 2008), métodos pelos quais, classificamos os pares como monozigotos ou dizigotos.
As medidas foram realizadas em sala silenciosa com temperatura entre 22-24º C. Os gêmeos foram testados em intervalo máximo de 60 minutos evitando possíveis efeitos do dia nos resultados do teste. Nenhum gêmeo participou de qualquer tipo de atividade vigorosa, não consumiu álcool ou cafeína durante 24 horas antes da realização dos testes. Todos foram informados sobre a importância de dormir adequadamente na noite anterior ao procedimento e estavam familiarizados com a pesquisa. Todas as medidas foram repetidas duas vezes, não sendo permitida diferença de 0,5 cm entre elas e como resultado foi utilizado à média das mesmas.
Para avaliação do somatotipo foram utilizados, os perímetros do braço direito contraído e da panturrilha direita, as dobras cutâneas subescapular, triciptal e supra-espinhal, os diâmetros ósseos bicôndilo-umeral e bicôndilo-femural, a estatura corporal, e a massa corporal, medidos, respectivamente, com uma trena antropométrica metálica Sanny®, um adipômetro científico Sanny®, paquímetro Sanny®, um estadiômetro Personal Caprice, Sanny®, e uma balança digital Walmack®. Todas as medidas antropométricas seguiram padronização amplamente utilizada na área da atividade física (CARTER e HEATH, 1990). Os cálculos dos componentes do somatotipo (endomorfo, mesomorfo e ectomorfo) foram realizados por meio das fórmulas conhecidas da literatura (CARTER e HEATH, 1990).
As análises foram realizadas com base na variância intrapar de gêmeos, controlando, assim, eventuais variáveis de confusão como sexo, idade, e maturação sexual. Toda a análise estatística foi realizada com base nas variâncias dos resultados de cada par de gêmeos. Sendo calculadas, inicialmente, a mediana e o seu respectivo intervalo de confiança (Percentil 25 –75). Logo após, foram comparadas as medianas entre os grupos de MZ e DZ por meio do teste Mann-whitney. Posteriormente, calculamos o índice de herdabilidade de todos os componentes somatotípicos do estudo (CLARK, 1956) para demonstrar o quanto cada variável possui de caráter genotípico e fenotípico. Para caracteres de variação quantitativa, tomamos as diferenças entre pares de gêmeos MZ e entre pares de gêmeos DZ e utilizamos a seguinte fórmula: h² = ((S² DZ – S² MZ) / S² DZ) x 100(CLARK, 1956), em que S² representa a média da variância de cada série de diferenças. Quando h² = 1, a variância do caráter é atribuível exclusivamente a causas hereditárias, e quando h² = 0, a variação é inteiramente explicada pelos efeitos ambientais. Em ambos os casos, pressupomos que os erros de medida são aleatórios e tendem, portanto, a anular-se.
Resultados
Foram calculados a variância entre cada par de gêmeos dos componentes do somatotipo, e calculada a média dessas variâncias, tanto para os monozigotos apresentados na Tabela 01, como para os dizigotos conforme a Tabela 02. Em seguida, essas médias foram utilizadas nos cálculos da hereditariedade (h2), em que resultavam em influência da genética ou dos efeitos ambientais.
Tabela 01. Somatotipia dos gêmeos monozigotos
Tabela 02. Somatotipia dos gêmeos dizigotos
Assim, os resultados do presente estudo demonstraram uma tendência para uma influência ambiental sobre as três medidas do somatotipo que foram avaliadas (endomorfia, mesomorfia e ectomorfia), conforme a Tabela 03.
Tabela 03. Hereditariedade (h2) dos componentes somatotípicos
Discussão
Estudos com gêmeos concordam que a considerável variação nos componentes do somatotipo na população em geral é mediada tanto por fatores genéticos como ambientais (PEETERS, THOMIS et al., 2007). Os resultados do presente estudo demonstraram que as características somatotípicas – endomorfo, mesomorfo e ectomorfo – são fortemente explicadas por efeitos ambientais, ou seja, pelos hábitos de vida (dieta, atividade física, etc.).
Porém, diferentemente, alguns estudos (REIS, MACHADO et al., 2007; VASQUES, LOPES et al., 2007; FONSECA, DANTAS et al., 2008) apontam a influência maior de fatores genéticos para as características físicas dos indivíduos, inclusive somatotípicas. No entanto, destaca-se o estudo de Saranga (2007), que obteve como resultado para a somatotipia boa parte de influências ambientais nas características endomorfas, mesomorfas e ectomorfas.
Se as características básicas são decorrentes da carga hereditária, isto é, a forma de distribuição dos três fatores primários está geneticamente determinada, a expressão final em um determinado momento da vida, pode fazer variar o nível de cada um deles, conforme as interferências externas. O somatotipo, em sua base, é um elemento genotípico, que tem sua expressão final em decorrência do fenótipo (PARNELL, 1958).
De acordo com os resultados encontrados neste estudo, em que as características resultaram em influências ambientais, a prática de exercícios físicos precisa respeitar as características corporais de cada indivíduo, pois, por mais que eles tenham a herança genética, a influência do meio externo pode atenuar características diferentes das já pré-determinadas pelo genótipo.
A partir dos resultados encontrados neste estudo, podemos concluir que todos os componentes do somatotipo (endomorfia, mesomorfia e ectomorfia) foram influenciados por fatores ambientais, o que reforça a importância da prática de exercícios físicos na caracterização do somatotipo.
Limitações e recomendações
Entretanto, é importante destacar que neste presente estudo, mesmo caracterizando a somatotipia com maior influência fenotípica, a amostra foi relativamente pequena, sugerindo-se, assim, o desenvolvimento de outros estudos com amostras maiores.
Referências
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BEIGUELMAN, B. Dinâmica dos genes nas famílias e nas populações. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Genética [S.I.], 1994.
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BEIGUELMAN, B. et al. Twinning rate in a southeastern Brazilian population. Acta geneticae medicae et gemellologiae [S.I.], v. 45, n. 3, p. 317, 1996.
BRAGA, C. P. et al. Comparação do Diâmetro Mésiodistal de Incisivos e Primeiros Molares Permanentes entre Gêmeos Monozigóticos. Jornal Brasileiro de ORTODONTIA & Ortopedia Facial [S.I.], v. 8, n. 43, 2010.
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CLARK, P. J. The heritability of certain anthropometric characters as ascertained from measurements of twins. American journal of human genetics [S.I.], v. 8, n. 1, p. 49, 1956.
FERNANDES FILHO, J.; CARVALHO, J. L. T. Potencialidades desportivas de crianças segundo a perspectiva da escola soviética. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum [S.I.], v. 1, n. 1, p. 96-107, 1999.
FONSECA, C. L. T. et al. Perfil dermatoglífico, somatotípico e da força explosiva de atletas da seleção brasileira de voleibol feminino. Fitness & performance journal [S.I.], n. 1, p. 35-40, 2008.
MALINA, R. M. et al. Somatotype and cardiovascular risk factors in healthy adults. American Journal of Human Biology [S.I.], v. 9, n. 1, p. 11-19, 1997.
PARNELL, R. W. Behaviour and physique. Arnold, 1958.
PEETERS, H. et al. Validation of a Telephone Zygosity Questionnaire in Twins of Known Zygosity. Behavior Genetics [S.I.], v. 28, n. 3, p. 159-163, 1998.
PEETERS, M. et al. Heritability of somatotype components: a multivariate analysis. International Journal of Obesity [S.I.], v. 31, n. 8, p. 1295-1301, 2007.
REIS, V. M. et al. Evidence for higher heritability of somatotype compared to body mass index in female twins. Journal of physiological anthropology [S.I.], v. 26, n. 1, p. 9-14, 2007.
SARANGA, S. Factores genéticos e ambientais no crescimento somático, padrão de adiposidade, somatótipo e aptidão física: um estudo em famílias nucleares da região rural de Calanga-Moçambique. 2007.
SEABRA, A. F. et al. Determinantes biológicos e sócio-culturais associados à prática de atividade física de adolescentes Biological and socio-cultural determinants of physical activity in adolescents. Cad. Saúde Pública [S.I.], v. 24, n. 4, p. 721-736, 2008.
SIVKOV, S.; AKABALIEV, V. Somatotyping of schizophrenic and affective disorder patients. Folia medica [S.I.], v. 41, n. 4, p. 62, 1999.
TANNER, J. M. Growth and maturation during adolescence. Nutrition reviews [S.I.], v. 39, n. 2, p. 43-55, 1981.
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WHO. World Health Organization, Physical activity. Washington [S.I.], 2003.
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