A Educação Física e o matriciamento em saúde La Educación Física y la matriculación en salud |
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Especialista em Atividade Física, Desenvolvimento Motor e Saúde Universidade Federal de Santa Maria (Brasil) |
Jorge Luiz dos Santos de Souza |
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Resumo O matriciamento é um arranjo organizacional instituído na atenção básica à saúde que visa melhorar o atendimento à população, em locais onde não possuem determinadas especialidades em seu território, pela orientação de tais especialistas para as equipes. Com a introdução cada vez maior dos Profissionais de Educação Física nos espaços de saúde como fica este profissional em relação ao matriciamento? O objetivo deste artigo foi problematizar este arranjo organizacional no núcleo profissional da Educação Física além de propor alguns pontos de atuação por meio do matriciamento. Vemos que as ações específicas de núcleo ainda são parte do matriciamento, mas é necessário aumentar o número de profissionais da área nos locais de saúde a fim de diminuir os atravessamentos de outras especialidades em nosso campo de trabalho. Unitermos: Matriciamento. Atenção básica à saúde. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 182 - Julio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Matriciamento é uma estratégia utilizada na atenção básica da saúde que visa um melhor atendimento à população com um custo reduzido pois pretende, segundo Campos & Domitti (2007) assegurar “retaguarda” especializada a equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde aumentando assim as possibilidades de realizar-se clínica ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e profissões, ou seja, um profissional especialista numa determinada área dar um “asesoramento” as equipes que ainda não possuem a especialidade solicitada.
Com a Educação Física ganhando cada vez mais destaque no campo da saúde, principalmente na saúde coletiva por meio de leis, políticas e portarias formalizadas pelo Ministério da Saúde (MS) como a Política Nacional de Promoção da Saúde de 2006, a Portaria GM/MS nº 2.488/2011 sobre os NASF's (núcleo de apoio à saúde da família), Portaria GM/MS nº 719/2011 sobre as academias da saúde (Silveira, 2012), e ainda por meio da mídia fica cada vez mais evidente a importância deste profissional nas equipes de saúde, e como não há condições de termos um Profissional de Educação Física em cada unidade de saúde a estratégia do matriciamento se apresenta como uma solução, porém não podendo ser definitiva para sua atuação.
O objetivo deste artigo é problematizar o matriciamento no núcleo profissional da Educação Física, bem como discorrer sobre práticas vivenciadas e observadas no cotidiano do Profissional de Educação Física nas equipes de saúde, bem como propor alguns pontos de atuação por meio do matriciamento.
O matriciamento
Como observamos com Campos & Domitti (2007), o matriciamento surge como uma possibilidade de compartilhar saberes e práticas na assistência à saúde, buscando reforçar a responsabilização das equipes da Atenção Primária à Saúde pelo cuidado dos usuários residentes em seu território de atuação. Tem também como propósito ampliar o escopo de ações e a resolutividade destas equipes (Heredia y Antunes, 2013).
Todavia um ponto salientamos no discurso dos primeiros autores onde falam que “visa um melhor atendimento à população com um custo reduzido” nos reportando à Mendonça (2012) onde nos lembra que tais iniciativas que buscaram reduzir os gastos sociais dos governos são vinculadas às estratégias neoliberais, sendo tais iniciativas, como o matriciamento, incentivadas por organismos internacionais a exemplo do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em especial para países em desenvolvimento, como os da América Latina. Ainda o mesmo autor revela que tais iniciativas carregam profundas implicações éticas, como propostas para desonerar os gastos públicos com saúde em países pobres.
Observamos no matriciamento grandes implicações de luta das profissões que não querem perder espaço de trabalho ou querem se apossar do conhecimento específico de outros núcleos profissionais em nome da melhoria do atendimento e resolutibilidades das ações em saúde no seu território. Como exemplo vemos ações do Profissional de Educação Física sendo realizadas por enfermeiros, agentes comunitários de saúde, Terapeutas Ocupacionais, entre outros. Ainda mais que com o advento da teoria das Práticas Corporais no sistema único de saúde (SUS), onde práticas orientais como Tai-chi-chuan e yoga, entre outras, podem ser realizadas por qualquer “especialista” (Carvalho, 2006), dando assim uma licença poética para reduzir a atuação do Educador Físico e justificar a ação de outros profissionais na nossa área, junto com a teoria do matriciamento.
A Educação Física na saúde e seu papel como matriciador
Mais uma vez vemos o que Mendonça (2012) nos mostra sobre as estratégias neoliberais de intervenção na saúde dos países em desenvolvimento quando o próprio MS diz sobre a atuação do Profissional de Educação Física visando ações que propiciem a melhoria da qualidade de vida da população, a redução dos agravos e dos danos decorrentes das doenças não transmissíveis, que favoreçam a redução do consumo de medicamentos (Brasil, 2008). Como podemos perceber o foco não está na qualidade de vida da população e sim na questão econômica dos gastos com saúde.
Sendo assim o matriciamento para os Profissionais de Educação Física seria simplesmente propor ações para que a própria equipe de saúde implemente no território, como uma simples caminhada, que de simples não tem nada pois sabemos que existem pessoas que não sabem realizar uma passada adequada, bem como pessoas contra indicadas a caminhar o tempo que os médicos dizem muitas vezes em seus consultórios, de 30 minutos ou uma hora por dia, caso de obesos que necessitam de uma atenção especial, bem como quem faz a passada errada pode sobrecarregar articulações como do joelho e tornozelo tornando assim o simples ato de caminhar uma armadilha.
Diversos autores citam o Matriciamento ou a atuação profissional dentro de equipes multiprofissionais como uma estratégia de educação permanente em saúde, onde as reuniões para discussão de casos e a troca de conhecimentos de cada profissão alimentam as ações tanto de prevenção como de promoção em saúde (Campos & Domitti, 2007; Mendonça, 2012; Silveira, 2012; Heredia Y Antunes, 2013) todavia também é citado por Mendonça (2012) que muitas vezes as ações do Profissional de Educação Física são feitas de forma isolada, talvez um reflexo da formação não adequada ainda à ação no SUS conforme Silveira (2012) ou pela falta de compreensão das equipes sobre o papel do Educador Físico e suas possibilidades de intervenção.
Encontramos no trabalho de Heredia y Antunes (2013) vários pontos sobre o apóio matricial, que nada mais é que a retaguarda especializada às equipes de um especialista citado por Campos & Domitti (2007), todavia ainda não ficou claro sobre as demais possibilidades de matriciamento do Profissional de Educação Física nas equipes de saúde, resumindo a ações de capacitação das equipes sobre alongamentos e caminhadas. Consideramos isto um erro conceitual pois segundo a lei 9696/98 e a resolução nº46/202 do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2010) existem ações que são prerrogativas deste profissional e não objetos de ação delegação a outros, pois o matriciamento no seu conceito é uma retaguarda e um objeto de educação em saúde e não delegação de tarefas, isso vemos em ações simples de enfermeiros e técnicos de enfermagem que só eles podem aferir a PA (pressão arterial).
Ações práticas do matriciamento em Educação Física
Entrando no viés da educação em saúde do matriciamento consideramos que o suporte matricial de nossa área pode começar a rever os conceitos básicos das atividades físicas e exercícios físicos, auxiliar as equipes nas recomendações referentes às práticas, como no exemplo da caminhada para obesos e para quem tem a passada errada podendo, como já citado, causar lesões nas articulações.
Outro ponto a seguir na idéia do apoio matricial em Educação Física é desmitificar junto às equipes e comunidade sobre questões da atividade física e saúde, fazendo uma prévia pesquisa entre os membros da equipe e comunidade para descobrir quais são tais pontos, pois muitas vezes são opiniões vindas da mídia ou de leitura de apenas um artigo sem o diálogo com o especialista em atividade física, ou leitura de outros artigos para fundamentar sua opinião. A saber o profissional especialista em Atividade Física é o Educador Físico.
Com o advento das academias da saúde auxiliar as equipes para demonstrar o modo correto de execução de tais equipamentos, bem como os alongamentos e caminhadas, mas que isto seja algo passageiro e não “Ad Eternum”, para minimizar os riscos na população onde o profissional não pode estar, pois sabemos que várias pessoas utilizam estes espaços sem orientação nenhuma e para não agravar problemas devemos sim capacitar as equipes, mas buscando a introdução maior do Educador Físico em tais espaços.
O que deve ser considerado mais importante é sobre o papel educacional e social da Educação Física, para tal é necessário fazer um trabalho de matriciamento nas equipes a fim de demonstrar o potencial na perspectiva da reflexão sobre a cultura corporal, buscando desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esportes, entre outros, que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem no território, historicamente criados e culturalmente desenvolvidos (Coletivo de Autores, 1992).
Se considerarmos a atividade física e o papel do Educador Físico junto às comunidades e o programa de saúde da família (PSF/ESF/NASF), que tem como princípio a reorganização da prática assistencial em novas bases e critérios, gerando uma mudança no paradigma vigente centrado na “cura” de doenças para o cuidado centrado na família a partir de sua realidade, a entender sócio histórica, com foco na promoção e prevenção, ampliando assim a compreensão do processo saúde/doença (Brasil, 2007), o proposto pelo Coletivo de Autores (1992) contém alguns aspectos de relevância a ser trabalhado no matriciamento das equipes, porque pretende ler os dados da realidade, interpretá-los e emitir um juízo de valor, se colocamos no caminho da saúde por si só teremos uma saída do paradigma da doença/cura, pois ao interpretar e emitir um juízo de dada realidade será impossível reduzirmos o adoecimento a um único índice ou fenômeno, voltando ao preconizado para o Programa Saúde da Família.
Considerações finais
Apesar de termos em mente que o matriciamento é um modo de reduzir os gastos, de um lado diminuindo o uso de medicamentos e atendimentos evitáveis por meio da prevenção e promoção da saúde, e por outro lado, a questão da imposição de estratégias que devem diminuir os gastos do estado com a saúde e seus trabalhadores, consideramos ainda que a Educação Física pode ter um papel significativo nas equipes ao problematizar a questão corporal num nível sócio-histórico e das formas de representação do mundo pelas famílias do território durante as ações do apoio matricial com os demais profissionais das equipes.
As ações específicas de núcleo ainda são parte do matriciamento, não desconsideramos este aspecto, todavia devemos lutar para aumentar o número de profissionais da área nos locais de saúde a fim de prestar um atendimento mais qualificado e diminuir os atravessamentos de outras especialidades em nosso campo de trabalho.
Bibliografia
BRASIL. Secretaria Executiva, Ministério da Saúde. Atenção Básica e a Saúde da Família. Brasília: Secretaria de Assistência à Saúde, Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: http://www.saude.gov.br
Brasil, Ministério da Saúde. Ações de Atividade Física/Práticas Corporais dos Profissionais de Educação Física. Portaria nº 154, de 24 de Janeiro de 2008.
Campos, G.W.S.; Domitti, A.C. Apoio matricial e equipe de referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(2):399-407, fev, 2007
Carvalho, Y. M. Promoção da Saúde, Práticas Corporais e Atenção Básica. Revista Brasileira de Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Coletivo de Autores. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez. 1992.
CONFEF, Recomendações sobre Condutas e Procedimentos do Profissional de Educação Física. Rio de janeiro, 2010.
Heredia y Antunes, D.S. O Profissional de Educação Física no Núcleo de Apoio à Saúde da Família: O “Caso” Sapucaia do Sul, RS. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 176, Enero de 2013. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd176/o-profissional-de-educacao-fisica-apoio-a-saude.htm
Mendonça, A.M. Promoção da saúde e processo de trabalho dos profissionais de educação física do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF. Dissertação de Mestrado, UEL. Londrina, 2012
Silveira, F.C.S.M. A Formação em Educação Física e as Práticas de Integralidade do Cuidado na Saúde Coletiva. Dissertação de Mestrado, UFS. Aracaju, 2012.
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