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Perfil somatotipológico e respostas hipertróficas do braço,

após 12 semanas de treinamento tradicional de musculação

Perfil somatotipológico y respuestas hipertróficas del brazo luego de 12 semanas de entrenamiento tradicional de musculación

 

*Pós graduado em Fisiologia do Exercício; Graduado em Educação Física, ESEFFEGO/UEG

Membro do Laboratório de Fisiologia do Exercício, LAFEX/ESEFFEGO

**Mestre em Ciências da Saúde, UFG. Pós graduado em Fisiologia do Exercício, Master/DF

Graduação em Educação Física, ESEFFEGO/UEG. Coordenador do Laboratório

de Fisiologia do Exercício, LAFEX/ESEFFEGO

Victor Hugo Camargo*

Raphael Martins da Cunha**

vhcpersonal@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O aumento da força e massa muscular tem relações genéticas relevantes, fator importante na distinção do ganho entre os indivíduos praticantes de musculação. Técnicas avaliativas como a somatotipologia tentam quantificar tal possibilidade de ganho. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo avaliar o perfil somatotipológico e suas respostas hipertróficas do braço após 12 semanas de treinamento em musculação tradicional em indivíduos jovens de 18 a 24 anos. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa longitudinal, não controlada, realizada com 10 indivíduos do sexo masculino, com idade entre18 a 24 anos, ativos. Os indivíduos foram avaliados e inseridos em grupos com base no somatotipo apresentado. Após, os mesmos foram submetidos ao mesmo treinamento de musculação tradicional (3 séries, de 8-10 repetições, 1,5 minutos de descanso, carga de 75 a 85% de 1RM) por 12 semanas. Os dados foram tratados estatisticamente por meio do teste de Shapiro-Wilk e teste t-student, para comparação intra e intergrupo (p<0,05). Resultados: A circunferência braquial do grupo endo-ectomorfo comparado ao baseline (31,8 cm) aumentou 2,4% (p<0,05). Já no grupo endo-mesomorfo, comparado ao baseline (32.02 cm), o aumento foi de 2,8%. Em comparação intergrupo, o grupo endo-mesomorfo apresentou maior aumento, sendo de 1% (sem significância). Conclusão: O estudo não verificou relação entre o somatotipo e os ganhos hipertróficos entre os participantes, visto que não houve diferenças hipertróficas significantes intergrupo após o período de intervenção.

          Unitermos: Avaliação física. Somatotipo. Treinamento de força. Hipertrofia muscular.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O tipo físico, antropométrico e as variações fisiológicas do desporto, são os formatos em que se apresentam o genótipo e o fenótipo de um atleta ou praticante de atividade física. O fenótipo, de natureza manipulável, tem por característica influências ambientais e representa simplesmente uma expressão do genótipo. Este, de caráter mais importante, é responsável pela potencialidade genética, não manipulável e imutável que determina a compatibilidade fisiológica desse ou daquele indivíduo com determinada modalidade (LUSSAC, 2008; FERNADES FILHO, 2003). É nesse contexto que se abre caminho a análise do somatotipo, que corresponde a uma descrição composta do biotipo do indivíduo e definido pelos componentes em conjunto de endomorfia, o componente gorduroso, mesomorfia, que está relacionada ao elemento muscular e ectomorfia, com aspectos longilíneos do corpo (GUEDES e GUEDES, 1999).

    Identificar o perfil somatotipológico de um indivíduo pode ser um elemento adicional para projeção de ganhos hipertróficos com a prática do treinamento de musculação. De acordo com Rebelatto et al. (2006) a musculação é utilizada por atletas e praticantes de atividade física com objetivos de aumento de força e potência muscular e/ou mudanças no percentual de gordura e massa corporal magra e pode ser utilizado em diferentes públicos etários. Ainda é escassa a produção sobre o tema do presente artigo. Importantes autores como Sheldon em 1940, Heath e Carter em 1967, promoveram profundas evoluções na determinação e utilização do somatotipo e são até hoje alicerces para o estudo genotípico das estruturas corporais (MEDINA 2002).

    Desta forma, o presente estudo tem como objetivo geral avaliar o perfil somatotipológico e suas respostas hipertróficas do braço após 12 semanas de treinamento em musculação tradicional em 10 indivíduos jovens ativos, não praticantes com idade entre 18 a 24 anos.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter longitudinal, não controlada. A amostra foi do tipo intencional, composta de 10 indivíduos em fase inicial de treinamento de musculação. Estes foram convidados por meio de cartazes fixados em uma academia da cidade. O estudo passou pela avaliação de qualificação técnica e ética institucional.

    Os indivíduos que se interessaram foram convidados a ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e em seguida, foram submetidos a uma avaliação para inserção/exclusão no estudo.

    Foram incluídos na pesquisa indivíduos jovens do sexo masculino, com idade entre 18 e 24 anos, que fossem ativos e aptos à prática de atividade Física. Foram excluídos do estudo indivíduos que praticavam musculação há mais de duas semanas; que estivessem utilizando algum tipo de suplementação alimentar; indivíduos obesos, hipertensos, diabéticos, cardiopatas e que apresentassem alguma impossibilidade na coleta de dados e na prática saudável do exercício.

    Para determinação do nível de atividade física diária foi utilizado o questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) (CELAFISCS, 2012). Para determinação de restrição física e/ou necessidade de investigação médica foi utilizado o Questionário de Prontidão para Atividade Física - Par-Q (CELAFISC, 2011).

    A Fase operacional da pesquisa foi desenvolvida em três etapas. A primeira etapa consistiu na determinação da amostra e conseqüente avaliação antropométrica e somatotipológica dos indivíduos. A segunda etapa foi fundamentada a partir de um treinamento de força, hipertrófico, de duração de 12 semanas, sob supervisão minuciosa de profissionais de Educação Física e pesquisador. A terceira etapa envolveu a segunda avaliação (ao final do período de intervenção).

    As avaliações foram realizadas utilizando o peso, estatura, dobras cutâneas, perimetria e perfil somatotipológico, para tanto, foram utilizado os seguintes instrumentos: balança de plataforma da marca Welmy®, modelo R. 110, com capacidade máxima de 150 quilogramas e uma precisão de 100 gramas, para massa corporal; estadiômetro adaptado em pé, delimitado com uma fita métrica em centímetros de precisão de 1 mm, para estatura; trena antropométrica da empresa Sanny® -Medical Starret – Sn- 4010, com largura de 2m e precisão de 0.1 cm, para perimetria; Software de Avaliação Física Digital Galileu, para somatotipologia; adipômetro científico da marca Cescorf, amplitude de 0 a 88 mm, sensibilidade: 0.01 mm, dimensões 286 mm x 165 mm, mola em aço zincado e relógio de alta precisão, para composição corporal. A avaliação perimétrica de braço flexionado em contração foi executada antes e depois do treinamento segundo o protocolo de Fernandes Filho (2003) com o indivíduo se mantendo com o cotovelo e ombro flexionados a frente do corpo (plano frontal) para medição na área de maior tamanho do braço.

    A intervenção consistiu de um treinamento de força e hipertrofia muscular comum a todos os indivíduos fundamentado na aplicação do método clássico-tradicional de força, prescrito em 3 séries de 8 a 10 repetições com descanso de 1,5 minuto entre as séries ou troca de exercícios. Os exercícios foram divididos por grupos musculares em 2 tipos, com o terceiro dia da semana disponível para o treinamento de membros inferiores (prescrito, mas não controlado neste estudo). O primeiro tipo de treinamento, Treino A, consistiu na execução dos exercícios supino reto com barra, supino inclinado com halteres, crucifixo no crossover, tríceps pulley, tríceps francês, desenvolvimento com halteres e elevação lateral. O segundo tipo de treinamento, Treino B, consistiu na execução dos exercícios puxada pela frente, remada na máquina, crucifixo inverso com halteres, rosca direta com a barra, rosca alternada e rosca inversa.

    A porcentagem de esforço por repetição foi definida em 75% de uma repetição máxima para as quatro primeiras semanas, 80% para as quatro semanas seguintes e 85% para as últimas quatro semanas. O teste para determinação da carga utilizada foi o de uma repetição máxima 1RM – medida de força muscular (BUCKLEY 2012). Após período de intervenção, as avaliações foram refeitas.

    Para tratamento dados foi utilizado o programa BioStat 5.0. Os dados foram tratados por meio da estatística descritiva, através de média e desvio padrão. Foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk para avaliação da distribuição dos dados, e o para análise das médias intra e intergrupo foi utilizado o teste t-student, considerando p<0,05.

Resultados

    A avaliação somatotipológica do grupo pode ser visualizada abaixo (figura 1), por meio da somatocarta, que aponta cada um dos indivíduos da amostra em um espaço tridimensional. Com base no perfil somatotipológico da amostra, a amostra foi dividida em 2 grupos: endo-ectomorfos (n=5) e endo-mesomorfos (n=5).

Figura 1. Somatocarta dos indivíduos da pesquisa

    As características da amostra: idade, estatura, peso e IMC, foram semelhantes em ambos os grupos. Tais informações podem ser visualizadas na tabela 1, abaixo:

Tabela 1. Características da amostra

Valores expressos em media ± desvio padrão.

    A circunferência braquial do grupo endo-ectomorfo comparado ao baseline (31,8cm) aumentou 2,4% (p<0,05). Já no grupo endo-mesomorfo, comparado ao baseline (32.02cm), o aumento foi de 2,8%. Em comparação intergrupo, o grupo endo-mesomorfo apresentou maior aumento, sendo de 1% (sem significância), como apresentado na figura 2.

Figura 2. Circunferência braquial pré e pós-intervenção do grupo endo-ectomorfo e endo-mesomorfo.

* p <0,05 comparado ao valor pré (baseline)

Não houve significância na análise intergrupo pré e pós

Discussão

    Ambos os grupos apresentaram aumentos significativos, de 2,4% e 2,8% para o grupo endo-ectomorfo e endo-mesomorfo, respectivamente (p<0,05). Tal aumento é esperado, visto que o treino de musculação, progressivo, e com características de hipertrofia, aumenta o volume muscular. Conforme estudo de Athiainen (2003), que após 21 semanas de treinamento de musculação, observou aumento do volume muscular semelhantes ao presente estudo.

    Quando comparados os dois grupos, embora o grupo endo-mesomorfo tenha aumentado 1% mais do que o grupo endo-ectomorfo, tal aumento não foi significativo. Ainda que existam evidências, poucos estudos se comprometeram a investigar tais relações aqui estudadas. Solanellas et al. (1996) estudou o comportamento somatotipológico de 550 tenistas espanhóis e observou que o desenvolvimento da muscularidade dos atletas acompanhou o índice mesomórfico, apresentando íntima relação entre hipertrofia muscular e somatótipo, divergindo dos resultados apresentados no presente estudo que não ofereceu diferenças significativas entre os tipos somatotipológicos.

    Embora não tenha sido encontradas diferenças entre o nível hipertrófico entre os dois grupos, Chaouachi et al. (2005), Toledo et al. (2010), Sánchez-Muñoz (2007) e Hopper (1997) discutem sobre a relação existente entre as características somatotipológicas de um indivíduo e as alterações que tal carga genética pode acarretar no organismo como um todo, deixando claro existir significativa contribuição dos componentes ecto, endo e mesomórficos na determinação de potencialidades e limitações fisiológicas e esportivas, bem como na caracterização da composição corporal.

    Estudo que analisou a composição corporal e o somatótipo de jogadores de futebol durante toda a adolescência concluiu que o desenvolvimento da muscularidade dos atletas avançava similarmente com o aumento do componente mesomorfo e a diminuição do componente endomorfo, apontando dessa forma uma importante dependência entre desenvolvimento de massa livre de gordura e mesomorfia (NIKOLAIDIS 2011).

    Segundo Burini (2000), que avaliou a força e massa muscular de atletas de culturismo suplementados com proteína, o treinamento de força combinado com uma dieta hiperprotéica gerou aumento significativo da circunferência de braço, dados semelhantes ao encontrado no presente estudo.

    As análises e considerações acerca do estudo em questão levam a conclusão de que a herdabilidade dos indivíduos, que determinam os índices mesomórficos, não representou influência no rendimento hipertrófico do treinamento de força em indivíduos com maior valor de mesomorfia para a amostra estudada.

    O presente estudo apresentou algumas limitações que devem ser mencionadas: a amostra foi pequena; não houve controle alimentar dos envolvidos no estudo; não houve grupo controle; não foram usadas fórmulas que estimam a massa magra e massa gorda da região braquial, que foi foco no presente estudo.

Considerações finais

    A pesquisa observou que as respostas hipertróficas do braço de dois grupos somatotípicos diferentes: endo-mesomorfo e outro endo-ectomorfo, submetidos a treino de musculação tradicional por 12 semanas, apresentou mesmo ganho de circunferência regional. No entanto, fazem-se necessárias novas investigações com amostra maior, maior controle das variáveis e alimentação e presença de grupo controle.

Referências

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  • Buckley, Thomas A. and Christopher J. Hass. Reliability in One- Repetition Maximum Performance in People with Parkinson’s Disease. Hindawi Publishing Corporation Parkinson’s Disease Volume 2012, Article ID 928736, 6 pages doi:10.1155/2012/928736.

  • Burini, R. C.; Cyrino, E. S.; Maestá, N. Aumento de força e massa muscular em atletas de culturismo suplementados com proteína. Rev. Treinamento Desportivo. Curitiba, Santa Catarina, v.5, n.1, 2000.

  • Centro Estudos Laboratório de Aptidão Física São Caetano – IPAQ/PAR-Q.

  • Chaouachi, M.; Chaouachi, A.; Chamari, K.; Chtara, M.; Feki, Y.; Amri, M.; Trudeau, F. Effects of dominant somatotype on aerobic capacity trainability. Br J Sports Med 2005;39:954–959. doi: 10.1136/bjsm.2005.019943

  • Filho, J. F. A prática da avaliação física: testes, medidas e avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica. 2 ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003. 226p.

  • Guedes, D.P., Guedes J.E.R.P. Somatótipo de crianças e adolescentes do município de Londrina – Paraná – Brasil. Rev. Bras. cineantropom. desempenho hum. 1999;1(1):7-17. 314. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 5, 314, set/out 2007

  • Hopper, D. M. Somatotype in high performance female netball players may influence player position and the incidence of lower limb and back injuries. BrJ Sports Med 1997;31:197-199

  • Lussac, R. M. P. Os princípios do treinamento esportivo: conceitos, definições, possíveis aplicações e um possível novo olhar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 13 - Nº 121 - Junio de 2008. http://www.efdeportes.com/efd121/os-principios-do-treinamento-esportivo-conceitos-definicoes.htm

  • Medina, M.F.; Filho, J.F. Identificação dos perfis genético e somatotípico que caracterizam atletas de voleibol masculino adulto de alto rendimento no Brasil. Fitness & Performance Journal, v.1, n.4, p.12-19, 2002.

  • Nikolaidis Pantelis Theodoros, Karydis Nikos Vassilios, BSc. Physique and Body Composition in Soccer Players across Adolescence. Asian Journal of Sports Medicine, Volume 2 (Number 2), June 2011, Pages: 75-82

  • Rebelatto, J.R.; Calvo, J.I.; Orejuela, J.R; Portillo, J.R. Influência de um programa de atividade física de longa duração sobre a força muscular manual e a flexibilidade corporal de mulheres idosas. Revista Brasileira de Fisioterapia, v.10, n.1, p.127-32, 2006.

  • Sánchez-Muñoz, Cristóbal, Sanz, David, Zabala, Mikel. Anthropometric characteristics, body composition and somatotype of elite junior tennis players. Br J Sports Med. 2007 November; 41(11): 793–799.

  • Toledo, Cláudio Fonseca, Roquetti, Paula e Fernandes-Filho, José. Perfil antropométrico de atletas brasileiros de voleibol infanto juvenil em diferentes níveis de qualificação esportiva. Rev. salud pública vol.12 no.6 Bogotá Dec. 2010.

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