Representações de corpo, gênero e envelhecimento Representaciones del cuerpo, género y envejecimiento Representations of the body, gender and aging |
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*Especialista em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS **Doutorando em Educação em ciências, química da vida e saúde Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS ***Professor Doutor, diretor do Centro de Educação Física e Desportos Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS (Brasil) |
Renata Venturini Tomazetti* Renato Xavier Coutinho** Marco Aurélio de Figueiredo Acosta*** |
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Resumo A sociedade atual propõe uma imagem de corpo voltada à aparência, com tolerância zero ao envelhecimento. Neste contexto o presente estudo tem como objetivo discutir a relação corpo, gênero e envelhecimento, de acordo com os interesses sociais e culturais. Este trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratório e bibliográfico, onde foi realizada uma revisão bibliográfica a respeito de corpo, gênero e envelhecimento, e a partir desta, feitos recortes trazendo apontamentos dos autores. Através dos resultados pôde-se verificar que a intensa busca pelo corpo perfeito, tornou-se uma “epidemia” social onde perpetua o ser belo. Porém, chega uma hora em que a realidade natural da velhice é incorporada, e é neste momento que o significado do corpo se volta à funcionalidade. As diferenças na forma como homens e mulheres representam o que é velhice são elementos fundamentais para se entender as diferenças de gênero no envelhecer. Portanto é necessário entender o envelhecimento e não se preocupar neuroticamente em retardá-lo. Unitermos: Corpo. Gênero. Envelhecimento.
Abstract The current society has proposed a body image focused on appearance, with low tolerance with aging. So the aim of this study was to discuss the relationship between body, gender and aging, according to the social and cultural interests. This work is a qualitative, exploratory and bibliography study, which was developed a literature review about the body, gender and aging, and from this data, were made discussion about subject of study. According to the results obtained was identified an intense search for the perfect body, and a "social epidemic" which perpetuates the be beautiful. However there comes a time in which the natural reality of aging is incorporated, and this moment is when the meaning of the body returns to functionality. The differences in how men and women represent what is old age are key to understanding gender differences in aging. So we conclude that is necessary to understand aging and not worry neurotically to slow it down. Keywords: Body. Gender. Aging.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Destaca-se que a sociedade atual, propõe uma imagem de corpo voltada à aparência física, onde o valor da imagem de beleza e juventude tende a ditar modelos estéticos e comportamentais, levando o indivíduo a converter seu corpo num propósito de perfeição, passível de manipulação, desvalorizado em sua característica social e suas particularidades.
A idéia de que a beleza está para o feminino assim como a força está para o masculino, atravessa os séculos e as culturas1, caracterizando, assim, um recorte de gêneros, onde homens e mulheres buscam significados de corpos diferentes para um mesmo ideal cultural que é estar em foco, ser valorizado, e até mesmo respeitado pelo que aparenta fisicamente. Uma vivência de corpo, como apresenta Goldenberg2 que seja sexy, jovem, magro, e em boa forma, que caracteriza como superior aquele ou aquela que o possui, conquistado por meio de muito investimento financeiro, trabalho e sacrifício. Contudo, o discurso de gênero é uma questão que vem ganhando, cada vez mais, espaço para estudos e análises no âmbito social e cultural.
Ressalta-se, porém, que esse corpo um dia envelhece e a bela aparência dá lugar a decadências corporais e também sociais, para ambos os sexos. E essa aparência indesejada do caráter corpóreo contribui significativamente para a rejeição ou o temor da velhice, que podem ser traduzidas pela proximidade do fim ou da morte. Vive-se em uma sociedade que reafirma desejos imemoriais de viver na juventude e de afastamento à degeneração física e à morte3. Ninguém é imortal, amadurecer faz parte da vida, por que preocupar-se tanto com o envelhecer? Antes de pensar que se perde a juventude, deve-se pensar que se ganha à maturidade e a experiência.
A proposta é reconhecer o contexto em que esse corpo, jovem hoje (idoso amanhã) e idoso hoje, seja ele masculino ou feminino, se encontra dentro de um pensamento de caráter biotecnológico, atrelado à cultura da juventude e da beleza, para refletir sobre a constituição do corpo idoso, no que tange à sua autonomia e criatividade.
Daí a necessidade da Educação Física em conhecer e questionar os imaginários do corpo contemporâneo, buscar suas marcas culturais e, fundamentalmente, seus valores4, para assim, envelhecer de uma forma saudável sem deixar de ser criativo e social, sendo sujeito e não objeto.
O objetivo do presente artigo é discutir a relação corpo, gênero e envelhecimento, de acordo com os interesses propostos pela sociedade atual e pela cultura. Uma sociedade que apresenta diversas modificações no que se refere a pensamentos e comportamentos de corpos, gêneros e idades, e uma cultura que cada vez mais preza por um corpo admirável, esculpido nos padrões de beleza e estética.
Materiais e métodos
O presente estudo se caracteriza enquanto uma pesquisa qualitativa, do tipo exploratório e bibliográfico, conforme Gil5 a pesquisa exploratória tem como objetivo desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, além de proporcionar uma visão geral de um determinado fato ou fenômeno. Já o delineamento bibliográfico é aquele desenvolvido a partir de materiais já constituídos como livros e artigos científicos, para o autor a vantagem deste tipo de estudo é que ele permite ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Deste modo, para esse estudo foi realizado uma revisão bibliográfica a respeito de corpo, gênero e envelhecimento, e a partir desta, foram feitos alguns recortes apontando críticas, afirmações, sugestões e esclarecimentos dos autores.
Resultados e discussão
Corpo e envelhecimento
Vemos hoje nas academias, nos centros de estética, entre outros lugares, a intensa busca pelo corpo perfeito, uma “epidemia” social onde perpetua o ser belo. Constrói-se um arsenal de técnicas (dietas, cirurgia, malhação, etc.) para lutar contra as imperfeições e decadências que o corpo apresenta ou venha a apresentar com o passar dos anos.
A imagem passa a reger o valor social, mais do que as próprias relações. Ser jovem e belo é tudo em nossa cultura. É quase uma tirania ou talvez uma obrigação, mas a juventude não dura para sempre, e então vem a tão temida e indesejada velhice.
Neste contexto, tudo acaba girando em torno do corpo, como se ele fosse o único meio de tornar alguém capaz de realizações e competências. Conforme Iwanowicz6 a imagem corporal é produzida imitando os outros, e não desenvolvendo a própria experiência. O corpo é um acontecimento que se dá além de seus limites físicos e que, excluído da comunidade dos homens, não produz sentido nem valor, pois a certeza do ser é confirmada pelo olhar do outro, portanto, um acontecimento social.
Ao buscar demanda física e uma expectativa de vida prolongada, o desenvolvimento biotecnológico direciona seu interesse pelo corpo, orgânico, subtraindo-o de seu caráter subjetivo/social. Perde-se o reconhecimento de corpo no que diz respeito à sua capacidade própria, intelectual, criativa e social quando, diante da ditadura da imagem, parece tornar-se, cada vez mais, passível de manipulação, um corpo mecânico, desvalorizado em sua característica social. De acordo com Blessmann7 o apelo à imagem nos afasta da compreensão da unidade do ser humano, equivale a pensar o corpo como objeto a ser moldado, como algo fora de si, no mesmo momento em que se inscreve uma nova corporeidade, uma nova maneira de ver o homem, logo os corpos expressariam o que a sociedade nos corpos escreve8. Ludörf4 afirma que, talvez fosse possível uma Educação Física que visasse que o corpo pode ser estético, mas, de preferência, que fosse saudável, harmônico, expressivo, criativo, e, acima de tudo, que ultrapasse a condição de objeto, tornando-se o sujeito.
Chega uma hora em que a realidade natural e concreta da velhice é incorporada, e é neste momento que o significado do corpo se volta à funcionalidade, e como expressa Blessmann7 já não é necessário um corpo belo, mas sim um corpo saudável. Surge então o valor da atividade física nesse processo, e com isso o empenho do professor de Educação Física em corresponder aos ideais exaltados. O papel do professor de Educação Física é associado à figura de agente de saúde, onde se destacam ações como: melhorar a saúde e qualidade de vida; educar para o corpo saudável; esclarecer/propagar benefícios e conseqüências da prática de atividades físicas para a saúde; alertar para riscos e exageros ser referência/modelo para os alunos etc.4. Cabe então ao profissional dessa área estar plenamente qualificado e instruído para tal possibilidade, e com isso, proporcionar ao ser humano, jovem ou velho, homem ou mulher, a beleza externa, interna e cultural.
Os benefícios fisiológicos das atividades físicas são inúmeros e apresentam contribuições também em nível psicológicos como, por exemplo, melhora da auto-estima, bem-estar e maior disposição para as atividades do dia-a-dia, auxiliando, portanto, na qualidade de vida dos/as idosos/as9 e das pessoas em geral. Através de suas inúmeras práticas e interações corporais, a Educação Física tende a dar oportunidade cada vez mais à socialização, à aproximação social, à humanização dos contatos e ao conhecimento de si mesmo4.
Vive-se hoje num país que até há pouco tempo era considerado um país de jovens, mas isto está mudando. Vivendo mais, os idosos passam a representar uma importante parcela dentro da sociedade e não podem mais ser ignorados enquanto participantes da vida coletiva.
O envelhecimento é uma fase da vida que se constrói num processo longo, às vezes amargo às vezes doce, depende de como cada pessoa o encara ou de como o ambiente influencia esse processo gradativo. A fase do envelhecimento é vista como um momento de declínio, apontando os problemas inerentes a este processo: perdas motoras, perda de força muscular, déficits dos sentidos, mudanças nas dimensões corporais, mudanças cognitivas, físicas e afetivas, enfim, alterações em todos os sistemas do organismo. Blessmann7 aponta que temos, de um lado, o corpo natural, que é resultado do processo evolutivo e que corresponde a um ciclo biológico, mediante o qual nascemos, desenvolvemos, adoecemos, envelhecemos e morremos, e de outro, o corpo simbólico que resulta das construções sociais, cuja imagem ideal é a da saúde e beleza associada à juventude. Dessa forma, estar velho é estar cansado, fora de moda, fora de forma, fora dos padrões que regem na atualidade. Portanto, envelhecer é uma arte nesta sociedade.
A imagem corporal da velhice é representada pelo declínio físico, e a dificuldade em aceitar este fato induz a existência de um eu visível, que envelhece, e um eu invisível, que se mantém jovem7. Essa visão de um corpo imperfeito faz com que muitos idosos subestimem seus potenciais em função da velhice, incorporando uma sensação de incompetência. Ser velho tornou-se uma condição a qual não se quer assumir. Ser jovem e manter-se jovem, esta, sim, são a condição proclamada pela sociedade10. O tempo passa e não se percebe exatamente quando se escala os degraus que dividem a trajetória de vida. Quando jovens, não se pensa no envelhecimento, basta viver plenamente, e usufruir o vigor físico buscando-se os sonhos.
O corpo que se busca ter nos dias de hoje é como imagem de perfeição incitando ao narcisismo e submetendo-o como atrativo de consumo, como afirma Goldenberg2 ao dizer que no Brasil, o corpo é um capital. Por outro lado o corpo se apresenta como uma máquina de sexo, prazer, trabalho e agressão. Nesse sentido, além de um capital físico, o corpo é um capital simbólico, um capital econômico e um capital social2. Além disso, retrata-se, também a obsessão por esse corpo perfeito que gera diversos distúrbios físicos, emocionais, alimentares, entre outros. Todo esse interesse pelo corpo perfeito e inatingível, que homens e mulheres buscam, está deixando de ser um interesse normal para tornar-se um quadro patológico capaz de assolar uma vida inteira1.
Desse modo, sob a ótica do capitalismo o corpo se apresenta como portador de desejos e deficiências, e o mercado de consumo alcança a velhice disponibilizando produtos e serviços especializados, de forma a induzir que só é velho quem quer7. Entretanto, todos envelhecem, não requer talento nem habilidade para isso. O importante é amadurecer, encontrando sempre a oportunidade na mudança. Para Gusmão11 a velhice e o envelhecimento nessa sociedade dita moderna, são partes de um processo contraditório gestado pelo sistema social em que o velho transita entre ser e não ser parte integrante das relações sociais, ter e não ter um lugar e um papel que diga de si e diga de sua experiência consolidada pela maturidade. E nessa expectativa de burlar o tempo para conter a vida, o arsenal tecnocientífico oferece junto ao mercado uma série de intervenções sem que haja qualquer indício de fortalecimento de caráter humano.
Podemos entender o envelhecimento como um dos processos que, na perspectiva das culturas corporais hegemônicas, atuam na deformação desse corpo, com uma série de estratégias sendo colocadas em ação para não permitir que esse processo avance. Tais estratégias investem na “plastificação” do corpo através de cirurgias plásticas, uso de diversos tipos de cosméticos e fármacos, exercícios físicos, alimentação, dentre outras tecnologias.12
É neste contexto que a intervenção tecnocientífica, na sua eficiência digital reproduzindo uma imagem virtual incitando no ser humano uma proposta de vida longa e saudável, tem se mostrado bastante impositiva. Esquece-se de que não se pode ter tudo ou ser tudo, e que para realizar bem o possível é preciso abrir mão de muita coisa.
Dentro dessa estética social, “espetacular”, o ideal e o virtual se impõem; recusando e excluindo as particularidades das diferentes realidades, apoiando a igualdade de comportamentos e corpos, porém um competindo com o outro. Assim, perguntam-se como ficariam as experiências, as vivências desse corpo, dentro do seu contexto social? O que fazer para viver bem a fase do envelhecimento aonde esse corpo chegará sem a menor preparação?
O culto ao corpo, principalmente com a preocupação de estar em forma e não envelhecer chega a ser uma verdadeira obsessão, gerando, de certa forma, uma tirania moderna4. Identificar beleza com a juventude é uma convenção social e, portanto, sem consciência objetiva1. Na tentativa de conter o tempo em uma imagem idealizada de corpo, o presente tende a se tornar uma luta contra esse mesmo tempo que é, intrinsecamente, fluído e ininterrupto, tornando o indivíduo incapaz de vivenciar suas experiências de maneira autônoma. E se a vivência do tempo presente fica abandonada, o futuro será também, possivelmente, um tempo de desamparo.
Portanto, como afirmam Coutinho et al.13, não se deve considerar apenas o envelhecimento biológico, mas os aspectos subjetivos e sociais que participam desse processo. Contudo, o envelhecer é inerente a todo ser vivo e no homem este processo assume dimensões biológicas, sociais e psicológicas. Velhice não deve ser vista como estado de espírito, pois tratar a velhice separando corpo e mente é negar as transformações do corpo, o que implica em negar uma parte relevante do próprio idoso7.
Pensar em maneiras de potencializar as qualidades do corpo idoso, favorecendo sua autonomia, talvez possa ser uma alternativa menos arrogante e autoritária do que transformá-los em outra coisa, que não sejam eles mesmos. Bruhns14, afirma que se tem a certeza de que todos podem ser sujeitos da sua própria vida, da sua história, sendo que até o momento foram objetos manipulados servindo de instrumentos ideológicos. A aceitação da velhice não como um sentimento, mas como uma etapa da vida, implica em um reposicionamento de seus valores, implica em um voltar-se para dentro de si mesmo7. Assim, não basta olhar os velhos em sociedade para descobrir-lhes as marcas cronológicas; é preciso um olhar que lhes descubra as propriedades, vale dizer, a alma11.
O que define corpo é o seu significado, o fato de ele ser tanto natural como produto da cultura, sua construção que difere para cada pessoa e para cada sociedade, o que vai além das semelhanças biológicas que são universais7. Portanto, buscar a responsabilidade individual, conhecendo, compreendendo e respeitando a condição corporal suas possibilidades e limites, talvez seja uma forma de valorizar a vida humana em suas diferentes faixas etárias.
Nesse contexto Bruhns14 defende que uma “educação pelo movimento” autêntica deve favorecer um desenvolvimento humano que permita ao homem situar-se e agir no mundo em transformação. Dessa forma, busca-se a autonomia do corpo preparando-o para a chegada da velhice.
Gênero e envelhecimento
Segundo Scott15 na gramática, o gênero é compreendido como uma forma de classificar fenômenos. Desde criança se ouvem frases como: “Isso é coisa de guri e não de guria e vice-versa” ou, “Gurias fazem isso e guris fazem aquilo” ou ainda, “Gurias fazem dessa forma e guris daquela outra forma”. É dentro dessa cultura passada dentro de casa, ou fora dela, que se vive em uma sociedade caracterizada pelas diferenças não só de gêneros, mas também, de classes, raças, etnias entre outras. Evidencia-se que meninos e meninas crescem, comportando-se de acordo com os padrões socioculturais e históricos do meio onde são educados1.
O termo “gênero” indica “construções culturais”, a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres15.
Tem-se claro que a relação de gênero é bastante acentuada culturalmente, onde homens e mulheres exercem papéis distintos e bem marcados, perante as construções impostas e mediadas pela sociedade. Sabe-se que há uma ideologia que prega um perfil feminino dócil, submisso, sensível, cordato, dependente e obediente, uma mulher dedicada apenas às funções de mãe e do lar, e um perfil masculino forte, agressivo, independente, atribuído a eles as funções decisivas e públicas da organização social16.
Essas oposições de perfis se dão em relação a comportamentos sociais, pessoais, psicológicos, mas a maior ênfase se dá na questão do comportamento do corpo perante o curso de vida, tendo em vista suas atitudes e representações, principalmente no processo de envelhecimento. Homens e mulheres diferem quanto a atitudes, práticas e representações, porque as relações de gênero, como construções sociais de formas de dominação e subordinação, têm resultado, historicamente, em experiências e trajetórias sociais diferenciadas para cada um deles17. O estudo de gênero nos explica que homens e mulheres não são construídos apenas através de mecanismos ou censura, eles e elas se fazem, também, através de práticas e relações que instituem gestos, modos de ser e de estar no mundo, formas de falar e de agir, condutas e posturas apropriadas9.
Papéis sociais, valores e atitudes considerados tipicamente masculinos ou femininos, se transformam em algo radicalmente diferente para homens e mulheres. As diferenças na forma como homens e mulheres representam o que é velhice são elementos fundamentais para se entender as diferenças de gênero no envelhecer. Enquanto as mulheres enfatizam a autonomia e a liberdade como valores alcançados na velhice, para os homens é a lucidez que lhes garantiria nas idades mais avançadas o conhecimento das realidades social e política em que se encontram18.
Assim, idosos e idosas, agirão de acordo com a sua formação, vivência e posição cultural de papéis adequados a homens e mulheres9. Para a psicologia social, os papéis de gênero são socialmente construídos e excedem os marcadores anatômicos e as diferenças entre as funções de homens e mulheres, dizem respeito aos desempenhos esperados e comportam variações segundo a sociedade e a época histórica13.
São notáveis as mudanças que vêm ocorrendo ao longo dos anos em relação ao comportamento de um ou de outro sexo, fazendo com que o que antes era preocupação exclusivamente das mulheres esteja chegando cada vez mais aos homens, devido à dimensão mais acentuada que os tratos com o corpo e a imagem representam hoje na sociedade, ressaltando-se que as relações com o corpo são amplamente influenciadas por diversos fatores socioculturais e econômicos1.
O mito da eterna juventude, no limite, tende a produzir corpos sem história, dos quais tentamos apagar, com o auxílio da medicina, todas as marcas do passado. A terceira idade contemporânea é representada como aquela que está sendo levada a buscar novos estilos de vida e formas de consumo para viverem a eterna juventude10. Refletir, portanto, sobre a ética corporal do idoso, é procurar uma maneira de trazer a tolerância e o respeito como princípios básicos de uma convivência social mais humana.
Homens e mulheres têm formas diferentes de lutar contra os preconceitos e os estereótipos a eles associados19. Os homens na velhice sofrem com a perda da força física e com a aposentadoria, se entregando ao sofá e à TV, já as mulheres lutam pelo seu espaço social buscando destituir o rótulo de matriarcas a elas imposto pela sociedade, participando de diversas atividades, físicas, culturais e de lazer. Segundo, Debert19 “O envelhecimento bem-sucedido e inovador não pode fechar espaço para a velhice abandonada e dependente, nem transformá-la em conseqüência do descuido pessoal”. Ainda Debert19, aponta que a responsabilidade pelo envelhecimento bem sucedido é do próprio indivíduo, ou seja, se a pessoa se cuidar, se envolver em atividades motivadoras, é possível envelhecer sem decadência física, basta aderir a estilos de vida saudável. Para Coutinho et al.13 se diferem as concepções acerca do ideal de corpo segundo o gênero, onde homens e mulheres apresentam comportamentos distintos no que se refere à prática de exercícios físicos.
A relação do homem e da mulher com sua imagem corporal desejável são caracterizadas pelas constantes modificações de significados, atribuições e discriminações que o corpo vem sofrendo durante a história. Segundo Blessmann7 é na velhice que se concentra o momento mais dramático de mudança de imagem corporal, porque é difícil aceitar uma imagem envelhecida em uma sociedade que tem como referência a beleza da juventude. Goldenberg2 coloca que em suas pesquisas as mulheres apontam que uma das maiores dores de envelhecer é não ser mais consideradas gostosas, não ouvir elogios nas ruas, tornar-se invisível para os homens, fora do mercado da sedução.
Fatores demográficos, de saúde e funcionalidade física fazem a diferença no processo de envelhecimento de homens e mulheres20. Corpo e tempo se entrecruzam produzindo múltiplas velhices influenciadas pelos contextos sociais, políticos, econômicos e de gêneros. As sociedades representam o gênero servindo-se dele para articular as regras de relações sociais ou para construir o significado de experiência15. Valério9, de acordo com outros autores, coloca que nos estudos de gênero a diferença é baseada na cultura e não no biológico.
Em uma vida cada vez mais longa, um aspecto fundamental para a diversificação e possibilidades nas trajetórias de vida masculina e feminina é a garantia de uma vida saudável18. Para as mulheres se destacam dois fatores nesse contexto, as representações do corpo e as pressões da propaganda no que diz respeito à estética do envelhecer e a busca da juventude. Já para o homem os fatores que os regem são: manter-se sexualmente ativo e produtivo, física, mental e socialmente.
Destaca-se, assim, que se deve refletir muito sobre esse enfoque dado ao comportamento de gênero no envelhecimento em relação ao corpo, sociedade e cultura, pois a população de idosos está se tornando cada vez mais crescente e vem ganhando destaque nas diversas áreas do conhecimento, e é notável a grande diferença na participação de mulheres e homens nesse processo.
Retrata-se que a idade é um fator de risco para várias condições na velhice, mas gênero é muito importante, uma vez que homens e mulheres mostram diferentes domínios no funcionamento do curso de vida. As mulheres continuam mais expressivas e envolvidas do que os homens, por causa de fatores sociais e aprendizagem social.
Conclusão
Aceitar práticas alienadas e alienantes passivamente e a homogeneização de comportamentos pautados por padrões rígidos de beleza é enfraquecer a capacidade reflexiva de estabelecer critérios pessoais a partir do próprio corpo, é rejeitar a própria autonomia. Portanto, compreender a natureza do corpo em seus limites e possibilidades, é entender que esse corpo pode viver bem sem estar apenas focado na imagem corporal idealizada pelas convenções de uma estética sem ética. É preciso lembrar o valor da vivência e da experiência produtora de conhecimento e sabedoria. E, acima de tudo, respeitar o corpo pelo seu valor afetivo, subjetivo e criativo. O importante não é acumular muitos anos de vida, mas adquirir sabedoria em todos os momentos que os anos nos oferecem. É necessário, portanto, entender o envelhecimento e não se preocupar neuroticamente em retardá-lo. Por esse motivo, buscou-se discutir nesse texto as representações de corpo envolvendo os jovens, velhos, homens e mulheres em um enfoque cultural e social.
Assim, como as mulheres buscam seu espaço na sociedade usando seu corpo para o trabalho, ganhando destaque em uma área que antes era ocupada pelos homens, e os homens ocupam, cada vez mais, espaço em centros de estética, beleza e rejuvenescimento antes visto como lugares femininos, os idosos também querem ocupar um lugar de destaque na sociedade, mostrando que a vida não acaba depois dos 60 ou 65 anos, mesmo após algumas decadências que podem ser contornadas ou amenizadas, para isso criaram-se os grupos de Terceira Idade que mostram a força do idoso em se manter vivo social, psicológica e fisicamente, porém, encontra-se mínima a presença do homem idoso nesses grupos, algo que se deve atentar e entender as razões.
Envelhecer pode não ser uma das melhores fases da vida, assim como as outras fases tem suas vantagens e inconveniências, mas não há como se evitar, a não ser que se morra cedo e isso ninguém quer. O que se deve fazer é procurar manter a saúde do corpo como um todo. Para tanto, o exercício físico é uma das melhores maneiras para se conservar sempre bem, somado a outras medidas.
Defende-se, aqui, um idoso, um jovem, homem ou mulher que se colocam diante da vida através de um corpo autônomo e criativo, e que se utilize do avanço tecnológico na medida de suas reais necessidades e para o desenvolvimento de suas potencialidades. Onde tempo e experiência harmonizam-se no corpo e em sua relação com o meio. Afinal, envelhecer é obrigatório, amadurecer é opcional.
Por fim, atribui-se que a velhice se revela como a verdade da condição humana, é a partir dela que se deve compreender o homem, através de suas representações sociais e culturais de corpo/mente e gênero.
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