O treinamento de uma equipe amadora de basquete: uma proposta de periodização El entrenamiento de un equipo aficionado de baloncesto: una propuesta de periodización |
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Licenciados em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Brasil) |
Eduardo Klein Carmona Francisco Goldschmit Filho |
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Resumo O basquete é um esporte dinâmico, de cooperação e oposição, que exige de seus praticantes freqüentes alternâncias entre esforços de alta intensidade e períodos de recuperação com muita precisão nas ações motoras em períodos de curta duração. O objetivo deste artigo é apresentar uma proposta de treinamento para uma equipe amadora de basquete. Propomos uma periodização de seis meses para uma competição de cinco meses. A periodização deste treinamento está dividida em macrociclo, mesociclos e microciclos, nos quais serão realizados: testes específicos; trabalho de base para a pré-temporada; treinamento de força, flexibilidade e resistência aeróbia e anaeróbia; e treinamento dos fundamentos específicos do basquete. Contudo, é necessário um planejamento de treino adequado para o basquete, considerando as tarefas específicas, demandas fisiológicas do esporte, bem como os objetivos traçados para a temporada. Unitermos: Basquete. Treinamento. Periodização.
Abstract Basketball is a dynamic sport of cooperation and opposition, which demands of high intensity efforts, recovery periods and very accuracy actions during the matches. The aim of this article to purpose a training periodization for an amateur basketball team. We propose a periodization of six months for five months of competition. The periodization is divided in macrocycle, mesocycles and microcycles with: specific tests; pre-season training; muscle strength, flexibility, aerobic and anaerobic training; and basketball specific actions. Thus, the adequate periodization of training for basketball team considering the specific tasks and physiological aspects of the sports, well as the initial aims for the season. Keywords: Basketball. Training. Periodization.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O basquete, segundo Junior e Tricoli (2005), é um esporte coletivo de cooperação e oposição, no qual duas equipes com o mesmo número de jogadores, cinco em cada, se enfrentam com “iguais” chances de vitória. Tendo como comuns e principais objetivos: manter a posse de bola e fazer o maior número de pontos, ou melhor, cestas possíveis.
O esporte em questão possui características como a ocupação de espaço comum e a participação simultânea de ações. Isto, porque o jogo acontece em um espaço compartilhado pelas mesmas equipes em disputa, a quadra, e porque há a realização de ações concomitantes e antagônicas nos períodos de jogo, ou seja, enquanto uma equipe realiza as ações de ataque, a outra equipe realiza ações para impedir este ataque, a defesa.
Este é um esporte secular, criado nos Estados Unidos dentro de uma ACM (Associação Cristã de Moços), que foi difundido pelo mundo no final do século XIX e início do século XX. Sendo aceito com grande simpatia e acolhimento por boa parte nações, tornando-se em pouco tempo um dos esportes integrante do cenário esportivo de vários países. Chegando, por sua vez, aos Jogos Olímpicos em 1936, na cidade de Berlim.
Como muitos esportes, o basquete, ao longo de sua história, também sofreu significativas mudanças para se tornar um mais dinâmico e mais atrativo ao público em geral. Sendo atualmente um esporte extremamente veloz e técnico, exigindo de seus atletas grandes competências e um ótimo condicionamento físico.
Atualmente, é desenvolvido em quadra de 28 metros de comprimento por 15 metros de largura. Consistindo em um jogo de quatro períodos de 10 minutos, com dois minutos de intervalo entre o 1° e o 2° e o 3° e o 4° períodos e um intervalo de 15 minutos no meio da partida. Sendo que no jogo as substituições são ilimitadas. Pensando nisto, este artigo tem como objetivo apresentar uma proposta de treinamento para uma equipe amadora de basquete.
Periodização do treinamento
A periodização do treinamento pode ser entendida como uma forma de organizar o tempo disponível para atingir um determinado objetivo. A partir dessa organização os objetivos traçados deverão ser alcançados, caso o planejamento tenha sido feito de maneira correta. Para isso os treinos são divididos em fases ou períodos, para que se possa ter um maior controle dos treinamentos.
Desta forma, mostraremos a seguir, nosso sujeito, quais seus objetivos e como faremos para atingi-los.
Sujeitos
Dez jogadores de basquete amador com idades entre 20 e 30 anos que jogam na categoria adulto. Irão participar de um campeonato amador de basquete que terá início em abril, perdurando até agosto. O campeonato terá jogos todas as semanas, somente no domingo.
Os atletas amadores em questão se mantiveram treinando durante o período de férias nas seguintes atividades: duas corridas semanais de 45 minutos, treinos de musculação duas vezes por semana e jogavam basquete uma vez por semana aos domingos.
Treinamento
Podemos entender o treinamento como o aprimoramento em uma determinada área. Nesse caso o treinamento esportivo seria o aperfeiçoamento do preparo físico, técnico tático, intelectual, psíquico e moral do atleta através de exercícios físicos (WEINECK, 2003).
Segundo Platonov (2008, p. 507), para a preparação física de desportistas é importante destacar alguns elementos estruturais, como:
a preparação plurianual, como conjunto de etapas relativamente independentes e, ao mesmo tempo, inter-relacionadas;
os ciclos médios (mesociclos);
os ciclos pequenos (microciclos)
as sessões do treinamento.
No treinamento a parte mais abrangente é denominada macrociclo, composta por meses, que consiste em uma etapa completa de treinamento. Dentro do macrociclo aparecem os mesociclos que são uma etapa relativamente completa do processo de treinamento. Através deles se tem um melhor controle do programa de treinamento, pois a sua utilização “permite sistematizar a preparação de acordo com a tarefa principal do período” (PLATONOV, 2008, p. 592). Os mesociclos mais conhecidos são os de quatro semanas. Por sua vez, os microciclos tem a duração de alguns dias, geralmente uma semana, e são neles que são realizadas atividades específicas de cada fase de treinamento. Já a sessão de treino nada mais é do que um dia de treinamento.
Tendo ciência da nomenclatura utilizada na definição da periodização do treinamento, ressaltamos que nossa equipe irá iniciar a preparação conosco um mês antes do início do campeonato (março). Nessa fase inicial iremos avaliar os indivíduos, para que possamos ver em que nível de treinamento eles se encontram e o que deve ser dado maior ênfase nos treinamentos.
Para Weineck (2003), os ciclos de treinamento devem ser divididos em: preparatório, período de competições e período de transição. Haddad e Daniel (2005) ressaltam que na fase de preparação deve ser priorizado o desenvolvimento atlético, partindo do simples para o complexo e aumentando o volume e intensidade gradativamente. Boa parte desse tempo deve ser destinada para a preparação muscular, inicialmente com exercícios básicos e de grandes grupos musculares. A relação entre volume e intensidade se inverte na fase final de preparação, quando a intensidade ganha predominância, nessa fase é levada em consideração trabalhos mais complexos e específicos da modalidade, como o desenvolvimento de gestos. Na fase final, há a predominância do trabalho técnico sobre o físico. Já na fase de competição, o treinamento é prioritariamente para a manutenção dos ganhos previamente adquiridos, no qual o trabalho tático prevalece sobre o físico e técnico.
Macrociclo
Esta é a fase mais abrangente do treinamento, nossos atletas realizarão um treinamento de seis meses conosco. Totalizando seis mesociclos, nos quais serão realizados testes, trabalho de base para a pré-temporada, trabalho de reforço muscular, flexibilidade, treinamento aeróbio, anaeróbio lático e alático. Treinamento dos fundamentos específicos do basquete e também a parte tática.
Mesociclo 1 (março – pré-temporada)
Nesta fase tem-se por objetivo conhecer o atleta, é nesse momento que são realizados os testes físicos para ver em que fase de treinamento cada atleta se encontra. A pré-temporada é de fundamental importância, pois é ela que dará a base para um bom desempenho esportivo ao longo da temporada. Além dos testes trabalharemos a resistência geral e o trabalho de ganho de força, inicialmente com exercícios envolvendo grandes grupos musculares. Cabe salientar que no trabalho de força é fundamental o trabalho dos membros inferiores, pois eles são muito exigidos nessa modalidade. Nessa fase, também, é indispensável o trabalho da flexibilidade, pois ela será um agente que ajudará na prevenção de lesões articulares e musculares, bem como é uma capacidade que facilita a aprendizagem e a execução dos fundamentos do basquete (JUNIOR; TRICOLI, 2005). A resistência aeróbia apesar de não ser a principal característica neste esporte, também será desenvolvida para servir de base para o desenvolvimento das demais resistências e para ajudar na recuperação dos atletas. Nessa fase também será abordado o trabalho aeróbio lático através de corrida de tiros e o trabalho técnico através dos fundamentos do basquete.
Inicialmente serão feitos os seguintes testes a fim de levantar subsídios para a estruturação do treinamento:
Resistência aeróbia: teste de Cooper, ou seja, corrida de 12 minutos (WEINECK, 2003);
Resistência anaeróbia: teste de 40 segundos (MATSUDO, 1979);
Força explosiva membros inferiores: salto vertical, de grande significado para o desempenho no basquete. Facilmente avaliado através do teste jump and reach (pule e alcance) (WEINECK, 2003).
Flexibilidade: sentar e alcançar, sem o banco de Wells (pela facilidade).
Avaliação da força muscular membros inferiores e superiores: teste de 1 RM. (DIAS et al., 2005).
Após a realização dos testes os atletas realizarão três treinos semanais exemplificados a seguir:
Microciclo de março
Mesociclo 2 (abril – início do campeonato)
Neste mesociclo se iniciará o campeonato, a equipe realizará três treinos semanais mais os jogos aos domingos. Nessa fase será mantido o treino de força, um pouco mais intenso e no meio da semana para não prejudicar o jogo do final de semana. Um treino regenerativo no dia seguinte ao jogo, treino de flexibilidade, resistência anaeróbia, trabalho tático e aumento do treino técnico. No qual podemos entender a “técnica” como “conjunto de procedimentos e ações que garantem soluções mais eficazes para as tarefas motoras, de acordo com a especificidade da modalidade” (PLATONOV, 2008, p.354).
Microciclo de abril
Mesociclo 3 (maio)
Nesta fase do treinamento o campeonato já terá um mês de duração. Aqui se pretende manter o condicionamento alcançado bem como aperfeiçoar o desempenho da resistência anaeróbica alática, tendo em vista que esta rota metabólica é predominante no basquete. Treinos de força serão mantidos para prevenção de lesões e os treinos técnicos serão os mais desenvolvidos durante as sessões.
Microciclo de maio
Mesociclo 4 (junho)
Fase importante do treinamento, pois aqui a equipe chegará à metade do campeonato. Nesta fase é esperado que o condicionamento geral dos indivíduos esteja em um ótimo nível. O trabalho técnico e a resistência anaeróbia alática continuaram predominando. O trabalho tático receberá a mesma atenção e iniciaremos um trabalho de pliometria para membros inferiores e também superiores. Weineck (2003) avalia que o treino pliométrico é uma boa forma de se desenvolver a força rápida, desde que para isso sejam tomados alguns cuidados como: realizar de seis a 10 repetições; iniciantes não são aconselhados a realizar mais do que duas ou três séries, já avançados indica-se de três a seis séries e atletas de alto nível de seis a 10 séries. Os intervalos entre uma série e outra devem ser em torno de dois minutos e este tipo de trabalho só deve ser realizado na ausência de fadiga e com os atletas bem aquecidos.
Microciclo de junho
Mesociclo 5 (julho)
Nesta fase o campeonato já terá passado da metade, a preocupação maior é para que os atletas não se lesionem devido à carga acumulada até o momento. Aqui já começaremos a baixar a intensidade dos treinos dando ênfase para o técnico e tático sobre o físico.
Microciclo de julho
Mesociclo 6 (agosto – final do campeonato)
Esta fase do treinamento tem como objetivo manter os ganhos previamente adquiridos no treinamento. Aqui temos mais do que nunca a preocupação para que os atletas não se lesionem, pois como é o último mês de competição eles já se encontraram em uma fase em que o desgaste é muito grande. O principal fator abordado neste último mês de treinamento será a parte tática.
Microciclo de agosto
Conclusão
Para que um atleta tenha sucesso em uma modalidade esportiva, seja o basquete ou qualquer outra, é necessário o estabelecimento de objetivos possíveis e, principalmente, um planejamento adequado de seu treinamento. Dessa forma, é fundamental que a periodização seja feita de forma muito cuidadosa, levando em consideração as especificidades do indivíduo e da modalidade.
É de suma importância que uma equipe faça a chamada “pré-temporada” que ocorre, como o próprio nome já remete, antes do início da temporada de atividades. Geralmente ela se inicia um mês antes das competições, às vezes um período um pouco maior, o que se torna melhor para os treinamentos. Nessa fase em que são feitos os testes com os atletas para saber em que fase de treinamento eles se encontram, na pré-temporada em que se desenvolve a preparação física geral. Uma pré-temporada bem realizada poderá evitar que seus atletas se lesionem durante a competição.
Destacamos a importância de se fazer a periodização dos treinamentos com um profissional qualificado, mesmo se tratando de uma equipe amadora, pois esse profissional será capaz de identificar o que necessita ser trabalhado com mais ênfase na equipe de forma geral e nos atletas individualmente. Cabe ressaltar que a periodização não é uma fórmula pronta, ela tem uma linha a ser seguida, mas nada impede que o profissional responsável por ela a altere no seu decorrer dos treinamentos caso perceba necessidades para tanto. Por fim, acreditamos que esse exercício de periodizar, é muito válido para nos aproximarmos da realidade, pois muito ouvimos falar sobre o assunto, mas só realizando o exercício de montar um programa de treinamento, é que podemos perceber o quanto o mesmo é complexo e como inúmeras dúvidas podem vir a surgir durante o seu desenvolvimento.
Referências
DIAS, R. M. R. et al. Influência do processo de familiarização para avaliação da força muscular em testes de 1-RM. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 11, n. 1, 2005.
HADDAD, C. R. R.; DANIEL, J. F. Aspectos práticos da fisiologia do exercício no basquetebol. In: Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Dante De Rose Júnior e Valmor Tricoli (orgs.) - Barueri, SP: Manole, 2005.
JUNIOR, D. de R.; TRICOLI, V. Basquetebol: conceitos e abordagens gerais. In: Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Dante De Rose Júnior e Valmor Tricoli (orgs.) - Barueri, SP: Manole, 2005.
MATSUDO, V. K. R. Avaliação da potência anaeróbia: teste de corrida de 40 segundos. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.1, p 8-16, 1979.
PLATONOV, V. N. Tratado geral de treinamento desportivo. São Paulo: Phorte, 2008.
WEINECK, J. Treinamento Ideal: ilustrações técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. Barueri: Malone, 2003.
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