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Migrações sertanejas: o Sertão é uma espera enorme

Migraciones sertanejas: el Sertao es una espera infinita

 

Professora Dr. Departamento de Política e Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros

Coordenadora e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas do São Francisco, OPARÁ

UNIMONTES/CNPq. Pesquisadora e bolsista FAPEMIG

Andréa Maria Narciso Rocha de Paula

andreapirapora@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo tem por finalidade apresentar uma breve reflexão sobre os movimentos migratórios no século XXI e suas dinâmicas de consolidação, tanto no meio rural quanto no meio urbano, caracterizando quem é o migrante dos dias de hoje. A migração é uma estratégia, uma forma de resistência e uma eterna possibilidade de ficar ou sair.

          Unitermos: Migração. Migrantes. Espaço urbano. Espaço rural.

 

Abstract

          This article aims to present a brief reflection on migratory movements in the XXI century and its dynamic consolidation, both in rural and in urban areas, who's featuring the migrant of today. Migration is a strategy, a form of resistance and a perpetual possibility of staying or leaving.

          Keywords: Migration. Migrants. Urban and rural.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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    As migrações no Norte de Minas Gerais fazem parte da história do povoamento e dos ciclos da nossa região. O processo de formação da região aliado à constituição e consolidação do latifúndio por meio da concentração de terras consolidou o capitalismo rural, provocou a destruição de chapadas e matas do cerrado e a expropriação das populações nativas. Como resultados tivemos uma intensa mecanização do rural, grandes fluxos de migrantes rurais para as grandes e médias cidades do país e da própria região e a urbanização.

    No início do século XXI a migração continua ocorrendo no Norte de Minas, sempre em busca da integração com o mercado de trabalho. Os trabalhadores oriundos do meio rural, camponeses, pequenos produtores, cidadãos de aglomerados rurais de pequenos municípios do interior, possuem dificuldades de inserção no mercado de trabalho, mas perseveram na procura de espaços, em “busca de algum tipo de rendimento”. A sobrevivência de milhares de famílias ainda depende dos constantes deslocamentos espaciais, sem direito às escolhas para onde ir e quando voltar, migrando do sertão.

    Observamos que durante todo o processo migratório os trabalhadores recebem uma única designação: Do norte. Ou seja, mineiros, baianos, são todos nordestinos que vindos do Norte trazem a miséria e são excluídos e são homogeneizados nas cidades enquanto migrantes.1 Ressaltamos que as migrações para as capitais, o interior de São Paulo e novos pólos no Norte do Brasil, continuam a acorrer, mas as migrações intra-regionais, confirmadas pelo censo IBGE/2000 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tornaram-se mais constantes. A migração sazonal, sempre concentrada nos trabalhadores do Norte de Minas, agora já não é a modalidade migratória mais freqüente nos municípios da região. Os trabalhadores rurais em suas idas e vindas começam a fazer a opção de migrar dentro da própria região, migrando no sertão, entre rural e rural e no rural e urbano.

    O estar na cidade não significou participar da cidade. O sair do campo não significou abandonar a miséria e sim falta de oportunidades. Existem também relatos de pessoas bem sucedidas em Montes Claros que foram em princípio migrantes rurais, e que conseguiram, principalmente através do setor de serviços em pequenos e médios negócios, a “sonhada melhoria de vida”. Mas a maioria dos trabalhadores rurais ainda vivem em condições de trabalho injustas e informais. Os migrantes rurais quando mais jovens não querem ser os trabalhadores que foram os seus pais, e sabem que não o serão nunca. A vinda para cidade significa uma vontade de deixar o “trabalho bruto” por um “trabalho melhor”, o que significa estar “fora da roça”.

    Os trabalhadores do campo que já enfrentaram viagens de vapores, viagens de trem de ferro, caminhão pau-de-arara, agora viajam dentro de suas próprias regiões, os destinos que tentam perseguir acontecem em seus lugares de vida e não somente em seus lugares de trabalho. A migração é uma estratégia, uma resistência, uma eterna possibilidade ou impossibilidade de ficar ou sair. Não querem mais o “vôo das andorinhas” Martins (2000). Isto é, na construção de diferentes territorialidades, ficar indo e vindo não tem melhorado a situação das famílias rurais, em um mundo cuja concepção corrente o trata como cada vez mais “desterritorializado” e sem fronteiras. Mundo que desata referências e reconstrói outras e, juntamente com elas, desata famílias e indivíduos que muitas vezes são sua única referência.

    Mudam-se os tempos. Migram agora também jovens mulheres para outras regiões em busca de outras fontes de renda. Muitos vivem da renda dos que migram. Muitos migram ainda hoje para que a sua família não deixe a terra, a casa, a vida simples na margem do rio. Muitos migram para que seus filhos não necessitem migrarem. Muitos migram em família na busca ilusória das cidades grandes que continua perpassando a ideologia da urbanidade. Muitos e muitas não partem, resistem em ofícios de trabalho e seguem aqui construindo a história dos ribeirinhos sertanejos. “As vezes até parece que quem mais fica é quem mais foi.” Relata Dona Maria ao expressar a saudade dos filhos que partiram da Barra do Pacuí/Ibiai há seis meses para a Serra do Salitre no Alto Paranaíba para a colheita do café.

    Os múltiplos antigos e atuais povoadores das terras ribeirinhas do São Francisco poderiam ser divididos entre os “que ficam” em um lugar; os que “migram de um lugar para outro uma ou duas vezes” e ali fixam nova morada; os que “partem e voltam” periodicamente; e os que “se foram daqui para sempre”. Fora os que “não tem parada”, como os vaqueiros e até os jagunços, personagens centrais da obra do sertanejo João Guimarães Rosa. São esses sujeitos que fizeram e fazem o ir e vir nos lugares, nos entre-lugares, nos não-lugares, enfim nos espaços. Confirmamos que para os sertanejos e as sertanejas, as vidas entre idas e vindas mostram que o sertão está em toda parte. Mas que é no rural que querem viver a vida. Deixemos que Riobaldo que foi primeiro errante no sertão e depois um barranqueiro nos fale:

    Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo!

    - só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso? (J. GROSA, 1986, p.26)

Nota

  1. (...) O estereótipo do nordestino migrante, ao qual se resume a identidade regional, é contudo um de seus elementos, definido “de fora” (NET0, 1994, p.22).

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