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Planejamento participativo e interação 

comunitária na Estratégia Saúde da Família

El planeamiento participativo y la interacción comunitaria en la Estrategia de Salud de Familia
Participatory planning and community interaction in the Family Health Strategy

 

Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

(Brasil)

Fabiano de Oliveira Poswar

Christielle dos Reis Carvalho | Juliano Santos Lima

Kênia Rabelo Santana | Lucas Ferreira Rocha

Sara Macedo Faria | Sidinei Quirino Filho

Cláudia Simone Veloso | Jair Almeida Carneiro

faliwar@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          As Diretrizes Curriculares Nacionais evidenciam a formação generalista do profissional médico, que deve ser capaz de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Este trabalho tem como propósito descrever a experiência do Planejamento Participativo realizada por acadêmicos de Medicina da Universidade Estadual de Montes Claros através do módulo IAPSC, inserido em um território do Programa Saúde da Família. O processo de territorialização proporcionou o reconhecimento das particularidades da comunidade e serviu de base para a implantação do Método Altadir de Planificação Popular. Tal método permitiu a identificação dos problemas relatados pelos moradores, que elegeram a falta de lazer para a terceira idade como macroproblema a ser enfrentado. Isso implicou na criação do grupo de idosos Felizidade e o seu envolvimento nas atividades recreativas propostas, como a realização semanal de atividades físicas e a participação dos festejos durante a Semana Municipal do Idoso. Assim, o módulo IAPSC permitiu aos estudantes a integração ensino, serviço e comunidade, bem como a sua atuação como agente transformador do meio, capaz de interagir experiência e habilidade na formação acadêmica.

          Unitermos: Saúde da Família. Educação médica. Planejamento participativo. Idoso.

 

Abstract

          The National Curriculum Guidelines of Brazil is focused in the generalist formation of the medical professional, who must be able to analyze the problems of the society and search for solutions to them. This paper has the purpose of describing the experience of the Participatory Planning performed by students of Medicine of the State University of Montes Claros in a territory of the Family Health Strategy through the IAPSC module. The territorialization process has provided the recognition of the peculiarities of the community and served as the basis for the implementation of the Altadir Method of Popular Planning. This method allowed the identification of problems reported by residents, who elected the lack of recreation for the elderly as the main problem to be faced. This resulted in the creation of the elderly group Felizidade and its involvement in the recreational activities, such as the weekly realization of physical activities and the participation of the celebrations during the Municipal Week of the Elderly. Thus, the IAPSC module allowed to the students the integration of learning, service and community, as well as their role as transforming agents, capable of interact experience and ability in the academic formation.

          Keywords: Family health. Medical education. Community health. Planning. Aged.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O conhecimento do processo histórico que envolve a Reforma Sanitária Brasileira proporciona a compreensão das propostas de adequação da formação profissional contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina, bem como permite o entendimento da integração ensino, serviço e comunidade realizada atualmente pelas escolas médicas através da inserção do estudante em um determinado território e seu consequente processo de aprendizagem na Estratégia Saúde da Família.

    Este trabalho tem como propósito descrever a experiência do Planejamento Participativo realizada por acadêmicos do curso de Medicina da Unimontes através do módulo IAPSC, inserido na equipe de saúde do bairro Santo Antônio, localizado na região sudeste de Montes Claros (MG), entre agosto de 2005 e julho de 2008.

Materiais e métodos

    O Método Altadir de Planificação Popular (MAPP) é um método participativo que respeita a visão que a população tem dos problemas locais que a afetam. Foi desenhado para planejar na base popular e fazer efetivas as propostas de democratização e participação popular. É um método, que, através de discussões, auxilia a compreensão da realidade, a identificação de problemas centrais, a análise desses problemas e a elaboração de propostas para solucioná-los, resultando num plano de ação visando à melhoria da qualidade da saúde. É desenvolvido em reuniões comunitárias orientadas por um moderador, nas quais os moradores da área adscrita expõem a sua opinião, definem soluções e determinam estratégias.

    O MAPP apresenta os seguintes passos: seleção dos problemas; descrição do problema; explicação do problema através da “espinha de peixe” ou da “árvore explicativa”; desenho da situação objetivo; seleção dos nós críticos; desenho das operações e definição das responsabilidades; avaliação e cálculo dos recursos necessários para desenvolver as operações-orçamento; identificação de atores sociais relevantes e sua motivação frente ao plano; identificação de recursos críticos para desenvolver as operações e de atores que os controlem; seleção de trajetórias, análise de vulnerabilidade do plano e desenho de sistema de prestação de contas5. Deve-se ressaltar que esses passos se desenvolvem ora paralelamente, ora continuamente de forma que, na maioria das vezes, não há definição dos limites entre eles.

Resultados

    A comunicação entre moradores do bairro Santo Antônio, equipe de saúde do ESF e acadêmicos do curso médico da Unimontes estabeleceu-se através de reuniões realizadas tanto na unidade de saúde do ESF, como na Escola Municipal Professor Jason Caetano, cuja divulgação foi feita por meio de cartas convites entregues com antecedência aos moradores pelos agentes comunitários de saúde durante as visitas domiciliares, bem como pelos anúncios proferidos durante as missas realizadas na Igreja de Santo Antônio.

    Baseando-se na sequência sugerida pelo MAPP, as reuniões foram estruturadas. Na primeira reunião, foram apresentados à comunidade os resultados obtidos com o processo de territorialização. Em seguida, realizou-se a “chuva de problemas”, processo que consiste numa exposição dos problemas percebidos pelos próprios moradores e que afetam a comunidade. Os problemas relatados foram: Falta de policiamento à noite nas ruas; Falta de coleta de entulho; Lotes vagos abandonados; Presença de ratos e animais peçonhentos; Falta de creche; Violência e tráfico de drogas; Ruas esburacadas e sem asfalto; Restos de lixo que ficam para trás na coleta; Falta de manutenção dos orelhões; Vandalismo e depredação dos telefones públicos; Contaminação do córrego; Falta de conscientização em relação à higiene; Falta de atendimento médico especializado; Falta de remédios; Presença de pernilongos; Falta de atividades extraclasses; Não utilização dos computadores pelos alunos; Demora no agendamento de consultas de retorno; Alergias respiratórias causadas por poeiras; Mesas e carteiras quebradas na escola; Baixa qualidade da merenda escolar; Falta de cobertura na quadra da escola; Má utilização da praça e péssima iluminação; Falta de lazer para a terceira idade.

    Posteriormente, os problemas listados foram retomados, agrupando-os nos seguintes macroproblemas: violência e drogas, má utilização da praça, falta de creche, saneamento, orelhões públicos, atendimento médico, falta de remédios, escola, lazer para a terceira idade e desemprego.

    Na reunião seguinte, a comunidade foi orientada a eleger por meio de votação um macroproblema, dentre aqueles listados, com base nos seguintes critérios:

  • Relevância/importância, sendo cada macroproblema pontuado como de alta, média ou baixa relevância/importância;

  • Enfrentamento, refere-se à capacidade de ação de enfrentar determinado macroproblema, sendo dentro, fora ou parcialmente dentro das condições da comunidade;

  • Urgência, classifica-se o macroproblema em pouca, média ou acentuada urgência.

    O macroproblema escolhido foi “lazer para a terceira Idade”. Seguido em 2º, 3º e 4º lugares, respectivamente, por “violência e tráfico de drogas”, “falta de remédios” e “escola”.

    Antes mesmo de se efetuar a explicação do macroproblema, integrantes da própria comunidade, juntamente com agentes comunitárias de saúde, que se sensibilizaram com a escolha do macroproblema, articularam um grupo de idosos, iniciando, assim, atividades físicas, que ocorriam na rua, em frente à unidade de saúde do ESF, ou na Praça da Igreja de Santo Antônio. O grupo teve apoio de um acadêmico de Educação Física da Unimontes, convidado como instrutor das atividades.

    Na reunião para explicação do macroproblema, seguiu-se o levantamento de suas causas e consequências. O resultado dessa reunião está esquematizado na figura 1.

Figura 1. Árvore explicativa

    Para elaboração do plano de ação, é necessário identificar primeiro os nós críticos. A seleção de nós críticos consiste em identificar entre as causas que explicam o problema, aquelas que, quando modificadas, por si só promovem a alteração de outra ou de uma série de causas. Os nós críticos identificados foram: falta de divulgação, falta de espaço físico para elaboração do grupo de idosos e falta de liderança. Os planos de ação de cada nó crítico encontram-se resumidos nas tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1. Primeiro nó crítico a ser trabalhado: Falta de divulgação

 

Tabela 2. Segundo nó crítico a ser trabalhado: Falta de espaço físico para a realização das atividades do grupo de idosos do bairro Santo Antônio

 

Tabela 3. Terceiro nó crítico a ser trabalhado: Falta de liderança

    O processo de implementação do plano de ação visou levantar soluções, de forma compartilhada, entre os que vivem os problemas, os que querem resolvê-los e os que podem colaborar para isso. Dessa forma, os acadêmicos de Medicina da Unimontes, juntamente com a equipe de saúde do ESF do bairro Santo Antônio, com o objetivo de incentivar a autonomia e a consolidação do grupo recém-formado, promoveram a uniformização do grupo de idosos, a confecção do mural informativo, bem como a divulgação do cronograma das atividades realizadas na Semana Municipal do Idoso.

    Por meio de votação, os moradores elegeram o nome do grupo como Felizidade, cujo slogan era “Vencendo a resistência”. Foi elaborado um desenho representativo para ser estampado na camisa. Em parceria com o Hospital Universitário e com um laboratório de análises clínicas da cidade, as camisas foram confeccionadas.

    O mural informativo, afixado na unidade de saúde, foi criado para que o grupo Felizidade possa expor fotografias, datas comemorativas e notícias sobre as atividades realizadas. Além disso, o grupo ficou responsável por ornamentar o mural com material reciclado.

    Diante da programação da Semana Municipal do Idoso, realizada entre os dias 23 e 29 de setembro de 2006, houve a articulação para que o grupo Felizidade possa participar do evento. Em reunião junto ao Conselho Municipal do Idoso, foi viabilizado transporte e lanche para os idosos e seu acompanhante, já que as atividades foram realizadas em locais distantes do bairro Santo Antônio. Dentre as atividades, pode-se citar a abertura do evento com a concentração dos idosos na Praça da Igreja Catedral e posterior caminhada pelo centro da cidade de Montes Claros/MG; culto evangélico na Igreja Presbiteriana; seresta na Praça da Igreja Matriz, com homenagens e premiações; missa na Igreja Catedral; visita ao Parque Municipal de Montes Claros/MG e baile da saudade no SESC.

    Em relação às atividades físicas, o grupo Felizidade se reúne três vezes por semana na quadra da Escola Municipal Jason Caetano. Primeiramente, é aferida a pressão arterial dos integrantes pelos agentes comunitários da saúde. Em seguida, por orientação do acadêmico de Educação Física, é realizado alongamento e ginástica aeróbica ou caminhada pelas ruas do bairro. Para aprimorar as atividades físicas, os integrantes do grupo utilizam material reciclado durante os exercícios, como garrafas de refrigerante com água ou areia para funcionar como haltere e cabos de vassoura.

Discussão

    O novo paradigma referencia a Vigilância da Saúde como Prática Sanitária, cujas estratégias de intervenção resultam da combinação das ações: Promoção, Prevenção, Atenção e Recuperação. A sua construção deve ser sustentada em três pilares básicos: território, problemas de saúde e intersetorialidade. Nesse sentido, há a inserção e o reconhecimento de um determinado território para, posteriormente, identificar, descrever e explicar os problemas nele contidos, definindo seus nós críticos e atuando sobre eles, mediante um conjunto articulado de operações organizadas intersetorialmente3.

    Nesse sentido, algumas Universidades constroem propostas de integração comunitária, seja de forma curricular ou extracurricular, inserindo os estudantes em situações concretas que permitem a articulação da teoria com a prática em outros cenários de aprendizagem além da sala de aula1. A diversificação dos cenários de aprendizagem é compreendida como uma das estratégias para a transformação curricular. Essa estratégia aproxima os estudantes da vida cotidiana das pessoas e desenvolve olhares acadêmicos críticos e voltados para os problemas reais da população 1,2.

    Uma das opções dessa diversificação é a aprendizagem baseada na comunidade, na qual o estudante permanece durante sua formação inserido em um processo dinâmico de práticas integradas à comunidade, produzindo conhecimento e serviço de saúde para a população 4.

    O processo de territorialização do bairro Santo Antônio proporcionou a inserção acadêmica na área adscrita pelo ESF e o reconhecimento das particularidades da comunidade local, bem como serviu de base para o desenvolvimento do Planejamento Participativo. Isso permitiu a identificação dos problemas relatados pelos moradores e a subseqüente escolha de um macroproblema, que foi analisado buscando-se os possíveis meios de intervenção.

    O macroproblema eleito - “lazer para os idosos” - implicou na criação e organização do grupo de idosos Felizidade que possibilitou um melhor relacionamento entre os integrantes, a criação de vínculos e o envolvimento com as atividades recreativas propostas. A uniformização conferiu credibilidade ao grupo e instigou o respeito nos jovens, que adotaram a ideia frequentando as reuniões e incentivando os familiares a participar das atividades.

    A participação dos festejos durante a Semana Municipal do Idoso proporcionou em alguns componentes do grupo significativa satisfação, já que a maioria não conhecia o Parque Municipal de Montes Claros/MG, nem havia apreciado uma seresta. Através de estratégias organizadas, percebe-se a consolidação de um grupo que vem estabelecendo elos de compromisso, saúde e qualidade de vida.

Conclusão

    O módulo IAPSC permitiu aos estudantes a integração ensino, serviço e comunidade, bem como a sua atuação como agente transformador do meio, capaz de interagir experiência e habilidade na formação acadêmica.

Referências bibliográficas

  1. CARNEIRO, J.A. et al. Unimontes solidária: interação comunitária e prática médica com a extensão. Rev. bras. educ. med. 2011, 35 (2): 283-8.

  2. FERREIRA R.C., Silva R.F., Aguer C.B. Formação do profissional médico: a aprendizagem na atenção básica de saúde. Rev Bras Educ Med. 2007;31(1):52-9.

  3. MENDES, E.V. Uma agenda para a saúde. São Paulo: Hucitec, 1998.

  4. Silva R.F. Prática educativa transformadora: a trajetória da unidade educacional. São Paulo; 2000. Mestrado [Dissertação] – Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

  5. SILVEIRA, C.H. Notas sobre a Metodologia da Estimativa Rápida. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 1998.

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