Iniciação esportiva e especialização precoce La iniciación deportiva y la especialización precoz |
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*Discente da Faculdade de Educação Física da Universidade de Santo Amaro, UNISA **Orientadora e Docente da Faculdade de Educação Física da Universidade de Santo Amaro, UNISA (Brasil) |
Alessander Miranda* Bianca Diniz* | Cristiane Chaves* Elionarda Gomes* | Valdirene Rosa * Profª. Ms. Solange de Oliveira Freitas Borragine** |
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Resumo Esta revisão olha para a criança e adolescentes na iniciação esportiva com foco no problema da especialização precoce. Nosso objetivo é analisar a precocidade da iniciação esportiva e suas conseqüências para a formação e desenvolvimento da criança e adolescente. A metodologia de pesquisa adotada consiste em revisão bibliográfica. Existe uma gama de explicações para definir a idade ideal para início do treinamento esportivo. Alguns autores baseiam-se em critérios biológicos enquanto outros nos fatores psicológicos e emocionais, todavia a importância de se analisar a iniciação e o treinamento esportivo na infância e adolescência têm como principal objetivo o de evitar as complicações do treinamento inadequado e estruturar qualitativamente a base do futuro atleta. Unitermos: Criança. Adolescente. Iniciação esportiva. Especialização esportiva precoce.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Brasil sediará duas grandes competições a nível mundial: a Copa do mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. Devido à magnitude destes dois grandes eventos, evidencia-se a preocupação de vários setores da sociedade acerca da infraestrutura, desempenho e legado esportivos. A preocupação volta-se não somente para este momento, mas também para as ações que formaram, formam e formarão os personagens principais desta cena: os atletas.
Em comparação a grandeza demográfica do nosso país não apresentamos nenhuma posição de destaque no cenário mundial esportivo referente a conquista de medalhas, as tendo como reflexos do bom preparo. A formação de atletas é um assunto muito importante, porque nosso país historicamente não possui políticas públicas que atendam a formação de base adequada, estrutura e apoio para alto desempenho.
A vitória é almejada. A vitória é socialmente um título de prestigio para governos, populações, para família, amigos e para os próprios indivíduos. Dentre as questões que envolvem os atletas desde o primeiro contato com a prática esportiva até o pódio, a principal é a qualidade da formação, ou seja, o processo, o caminho. Qualquer pessoa leiga afirma a importância da aprendizagem e treinamento para o produto final de uma competição. Quais os erros e acertos acerca do treinamento esportivo que acarretam o sucesso/insucesso no esporte? Que fatores levam a maior parte dos jovens atletas à desistência de uma determinada prática?
Olhando mais atentamente, muitas crianças não desistem por vontade própria, são forçadas a desistir ou descartadas por não estarem aptas, saudáveis física ou emocionalmente para continuarem. A idade média dos competidores em grandes jogos esportivos tem caído gradativamente e o nível de exigência aumentado; estudos mostram que a especialização no esporte vem acontecendo precocemente. A preocupação é que a exigência no nível de profissionalização precoce gere problemas como estresse, lesões, falta de convívio social, abandono do esporte por saturação, frustrações ou não aceitação a derrotas.
A Iniciação Esportiva
Encontramos atletas cada vez mais jovens em competições esportivas de nível internacional, a idade dos atletas tem diminuído e isto é um fenômeno visto em vários países.
Um artigo publicado pela FOLHA DE SÃO PAULO (28/7/92), sobre as olimpíadas de Barcelona, indicou que a média de idade da equipe norte americana de natação foi de 23,5 anos, o que demonstra uma certa tendência, novamente, de aumento nas idade médias dos atletas olímpicos. Porém, os dois extremos estiveram presentes, foram vencedores atletas com idade de 14 anos e de 27 anos. (DARIDO E FARINHA, 2005, p.61)
Quando se identifica atletas muito jovens em competições esportivas internacionais como olimpíadas, sabe-se que houve um período de preparação. “De fato, as pesquisas têm demonstrado que se exigem de 8 a 12 anos de treino para um atleta alcançar o nível de elite”. (BALYI e HAMILTON, 2004 apud GALLAHUE, 2005, p.199). Se isto acontece, qual o período em que se iniciam os treinamentos esportivos específicos? Na situação de se ter um atleta de 15 anos em uma olimpíada, nos leva a pensar que ou o tempo de preparação foi longo ou a intensidade foi alta, ou os dois fatores levaram a esta situação. Quais as possíveis consequências do tempo e intensidade da prática para a permanência do atleta no esporte?
Ramos e Neves (2008, p.1) indicam que “a Iniciação esportiva é o período em que a criança começa a aprender de forma específica e planejada a prática esportiva.” Essa iniciação, de acordo com Capitanio (2003) citado por Ramos e Neves (2008), possui duas faces: a primeira é sua utilização como etapa inicial na formação de atletas; a segunda é a iniciação esportiva como etapa elementar na aprendizagem dos esportes com finalidade educativa, recreativa ou de uso cotidiano. No primeiro caso o objetivo é o desempenho através das habilidades específicas esportivas, já no segundo, a amplitude de possibilidades de estímulos objetiva o “desenvolvimento motor, aprendizagem motora, desenvolvimento cognitivo e afetivo-social”. (p.5).
A iniciação esportiva não deve ser confundida com especialização precoce, já que a primeira pode ser tanto uma etapa inicial para futuros atletas quanto uma etapa elementar de formação do indivíduo, que não necessariamente seguirá carreira profissional em esporte, utilizando-o apenas em sua vida diária. Esta utilização é chamada por Gallahue (2005, p.197) de “estágio de aplicação ao longo da vida”.
Gallahue (2005) propõe a ideia de que o domínio e o desenvolvimento motor solicitado para o desempenho esportivo acontecem em fases sequenciais: movimentos reflexos, movimentos rudimentares, movimentos fundamentais e movimentos especializados. A fase de movimentos fundamentais compreende ações básicas e gerais como correr, saltar, lançar. O esporte exige movimentos especializados, que são movimentos específicos qualitativamente maduros e combinação de movimentos fundamentais. A maturidade do movimento demonstra o desenvolvimento qualitativo que se atinge progressivamente em uma habilidade. Para o autor (p.198) “Uma progressão bem-sucedida por meio de transição, aplicação e estágio de aplicação ao longo da vida em uma tarefa de movimento particular depende de níveis maduros de realização na fase de movimento fundamental”.
O grande problema-desafio para o alto desempenho esportivo é a aquisição de movimentos maduros em cada fase de desenvolvimento. Para o atleta de basquetebol, por exemplo, as habilidades de correr, saltar, arremessar devem ser bem estruturadas, logo, o problema não é a especialização precoce e sim a especialização prematura que acontece quando o aluno passa para o treinamento de habilidades especializadas sem que as habilidades fundamentais estejam maduras.
Muitas crianças estão aptas a atuar com maturidade na maioria dos movimentos fundamentais aos 6 anos; entretanto, por falta de estímulos do ambiente e práticas limitadas e irregulares encontramos adultos com padrões rudimentares em muitas habilidades básicas. A iniciação esportiva deve respeitar os padrões maturacionais para a transição de estágios, principalmente a especialização, mesmo que a criança esteja cognitivamente e afetivamente pronta. Os movimentos especializados serão prejudicados se os movimentos fundamentais não forem bem estruturados. (GALLAHUE 2005).
Neste sentido a variabilidade da prática é um item fundamental nas etapas iniciais da iniciação esportiva, visto sua importância para a atuação esportiva quanto para a formação ampla do indivíduo:
As crianças são, com frequência, incentivadas a refinar suas habilidades em um determinado esporte em tenra idade. A especialização precoce em esporte não é prejudicial em si, mas a especialização prematura pode apresentar um alto custo. O desenvolvimento de uma ampla variedade de habilidades de movimento fundamental maduro poderia ser sacrificado, consequentemente limitando o potencial para a participação em uma grande variedade de jogos, brincadeiras e atividades esportivas. (GALLAHUE, 2005, p. 200)
De acordo com Gallahue (2005) existem três estágios para a fase de especialização: o primeiro é o Estágio de transição (estágio de aprender a treinar) que acontece nas crianças de 8 a 12 anos, quando as habilidades de movimento fundamental maduro são refinadas e aplicadas aos esportes e jogos da cultura. O segundo é o Estágio de aplicação (estágio de treinar a treinar) aonde habilidades complexas são refinadas e a maturação biológica permite rotinas de treinamento mais intensas, dirigidas a aumentar a força muscular e a resistência, assim como a resistência aeróbica. As habilidades e táticas exigidas por diversos esportes são consolidadas e as tentativas de domínio são intensificadas.
Estágio de aplicação ao longo da vida (estágio de treinar para competir/participar) é o terceiro estágio referido pelo autor, que objetiva maximizar a performance das habilidades esportivas que foram dominadas, a ênfase é colocada em uma ótima preparação física, psicológica e tática.
Gallahue (2005) estabelece parâmetros para a iniciação esportiva a partir de conceitos maturacionais, já Almeida (2005) citado por Ramos e Neves (2008, p.1) a caracteriza em três estágios estritamente cronológicos: O primeiro refere-se às crianças de 8 e 9 anos, e Almeida (2005) sugere um trabalho voltado à aquisição de habilidades motoras e destrezas específicas e globais, realizadas através de formas básicas de movimentos e de jogos pré- esportivos, devendo ser uma atividade motivante, prazerosa e diversificada; nesta fase a criança ainda não está preparada para a competição. O segundo estágio compreende crianças de 10 e 11 anos, e o objetivo é introduzir técnicas fundamentais, regras e táticas gerais através dos jogos, pensando principalmente no aspecto sócio-educativo do esporte e a cooperação. A partir dos 12 anos identifica-se o terceiro estágio, e nesse há o aperfeiçoamento das qualidades físicas e táticas.
Para Ramos e Neves (2008) a iniciação esportiva especializada deve se iniciar a partir dos 12 anos, e apresenta:
Na iniciação geral, dos dois aos 12 anos de idade, o objetivo maior é a formação, a preparação do organismo e esforços posteriores, o desenvolvimento das qualidades físicas básicas e o contato com os fundamentos das diversas modalidades. Não deve haver uma preocupação centralizada na competição esportiva. Na fase seguinte, entre 12 e 14 anos, o adolescente é orientado para a especialização esportiva. (p.3)
Discutindo a especialização esportiva precoce
A especialização precoce para Añó (1997) citado por Ramos e Neves (2008, p.3-4), caracteriza-se pela prática intensa, sistematizada de crianças e jovens antes da idade considerada normal, aliada a aplicação de sistemas de treinos inadequados, ou seja, treinos de adultos. Para Kunz (1994) é um processo que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo de aumentar o rendimento além da participação periódica em competições esportivas. O autor ainda nos atenta para a influência do volume e intensidade do treinamento. A referência da puberdade citada por Kunz (1994) também é apresentada por Gallahue (2005)
Devido à dificuldade em determinar a maturidade biológica no jovem atleta, muitos treinadores experientes baseiam-se no período de 12 a 18 meses após a velocidade-pico da altura. Embora aqueles que têm a maturação precoce ou tardia possam variar consideravelmente, a velocidade-pico da altura ocorre, em média, nos indivíduos do gênero feminino com cerca de 11 anos de idade e nos indivíduos do gênero masculino por volta dos 13 anos. Consequentemente, as idades entre 12 e 14 anos para os dois gêneros, respectivamente, constituem o momento ideal para se enfatizar o treinamento aeróbico, de força e de resistência (BALYI & HAMILTON, 2004 apud GALLAHUE, 2005, p.201)
Gallahue (2005) indica alguns esportes que necessitam de especialização precoce (antes dos 10 anos) como ginástica e mergulho e outros de especialização tardia (após os 10 anos) como todos esportes de equipe, atletismo e a maioria dos aquáticos.
Alguns pesquisadores consideram a faixa etária de 12-14 anos como a mais indicada para que a criança comece a participar do treinamento de uma modalidade específica, assim como, de eventos competitivos (Bompa, 1999; Greco & Benda, 1998; Tani, Manoel, Kokubun & Proença, 1988; Weineck, 1999). De acordo com Roberts (1980) e Roberts & Treasure (1992), a criança até os 12 anos não deve participar de atividades esportivas específicas e de competições formais, por não possuir maturidade suficiente para compreender e assimilar tudo o que está envolvido em um processo competitivo. (ARENA E BÖHME, 2000, p.184)
Para Gallahue (2005) algumas habilidades específicas já podem ser iniciadas aos 10 anos aproximadamente, porém o treinamento e exigência das capacidades físicas devem se iniciadas a partir dos 12 anos. A referência de 12 anos para início do treinamento é um parâmetro para autores brasileiros como Kunz (1994), outros autores, como os já citados por Arena e Böhme (2000) determinam esta idade exclusivamente pelo prejuízo psicológico que as frequentes competições formais podem causar.
Conforme estudos de Arena e Böhme (2000) o treinamento pode ser classificado em três etapas, importante notar que a etapa de treinamento de alto rendimento inicia-se a partir de 17-18 anos, algo discrepante se comparado aos argumentos de maturação biológica dos autores anteriores:
a) Etapa de iniciação e formação básica geral, normalmente desenvolvida na fase dos sete aos 12-13 anos de idade; b) Etapa de treinamento específico, período destinado ao aprimoramento dos gestos específicos da modalidade, ou quando inicia-se a organização e sistematização do treinamento, a partir dos 13 anos de idade; c) Etapa de treinamento de alto rendimento, que compreende a fase de estabilização das capacidades coordenativas com aumento otimizado das capacidades condicionais, recomendado para a fase final da adolescência, a partir dos 17-18 anos de idade. (p. 186)
A finalidade de todo treinamento é o aprimoramento, rendimento e performance esportiva e Gallahue (2005) alerta para que os treinadores, técnicos e educadores não pensem somente na execução perfeita do movimento, uma vez que há outros fatores tão importantes quanto, como bem registra que a preocupação deve atender “a meta global do aprimoramento, com suas três ênfases: controle do movimento, controle emocional e prazer da aprendizagem”. (p.212)
Alguns malefícios da especialização precoce acontecem a nível psicológico, por isso o controle emocional é importante. A competição de forma frequente e formal pode trazer desequilíbrios pelo fato da criança não compreender o contexto que se encontra e sofrer de estresse excessivamente. O nível de desenvolvimento do jovem atleta depende de “cuidadosa manipulação da proporção treinamento-competição” (GALLAHUE, 2005 p. 201)
Ainda sobre a competição Ramos e Neves (2008) explicam que a avaliação do desempenho esportivo deve ter outro significado, além do perder ou ganhar. “O êxito e o fracasso devem ser dimensionados, tendo como referência os avanços realizados pela criança em relação ao seu próprio processo de aprendizagem e não por uma expectativa de desempenho predeterminada.” (p.6).
Consequências da especialização precoce para o crescimento e desenvolvimento da criança e adolescente
Segundo Santana (2005) citado por Ramos e Neves, (2008) as consequências da especialização precoce podem ser classificadas em três categorias: a) estresse por competição; b) saturação esportiva e c) lesões. O estresse por competição refere-se ao medo de errar e insegurança que interferem na autoestima. Saturação esportiva refere-se ao excesso de prática que pode causar desinteresse e desânimo, possivelmente também provocando a terceira categoria, que são as lesões.
Voser (2003) citado por Silva e Ulbrich (2011) complementa as consequências negativas da especialização precoce em quatro categorias:
“Os riscos de tipo físico” – que estão relacionados com a saúde corporal das crianças (principalmente lesões), normalmente devido ao grande número de repetições dos gestos técnicos. Os riscos de tipo psicológico – relativo ao estado mental e de conduta dos sujeitos (ansiedade, estresse, frustrações). Os riscos de tipo motriz – falta de base poliesportiva, suas destrezas tornam-se especificas para um tipo de esporte. E os riscos de tipo esportivo – com a especialização não se pode saber quais as características (físicas, técnicas, psíquicas, motrizes, etc.) do futuro atleta de elite, pode que esse mesmo atleta, no futuro não apresente as condições exigidas para aquele determinado esporte. (p. 131)
Arena e Böhme (2000, p.187) pesquisaram a iniciação esportiva nos principais locais de treinamento da grande São Paulo (quadro 4, p. 187) buscando identificar a idade que as crianças iniciam o treinamento esportivo em clubes esportivos:
Analisando os dados constata-se que muitas crianças iniciam o treinamento esportivo específico em tenra idade. A modalidade mais preocupante é a ginástica, que indica o início aos 3 anos, verifica-se, portanto, que mesmo antes da idade ideal as crianças estão sendo submetidas a uma preparação esportiva que visa rendimento, uma vez que a finalidade do treinamento é a competição.
Sobre a classificação de criança e adolescente em relação a idade, Eisenstein (2005) apresenta que “no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos”. (p.6)
Conforme os estudos de Arena e Böhme (2000) se observa que “um grande número de entidades esportivas inicia a prática específica de uma modalidade em idades abaixo das recomendadas pela literatura, com exceção na modalidade atletismo”. (p.189)
Quanto aos coletivos, verificou-se que 53% das entidades esportivas iniciam a prática específica do basquetebol, handebol e voleibol, por volta dos 9-10 anos; isso indica, aproximadamente, dois anos antes da idade da primeira categoria federada de competição, que ocorre nas três modalidades por volta dos 12 anos de idade; o mesmo ocorreu com o futsal, apenas em idades diferentes (7-8 anos), onde 53% das entidades esportivas iniciam a prática específica por volta dos 6-8 anos. (ARENA E BÖHME, 2000, p.189)
Arena e Böhme (2000) identificaram a tendência da especialização precoce em todas as entidades que participam de competições das federações. “Quando a modalidade se inicia muito precocemente (ginástica, natação e judô), a idade de competição das duas primeiras categorias coincide com a faixa etária de iniciação específica.” (p.189), ou seja, as primeiras categorias de algumas modalidades estão acontecendo enquanto se deveria iniciar o treinamento. O fator que os autores buscam chamar a atenção é que os técnicos e professores, como também a maior parte dos dirigentes é formada em Educação Física, no entanto, não efetivam ou não correlacionam a prática à literatura sobre o tema apontado.
Darido e Farinha (1995) entrevistaram 10 ex-atletas de natação profissionais, alguns, inclusive, recordistas brasileiros e sul-americanos que participaram de competições internacionais, e oito destes começaram seu treinamento na modalidade natação entre 7 a 9 anos. Deste total, seis deixaram de nadar entre 17-21 anos e três largaram as competições aos 17. Os autores identificaram também que oito dos 10 sujeitos alegaram que as famílias os conduziram à prática da modalidade, e como iniciaram crianças, o incentivo primário dos pais foi primordial, enfatizando que a influência externa atua de forma bastante efetiva.
De acordo com Leite (2007) apud Silva e Ulbrich (2011)
a influência dos eventos esportivos divulgados com frequência pelos meios de comunicação, a identificação com ídolos, a pressão dos pais e amigos e a esperança de se obter sucesso e status fazem com que um número crescente de crianças inicie sua prática cada vez mais precocemente. (p.123)
Como ponto positivo do treinamento esportivo, os atletas apontam que a prática contribuiu em sua formação e desenvolvimento “da força de vontade, da dedicação, da determinação para conseguir algum resultado” (DARIDO E FARINHA, 1995, p.65)
De acordo com Darido e Farinha (1995), quanto às relações sociais os participantes informaram privação de relacionamentos com pessoas, uma vez que tinham pouco tempo ao lazer. Apresentaram também como ponto negativo, os fatores de rivalidade e competitividade até mesmo com os colegas do grupo como, também, limitações no contato com outras atividades pelo risco de lesões e alimentação restrita. Relacionando os motivos de desistência identificou-se a lesão e a saturação esportiva como fatores importantes. “...chegado ao meu limite, não tinha mais motivação para treinar e sentia que o meu progresso estava cada vez mais lento” (p.67).
Segundo Darido e Farinha (1995) os resultados mostraram que 75% dos atletas que foram campeões nas categorias menores não atingem a categoria adulta e 25% dos que atingem a fase adulta, apenas 5,4% do total conseguem conquistar o primeiro lugar em alguma prova. Corroborando com os autores quanto a relação entre especialização precoce e abandono precoce, Oliveira et al. (2007) chegaram a conclusão que a maioria dos ex-atletas, ou seja, 67% atingem o pico na categoria infantil, 25% na categoria mirim e se mantém até a categoria petiz e 8% na categoria juvenil. Os dois estudos registram que muitos atletas desistem por baixo rendimento. Os autores indicam que um dos fatores que mais contribui para este fato é a falta de vivências motoras, que acarretam na pobreza de repertório motor impossibilitando avanços futuros, ou no caso da intensidade do treino ser alta e impedir que o atleta continue a praticar por lesões decorrentes.
Diante dos registros o que podemos apontar quanto à idade de inicio dos treinos relacionadas com a idade de competição estipuladas pelas federações. é que se não houver competições para as crianças, todo este cenário pode mudar, pois a cobrança sobre as categorias menores será outra.
Considerações finais
Entender a especialização precoce é ir um pouco além do pensamento que o gera: quanto mais o aluno treinar mais vai render. Este fenômeno é um reflexo do funcionamento e valores na nossa própria sociedade. Nossa era é a época do rendimento, tudo precisa render: as máquinas, as pessoas, o tempo. Estamos confundindo o objetivo de superar limites por meio do esporte de rendimento por resultados a qualquer custo. A prioridade pelo resultado gera um custo para a criança e adolescente submetidos ao treinamento esportivo precoce.
Embora possamos observar divergências sobre a idade ideal para iniciar o treinamento esportivo, pois alguns autores baseiam-se em critérios biológicos como maturação, outros em fatores psicológicos e emocionais, eles concordam que não se inicia antes dos doze anos. Todos concordam, ainda, que o treinamento para competição é uma exigência que pode lesionar o indivíduo se este processo ocorrer precocemente. As lesões podem ser de diferentes tipos: lesões osteomusculares acontecem pelo uso exagerado de determinado segmento; o volume e intensidade dos treinos podem acarretar em overtrainig (fadiga geral); privação social e de outras experiências; desequilíbrios emocionais como insegurança e aversão à competição.
As crianças e adolescentes que são submetidas a esses treinos vigorosos são sobrecarregadas ainda mais porque estudam. Observando-se que muitas crianças treinam cerca de três a quatros horas diárias, somadas ao tempo de deslocamento e tempo de estudo, supõe-se que o período livre e de lazer seja restrito ou até ausente.
Em São Paulo, de acordo com os apontamentos realizados por nós, o sistema de seleção inicia o treinamento por volta de dois anos antes da primeira categoria da modalidade. Isso significa que crianças estão recebendo treinamento com objetivo competitivo. Quem determina a idade das competições em cada modalidade é a respectiva federação do esporte, é necessário, portanto, a mobilização dos profissionais envolvidos para que as crianças não sejam estimuladas a competir precocemente.
Os dirigentes fazem este sistema de seleção por tradição, e os técnicos continuam sua metodologia de treino sem atualizações. Os pais querem o melhor para os filhos, mas eles não costumam ter conhecimentos acerca dos possíveis comprometimentos, como os têm os profissionais de Educação Física, além de não possuírem obrigação de conhecer o que a ciência diz a respeito do tema. Federações, técnicos, dirigentes e profissionais da área que recorrerem à literatura científica sobre o tema constatarão o quanto a iniciação esportiva é decisiva para o futuro do atleta.
Em nossas buscas sobre o tema nada prova que, quanto mais cedo e mais tempo a criança treinar, melhores serão os resultados, pelo contrário, a literatura adverte sobre os riscos da especialização precoce. Os pesquisadores orientam que a iniciação esportiva seja a partir de uma formação básica, de caráter diversificado e ricas experiências de movimento com o objetivo de desenvolver as habilidades básicas e gerais, necessárias à especialização. Esse é o caminho apontado para o sucesso do futuro atleta, das nossas atuais crianças e adolescentes.
Referências bibliográficas
ARENA, S. S. e BÖHME, M.T.S. Programa de iniciação esportiva na Grande São Paulo. Revista Paulista de Educação Física. V. 14, n. 2, p.184-95. São Paulo, jul./dez 2000.
DARIDO, S. C. FARINHA, F. K. Especialização precoce na natação e seus efeitos na idade adulta. Revista Motriz, volume 1, número 1, p. 59-70, junho, 1995
EISENSTEIN, E. Adolescência: definições, conceitos e critérios. V.2, nº2, Revista Adolescência & Saúde, junho, 2005.
GALLAHUE D. L. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade de movimento especializado Revista da Educação Física/UEM , v. 16, n. 2, p. 197-202. Maringá, 2005.
KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
NUNOMURA, M. et al. Ginástica artística e especialização precoce: cedo demais para especializar, tarde demais para ser campeão! Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v.24, n.3, p.305-14, jul./set., 2010.
OLIVEIRA G.S. et al. A relação entre a especialização precoce e abandono prematuro da natação. Movimento e Percepção, v.8, n.11. Espírito Santo do Pinhal, jul/dez, 2007
RAMOS, M. A. e NEVES , R. L. R,. A iniciação esportiva e especialização precoce a luz da teoria da complexidade. Pensar a Prática. 11/1, p. 1-8, jan./jul. 2008.
SILVA, L. S. e ULBRICH, A. Z. A iniciação ao futsal para crianças: os riscos da especialização precoce. Revista Caminhos. “Dossiê Saúde”, Rio do Sul, a. 2, n. 3, p. 121-133, abr./jun. 2011.
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