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Inclusão com uma visão da Educação Física acerca da saúde

Inclusión con una visión de la Educación Física sobre la salud

Inclusion with a vision of physical education about health

 

*Doutorando em Educação PUCRS. Técnico Desportivo

Professor Temporário da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA

**Mestre em Educação PUCRS. Professora da Universidade

de Caxias do Sul (UCS), Centro de Filosofia e Educação

***Doutorando em Educação PUCRS

****Pós-doutor em Psicologia/Universidad Autónoma de Madrid – Espanha

Doutor em Ciências Humanas/Educação, professor titular da Fac. de Educação

da PUCRS e do Centro Universitário La Salle

*****Pós-doutor em Psicologia /Universidad Autónoma de Madrid – Espanha

Doutor em Pedagogia, Livre Docente em Psicologia da Educação

Professor titular da Fac. de Educação e de Letras da PUCRS

(Brasil)

Marcio Alessandro Cossio Baez*

marciobaez@unipampa.edu.br

Maria Christine Quillfeldt Carara**

mcqcarar@ucs.br

Adelar Aparecido Sampaio***

adelarsampaio@bol.com.br

Claus Dieter Stobäus****

stobaus@pucrs.br

Juan José Mouriño Mosquera*****

mosquera@pucrs.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo perspectiva levantar a discussão e reflexão acerca do processo de inclusão no campo da Educação Física sob a perspectiva da saúde. A Educação inclusiva é hoje um dos desejos de uma sociedade que ainda estigmatizar e discrimina seus especiais. O maior desafio e transformar a cultura dominante desencadeando um movimento coletivo de ao longo dos anos, através de ações de profissionais da Educação e porque não da Educação Física, mudar e reverter esse quadro. Para incluir, destacamos que a inclusão das pessoas portadoras de necessidades educativas especiais é benéfica. No entanto, a inclusão escolar não é um processo rápido, automático e sim um processo gradativo, além de ser responsabilidade de toda sociedade, que deve sentir-se comprometida, viabilizando assim, a plena integração do indivíduo.

          Unitermos: Inclusão. Educação Física. Saúde.

 

Abstract

          This article perspective raises discussion and reflection about the process of inclusion in the area of physical education under the perspective of health. The Inclusive Education is today one of the desires of a society that still stigmatize and discriminate their specials. The biggest challenge and transform the dominant culture of triggering a collective movement through the years, by actions of professional education and not because of Physical Education, change and reverse this situation. To add, we emphasize that inclusion of people with special educational needs is good. However, school inclusion is not a rapid process, but an automatic gradual process, and it is the responsibility of all society, that must feel compromised, thus enabling the full integration of the individual.

          Keywords: Inclusion. Physical Education. Health.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Inclusão, como processo social mais amplo, vem acontecendo em todo o mundo, a partir das últimas décadas num movimento que têm encaminhado o propósito de adaptação, acolhimento e cultivo do diverso e das diferenças e abertura de um espaço plural para a construção de uma educação que atenda necessidades educativas de acordo com as características de cada um, fator imprescindível para que a pessoa com necessidades especiais possa buscar seu desenvolvimento e exercer uma melhor cidadania. O debate sobre a inclusão decorre especialmente dos significativos avanços produzidos pela democratização da sociedade, os quais apontam para a emergência da construção de espaços sociais mais includentes e de alternativas para o convívio na diversidade.

    A expressão inclusão em educação, criada na década de 90 pela comunidade científica para expressar o ideal de Educação para Todos, recomendado em 2000 pela UNESCO, causou e ainda causa polêmicas, alguns conflitos na própria comunidade acadêmica, enquanto possibilidade em sua aplicabilidade global, bem como para os docentes que estão atuando neste campo, gerados talvez, pela busca de práticas inclusivas socialmente mais abrangentes, pautadas de acordo com parâmetros externos aos próprios contextos nos quais as diversas formas de inclusão ocorrem.

    Na Educação Física, o termo inclusão refere-se mais à Educação Física Adaptada e surgiu oficialmente nos cursos de graduação através da Resolução 3/87 do Conselho Federal de Educação, a qual prevê a acessibilidade aos alunos portadores de deficiências e outras necessidades específicas.

    Contudo, sabemos que muitos professores de Educação Física que atuam nas escolas não receberam em sua formação conteúdos e/ou assuntos pertinentes à Educação Física Adaptada ou à Inclusão, o no realizaram posteriormente, em termos de extensão, formação em serviço ou formação continuada.

    Esse atual contexto nos leva a tentar refletir, provindos da área da Educação Física e da Educação (com forte aproximação através de Medicina e Ciências do Esporte e Psicomotricidade), se é possível incluir efetivamente todos os alunos nas aulas de Educação Física, em uma classe regular, dentre numa realidade em que é possível verificar uma prática repressora e competitivo de realidades muitas vezes mais voltadas à performance, em detrimento do esporte e lazer. Por outro lado, a escassez de alternativas práticas, a falta de melhor preparo na formação (continuada) do docente, a falta de adaptação de espaços e práticas, constituem-se sem dúvida entraves, sendo um grande desafio no campo educacional.

    Esses apontamentos iniciais nos conduzem a um aprofundamento nessas questões, baseados em referenciais que utilizamos nas interfaces nessas duas áreas, a fim de tentar construir um embasamento teórico para reflexão, mais contextualizado.

Inclusão Escolar

    Para pensar e fazer inclusão temos que considerar antes quais são e como se processam os mecanismos de exclusão, conceitos que foram criados historicamente e são ‘re-criados’ ao longo da história, e tentar então refletir sobre a formação docente para atuar na Educação Inclusiva.

    A inclusão escolar, enquanto movimento da sociedade atual, tem uma história de aproximadamente três décadas em direção a sistemas educacionais considerados mais inclusivos. Para Duck (2006, p. 58), a Educação Inclusiva acena para:

    [...] uma nova visão da educação, que recupera seu caráter democrático através da adoção do compromisso legal com a oferta de educação de qualidade para todos, na qual a diversidade deve ser entendida e promovida como elemento enriquecedor da aprendizagem e catalizador do desenvolvimento pessoal e social.

    Para Carneiro (2007, p. 29), o termo inclusão remete à idéia de uma sociedade inclusiva, capaz de produzir igualdade de oportunidades para todos. Porém, quando focada sob o ângulo mais individual, favoreceria a construção da identidade pessoal e social, sendo chamada na literatura especializada de autodeterminação, enquanto a inclusão remete à sociedade inclusiva, mas a expressão de Educação Inclusiva remete ao:

    [...] conjunto de processos educacionais da execução de políticas articuladas impeditivas de qualquer firma de segregação e de isolamento. Essas políticas buscam alargar o acesso à escola regular, ampliar a participação e assegurar a permanência de todos os alunos nela, independente de suas particularidades. Sob o ponto de vista prático a educação inclusiva garante a qualquer criança o acesso ao Ensino Fundamental, nível de escolaridade obrigatório a todo cidadão brasileiro [...].

    A principal ferramenta para a verdadeira transformação social está no campo da Educação, considerando-se que as desigualdades sociais e o desrespeito às diferenças são tão banalizados no cotidiano. A escola é, sem dúvida, o espaço no qual se pode refletir sobre essas temáticas, pois nela também são reproduzidas as relações desiguais, especialmente em relação a limitações e a deficiências. Assim, a Educação Inclusiva têm um papel fundamental para a minimização de todo e qualquer tipo de exclusão escolar, para elevar ao máximo o nível de participação, coletiva e individual de seus integrantes, destaca Santos (2003).

    Para Sassaki (1997) a inclusão é um processo mais amplo, já que requer pequenas (e grandes) transformações nos distintos ambientes sociais e supõe um novo repensar sobre a condição humana por todos os sujeitos envolvidos, quer nos ambientes físicos, quer na ‘mente’ de todas as pessoas, inclusive da própria pessoa com suas necessidades especiais, para que ocorra a promoção de uma sociedade mais aberta, que aceite e valorize as diferenças individuais, aprenda a bem conviver com o diverso e diferente, dentro da grande diversidade humana, com compreensão e cooperação.

    Para Paulo (2005) a capacidade que uma cultura tem de lidar com as heterogeneidades que a compõe tornou-se uma espécie de critério de avaliação de seu estágio evolutivo, deixando de ser uma preocupação exclusiva entre governantes, especialistas, e ou de um grupo delimitado de cidadãos com alguma diferença, passando a ser uma questão fundamental da sociedade como um todo.

    Para Duck (2006), apesar da universalização e expansão da Educação Básica e dos processos de reformas educacionais para melhoria da qualidade e equidade na nossa Educação, ainda persiste a desigualdade de oportunidades educacionais, pois os avanços nos sistemas educacionais ainda não apresentam respostas eficientes para diminuir as diferenças sociais, econômicas, geográficas, lingüísticas, culturais e individuais, chegando mesmo a excluir a tal ponto que aparece aumento no índice de analfabetismo funcional, na evasão escolar e na exclusão social. Portanto, é necessário criar as melhores condições para o desenvolvimento escolar para todos(as) os envolvidos na Educação, que garanta que ela seja de qualidade e atue com equidade, o que pressupõe basicamente o desenvolvimento de uma nova cultura educacional.

    No entanto, a inclusão no próprio espaço escolar ainda é um desafio, podendo ser um reflexo do legado de práticas tradicionais de ensino, muitas vezes baseadas na pura e simples transmissão de conhecimentos, bem como decorrentes do discurso de falta de preparação por parte dos professores, de acordo com Mantoan (2003).

    Já para Beyer (2006, p. 27), educar é confrontar-se diariamente com a diversidade, pois o professor reconhece que todos seus alunos são diferentes, ao considerar que não há um ser humano igual ao outro. Entretanto, a escola como instituição de ensino em que ocorre a Educação formal, tradicionalmente ainda orienta-se pelo estabelecimento e/ou pela busca de uniformidades, ao tentar tratar todos de forma igual, e ele assinala que “uma verdadeira escola para todos até agora permanece como uma esperança ou utopia”.

    Comenta ainda Duck (2006, p. 58) que, “para que uma escola se torne um modelo de Educação Inclusiva, não deve haver exigências quanto a acesso nem mecanismos de seleção ou discriminação de qualquer espécie”, estando em acordo com a legislação brasileira, desde que a Constituição Federal de 1988 assumiu formalmente os mesmos princípios postos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

    Carneiro (2007, p. 30) nos lembra que escola Inclusiva “é instituição de ensino aberta à matrícula de TODOS os alunos indistintamente”.

    É inegável o papel de normatização e apoio que as leis desempenham para o processo de inclusão escolar, entretanto, por si só, elas não representam a condição imprescindível para garantir a qualidade de uma educação para todos e, com isso, provoquem mudanças significativas. Como exemplo destacamos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/1996, que determina que o direito à escola é universal, promovendo a cidadania sem discriminações. Para que este direito possa tornar-se de tal forma efetivo para incluir-se uma pessoa com deficiência, torna-se necessário um conjunto de fatores tais como a eliminação de barreiras arquitetônicas, qualificação dos profissionais envolvidos no processo, conscientização da comunidade escolar, entre tantos outros elementos, afirma Krug (2002). Ainda de acordo com esta mesma legislação, as pessoas com deficiências devem ser inseridas preferencialmente na rede regular de ensino, não descartando, entretanto, a Educação Especial. Aqui já existem polêmicas de pais que acham que a educação na rede particular deva realizar a mesma prática, o que recentemente causou inclusive ação judicial, em que os pais não foram acolhidos, sendo sugerido procurarem a rede pública de ensino, que atende a legislação.

    O conceito de aluno com deficiência, segundo a convenção da Guatemala e decreto 3.956/2001, como destaca Carneiro (2007, p. 30), é;

    [...] uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.

    A Educação Especial, segundo o artigo n.58 da LDB/96 (BRASIL, 1996) é “a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Esse atendimento “será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. Porém, o termo ‘preferencialmente’, contido nesta lei, ainda tem provocado distorções, como a substituição do ensino regular pelo ensino especial. Com isso pode acontecer o descomprometimento, pela escola regular, em oferecer o atendimento educacional especializado no turno inverso, por exemplo.

    O entendimento equivocado desse dispositivo legal tem dificultado o processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em classes regulares, apesar de constar no artigo 4, inciso 22, que também determina que o acesso ao Ensino Fundamental é obrigatório, segundo Melo e Silva (2004).

    A atual Política de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) prevê a superação da lógica da exclusão, propõe mudanças nos serviços oferecidos pela Educação Especial, reforçando a idéia de atendimento educacional especializado a ser realizado na escola regular no turno inverso, em salas de recursos multifuncionais, em direção a sistemas educacionais mais inclusivos. Entretanto, apesar dos esforços em prol da Educação Inclusiva, a estrutura social e econômica vigente não tem ajudado as instituições de ensino regulares a efetivamente realizar um adequado atendimento educacional especializado a todos seus alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e menos ainda aqueles com altas habilidades/superdotação, público muitas vezes ‘esquecido’, mas constante também na Educação Especial. Ocorre, desse modo, a lenta e gradativa exclusão de alguns desses alunos, mesmo daqueles inseridos no espaço escolar regular, colocando em dúvida a eficácia da Educação Inclusiva, em nosso país.

    O movimento da inclusão voltado à pessoa com deficiência a partir da Declaração de Salamanca em 1994 (BRASIL, 1994a, b), realizada na Espanha, foi um importante passo rumo ao direito à igualdade e à eliminação da discriminação.

    Porém, de acordo com Fávero (2004, p. 36), “para que esse direito a igualdade seja respeitado é preciso tratar desigualmente aos desiguais a partir de Aristóteles”. Nessa ótica, a inclusão escolar prevê tratamento diferenciado aos desiguais por considerar adequações necessárias ao pleno desenvolvimento e acesso de quem tem limitações físicas, sensoriais ou mentais, adequações estas que são dispensáveis a quem não tem essas limitações, sendo justamente esse tratamento diferenciado o que vai promover a igualdade de condições ao acesso à Educação de todos. Essa idéia vai ao encontro dos princípio de igualdade de condições na diversidade, e está em acordo com o princípio da não discriminação, trazido pela Convenção da Guatemala (1999).

    Concordamos com Carvalho (2008, p. 59), de que a Educação Inclusiva pressupõem a superação e remoção de muitas barreiras para a aprendizagem, as quais dizem respeito a uma série de questões que traduzem os impedimentos para uma verdadeira educação de qualidade para todos. Para a autora, os obstáculos à aprendizagem não são exclusividade de alunos deficientes, mas fazem parte do cotidiano escolar, podem manifestar-se em qualquer etapa do fluxo de escolarização, já que alguns alunos requerem mais ajuda e apoio para o enfretamento e superação, outros menos ou não o tempo todo, existindo barreiras para (quase) todos, comentando que, entretanto, as barreiras mais significativas são as atitudinais, “pois a predisposição dos professores frente à diversidade tem um papel decisivo na compreensão das diferenças individuais, em sua aceitação e respeito, criando, removendo ou intensificando os obstáculos existentes”.

    Para além dessas barreiras atitudinais, a Educação Inclusiva prevê a superação de procedimentos cotidianos de avaliação escolar, tendo como palco o critério de seleção. Em relação à prática de avaliação, destaca Beyer (2007, p. 102), que:

    Toda avaliação é circular, englobando todos os sujeitos envolvidos no processo de ensinar na escola, é função dos professores assumirem plenamente sua posição de promotores da aprendizagem dos alunos, e, para isto, analisar todos os fatores implicados no sucesso ou na dificuldade da sua aprendizagem, perguntando-se constantemente: fiz o suficiente para que meus alunos aprendam? Qual a minha cota de responsabilidade para seu sucesso escolar?

    Diz Carvalho (2008) que a superação da prática pedagógica, analisada somente sob a ótica das características do aprendiz, também deve ser ultrapassada, pois geralmente contem os principais responsáveis pelo insucesso escolar, desconsiderando as características do contexto no qual os processos ensino e de aprendizagem ocorrem. Assim, o favorecimento da aprendizagem de qualquer aluno implica saber sobre o que é o processo de aprendizagem e do como ele ocorre, bem como sobre o processo de desenvolvimento humano em suas diversas facetas, suas relações com a aprendizagem.

    Ainda de acordo com Montoan (1997), o professor terá que facilitar as integrações sociais em torno das tarefas e trabalhar integralmente o desenvolvimento de seus alunos, independentemente de condição física, intelectual ou sensorial. Para promover melhores relações sociais, possibilita um melhor aprendizado dos seus alunos, tendo que reconhecer suas potencialidades e suas dificuldades, independente de limitações e ou deficiências, para trabalhar com a diversidade, conhecer as particularidades de seus alunos com deficiência, o que lhe exige qualificação profissional e crescimento pessoal constantes.

    Na Educação Inclusiva, além de conseguir lidar rápida e constantemente com adversidades, é igualmente necessário conseguir manter relações interpessoais mais saudáveis, na medida em que pressupõe melhores relações interpessoais, bem-estar de todos os envolvidos, considerando os processos de ensino e de aprendizagem em sua dimensões cognitiva, emocional-afetiva e social, pois é extremamente difícil separá-las, destacam Stobäus e Mosquera (2006).

    O ensino com uma pessoa com deficiência, para Rodrigues (2002), somente será eficaz quando as condições que influenciam a mesma sejam (re)conhecidas pelos profissionais que estão envolvidos, o que implica o (re)conhecimento mais acurado de especificidades e possibilidades de cada um de seus alunos, bem como explicitação dos objetivos e das próprias tarefas desenvolvidas e, finalmente, do processo de avaliação.

    Mosquera e Stobäus (1984) já destacavam o perfil do professor efetivo em Educação para a Saúde, ao estar como gerente do processo educativo (quando organiza, planeja, executa e avalia); ao assumir o papel de mediador (quando estabelece relações calorosas com seus alunos); e como facilitador (quando auxilia o aluno a superar dificuldades).

    Desse modo, também uma Educação Inclusiva envolve um processo de reforma e de (re)estruturação de escolas, e visa assegurar que todos seus alunos tenham acesso a toda a gama de oportunidades educacionais e sociais que consigam ser oferecidas pela escola.

    Para tanto, além de adequar a estrutura organizacional da escola já elencadas, cabe aqui destacar a importância das oportunidades de esporte, lazer e recreação, destaca Mitter (2003).

    Para que o direito ao lazer, ao esporte e à recreação seja exercido, é fundamental a acessibilidade prevista na lei 10.098, art 2ª. inc I (BRASIL, 1996a), tanto a arquitetônica como a de comunicação e de atitude. A definição de acessibilidade conforme a legislação vigente é:

    Possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

    Portanto, no âmbito da inclusão escolar, a superação das barreiras arquitetônicas, reconhecendo o direito de acessibilidade, é fundamental para que o aluno com deficiência e ou limitação física reduzida possa participar de todas as oportunidades da vida escolar, inclusive das aulas de Educação Física. Mas não é só o acesso, é colocar condições também para a permanência, como biblioteca, vestiários, alimentação, e, sem dúvida, docentes motivados e capacitados em contínuas atualizações, pais mais presentes e atuantes, associações e inclusive ONGs oferecendo diversos níveis de apoio, enfim, uma sociedade mais bem preparada.

Formação profissional em Educação Física Adaptada

    Entre esses docentes melhor preparados, está o da Educação Física, que deve melhor conhecer e saber atuara na Educação Física Adaptada, representada como a área de conhecimentos, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da didática e da organização escolar, estuda os processos por meio dos quais os professores, tanto em formação como em exercício, se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem por meio das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem”, como destacava Garcia (apud BAUMEL e CASTRO, 2002)

    Sobre a formação profissional, a Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE, 2001), nos informa que cursos de formação de professores devem integrar-se na perspectiva da profissionalização do magistério, visando à formação teórico-prática dos professores, capacitando-os para atuar como agentes de transformação da realidade em que se inserem.

    Aqui destacamos que a palavra formação profissional já vem carregada de significados, necessitando ser entendida a partir da denominada formação inicial, ou seja, onde tudo começou. De acordo com Tardif et al. (1991, apud GONÇALVES, 2002), a formação profissional é um processo contínuo que acontece durante toda a vida, levada a cabo a partir de conhecimentos e práticas adquiridos ainda nessa formação inicial, pois, por mais que existam ali limitações, nela são obtidos os mecanismos básicos para colocar em prática sua profissão mais adiante.

    Para melhor explicitar o que vem a ser formação inicial, Costa (1994, p. 27) diz que ela pode ser entendida como “o período durante o qual o futuro professor adquire os conhecimentos científico–pedagógicos e a competência necessária para enfrentar adequadamente a carreira docente”. Como podemos perceber, o período dessa formação inicial não pode ser menosprezado, pois nele são adquiridos conhecimentos e habilidades necessários à futura atuação do profissional.

    Para Araújo (1998, apud GONÇALVES, 2002), seria necessário aos profissionais de Educação Física, um treinamento em caráter emergencial para aqueles em atividade na área; uma especialização global de recursos humanos, negociação imediata com instituições de ensino superior para que incluam nos cursos de Educação Física disciplinas como Fundamentos Básicos de Educação Especial, desde cursos de graduação, e ainda em suas Especializações.

    Para melhor abordarmos sobre essa educação para pessoas com necessidades especiais, é necessário lembrar um marco importante nesse tema, quando, em 1994, o MEC sugeriu a inclusão de uma disciplina referente à Educação Especial em todos os cursos de Licenciatura. Na Faculdade de Educação Física do CAJ/UFG, esta disciplina foi incluída em 1997, sendo a Educação Física Adaptada oferecida no 4º ano, ou seja, no último ano do curso.

    Entretanto, alguns autores como Seaman e De Pauw (1982) afirmam que somente uma única e exclusiva disciplina não é o bastante, e que o melhor a se fazer seria que todas as disciplinas do curso trabalhassem em conjunto com este assunto.

Educação Física Adaptada

    A Educação Física Adaptada, bem destacado por Duarte e Werner (1995, p. 9), é uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada portador de deficiência, respeitando suas diferenças individuais.

    Segundo Bueno e Resa (1995), a Educação Física Adaptada para portadores de deficiência não se diferencia da Educação Física em seus conteúdos, mas compreende elementos sobre técnicas, métodos e formas de organização que podem ser aplicados à pessoa portadora, como atualmente está na legislação. É um processo de atuação docente com planejamento, visando atender as necessidades de seus educandos.

    A Educação Física na escola se constitui em uma grande área de adaptação ao permitir, a participação de crianças e jovens em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, proporcionando que sejam valorizados e se integrem num mesmo mundo. O Programa de Educação Física, quando adaptada ao aluno portador de deficiência, possibilita ao mesmo a compreensão de suas limitações e capacidades, auxiliando-o na busca de uma melhor adaptação, para Cidade e Freitas (1997).

    Segundo Pedrinelli (1994, p. 69), "todo o programa deve conter desafios a todos os alunos, permitir a participação de todos, respeitar suas limitações, promover autonomia e enfatizar o potencial no domínio motor". A autora coloca que o educador pode selecionar a atividade em função do comprometimento motor, idade cronológica e desenvolvimento intelectual.

    Na escola, conforme Bueno e Resa (1995), os educandos com deficiência leve e moderada podem participar de atividades dentro do programa de Educação Física, com algumas adaptações e cuidados. A realização de atividades com crianças, principalmente aquelas em que elas envolvem-se com jogos, devem ter um caráter lúdico e favorecer situações na qual aprenda a lidar com seus fracassos e seus êxitos, asi é exercitando e exercendo seus limites.

    A variedade de atividades também prevê o esporte como um auxílio no aprimoramento da personalidade dessas pessoas portadoras de deficiência. As crianças com algum nível de deficiência (auditiva, visual, física e mental) podem participar da maioria das atividades propostas.

    São consideradas da alçada da Educação Física Adaptada quaisquer pessoas portadoras de transtornos, sejam eles psicológicos ou físicos, que impeçam que essas pessoas participem ativamente de uma aula comum da disciplina, como os portadores de deficiências mentais, visuais, auditivas, físicas, com múltiplas deficiências, superdotados, com síndromes neurológicas, psiquiátricas e psicológicas, e ainda pessoas com dificuldades de aprendizagem, coloca Carvalho (2008).

    É interessante ressaltar que os conteúdos a serem trabalhados são os mesmos de qualquer outra aula de Educação Física. O que muda são os meios para permitir o acesso a portadores de necessidades especiais à prática. E esse é o papel do profissional de Educação Física, justamente fazer com que essas pessoas consigam superar seus limites, estabelecendo caminhos com graus de dificuldade variados, de acordo com a deficiência de cada um. Ao possibilitar sua inclusão escolar, a partir de uma aula bem estruturada, o professor não apenas permite que esses alunos experienciem o prazer nas práticas em aula, como também, em alguns casos, essas aulas auxiliam sua recuperação.

    O grande problema é que, embora a inclusão de portadores de necessidades especiais no âmbito escolar já seja dada como efetivada, a formação dos professores nessa área ainda parece ser deficitária. Embora pareça um trocadilho, no caso da escola, o deficiente é, na maioria das vezes, o próprio professor, despreparado e sem condições mais favoráveis à sua volta. Não apenas pela sua falta de formação, mas muitas vezes pela falta de informação e mesmo de motivação (interna, e mesmo de pares e por parte da direção). São poucos os que sabem lidar com múltiplas necessidades e que conseguem incluir os alunos de fato, não só no sentido de portadores, mas dos ditos ‘normais‘, um sentido mesmo de inclusão social, sem deixar o menino bem gordinho ser o último a ser escolhido para o time de basquete, o de óculos e o asmático somente ‘apitarem o jogo’, ou colocar todos os alunos a fazerem uma aula com os olhos vendados para ‘sentirem assim como o deficiente visual sente’.

Contribuições da Atividade Física Adaptada

    Um dos principais objetivos da Educação Física Adaptada é a integração do portador de necessidade especial na própria sociedade. Para que esta integração aconteça de forma satisfatória é necessário o alcance de algumas metas.

    Rosadas (1991) cita metas da Educação Física Adaptada:

Funções da Educação Física Adaptada

    A Educação Física se caracteriza pelas suas funções biológicas, cinestésicas e integradora, assistindo ao ser humano pelas suas necessidades biopsicossociais. Brum (1983, p. 13) detalharam as funções da Educação Física Adaptada:

    De acordo com Brum (1983), como o próprio nome sugere, a função integradora tem como principal aspecto promover a interação social com essas crianças apresentam dificuldades na compreensão do outro, ocasionando uma falta de interesse pelas pessoas não mantendo contato afetivo com estas. Para isso, torna-se imprescindível o atendimento grupal, a fim de estimular essa compreensão, e promover a socialização da criança.

Inclusão e a Educação Física

    A Educação Física na escola se constitui em uma grande área de adaptação ao permitir, a participação de crianças e jovens em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, proporcionando que sejam valorizados e se integrem num mesmo mundo. O Programa de Educação Física, quando adaptada ao aluno portador de deficiência, possibilita ao mesmo a compreensão de suas limitações e capacidades, auxiliando-o na busca de uma melhor adaptação, para Cidade e Freitas (1997).

    Atualmente, fala-se muito em inclusão e em Educação Inclusiva. No que tange à discussão sobre a Educação Física Inclusiva, alguns profissionais dessa área relatam suas experiências ainda com receios e vivências anteriores algumas vezes traumáticas.

    É possível verificar também nas escolas de hoje uma Educação Física repressora e competitiva que, mais voltada à performance, lida com o movimento humano de forma instrumental e técnica, preocupada com a coluna por ordem de estatura, separa os alunos por sexo, perdendo, com isso, significativas trocas de conhecimento e o aspecto relacional.

    Deleurs (1996) destaca que aprender a viver com os outros será, sem dúvida, um dos maiores desafios da Educação do século XXI. A Educação Física, que é uma parte da Educação como um todo, vem sendo conduzida de uma forma competitiva, excludente e seletiva, quando deveria estar mais voltada ao pedagógico, à promoção humana, ao desenvolvimento, às aprendizagens significativas das relações sociais, à criatividade, aos sentimentos e à afetividade.

    A escassez de alternativas práticas à efetivação da inclusão no campo da Educação Física ainda constitui um grande entrave no campo educacional, em parte, este entrave é agravado pela falta ou insuficiência de preparo dos professores que tiveram pouco ou nenhum acesso durante a formação inicial, a informações técnico-científicas, metodologias específicas e algumas estratégias de ação passíveis de serem realizadas em classes regulares para aumentar a participação de todos os alunos que experimentam barreiras à participação e à aprendizagem. Além disso, entre outros aspectos, a ambigüidade do termo inclusão e a superficialidade com que este tema é tratado tende a levar os futuros professores em formação a representar esta luta como uma utopia não realizável.

    O professor de Educação Física assume uma função especial, pela proximidade, pelo espaço e pela interação direta que tem com os seus alunos; ele tem a possibilidade de desenvolver um olhar diferente sobre os processos de ensino e de aprendizagem, garantindo “que todos os alunos participem plenamente na sociedade e que tenham igualdade de oportunidades”, coloca Santos (2003, p. 83).

    No que se refere a atividades de Educação Física para todo o grupo, sendo, no entanto, imprescindível tanto respeitar o contexto, a história e o ritmo individual de cada educando quanto observar o tempo necessário compreendido a cada ser humano, inclusive ao portador de deficiência, para Soares et al. (1992).

    O paradigma da inclusão preconiza que “a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros”, postula Sassaki (1997, p. 41).

    Este modelo pressupõe, também, que “[...] a escola não consegue dar conta dessas diferenças”, diz Bueno (1999, p. 9), cabendo à mesma diagnosticar a sua realidade e implementar alternativas educacionais, adaptar objetivos, currículos, programas e procedimentos de avaliação sem que haja qualquer prejuízo para o aluno em termos de conteúdos de aprendizagem.

    Santos (2003) defende uma escola de qualidade para todos, escola esta capaz de respeitar as diversidades e fazer das diferenças um recurso a ser explorado em benefício da sociedade em geral. Para que isto realmente ocorra acreditamos ser necessário uma revisão crítica sobre quem é esta escola e quem são estes todos, bem como de que forma esta escola pode favorecer as interações entre os todos que dela fazem parte.

    Numa perspectiva humanista de educação, pensar a forma como estão sendo configuradas estas interações e como os sujeitos se sentem durante este processo é essencial. Ter liberdade para expressar os sentimentos e reconhecer os sentidos atribuídos a estes sentimentos também. Tudo isto é considerado valor.

    O tratar com a diversidade, para a superação de dificuldades e de problemas enfrentados no cotidiano é apenas um dos aspectos a serem considerados pela instituição de ensino como um todo.

    No processo de inclusão aqui enfocado, relevante também é que professor e aluno criem laços afetivos, avancem juntos na compreensão dos fatos, na concepção de educação e sociedade, na busca e na produção de conhecimento como sujeitos da própria história. Nesse sentido, Sérgio (1997, p. 43) propõe uma competição-diálogo e uma competição-hostil, e que há liberdade “para que se concretize o diálogo corporal, o qual é bem mais do que biomecânica, é a solidariedade indispensável ao desenvolvimento integral dos agentes desportivos”.

Considerações finais

    A relação entre atividade física e saúde envolve uma multiplicidade de questões. O ser humano não pode ser reduzido à dimensão biológica, pois é fruto de um processo e de relações sociais bem mais amplas e abrangentes.

    A Educação Física está estruturada em componentes que contribuem para a melhor saúde e qualidade de vida, no entanto diversas investigações têm questionado as suas intervenções ‘educacionais’, no que se refere à garantia de um contexto que promova não só o desenvolvimento de habilidades físicas, mas também de habilidades cognitivas, afetivas, e sociais que, por fim, reflitam-se em comportamentos mais conscientes e positivos em relação à sua possibilidade de saúde e qualidade de vida.

    Questões como saúde, ecologia, tecnologia e qualidade de vida passam a formar em alguns profissionais da educação física, uma visão mais ampla e sistêmica da complexa realidade presente nas relações e comportamentos humanos.

    Essa nova visão de educação física requer multi e interdisciplinariedade, na tentativa de juntar os pedaços de um homem fragmentado, buscando a superação de uma concepção de ser humano essencialmente biológico para ser concebido segundo uma visão mais holística, onde se considera os processos históricos de ordem social, cultural, política, econômica e tecnológica. Nesse sentido, saúde e qualidade de vida não podem ser tratadas como constructos exclusivamente biológicos ou psicológicos, são também sócias e educacionais.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 181 | Buenos Aires, Junio de 2013  
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