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Imaginação e atividade física na 

(re) organização do equilíbrio corporal em idosos

Ideación y actividad física en la (re) organización del equilibrio corporal en personas mayores

Imagination and physical activity in the (re) organization of body balance in the elderly

 

Mestre em Educação

Doutorando em Educação Física (UFPR)

Departamento de Educação Física. Campus Irati

Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO

Khaled Omar Mohamad El Tassa

khaled@irati.unicentro.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O avanço da idade, muitas vezes, é acompanhado por uma série de limitações que podem prejudicar a qualidade de vida na fase da velhice, e interfere nas atividades que o idoso realiza cotidianamente. A prática da imaginação, que se constitui em uma representação mental da ação sem o movimento corporal, como alternativa clínica, pode contribuir na superação de problemas relacionados ao equilíbrio em idosos. Esta revisão bibliográfica objetivou analisar como a prática da imaginação pode contribuir na melhoria do equilíbrio corporal em idosos? Estudos incipientes têm apontado evidências de que o uso da imaginação de movimentos utiliza as mesmas vias neurais na realização da ação motora, favorecendo um melhor desempenho físico na realização das tarefas. A prática da imaginação associada ao treinamento motor pode ser altamente efetiva na melhoria da técnica de tarefas motoras, como mais uma alternativa, para colaborar na superação de problemas relacionados ao equilíbrio em idosos.

          Unitermos: Atividade motora. Imaginação. Equilíbrio postural. Idoso.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    As alterações demográficas observadas nos países em desenvolvimento também são sentidas na maioria das sociedades do mundo, como França, Inglaterra e outras, ocasionando mudanças na pirâmide etária populacional (BERQUÓ, 1999). No entanto, este aumento da expectativa de vida do brasileiro nem sempre é ajustado a uma qualidade de vida satisfatória.

    O avanço da idade, muitas vezes, é acompanhado por uma série de limitações que podem prejudicar a qualidade de vida na fase da velhice, e interfere nas atividades que o idoso realiza cotidianamente. Estas limitações são caracterizadas por perdas que vão se acumulando ao longo dos anos, decorrentes de fatores de ordem interna do indivíduo, onde se destacam a redução da forca muscular, alterações de equilíbrio, modificações no padrão da marcha, déficit visual, perdas funcionais e cognitivas (HILL; SCHWARZ, 2004). Dentre as perdas comumente encontradas nessa população, destaca-se a diminuição dos níveis de equilíbrio em situações diversas.

    Nesse contexto, estudos incipientes apresentam a prática da imaginação como mais uma alternativa, para colaborar na superação de problemas relacionados ao equilíbrio em idosos (MALOUIN et al., 2010; MULDER et al., 2007). Assim, na busca de alternativas que minimizem os inúmeros problemas, como quedas e incapacidade funcional, a prática da imaginação pode ser considerada como um complemento da prática motora, onde a combinação da imaginação e a prática motora ampliam as possibilidades de programas, que contribuam na melhoria dos níveis de equilíbrio em situações diversas (GUILLOT; COLLET, 2008).

    Neste sentido, o presente estudo bibliográfico se propôs investigar o seguinte problema: Como a prática da imaginação pode contribuir na melhoria do equilíbrio corporal em idosos?

2.     Método

    Trata-se de um estudo que correspondeu à análise e interpretação de dados obtidos em pesquisa do tipo bibliográfica. A base do estudo consistiu na revisão de literatura, através da análise de livros, artigos especializados, dissertações e teses, que possibilitou o acesso e manipulação de informações relevantes, para reflexão sobre a relação entre a prática da imaginação e o equilíbrio em idosos.

    O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados disponíveis via internet e obras publicadas. Foram priorizadas as seguintes categorias relacionadas à temática central: capacidades funcionais dos idosos, riscos de quedas dos idosos, programas de atividade física para idosos, equilíbrio corporal em idosos e imaginação. O período de levantamento bibliográfico das dissertações, teses e artigos científicos de periódicos indexados foi delimitado entre os anos de 1990 a 2012. Este período é considerado de grande relevância, principalmente na última década, pois culmina com o aumento do interesse da comunidade científica sobre o tema. Além disso, este período é justificado em função de possibilitar uma visão privilegiada dos trabalhos atuais desenvolvidos.

3.     Resultados

3.1.     Envelhecimento, equilíbrio corporal e imaginação

    O processo de imaginação se caracteriza em ser uma experiência multissensorial, que ocorre na mente para recriar ou criar um evento sem a participação do ambiente. Envolve todos os sentidos, além das emoções e dos estados mentais associados a determinadas experiências (JEANNEROD,1994; VEALEY, 1991).

    A prática da imaginação se constitui em uma representação mental da ação sem o movimento corporal, possibilitando superação de dificuldades encontradas na realização de movimentos em situações variadas. A imaginação pode ser considerada como um complemento da prática motora, sendo que, a combinação da imaginação e a prática motora, podem ampliar as possibilidades de ganhos em programas voltados ao restabelecimento e/ou manutenção do equilíbrio corporal (GUILLOT; COLLET, 2008).

    Magill (2000) e Schmidt (2001) apontam à imaginação como um procedimento de treinamento mental, no qual os indivíduos se imaginam executando uma habilidade motora na perspectiva de si mesmo, ou de uma terceira pessoa. Apresenta-se duas formas de obtenção das ações imaginadas, a perspectiva externa (baseada principalmente na imagem visual) e a perspectiva interna (baseada principalmente na sensação cinestésica). Existem, portanto, duas formas de sistematizar a prática da imaginação: imaginário externo, principalmente visual, na qual o indivíduo imagina a si mesmo como se assistisse a um filme, ou seja, desempenhando uma habilidade da perspectiva de um observador, e imaginário interno, principalmente cinestésico, no qual o indivíduo imagina-se como se estivesse executando a ação realmente, no qual a pessoa se imagina dentro do seu próprio corpo enquanto desempenha uma habilidade, vivenciando sensações que são esperadas na situação real (MCAVINUE; ROBERTSON, 2008; SHMIDT, 2001; MAGILL, 2000).

    Uma terminologia freqüentemente utilizada quando se trata de imaginação é prática mental ou treinamento mental. No entanto, a prática mental é um método de treinamento baseado, tanto na perspectiva interna, quanto na externa, que usa processos cognitivos diversos (auto-verbalização, auto-observação e treino ideomotor), incluindo a imaginação motora (EBERSPÄCHER, 1995). Portanto, embora relacionados, estes dois construtos, imaginação motora e prática mental, não devem ser considerados como sinônimos.

    Para o treinamento da imaginação se faz necessário, a conscientização da importância da realização do trabalho, práticas sistematizadas, além do conhecimento de estratégias que se aproximem de situações reais a serem superadas, conforme os objetivos do programa. Samulski (2002) enfatiza que para os indivíduos que não têm experiência com o treinamento mental, e possuem dificuldades para identificar-se com a perspectiva cinestésica, devem experienciar as três formas de treinamento, ou seja, a autoverbalização, auto-observação e treino ideomotor.

    Em estudo de Personnier et al. (2010), buscou-se investigar as características temporais da imaginação e a precisão da marcha em idosos saudáveis. No estudo nove jovens e nove idosos caminharam e realizaram a prática mental, num percurso de 5 metros, em três caminhos com larguras diferentes (15 cm, 25 cm e 50 cm). Utilizou-se a técnica da cronometria mental como indicador de precisão, para o estabelecimento da relação temporal entre os movimentos reais e movimentos imaginados. Os resultados indicaram que, a capacidade de visualização motora foi preservado no grupo de jovens independentemente da largura da trilha. Para o grupo de idosos, a duração dos movimentos imaginados em relação aos movimentos executados foi sistematicamente reduzida. Além disso, a largura dos caminhos influenciou negativamente o desempenho da imaginação motora no grupo de idosos. É sugerido no estudo, que a prática da imaginação pode ser uma ferramenta clínica importante na identificação de deteriorações e planejamento motor na superação de problemas de equilíbrio corporal em idosos (PERSONNIER et al., 2010).

    Apesar de ainda não haver um consenso, há evidências de que a imaginação, principalmente quando realizada na perspectiva interna, é acompanhada por uma pequena atividade muscular (DICKSTEIN; DUNSKY; MARCOVITZ, 2004). Além disso, estudos que utilizaram técnicas de imagem com melhores resoluções temporais e espaciais (SCHINIRZLER et al.,1997; BEISTEINER, et al., 1996; ROTH et al., 1996; LANG et al., 1996; LEONARDO et al., 1995) têm demonstrado que o córtex motor primário é ativado durante a imaginação, apesar de ser em menor grau do que quando os movimentos são realizados. Isso sugere que os indivíduos engajados na imaginação podem fortalecer suas condições neurais para certos movimentos facilitando sua execução física posterior.

    Schmidt (1993) ressalta dificuldade de análise da variável imaginação, sendo pela subjetividade, necessário controle de variáveis que possam interferir nos resultados de programas de imaginação, com detalhes suficientes para assegurar que todos os sujeitos, em um dado tratamento de grupo, estão imaginando a tarefa do mesmo modo.

    Para Magill (2000) há evidências experimentais que sugerem que a eficiência da prática mental está relacionada com a capacidade de imaginar da pessoa, ou seja, a capacidade de formar imagens de uma ação quando solicitada. A qualidade do desempenho está relacionada a uma mudança na capacidade da pessoa em desempenhar uma habilidade. O êxito está relacionado à capacidade do sistema de processamento de informações humano que possui limitações ao número dessas atividades que podem ser desempenhadas simultaneamente. A capacidade de imaginar é uma característica individual, que diferem as pessoas que podem imaginar uma ação com alto grau de nitidez e controle, das pessoas que tem dificuldade de imaginar uma ação (MAGILL, 2000).

4.     Discussão

    Em idosos foi constatado que a imaginação pode contribuir no equilíbrio corporal (HAMEL; LAJOIE, 2005; FANSLER; POFF; SHEPARD, 1985). Em estudo que objetivou analisar a influência da prática da imaginação no controle postural de idosos, os resultados demonstraram que, após o treino usando a imaginação, os sujeitos diminuíram a amplitude de oscilação no eixo ântero-posterior durante a postura ereta estática, sugerindo automatização da tarefa, uma vez que a imaginação permitiu sua programação prévia (HAMEL; LAJOIE, 2005). No entanto, cabe considerar, que os idosos apresentam uma dificuldade maior de apropriação das técnicas, que compromete a capacidade de imaginação do movimento (MULDER et al., 2007). O declínio da capacidade de imaginação dos idosos pode refletir alterações funcionais no cérebro decorrentes do envelhecimento (PERSONNIER et al., 2010).

    Fansler, Poff, Shepard (1985) identificaram em estudo que analisou o equilíbrio sobre uma perna em idosas, que após um programa de imaginação associado à prática motora, os resultados apontaram melhora de 91% do grupo que realizou prática motora associada à imaginação, em comparação dois grupos controles (um grupo que recebeu somente prática física e o outro que foi submetido à prática física e relaxamento). Os dados apresentados, corroboram com os achados de Lomônaco e Marques (1993), que identificaram que a prática mental associada à prática física, apresenta resultados melhores do que quando realizada a prática física ou a prática mental de forma isolada (LOMÔNACO; MARQUES, 1993). De forma similar, também foi identificado que o treinamento da imaginação associado ao treinamento técnico, apresenta uma melhora significativa em relação ao grupo que realizou apenas o treinamento técnico (OLIVEIRA, 2007; COELHO et al.,2005; FANSLER; POFF; SHEPARD, 1985).

    A imaginação potencializa os músculos que participam na execução do movimento imaginado, sendo que, a transmissão de impulsos neuromusculares decorrentes das imagens mentais promove uma atividade muscular mínima que gera ganhos, que são conservados e utilizados na execução real do movimento. Comparativamente os resultados advindos da prática da imaginação são semelhantes aos produzidos durante a execução real do movimento, apenas com intensidade de impulsos reduzidos (SAMULSKI, 2002).

    O processo de mentalização estimula o desenvolvimento máximo dos sentidos, o que favorece a criação mais real do resultado que se pretende atingir. O sentido cinestésico para os atletas é fundamentalmente importante, por proporcionar a sensação do gesto motor que surge da estimulação nervosa, comandada pelo sistema nervoso central, nas articulações e tendões (WEINBERG; GOULD, 2001).

    Alguns instrumentos que permitem mapeamento cerebral detalhado, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética apontam que as ações, se executadas ou imaginadas, recrutam substrato neural semelhantes de quando os movimentos são efetivamente realizados (GUILLOT et al., 2008; LOTZE et al., 1999; DECETY et al., 1993). Estes estudos referenciados sugerem que a execução física e a imaginação do movimento ativam regiões cerebrais semelhantes, em intensidades diferenciadas.

    Em um programa global de treinamento de competências psicológicas, realizado em período de dois anos, na modalidade de vôlei de areia, visando à preparação psicológica de dupla para a participação nas Olimpíadas de Atenas em 2004, Stefanello (2007) contemplou o treinamento da imaginação. O trabalho culminou na conquista do título nas Olimpíadas de Atenas, sendo utilizado um programa específico da imaginação voltado à aprendizagem, o aperfeiçoamento e à integração das técnicas e estratégias de imaginação nas rotinas das sessões de treinamento.

    Com o objetivo de analisar o efeito de imaginar uma ação com relação aos eixos do corpo, nas perspectivas cinestésica e visual, sobre o sistema de controle do equilíbrio, os resultados sugerem que a imaginação executada na modalidade cinestésica, apresenta representações motoras significativas no controle do equilíbrio (RODRIGUES et al., 2010). A imaginação, associada a outras estratégias, pode ser uma prática clínica importante na identificação de deteriorações e planejamento motor na superação de problemas funcionais em idosos (PERSONNIER et al., 2010).

    A suposição de que a imaginação motora apresenta relação funcional estreita com a execução motora, têm sido apoiada pelo melhor desempenho identificado na execução do movimento, além da preservação das relações espaciais e temporais da ação motora durante os movimentos imaginados, sendo as etapas do processo imaginado consolidadas durante a sua execução real (STEFANELLO; DUARTE; RODACKI, 2010). Este argumento, reforça a evidência de que o movimento vividamente imaginado, utiliza as mesmas vias neurais na realização da ação motora, favorecendo melhor desempenho físico nas atividades de vida diária (McAVINUE; ROBERTSON, 2008; LUTZ, 2003).

    Dentre muitos, alguns estudos apontam que, a imaginação de ações motoras, se apresenta não só como um desafio teórico para a neurociência cognitiva, mas também como promissora estratégia de ser utilizada como instrumento de intervenção na reabilitação neurológica (FANSLER; POFF; SHEPARD, 1985).

5.     Considerações finais

    Apesar de ainda não haver um consenso, há evidências de que a imaginação, principalmente quando realizada na perspectiva interna, é acompanhada por uma pequena atividade muscular (DICKSTEIN; DUNSKY; MARCOVITZ, 2004). Além disso, estudos que utilizaram técnicas de imagem com melhores resoluções temporais e espaciais (SCHINIRZLER et al.,1997; BEISTEINER, et al., 1996; LANG et al., 1996; ROTH et al., 1996; LEONARDO et al., 1995) têm demonstrado que o córtex motor primário é ativado durante a imaginação, apesar de ser em menor grau do que quando os movimentos são realizados. Isso sugere que os indivíduos engajados na imaginação podem fortalecer suas condições neurais para certos movimentos facilitando sua execução física posterior.

    Os resultados encontrados na presente revisão de literatura permitem constatar que o treinamento da imaginação associado com práticas motoras, pode contribuir na melhora de capacidades físicas, como o equilíbrio corporal. Contudo, em idosos, essa melhora, quando acontece, é de forma lenta, provavelmente, em decorrência do processo natural de envelhecimento. Mesmo com grandes avanços científicos na área, evidenciados por estudos relevantes principalmente nas duas últimas décadas, ainda existem lacunas no conhecimento científico relacionadas a imaginação. Nesse sentido, ressalta-se a importância em aprofundar estudos que apresentem estratégias que ofereçam contribuição para a manutenção de níveis satisfatórios de independência e autonomia dos idosos.

Referências

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