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Formação profissional e campo de intervenção 

em Educação Física no estado da Paraíba

Formación profesional y campo de intervención en Educación Física en el estado de Paraíba

 

*Faculdade Maurício de Nassau

**Universidade Federal da Paraíba

(Brasil)

Ms. José Maurício de Figueiredo Júnior*

mauricio22jr@hotmail.com

Dr. Pierre Normando Gomes da Silva**

pierrenormandogomesdasilva@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Esse estudo teve como objetivo analisar as características do campo de intervenção dos egressos de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trata-se de uma pesquisa de corte transversal, com abordagem quantitativa dos dados, com amostra de 64 egressos com término do curso entre os semestres de 1995.1 a 2005.2. O instrumento utilizado consistiu em um questionário estruturado com questões objetivas sobre características da formação inicial e da realidade profissional vivenciada. Observou aumento na demanda pelo curso em questão e a conseqüente elevação no número de profissionais, bons índices de satisfação com a profissão e remuneração, mudança no campo de intervenção prioritário, o ambiente escolar, para outras opções de intervenção, além de insatisfação com os conhecimentos oferecidos na formação inicial, mas com contradições, face a minoria de profissionais envolvidos com a formação continuada, por meio da pós-graduação. Faz-se importante, portanto, o traçado do perfil do egresso, pois esse delineamento pode resultar em estabelecimento de competências profissionais durante o curso de formação.

          Unitermos: Egresso. Campo de intervenção. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    O curso de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) teve sua criação em 1976, o qual apresenta como objetivo, preparar um profissional generalista, capaz de intervir com competência nas escolas e nas outras instituições que necessitem da realização de atividades de Educação Física de forma crítica e criativa, frente às necessidades impostas pela realidade social em que vive (UFPB, 2013).

    Apesar da existência do curso de bacharelado na instituição a caracterização do currículo do curso de Educação Física da UFPB fez com que, por muito tempo, o campo de intervenção de seus egressos fosse predominantemente a escola. Porém, em virtude de intensas transformações impulsionadas pelas necessidades e demandas impostas pela sociedade o mundo do trabalho para o profissional de Educação Física, nas últimas décadas, tem ampliado muito, havendo uma significativa mudança em seu campo de intervenção.

    Segundo Bagnara, Mroginskki e Balsanello (2010), há o interesse cada vez maior por novas modalidades esportivas e pelo próprio corpo, fazendo com que sejam abertas novas vagas no mercado de trabalho para o portador do diploma em Educação Física. Essa ampliação tem feito esse profissional atuar em diversos outros campos diferentes do ambiente escolar, ao qual era tradicionalmente associado.

    Assim, em função das novas demandas, é fundamental que os currículos dos cursos de formação profissional em Educação Física atendam as reais necessidades da sociedade e, sobretudo, promovam à valorização da área. Para se alcançar este propósito deve-se esclarecer o conjunto de conhecimentos e de competências que o profissional de Educação Física deve dominar, para que sua intervenção possa capacitá-lo para o oferecimento de programas educativos e de atividade física e saúde.

    Dentro desse contexto é relevante um adequado acompanhamento dos egressos, de modo que proporcione um diagnóstico sobre a realidade vivida pelos ex-alunos no mundo do trabalho. Segundo Martins e Lousada (2005), a observação da trajetória dos egressos serve como fonte de informações gerenciais, permitindo a tomada de decisões sobre o planejamento e reordenamento dos cursos, propiciando programas que desenvolvam uma polivalência e identidades profissionais capazes de interagir e atender as mutações do mundo do trabalho.

    Considerando tais questões, surgiu o interesse pela problemática em conhecer as características do campo de intervenção dos profissionais em Educação Física, fornecendo assim subsídios para traçar o perfil deste profissional. Assim, esse estudo tem como objetivo analisar as características dos egressos de Educação Física da UFPB, quanto à atuação na área de formação, identificação das áreas de intervenção, avaliação do curso e satisfação profissional.

2.     Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa de corte transversal, com abordagem quantitativa dos dados, a qual possuiu como população 436 egressos do Curso de Licenciatura em Educação Física da UFPB, com término do curso entre os semestres letivos de 1995.1 à 2005.2, configurando um recorte histórico de 10 anos. O curso de Licenciatura em Educação Física da UFPB possui uma carga horária de 2.940 horas/aulas, distribuídas em 8 períodos/semestres letivos, de acordo com a Resolução 03/87 do CFE, sendo 2.355 horas/aulas destinada a formação geral e 585 horas/aulas de aprofundamento de conhecimento, que pode ser, segundo a opção do aluno, em área escolar, área não-escolar ou área desportiva.

    Para efetivação da pesquisa, fez-se necessário realizar um levantamento dos graduados em Educação Física pela referida instituição entre os semestres mencionados, identificando o número de egressos existentes, bem como dados como nome, endereço, telefone e e-mail, para um possível contato. Todas essas informações foram obtidas e fornecidas pela coordenação do curso de Educação Física da UFPB, mediante solicitação feita pelos pesquisadores e apresentação da comprovação de aprovação do projeto de pesquisa, perante o Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da UFPB.

    O processo para coleta de dados foi executado por meio de ligação telefônica, a partir dos dados fornecidos pela coordenação de curso. A determinação da amostra foi realizada com base nas tentativas de contato com todos os egressos identificados, durante o prazo estipulado para coleta de dados. Porém percebeu-se que muitos haviam mudado o número de telefone fixo e/ou móvel, além da ocorrência de recusa em participar do estudo. Assim, após esse procedimento inicial, a amostra foi composta por 64 sujeitos graduados do curso em questão entre os semestres letivos de 1995.1 a 2005.2.

    O instrumento utilizado consistiu em um questionário estruturado com questões objetivas sobre características da formação inicial e da realidade profissional vivenciada. A análise das respostas se deu por meio de estatística descritiva, utilizando-se a planilha eletrônica Statiscal Package for the Social Sciences (SPSS), versão 11.5 para Windows.

    O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba, sob protocolo nº 765-A/06.

3.     Resultados e discussão

    Entre os semestres letivos de 1995.1 a 2005.2 o curso de Educação Física da UFPB formou 436 profissionais de Educação Física com habilitação em licenciatura, sendo 187 (42,9%) do gênero masculino e 249 (57,1%) do gênero feminino. Verificou-se, que houve uma tendência de aumento no quantitativo de profissionais de Educação Física no período pesquisado, com uma elevação significativa quando comparados os semestre 1995.1 e 2005.2, representando um aumento de cerca de 135% no número de profissionais formados, como demonstra a Tabela1.

    A atribuição de importância de um estilo de vida mais saudável, a preocupação com a estética, o fenômeno esportivo, a introdução do profissional de Educação Física na saúde pública, por meio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), fez com que houvesse o aumento da demanda por profissionais de Educação Física, o que reflete na procura por cursos de formação nessa área. Segundo Silva et al (2009), há uma ampliação da oferta no ensino superior em Educação Física, decorrente do fato de que este é um campo acadêmico-profissional em expansão, pois as práticas corporais se constituem em um importante nicho de mercado nos dias atuais.

    Há oportunidades de intervenção em vários campos, empresas, hotéis, hospitais, postos de saúde e como personal training. Assim, é cada vez maior a procura por serviços prestados por esse profissional que visam diversos objetivos como uma melhor qualidade de vida, estética, saúde, reabilitação devido a lesões e encaminhamentos à atividades físicas feitos por médicos (Bagnara, Mroginskki e Balsanello, 2010; Bastos e Voser, 2013).

Tabela 1. Distribuição da freqüência e percentual de egressos por gênero entre os semestres 1995.1 e 2005.2.

    Constatou-se que 80% dos graduados entrevistados estão atuando como profissionais de Educação Física, principalmente na área não-escolar representando 54,9%, seguidos da área escolar (33,4%) e desportiva (11,7%). Tal classificação da área de intervenção foi feita com base no modelo de formação adotado no curso de Educação Física da UFPB, no qual os alunos a partir do 7º período escolhem uma das áreas para aprofundamento, a saber, área escolar, área não-escolar ou área desportiva. Esses achados corroboram com as escolhas dos alunos durante o curso, já que o estudo constatou que houve uma predominância de escolha na área de aprofundamento não-escolar, a qual representou a escolha de 68,8% dos pesquisado.

    A área escolhida para aprofundamento durante o curso pode descrever a tendência de intervenção de seus profissionais, que, no caso dos participantes desse estudo se deu de forma majoritária fora do âmbito escolar. Tais informações ratificam as idéias de Leal (2002); Nozaki (2008); Proni (2010); Torrens e Santos (2003), que afirmaram a presença de significativa mudança na área de atuação do profissional de Educação Física, o qual passa a priorizar atividades fora da escola, que deixa de ser lócus quase exclusivo desse profissional, devido a fatores como: mudanças nas oportunidades de trabalho, constante crescimento do número de praticantes de atividades físicas, e o não reconhecimento social na área escolar, pois a imagem social do professor no Brasil, ainda é, equivocadamente, bastante inferiorizada.

    No que se refere ao aspecto do conhecimento adquirido durante o curso, bem como a suficiência das disciplinas cursadas ao longo do mesmo, pôde-se observar que a 67,2% considerou como insuficientes as disciplinas da matriz curricular. Contundo, é importante destacar que durante um curso de graduação, existem inúmeras ferramentas de construção do conhecimento inerentes ao processo de formação profissional, especialmente a tríade ensino, pesquisa e extensão, consideradas como atividades básicas do ensino superior, voltadas à formação de um profissional cidadão relacionado com a apropriação e produção do conhecimento científico e compromissado ainda com a realidade social (SARAIVA, 2007; SAVIANI, 1981).

    Mesmo com a percepção de insuficiência de conhecimento, quando indagados quanto à avaliação, segundo indicadores apresentados (bom, muito bom, regular e ruim), 50% dos sujeitos consideraram o curso como sendo bom, 30% como sendo muito bom, 16% como sendo regular e, apenas, 4% como sendo ruim.

    Ainda sobre a construção do conhecimento para prática profissional, tem-se que, apesar da percepção de insuficiência dos conhecimentos adquiridos, evidenciados nas respostas dos pesquisados, a minoria se envolveu em cursos de pós-graduação e/ou formação continuada lato sensu, que correspondem à especialização ou aperfeiçoamento, os quais possuem caráter eminentemente prático, ou pós-graduação stricto sensu, os quais refere-se aos cursos de mestrado e doutorado, que tem como foco a formação de docentes, de pesquisadores ou cientistas. O estudo observou que 39% dos pesquisados envolveram-se em cursos de especialização ou aprofundamento e, apenas, 1,6% optou pela realização de curso de mestrado. Nenhum participante da pesquisa concluiu ou estava inserido em curso de doutorado.

    No quesito satisfação com a profissão e com a remuneração a pesquisa constatou que 78,4% e 52,9% dos egressos, respectivamente, encontram-se satisfeitos. Essa informação pode ser decorrente e/ou pode estar associada à ampliação e valorização da Educação Física, vivida nos últimos tempos, como já foi descrito anteriormente. Percepções contrárias foram encontradas no estudo de Teixeira, Braz e Sampaio (2011), porém em outro país, Portugal, os quais relatam que o campo de intervenção para os profissionais desse segmento parece estar esgotado, transmitindo poucas expectativas para os recém egressos. Acrescenta, ainda, que a tem sido considerada pela maioria insuficiente ou pouca.

    Tais percepções de satisfação com a profissão, campo de intervenção e valorização profissional, torna-se pertinente, pois pode estimular profissionais a acreditarem em suas áreas de conhecimento e em seu sucesso profissional, buscando investir e capacitar-se para melhor atendimento de seus beneficiários.

4.     Considerações finais

    Nesta pesquisa buscou-se analisar as características do campo de intervenção dos egressos de Educação Física da UFPB, num recorte histórico de dez anos (1995.1 – 2005.2), sendo evidenciado aumento na demanda pelo curso em questão e a conseqüente elevação no número de profissionais. Fato que pode estar associado à ampliação vertiginosa de cursos de Educação Física no Brasil e com bons índices de satisfação com a profissão e remuneração apontados na pesquisa, mostrando que as perspectivas para essa profissão são positivas, a qual mostra-se em expansão com a criação de mais áreas de atuação e crescimento das áreas já existentes.

    Além disso, percebe-se uma mudança importante no campo de intervenção prioritário, no caso o ambiente escolar, para outras opções de intervenção, insatisfação com os conhecimentos oferecidos na formação inicial, mas com contradições, face a minoria de profissionais envolvidos com a formação continuada, por meio da pós-graduação.

    Diante dos dados obtidos fica evidente a importância referente ao traçado do perfil do egresso de qualquer curso superior, pois esse delineamento pode resultar em estabelecimento de competências profissionais durante o curso de formação, visto a existência do dinamismo da sociedade que é determinado pelas novas exigências de um mercado de trabalho em expansão, como o caso da intervenção em Educação Física.

Referências

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