efdeportes.com

A influência do fetichismo habermasiano sobre
a consolidação do basquetebol

La influencia del fetichismo habermasiano sobre la consolidadción del baloncesto

The influence of fetishism habermasian on consolidation of basketball

 

***Graduandos em Ciências da Atividade Física na Universidade de São Paulo
**Mestranda em Educação Física na Universidade Estadual de Campinas
*Professor Doutor da Universidade de São Paulo
Grupo de Pesquisa em Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte (PISE)

Universidade de São Paulo

(Brasil)

Matheus Tadei***
Paulo André Zazur Borja do Nascimento***
Valter Nicolau Nóbrega Prestes de Oliveira***
Renata Ferreira dos Santos**
Marco Antonio Bettine de Almeida*

marcobettine@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo busca descrever o papel exercido pelo fetiche na institucionalização do basquetebol na sociedade brasileira. Para isso, foi realizada uma pesquisa sobre o processo histórico e de consolidação desta modalidade esportiva, e posteriormente, uma análise interpretativa deste processo, a partir da Teoria da Ação Comunicativa, de Jürgen Habermas.

          Unitermos: Basquete. Basquetebol. Fetichismo. Habermas

 

Abstract

          This article seeks to describe the role played by fetish institutionalization basketball in Brazilian society. For this, a research was conducted about historical process and of consolidation of this sport, and later, an interpretative analysis of this process, from the Theory of Communicative Action, of Jürgen Habermas.

          Keywords: Sport. Basketball. Fetichism. Habermas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

1.     Introdução

    Este trabalho tem como finalidade identificar o processo de solidificação do esporte no país, analisando sempre seu processo histórico como base, e exaltando as características sociais as quais levou ele a se definir como o esporte que conhecemos na sociedade brasileira. Levantaremos fatores culturais, econômicos e regionais a fim de realmente explorar este processo. Embora se trate de uma pesquisa em grande parte bibliográfica, o nosso trabalho pretende realizar uma possível contextualização da sociologia habermasiana com aspectos do trajeto histórico-social do basquetebol.

    Tendo como base este norte, veremos qual o papel exercido pelo fetiche na institucionalização do basquete na sociedade brasileira, analisando não somente o esporte, mas o esporte a partir do momento que este sofre por um processo de complexificação sistêmica (ALMEIDA, 2011). Analisando três pontos diferentes da trajetória do esporte no país, teremos um leque suficientemente embasado para identificar e analisar a importância do fetichismo para a disseminação do mesmo. Utilizando do fetichismo de Habermas como base, no qual há uma perda de espontaneidade (saída do Mundo da Vida) e há maior importância para o ganho sobre o outro (colonização do mundo da vida pelo Sistema Dinheiro) (ALMEIDA, 2010), interpretaremos o processo sócio histórica do basquete. Vamos analisar, por exemplo, o que realmente significa uma vitória na casa do adversário em 1987, sendo que o adversário era o melhor do mundo, a soberana no conflito de potências mundiais. Desta forma, a estrutura metodológica do trabalho será um debate bibliográfico embasado, essencialmente em obras antropológicas, sociológicas e históricas, com a possibilidade de atingir novas conclusões.

2.     Metodologia

2.1.     Teoria da Ação Comunicativa

    A Teoria da Ação Comunicativa descreve a sociedade em 2 planos: o Mundo da Vida e os Sistemas. No Mundo da Vida as relações entre indivíduos dependem da linguagem, sendo a comunicação fundamental para a evolução social. As relações existentes nele são espontâneas, sem premeditação de valores, ou interesses, mantendo a originalidade e identidade durante as interações, e ações sociais.

    Os Sistemas são: Sistema Poder, no qual a ação social tem como objetivo um ganho político, ou de dominação (ensino inclusive) sobre outro, estando diretamente ligado a interesses do Estado. Sistema Dinheiro, que visa nas relações o ganho financeiro, tendo como principal meta o lucro.

2.2.     Teoria da Ação Comunicativa no basquete

    A prática de basquete em si ocorreria basicamente no Mundo da Vida, se jogar basquete fosse apenas um jogo limitado a dez pessoas dentro de uma quadra jogando um jogo. Na medida em que ele passa a ser utilizado como fonte de renda, ou uma forma de representar uma nacionalidade (dentro de olimpíadas e campeonatos mundiais), ele é colonizado pelos Sistemas Dinheiro e Poder respectivamente. No momento que ele deixa de ser jogo, sofre uma complexificação sistêmica, e se torna esporte, o basquete não será mais algo do Mundo da Vida somente, pois agora terá características provindas dos Sistemas. Claro que pode haver formas espontâneas de jogo de basquete, mas ao praticar ele como esporte, ele necessariamente não terá essas características e se tornará complexo, delimitado por regras pré-estabelecidas. A seqüência no qual isso ocorre é lógica, denominada de complexificação sistêmica, que pode ser visualizada na fala de Almeida (2011):

    “Esse processo donomina-se complexificação sistêmica do esporte. Em outras palavras, o objeto esporte passa de algo surgido no Mundo da Vida, vinculado a regra específicas de sociabilidade espontânea de um agrupamento (...). Ganha uma estrutura racional formalizada com as Ligas e Confederações. Afasta-se do grupo específico e incorpora elementos da industrialização, como a especialização, a internacionalização, a quantificação, o desempenho, o vencer (Confederações Internacionais). Posteriormente, é utilizado como forma de exibir uma nacionalidade nascente e os atletas vinculam-se às suas concepções ideológicas de Estado. (...)”.

    Ele é estruturado em esporte para depois ser colonizado pelos Sistemas Poder e Dinheiro.

    Vamos utilizar da teoria da ação comunicativa de Habermas, para identificar colonização de um esporte pelo Sistema Dinheiro, e como isso atribui ao basquete um novo valor, e se esse valor foi significativo para a consolidação do esporte no país. Vamos analisar se com o aumento de vitórias em campeonatos importantes do time nacional, presença de novas tecnologias midiáticas, e aumento de jogos tiveram influência no número de campeonatos no Brasil.

3.     História do basquete no Brasil

    O basquetebol foi criado em 1891, pelo professor de Educação Física da Associação Cristã de Moços (A.C.M., ou YMCA), James Naismith, na cidade de Springfield, Estado de Massachussets, Estados Unidos. Devido a um inverno rigoroso, com o objetivo de ser praticado por um grande número de pessoas, evitando a violência e com a possibilidade de ser jogado local fechado foi criado o basquete nos EUA (FONSECA, 2006).

    Nascido em Clayville, NY, Augusto Shaw, conheceu o basquetebol na Universidade de Yale, em 1892. Em 1894, Shaw foi convidado ao Brasil para ser professor em São Paulo, na Mackenzie College onde a idéia do Basquetebol foi introduzida e trabalhada como esporte (CBB, 2013).

    Inicialmente, a idéia do novo esporte foi totalmente adotada e aceitada pelo público feminino, o que acabou gerando certa resistência à difusão da prática masculina, publico que, na época, já sofria uma intensa influencia para a prática do Futebol - trazido por Charles Miller no ano de 1894 – preferido por entre os homens da época. Entretanto, em 1896, Shaw conseguiu reunir um grupo de homens e fundou o primeiro time masculino de Basquetebol do Brasil, a equipe do Mackenzie College, em São Paulo.

    Shaw deixou o Brasil no ano de 1914 e faleceu nos Estados Unidos em 1939, deixando o legado de difundir o Basquetebol pelo Brasil, ao professor Oscar Thompson da Escola Nacional de São Paulo e a Henry J. Sims, o qual era diretor de Educação Física da Associação Cristã de Moços – ACM – do Rio de Janeiro. O Basquetebol foi então apresentado a vários clubes de Futebol do Rio de Janeiro, como o América Futebol Clube, em 1913, que foi o primeiro clube carioca a abraçar a idéia do basquete (CBB, 2013). A adesão por parte de outras cidades também foi grande, como Franca que passou a ter o basquetebol como o esporte mais praticado na cidade (FONSECA, 2006).

    Desde então, o Basquetebol foi se consolidando como esporte, principalmente com a tradução das regras do inglês para o português, e com a ajuda de eventos realizados pela ACM. Em 1916, a Liga Metropolitana de Sports Athléticos, adotou o Basquete oficialmente, realizando o primeiro jogo oficial no ano de 1919 (MONTAGNER, 2012).

    A primeira conquista internacional foi em 1922 na disputa de um Torneio Continental. Porém apenas em 1933 foi criada a federação brasileira de basquetebol (FBB), sendo incorporada pela FIBA somente dois anos depois em 1935 (MONTAGNER, 2012). A atual CBB foi uma renomeação da FBB em 1941.

    A primeira vitória do campeonato sul-americano pelo time brasileiro foi em 1939, e o primeiro mundial em 1959. Nas olimpíadas o time brasileiro ainda não conquistou uma vitória, mas sua melhor colocação foi em 1948 (Londres), feito que lhe rendeu a medalha de bronze (CBB, 2013).

    Em 1965 fora criado a Taça Brasil logo após o terceiro lugar nas olimpíadas de Tóquio e a conquista do segundo campeonato mundial. Esse campeonato durou por 24 anos, até a fundação do Campeonato Nacional de Basquetebol Masculino em 1989, que em 2009 passou a ser chamado de Novo Basquete Brasil.

4.     História do basquete sob um ponto de vista habermasiano

    A origem do esporte foi devido basicamente a uma sociabilidade espontânea que ocorreu devido a condições ambientais desfavoráveis para prática de outros esportes. O jogo que foi praticado pela primeira vez em Massachussets não pode ser denominado de basquete. Seria a mesma coisa que comparar um australopiteco com um humano hoje em dia. Reparamos as semelhanças, mas era apenas um jogo, cujas regras não eram bem delimitadas, e cujo processo de complexificação sistêmica (ALMEIDA, 2011) ainda estava por ocorrer.

    O basquetebol não demorou muito para se disseminar, verdade seja dita em alguns anos havia atingido grande parte dos países do mundo (FONSECA, 2006). Os passos para a complexificação sistêmica, e transformação de jogo em esporte aconteceu de forma rápida. As regras já se tornavam fixas em 1915 devido a traduções, e sua burocratização seria oficializada com a criação da FIBA em 1932 (MONTAGNER, 2012). Agora o basquetebol já não era mais um jogo, pois possuía as principais características de um esporte moderno: burocratização, racionalização, secularidade, igualdade, busca de recordes, especialização, quantificação (GUTTMAN, 1979).

    Agora que o basquete passou a ser um esporte moderno, podemos analisar como ele se consolidou no Brasil.

5.     Consolidação do basquetebol no Brasil

    Ao adentrar no Brasil o basquetebol sempre concorreu com o futebol para conquistar o seu espaço. No começo sofreu com a não aceitação do publico masculino, mas com o tempo foi ganhando uma maior quantidade de adeptos. No começo da prática logo, após a primeira vitória intercontinental brasileira (1922), surge a Federação Paulista de Bola ao Cesto em 1924 (VIEIRA, 2006) e com ele o campeonato do estado de São Paulo. Os outros campeonatos mais importantes vieram de forma parecida: logo após conquistas importantes da seleção brasileira. A Taça Brasil, por exemplo, foi criada depois da conquista do segundo mundial, enquanto o Campeonato Brasileiro de Basquetebol Masculino foi logo após a vitória do pan-americano de 1987 em Indianapolis.

    Outro fator importante a ser lembrado é que na década de 60 estava começando as transmissões televisionadas no país, mas ainda havia a predominância do rádio, enquanto 87 o pan-americano foi totalmente televisionado e em cores.

    O esporte basquete originalmente inserido completamente no Mundo da Vida passa a ser resgatado pelo Sistema Poder, principalmente depois de vitórias e conquistas do time nacional. Começa a formalização e institucionalização do esporte, a qual faz com que ele se solidifique no território nacional. O Sistema Dinheiro exerce um papel não tão significante, nesse primeiro impulso, que é a reprodução da prática através das novas tecnologias midiáticas. Somente no fim da década de 80 é que o basquetebol passa a ser dependente do Sistema Dinheiro. Sem o apoio do governo clubes de basquete passam a depender totalmente de investimentos privados, que nem sempre visam o melhor para o time, mas sim um lucro através da pratica (FONSECA, 2006).

6.     Considerações finais

    No momento em que o esporte atinge todas as características modernas fica impossível dele permanecer apenas no Mundo da Vida e ao mesmo tempo possuir uma consolidação do mesmo no país. Sem a colonização da prática pelos Sistemas Poder e Sistemas Dinheiro jamais haverá uma firmação plena dele em qualquer sociedade. O fetichismo do esporte é o grande passo para sua firmação, pois senão sofrerá com os problemas financeiros, empobrecendo o espetáculo, e por sua vez diminuindo o interesse publico na prática. O basquete conquistou o apoio do Sistema Poder, mas vem sofrendo para despertar o interesse do Sistema Dinheiro. A falta de verba de alguns clubes deixa evidente quão importante é a adesão de um esporte pelo Sistema Dinheiro, mesmo com a maior midiatização do Novo Basquete Brasil, se comparado com o Campeonato Brasileiro de Basquetebol Masculino. Fazendo um comparativo, podemos estabelecer que na colonização do basquetebol, a primeira fase vinda do Sistema Poder foi consolidada até a década de 70, na qual o esporte era mais vinculado a ideologias, como a homenagem aos Panteras Negros. Após a década de 80 o atleta passou a possuir um vinculo maior ao Sistema Dinheiro, como Michael Jordan em 92 cobrindo o símbolo da Nike, e o basquetebol brasileiro ainda não sofreu um incorporação completa desse Sistema.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 181 | Buenos Aires, Junio de 2013  
© 1997-2013 Derechos reservados