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Fatores ambientais determinantes do processo saúde-doença 

no bairro Vila Mauricéia da cidade de Montes Claros, Minas 

Gerais (Brasil): um olhar dos profissionais da área de saúde

Los factores ambientales determinantes del proceso salud-enfermedad en el barrio Vila Mauricéia de 

la ciudad de Montes Claros, Minas Gerais (Brasil): una mirada de los profesionales del área de salud

 

*Acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem

pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros-FIPMoc

**Acadêmico do Curso de Graduação em Farmácia

pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros-FIPMoc

***Acadêmica do Curso de Graduação em Fonoaudiologia

das Faculdades de Saúde Ibituruna – FASI

****Doutora em Ciência do Desporto . Universidade de Trás-os- Montes

e Alto Douro, UTAD, Portugal. Docente das Faculdades Integradas

Pitágoras de Montes Claros-FIPMoc e da Universidade Estadual

de Montes Claros – UNIMONTES

Anne Caroline Azevedo Maria*

Geisy Pereira Costa*

Gislane Francisca Mendes*

Ronilson Ferreira Freitas**

Tahiana Ferreira Freitas***

Josiane Santos Brant Rocha****

ronnypharma@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A saúde e o meio ambiente são categorias sociais constituídas no jogo das relações sociais, compreendendo a natureza e a vida. A relação entre o meio ambiente e saúde incorpora todos os elementos e fatores que afetam a saúde desde a exposição de fatores específicos como substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que interferem no estado psicológico do indivíduo, sendo assim foi realizado o presente estudo, cujo objetivo foi identificar e caracterizar a influência do meio ambiente no processo saúde-doença na Vila Mauricéia sob a percepção dos profissionais de saúde que atuam no ESF (Estratégia de Saúde da Família). Para atingir o objetivo proposto, foi realizado um estudo qualitativo e exploratório. A pesquisa foi realizada na Unidade de Estratégia de Saúde da Família do bairro Vila Mauricéia, e teve a população composta por profissionais de saúde atuantes neste bairro. A partir dos dados encontrados nesta pesquisa, observa-se a importância do saneamento básico e do nível socioeconômico das comunidades carentes, uma vez que estes fatores são determinantes no processo saúde-doença.

          Unitermos: Fatores ambientais. Saúde-doença. Profissionais da saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 18 - Nº 181 - Junio de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A saúde e o meio ambiente são categorias sociais constituídas no jogo das relações sociais, compreendendo a natureza e a vida (SILVA, 2008). A relação entre o meio ambiente e saúde incorpora todos os elementos e fatores que afetam a saúde desde a exposição de fatores específicos como substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que interferem no estado psicológico do indivíduo (OPS, 1990).

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) define Saúde Ambiental como "as consequências na saúde da interação entre a população humana e o meio ambiente físico - natural e o transformado pelo homem - e o social" (WHO, 1996). Todavia, é preciso explicitar mais essa área de estudos que tem a relação entre saúde e o meio ambiente como objeto principal.

    Hoje, com os grandes tormentos da poluição, da violência e da pobreza, as cidades deixaram de assegurar uma boa qualidade de vida e tornaram-se ambientes insalubres. Desde Hipócrates, em sua famosa obra "Ares, águas e lugares", destacava-se, no campo que se pretendia ciência da medicina, o papel crucial do meio ambiente na gênese, determinação e evolução das doenças, embora nas condições históricas deste período, o meio ambiente fosse considerado como um "elemento" a ser passivamente aceito e sobre o qual não se exercia nenhum domínio (HELLER, 1998).

    O planeta passou a experimentar, ainda que diferencialmente, mudanças ambientais enormes. A industrialização e os avanços tecnológicos fizeram aumentar vertiginosamente a quantidade e a variedade de contaminantes químicos eliminados no meio ambiente. Concomitantemente, o processo de urbanização mundial sem precedentes vem tendo vastas implicações para o bem-estar geral das pessoas e para a qualidade do meio ambiente (DIAS et al. 2010).

    Assim, tratar da questão relativa ao meio ambiente assume uma relevância fundamental na atualidade, principalmente para os profissionais de saúde e, dentre eles os que integram a força de trabalho da enfermagem, pois a vida saudável depende intrinsecamente de um planeta saudável. Assim, coloca-se a necessidade de que os profissionais da área de saúde compreendam a determinação dos processos de deterioração ambiental, buscando com isso, através de práticas emancipatórias, envolver os usuários dos serviços de saúde, assim como alunos de graduação num movimento comum de abrangência mundial de conservação da natureza, buscando "educar" a população no sentido de possibilitar um futuro sustentável (FREITAS et al. 2001)

    De posse deste conhecimento propôs esta pesquisa com o objetivo de identificar e caracterizar a influência do meio ambiente no processo saúde-doença na Vila Mauricéia sob a percepção dos profissionais de saúde que atuam no ESF (Estratégia de Saúde da Família).

Metodologia

    Para atingir o objetivo proposto, foi realizado um estudo qualitativo considerando que essa abordagem é indicada, para analisar os fatos, permitindo a interação entre pesquisadores e atores, facilitando a compreensão do contexto (GIL, 2008). A pesquisa foi exploratória, desenvolvida por meio do procedimento de campo. (GIL, 2008). A pesquisa foi realizada na Unidade de Estratégia de Saúde da Família do bairro Vila Mauricéia, e teve a população composta por profissionais de saúde atuantes neste bairro. Para participar da pesquisa, o profissional de saúde deveria ter atuado no ESF deste bairro no ano de 2010 e assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. A escolha da amostra do estudo foi feita intencionalmente, privilegiando áreas distintas de atuação, composta por 4 profissionais de saúde (médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, agente de saúde) para que os mesmos pudessem fornecer conteúdos pertinentes ao problema proposto. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma entrevista estruturada, na qual os participantes apresentaram narrativas em torno das questões que foram de acordo com o objeto pesquisado.

Resultados e discussão

    As perguntas realizadas durante essa investigação, foram categorizadas , para posterior discussão dos dados encontrados:

1)     Presença de sintomas de enteroparasitoses; 

2)     Incidência e fatores ambientais que predispõem doenças respiratórias; 

3)     Presença de saneamento básico na comunidade; 

4)     Percepção dos profissionais de saúde sobre as influências do meio ambiente no processo saúde-doença na Vila Mauricéia e sua contribuição acerca das interferências.

    Os profissionais de saúde entrevistados foram identificados como Entrevistado 1, Entrevistado 2, Entrevistado 3, Entrevistado 4, de forma, que sua identidade seja preservada.

Presença de sintomas de enteroparasitoses

    Quando questionado sobre a presença de sintomas de enteroparasitoses na população atendida pelo ESF da Vila Mauricéia o Entrevistado 3, relata:

    “São raros os casos de sintomas de doenças parasitárias na nossa comunidade, no entanto às vezes surgem alguns casos, principalmente em crianças, como verminoses.”

    Nesse sentido a Unicef destaca que a população menor de cinco anos reflete bem o grau de contaminação por enteroparasitoses de uma região, pois se trata de indivíduos com pouca capacidade de deslocamento e maior vulnerabilidade, espelhando, assim, as condições sociais da comunidade onde habitam. Matumoto et al. (2001) contribui dizendo que um importante indicador das condições de saneamento em que vive uma dada população, é a presença de enteroparasitoses.

    A falta de uma política de educação sanitária profunda e séria no Brasil faz com que o problema envolvendo as parasitoses intestinais seja mais sério do que se apresenta, segundo Dias et al. (2010) a erradicação desses parasitas requer melhorias no saneamento básico, nas condições sócio-econômicas e na educação sanitária, além de mudanças de certos hábitos culturais.

    Nesse sentido, é importante desenvolver trabalhos que conscientizem a população sobre os cuidados que se devem tomar para prevenir as enteroparasitoses como lavar bem os alimentos, na falta de água tratada fervê-la, manter a higiene pessoal e da residência.

Incidência e fatores ambientais que predispõem doenças respiratórias

    Ao ser questionado sobre quais doenças respiratórias são mais incidentes no inverno na Vila Mauricéia, relata:

    “Asma, bronquite, sinusite, gripe em geral. Algo do tipo.” (Entrevistado 1)

    Já o entrevistado 2 relata:

    “IVAS (Infecção das Vias Aéreas Superiores), pneumonia e sinusite.”

    Muitos fatores podem influenciar nas afecções respiratórias. Sousa (2007), ressalta que a influência do clima se dá tanto de maneira direta quanto indireta na saúde humana, e tanto maléfica quanto benéfica.

    De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas, devido ao clima frio do inverno, a população tende a ficar mais tempo em lugares fechados, com pouca circulação de ar, facilitando com isso a transmissão de doenças. Os ambientes mal arejados aumentam a sobrevida de microorganismos, favorecendo o aparecimento das infecções por vias aéreas superiores, como nariz, boca e laringe.

    Ao ser questionado sobre outros fatores ambientais que predispõem a incidência de doenças respiratórias, relata:

    “Bicho morto jogado em lotes, lixos acumulados (mau cheiro), clima seco, tem muitas ruas sem asfalto, a poeira acaba influenciando.” (Entrevistado 1)

    De acordo com Prietsch et al. (2003) fatores como a exposição de agentes poluidores atmosféricos e domésticos, o tabagismo, aglomerações, são riscos ambientais para o desenvolvimento de doenças do trato respiratório.

    Observa-se que na Vila Mauricéia existe a incidência de doenças do trato respiratório, estando esta patologia totalmente relacionada com o meio ambiente. Nesta comunidade há ruas não asfaltadas assim possibilitando juntamente com o clima seco uma maior dispersão de poeira, auxiliando na predisposição da enfermidade, principalmente em crianças.

Presença de saneamento básico na comunidade

    Ao indagar sobre a qualidade da água ser um parâmetro avaliativo durante os atendimentos, relata:

    “Sim, durante visitas domiciliares os clientes são orientados quanto à importância de se ter um consumo de água limpa, filtrada e tratada. No entanto isso não foi possível devido algum fator social ou econômico, a orientação é que esta seja fervida e armazenada em local apropriado e limpo evitando assim possíveis doenças.” (Entrevistado 3)

    Se as famílias visitadas possuem água tratada e saneamento básico:

    “A maioria tem esgoto, alguns casos raros tem fossas. Todos tem água tratada. De poço, assim não tenho conhecimento não.” (Entrevistado 1)

    Já o Entrevistado 4, relata:

    “De acordo com o SIAB (Sistema de Informação Atenção Básica) cerca de 70% possui água filtrada, 10% cloração e 20% sem tratamento.”

    Freitas et al. (2001) cita que a água tem papel fundamental em colocar a população consumidora exposta a diversos riscos a saúde, principalmente do trato digestório. Segundo Morais e Neto (2003), a falta de saneamento básico e de distribuição de água tratada causa anormalidades na função intestinal. Assim o consumo somente de água tratada é importante, pois com essa simples medida muitas doenças podem ser evitadas.

    Sobre a presença de enfermidades decorrentes da ausência do saneamento básico, respondeu o Entrevistado 2:

    “Verminose, diarréia aguda, gastroenterites, impetigo, anemia, desnutrição.”

    Cita o Entrevistado 4:

    “Diarréia, bronquite asmática, micose, verminoses.”

    Relata o Entrevistado 3:

    “As enfermidades mais comuns decorrentes da ausência do saneamento básico são: amebíase, ascaridíase ou lombriga, disenteria bacilar, dengue.”

    Segundo Benicio et al. (2002) o saneamento básico é um dos mais importantes aspectos da saúde pública mundial. A definição clássica de saneamento explicita ser “o conjunto de medidas que visam a modificar as condições do meio ambiente, com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde”, é o que diz Prietsch et al. (2003).

    Destacando o saneamento básico como fator determinante no processo saúde-doença é importante colocá-lo como “ações para melhoria da qualidade ambiental e de vida e para a erradicação das doenças” (SOUZA, 2007).

    De acordo Dias et al. (2010) a relação entre saúde e saneamento, atualmente reside no cerne da discussão sobre saúde e meio ambiente.

    Com a presença de medidas de saneamento básico, é possível garantir melhores condições de saúde para a comunidade, evitando a contaminação e proliferação de doenças. Ao mesmo tempo, garante-se a preservação do meio ambiente.

Percepção dos profissionais de saúde sobre as influências do meio ambiente no processo saúde-doença na Vila Mauricéia e sua contribuição acerca das interferências

    Ao ser indagado sobre sua percepção acerca dos fatores ambientais que determinam o processo saúde doença na Vila Mauricéia, o Entrevistado 3, enfatiza:

    “Os fatores ambientais que mais determinam o processo saúde doença na nossa comunidade dentre vários, podem ser citado lotes vagos com lixo, acúmulo de material reciclável por algumas pessoas da população, além de ruas não pavimentadas. Fatores esses que atingem mais moradores de áreas com poder aquisitivo financeiro baixo.”

    A Organização Mundial de Saúde define que fatores como substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que interferem no estado psíquico do indivíduo são elementos que afetam potencialmente na saúde do mesmo, pois estes estão vinculados ao ambiente e no padrão de saúde (OPS, 1990). A saúde e a doença estão interligadas num processo dinâmico que, quando desequilibrado, leva o indivíduo a um estado não favorável de satisfação orgânica, que chamamos de doença (SOUZA, 2007).

    Segundo a literatura, o ambiente exercia poder sobre o indivíduo, como o ar puro, a claridade, o aquecimento, o silêncio, a limpeza, a pontualidade no cuidar, a dieta e o inter-relacionamento pessoal. Na sua maneira de pensar competia à enfermagem buscar formas de suprir fatores que poderiam desencadear o adoecimento (HARAGUCHI, et al. 2006)

    Em análise de bibliografias pode-se notar que o ambiente possui relação direta com a saúde da população, pois esta está inserida nele. Portanto o ambiente não é somente a morada da população, mas o local onde ocorrem interações que influenciam no processo saúde-doença.

    Sobre a contribuição acerca das interferências relacionadas ao meio ambiente no processo saúde-doença o Entrevistado 4, cita:

    “O médico e a enfermeira junto com toda a equipe sempre realizam educação em saúde sobre higiene pessoal e cuidados com o meio ambiente e durante as visitas de inspeção sanitária é orientado sobre os cuidados específicos.”

    O Entrevistado 3, enfatiza:

    “Educação em saúde é feita com a população através de visitas domiciliares, e/ou reuniões, palestras mostrando assim a importância de se cuidar do meio ambiente por eles. Não juntando e jogando lixo em lugares públicos como lotes vagos, não armazenar materiais recicláveis dentro de casa ou quintal, o que é muito comum na comunidade. Evitando assim doenças possíveis.”

    Já o Entrevistado 2, diz:

    “De suma importância através da educação em saúde que é realizada nos atendimentos individuais e nos grupos operativos.”

    Os discursos apresentados evidenciam as percepções dos entrevistados sobre a importância da relação do meio ambiente no processo saúde-doença da população assistida pela ESF da Vila Mauricéia. Observa-se que fatores como a falta de infra-estrutura e saneamento básico em alguns locais do bairro, como presença de lixo em lotes vagos, água, esgoto a céu aberto, higienização das casas, são determinantes para a ocorrência de várias patologias, que acometem os residentes da desta localidade.

Conclusão

    A partir dos dados encontrados nesta pesquisa, observa-se a importância do saneamento básico e do nível socioeconômico das comunidades carentes, uma vez que estes fatores são determinantes no processo saúde doença. Evidencia ainda, como é de grande relevância a atuação os profissionais de saúde da ESF da Vila Mauricéia, pois estes desenvolvem um papel fundamental na prevenção e promoção da saúde da comunidade assistida.

Referências

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